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Crítica

Ouvimos: Manu Chao, “Viva tu”

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Ouvimos: Manu Chao, “Viva tu”
  • Viva tu é o sétimo disco do músico francês de ascendência espanhola Manu Chao. É também o primeiro álbum dele em dezessete anos – Baionarena, o anterior, saiu em 2008.
  • Uma reportagem publicada no jornal El País (e em O Globo) afirma que Chao, mesmo tendo feito uma turnê rápida e compacta de verão, não pretende divulgar o novo álbum nem com turnês, muito menos com entrevistas. A maneira como o músico trabalha continua misteriosa e impulsiva, com shows feitos de graça na rua e sumiços ocasionais.
  • Para o novo disco, Manu fez gravações no estúdio do catalão Joan Garriga, que participou de Viva tu tocando acordeão e gaita. “Gravamos minha parte no meu estúdio perto de Barcelona. Manu me manda as músicas, nos encontramos no estúdio e procuramos a faísca. Ele é muito prolífico. Ele grava quase todos os dias. Poderia lançar álbuns a cada dois meses”, contou ao El País.

De dezessete anos para cá, não foi apenas o mercado musical que mudou. Para começar, a maneira como as pessoas ouvem música virou de cabeça para baixo. Manu Chao, que ficou exatamente esse tempo todo sem gravar, não quis ter nada a ver com isso: seu novo disco Viva tu soa exatamente como uma continuação de seu trabalho anterior, o que significa que quem pegou vício em Clandestino (1998) e Próxima estacion: Esperanza (2001) pode ficar sossegado.

O ex-Mano Negra voltou aos sons que já fazia nos anos 1990 e 2000 como se já fosse realmente uma tradição. Ou como se sua música há quase duas décadas já adiantasse muita coisa de hoje. Em Viva tu, Manu tenta construir uma espécie de música folclórica bastante particular, que passa por sons ciganos, folk e country norte-americano e sonoridades brasileiras. Por acaso, em Heaven’s bad day tem até Willie Nelson soltando a voz discretamente (a ponto de ser possível você só descobrir isso após ouvir o disco e olhar as participações).

Entre um e outro efeito “psicodélico” inserido em algumas faixas (como a bela e nostálgica Quarto calles), o novo material de Manu tem músicas como La colilla, Le couleur du temps e Viva tu, que ganham força pelo recente interesse do mercado pop por sons hispânicos, em meio a canções mais contemplativas como Vecinos em el mar, o reggae River why, o rap acústico Tu te vas (com a rapper frances Laeti), o reggae-folk de videogame São Paulo motoboy e o protesto latino de Tantas tierras. Viva tu é bem mais discreto, musicalmente falando, que os anteriores de Manu, mas o retorno é feliz para ele e para os fãs. E para quem acredita em utopias.

Nota: 8,5
Gravadora: Radio Bemba/Because

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Crítica

Ouvimos: John Fogerty – “Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version)”

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John Fogerty, aos 80 anos, recupera direitos das músicas de sua ex-banda Creedence Clearwater Revival e relança vinte clássicos em versões idênticas às originais.

RESENHA: John Fogerty, aos 80 anos, recupera direitos das músicas de sua ex-banda Creedence Clearwater Revival e relança vinte clássicos em versões idênticas às originais.

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Aos 80 anos, John Fogerty, ex-vocalista, guitarrista, compositor e déspota do Creedence Clearwater Revival, conseguiu ganhar finalmente todos os direitos sobre suas composições da época do grupo – sim, porque todos os hits autorais da banda foram compostos por ele. Para comemorar, o músico decidiu regravar 20 canções do CCR na base da “versão do John”.

Na prática, são substituições, e não versões. Em Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version) Fogerty revisitou canções como Have you ever seen the rain, Born on the bayou, Proud Mary, Lodi, Who’ll stop the rain, Green river e Fortunate son em leituras quase 100% iguais aos originais – em timbres, arranjos, detalhes e até gritos e uivos. Facilita o fato da voz de John estar igualzinha a antigamente. Detalhe: até no Bandcamp as músicas novas estão – visão, o cara tem.

  • Ouvimos: The Doobie Brothers – Walk this road
  • Ouvimos: Faces – Faces at the BBC: Complete BBC concert and session recordings 1970-1973

Alguma diferença do original? Bom, Long as I can see the light teve uma pequena mudança de tom, Have you ever seen the rain teve mudanças discretas nas linhas vocais do refrão, e de modo geral todas as músicas ganharam mais peso na bateria e nas guitarras – mas praticamente tudo soa como os originais dos anos 1960 e 1970 remixados ou remasterizados.

De modo geral, não é um lançamento dos mais úteis para fãs antigos – serve mais como um demarcador de independência, já que John oferece aos fãs as versões gravadas por ele. O complicado é entender como se comportar diante de um lançamento que reembala o material oldies e apenas isso. Acaba tendo mais graça ouvir os antigos álbuns do Creedence.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Concord
Lançamento: 22 de agosto de 2025

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Crítica

Ouvimos: Thistle. – “It’s nice to see you, stranger” (EP)

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Thistle., da Inglaterra, une grunge e shoegaze em It’s nice to see you, stranger, EP coeso que ecoa Nirvana, Dinosaur Jr e My Bloody Valentine.

RESENHA: Thistle., da Inglaterra, une grunge e shoegaze em It’s nice to see you, stranger, EP coeso que ecoa Nirvana, Dinosaur Jr e My Bloody Valentine.

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Vindo de Northhampton, Inglaterra, o Thistle. (sim, existe um ponto após o nome do grupo) tem uma onda grunge + shoegaze séria no seu som – a ponto de, numa audição inicial, ser possível imaginar que a banda vem dos cafundós dos Estados Unidos. Num papo com a newsletter First Revival, eles citam o Nirvana como sua banda grunge favorita, e um dos integrantes diz não ter se entusiasmado especialmente com o shoegaze quando descobriu o estilo.

Um outro detalhe sobre o EP It’s nice to see you, stranger é que o grupo precisou de quase um ano para gravá-lo, já que cada integrante tem seu trabalho e ninguém pediu folgas. “Por isso é que ele é um EP, e não um álbum”, afirmam. Soa estranho descobrir isso, já que as cinco faixas do disco têm peso, coesão e emanações que vão de Nirvana e Dinosaur Jr a Idlewild e The Cure. Cobble/mind funde barulho, melodia e vocais doces, enterrados na música. A faixa-título volta aos anos 1990 e faz lembrar My Bloody Valentine e Sonic Youth. Fleur rouge abusa da beleza triste, com guitarras melódicas e passagens bem ruidosas, do meio para o fim.

No final, o Thistle. adere a um punk repleto de guitarras emparedadas e sensações turvas, em Holy hill, e faz a melhor fusão grungegaze do EP, com Wishing coin. Ouça.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Venn Records
Lançamento: 4 de julho de 2025.

  • Ouvimos: Water From Your Eyes – It’s a beautiful place
  • Ouvimos: Superchunk – Songs in the key of yikes

 

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Crítica

Ouvimos: Camaelônica – “Eletrotropical”

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Camaleônica mistura samba, rock, macumba e psicodelia em Eletrotropical, disco pesado e cheio de invocações.

RESENHA: Camaleônica mistura samba, rock, macumba e psicodelia em Eletrotropical, disco pesado e cheio de invocações.

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“Rock, macumba e samba”, trio de referências que embandeira o som do Camaleônica, pode querer dizer muita coisa – pode afirmar inclusive que a banda apenas revisita sons dos anos 1990 (Planet Hemp, Chico Science, O Rappa) e mais nada. Eletrotropical, primeiro disco de Felipe Dantas e Fernando Reis – os dois do grupo-dupla – faz qualquer ideia preconcebida cair por terra quando se percebe que a vocação do grupo é para um experimentalismo que faz tudo soar bem palpável e pesado no som deles.

A música de Felipe e Fernando soa mais como um retropicalismo pesado e turbinado, que une samba, umbanda e rock psicodélico na faixa-título, além de jazz, rock e afrosambas em Capoeira. Rola uma mescla de samba, reggae e grunge em Maravilhoso e Caprichoso. Nessa última, a percussão é forte e os tambores são tocados com raiva. E falando nisso, Língua e revolta é axé, MPB e ódio pulsando contra apagamentos históricos (“quem é você pra me dizer aqui / que eu não sou ninguém?”).

Muito de Eletrotropical são invocações – canções em que melodia, letra, percussão e indignação (e guitarras) unem-se quase numa mesma massa. No samba psicodélico e pesado de Boa noite, por exemplo, coaches, big techs e exploradores do trabalho alheio são cozidos no mesmo caldeirão a partir de raízes e histórias (“toda malandragem será perdoada/ tudo que delira, toda vadiagem”). Geral abre com vocal solitário pedindo “muita luz, saúde e axé pra geral”, e vai seguindo com tristeza herdada do blues, guitarras e percussões.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Fliperama Lab
Lançamento: 27 de junho de 2025.

  • Ouvimos: Vandal – Vidah (EP)
  • Ouvimos: Jangada Pirata – Sal de casa

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