Connect with us

Crítica

Ouvimos: Papisa, “Amor delírio”

Published

on

Ouvimos: Papisa, "Amor delírio"
  • Amor delírio é o segundo álbum da cantora e compositora paulistana Rita Oliva, mais conhecida como Papisa. O disco tem produção assinada por Felipe Puperi (Tagua Tagua). As músicas surgiram de uma imersão de duas semanas em São Francisco Xavier (SP).
  • “Passei a me questionar sobre o amor romântico e comecei a observar as minhas relações e de outras pessoas sob essa ótica. Então, fui me dando conta de que o disco tinha uma narrativa, retratando fases distintas que alguém pode viver dentro das relações, incluindo a excitação dos começos, a angústia da falta, o processo de ilusão e desilusão quando colocamos expectativas em uma situação e também as formas como nos ligamos e nos desligamos de algo ou alguém”, explica Papisa sobre os temas do disco.

Rita Oliva, a Papisa, faz música pop. Em Amor delírio, sua música faz, ainda que sob um viés mais experimental e psicodélico, a louvação do pop nacional dos anos 1980 – Lincoln Olivetti, Robson Jorge, Rita Lee, Gal Costa, som adulto-contemporâneo. A estreia dela, Fenda (2019) já indicava essa opção pela diferença, ao atuar numa esquina Mutantes x Titãs, só que num tom quase meditativo, e ao adotar temas como vida, morte e existência.

Amor delírio não foge à regra. Mesmo sendo mais romântico – e “pop” de uma maneira mais formal – usa o amor para falar de vida, de existência, de tempo passando, de impressões que podem se confirmar ou não. Como em Dores no varal, dos versos “dores virarão/roupas no varal”, tropeços amorosos do dia-a-dia transformando-se em lembranças, em tarefas diárias. Amor delírio, a faixa-título, encarta um reggae leve como “recado” no arranjo, unido a sintetizadores que lembram Tame Impala e Allah-Las, e a uma letra que fala do amor como promessa e dúvida. Luiza Lian, chegada à mesma mescla de sons pop e dessfiadores, divide os vocais com Papisa nessa faixa. Já o instrumental Vento põe energia pinkfloydiana,. num arranjo que parece derreter no ouvido.

Um toque ou outro de bandas como Black Keys e o próprio Tame Impala surgem em Melhor assim, single do álbum, que já ganhou clipe. Corte é pós-punk com formatação eletrônica, mas sem ser exatamente synth pop. Romance vago é uma balada praieira com certa cara anos 1950, modulada por tons psicodélicos. Amor delírio também é o disco de Vai passar e Fronteira, duas baladas discretamente associadas a Marina Lima e Guilherme Arantes.

Nota: 8
Gravadora: Costa Futuro

Crítica

Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

Published

on

Ouvimos: Home Is Where - "Hunting season"

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).

Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.

Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

Published

on

Ouvimos: Satanique Samba Trio - "Cursed brazilian beats Vol. 1" (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).

Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.

A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.

Leia também:

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

Published

on

Ouvimos: Mugune - "Lua menor" (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.

A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.

Continue Reading
Advertisement

Trending