Cinema
Rock-A-Bye: um documentário sobre rock no Canadá em 1973

Enquanto você está baixando discos do Spotify, seu pai (ou avô) ou mãe (ou avó) deve estar se lembrando de uma época em que se você quisesse ouvir música, era só ouvir no rádio ou comprar discos – e discos vendiam. Se aqui no Brasil havia um mercado fonográfico interessante, imagina em países que funcionam de verdade. O documentário Rock-a-bye, que alguém jogou no YouTube em três partes – infelizmente está apenas em inglês – mostra como funcionava a indústria fonográfica do Canadá em 1973, vai a rádios e gravadoras fodonas (a Capitol local e a Kinney Music, que fora comprada pela Warner), mostra hordas de jovens indo a um show dos Rolling Stones (no show do Forum, em 17 de junho de 1972).
O doc informa que 1056 singles eram lançados a cada semana pelas gravadoras. E mostra que o cara indicado para vender tudo isso, mais LPs e cassettes, era um sujeito chamado Sam Sniderman, dono da cadeia de lojas Sam The Record Man, conhecidíssima no Canadá – e que, vale dizer, durou até 2007.
Se você não consegue imaginar (bom, nem eu consigo mais) como é que discos demandavam tanta atenção da indústria assim, corre lá pra 13:10 do primeiro vídeo e dá uma olhada na agitação da turma das caixas registradoras de uma das lojas da Sam The Record Man. Era muito trabalho – coisa que o Sam admite – e nessa época lojas de discos eram realmente lançadoras de tendências (ainda que o documentário fale que as lojas apenas demandavam o serviço criado pelas gravadoras, vá lá).
Aparentemente, a indústria estava tentando aprender a lidar com esse novo consumidor – o jovem, um cara que ouvia rock (ou qualquer coisa meio pop mas enrockada), ia a shows, consumia discos e ouvia rádio. Um executivo de gravadora diz que as coisas estão andando tão rápido que “o que um adolescente 15 anos presencia num ano era o que um adolescente via antigamente DURANTE 15 anos”. Para fazer esse povo comprar, comprar e comprar, taca-lhe novos produtos. Um deles era uma banda canadense chamada The Stampeders, sucesso em 1971 com um bubblegum ameno chamado Sweet city woman. O outro era um cantor de Quebec chamado Michel Pagliaro, que cantava basicamente rock açucarado em francês e fazia as meninas urrarem (e está na ativa até hoje, como você vê no vídeo abaixo). Todo esse pessoal aparece no filme.
Quem dá boas entrevistas é Ronnie Hawkins, roqueiro canadense ligado ao rockabilly que lembra sobre como começou sua carreira, com pouco prestígio, pouca grana, shows todos os dias (“nem dormia em hoteis, precisava dormir no carro”). Ronnie, claro, era um superstar até nostálgico se comparado àquela geração de Stones e Alice Cooper (que também aparece no filme). O locutor lembra que ele era contemporâneo de Elvis Presley e Bill Haley (eram quase vinte anos de diferença entre uma geração e a daquela época, mas pareciam uns 50!) mas que ao contrário de Elvis, que virara o número um do rock, ele ainda estava “esperando”. De fato, Hawkins aparece tocando num pequeno clube, para uma plateia não muito numerosa.
Tem mais atrações bizarras no filme. Zal Yanovsky, da banda Lovin’ Spoonful (sucesso com músicas como Do you believe in magic), tenta explicar o que é que o mercado jovem significava para ele, num discurso cheio de palavrões (e barulhos para cobrir todos). Alice Cooper é flagrado chegando atrasado duas e meia a um show no Canadá, porque antes preferira assistir a um jogo de hóquei na TV. E ainda precisa se livrar de fãs ensandecidos no aeroporto. Fantástico.
Cinema
Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

- Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
- Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.
Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.
A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.
O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.
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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.
De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.
Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.
Nota: 7
Gravadora: Interscope.
Agenda
Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio

O Rock Horror Film Festival, festival carioca de filmes de terror, está de volta na praça – e vai rolar de 19 de setembro a 02 de outubro no Cinesystem de Botafogo (Zona Sul do Rio). Dessa vez, o evento vai trazer uma seleção de mais de 50 filmes de 17 países em seis categorias: Longas Sinistros, Médias Bizarros, Docs Estranhos, Curtas Macabros, Brasil Assombrado e Pílulas de Medo.
O objetivo do festival é unir terror, cultura pop e rock, e juntar os públicos das três coisas. Entre os filmes selecionados, há produções como The history of the metal and the horror, documentário de Mike Schiff repleto de nomões do som pesado (EUA), Tales of babylon, de Pelayo de Lario (Reino Unido), The Quantum Devil, de Larry Wade Carrell (EUA). Há também Death link, dirigido por David Lipper (EUA), com um time de astros e estrelas que inclui Jessica Belkin (Pretty little liars), Riker Lynch (Glee), David Lipper (Full House) e outros.
O evento também vai ter mesas redondas com diretores, atores e outros profissionais da indústria para o público do festival, comandadas pela criadora do Rock Horror Film Festival, Chrys Rochat (Sin Fronteras Filmes), e que vão rolar no hall do Cinesystem. Entre os convidados já estão confirmados diretores da Polônia, EUA, Canadá e Brasil. Happy hours cinéfilas, shows de rock e oficinas estão no programa também, além da exibição de um filme inédito no Brasil na abertura.
Lista completa dos filmes que participarão da edição no site do festival: www.
Agenda
Parayba Rock Fest: filme que será exibido no evento relembra história de fotógrafo morto por covid

Marcado para este domingo (28) na Areninha Cultural Hermeto Pascoal (Lona Cultural de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro), o Parayba Rock Fest, do qual você ficou sabendo aqui, vai ter shows, DJs, exposições e várias outras atrações. E Michael Meneses, criador do selo Parayba Records e realizador da festa (que também comemora seus 50 anos de idade), vai exibir seu primeiro filme, Ver + – Uma luz chamada Marcus Vini. Michael, que é fotógrafo e professor de fotografia, iniciou o filme como trabalho de conclusão de curso de sua faculdade de Cinema.
“O que eu vou exibir no evento são os 50 minutos que já estão prontos do filme e que apareceram na apresentação do meu TCC. Ainda estou inclusive fazendo pesquisas para ele”, conta Michael, que com o filme, homenageia Marcus Vini, seu melhor amigo (“o irmão homem que eu não tive”, conta), morto por covid. Marcus era fotógrafo e, como Michael, foi professor universitário e cobriu festivais de música como o Rock In Rio.
“Marcus contraiu covid naquela época mais braba da doença, e morreu no dia em que ele deveria estar tomando a primeira dose”, lembra Michael. “Ele foi fotojornalista e curiosamente fazia aniversário no dia 19 de agosto, que é o Dia Mundial da Fotografia. E só soube disso depois que virou fotógrafo. Ele inclusive fez uma foto super importante numa enchente, que foi publicada no jornal Le Monde. A ideia do filme é focalizar o lado humanitário dele, um cara que estava sempre pensando em fazer doação de alimentos, coordenou um curso de fotografia em Madureira (Zona Norte do Rio)“. Antes do evento de Michael, o filme foi exibido também em lugares como a livraria carioca Belle Epoque.
O Pop Fantasma é um dos apoiadores do evento, ao lado de uma turma enorme. Para saber mais e comprar seu ingresso, confira o serviço abaixo.
SERVIÇO:
SHOWS COM AS BANDAS:
Netinhos de Dna Lazara, Benkens, NoSunnyDayz, New Day Rising (NDR) e Welcome To Tenda Spírita.
ALÉM DOS SHOWS:
Exibição do Documentário: VER+ – Uma Luz Chamada Marcus Vini – Direção: Michael Meneses
DJs: Explica e Chorão 3
Expo de fotos dos fotógrafos da Rock Press
Feira Cultural com: Disco de vinil, CDs, DVDs, roupas, livros, fanzines, artesanato, acessórios de moda rock, cultura geek e muito mais
Gastronomia Vegana: Vegazô – A Feira Vegana da Zona Oeste/RJ
DATA: 28 de julho 2024, às 14h.
LOCAL: Areninha Cultural Hermeto Pascoal – Praça 1 de Maio S/N – Bangu/RJ
INGRESSOS: antecipados aqui, na bilheteria da Areninha e na loja Requiem (Camelódromo de Campo Grande).
Foto: reprodução Instagram
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