Crítica
Ouvimos: Khruangbin, “A la sala”

- A la sala é o quarto disco da banda texana Khruangbin (ou quinto, se contado Ali, de 2022, gravado ao lado do músico Vieux Farka Touré). O grupo é formado por Laura Lee Ochoa (baixo e voz), Mark Speer (guitarra e voz) e DJ Johnson (bateria, teclado e voz).
- “Eu costumava gritar pela minha casa quando era pequena, para reunir todo mundo na sala, para reunir minha família. É mais ou menos isso que sentimos gravando o novo álbum, havia um desejo de voltar à estaca zero entre nós três, de onde viemos – na sonoridade e no sentimento”, diz Laura.
- O disco foi produzido por Mark Speer e Steve Christensen.
Quem já deu uma olhadinha na novela O espigão, levada ao ar pela Globo em 1974 – e que a Globoplay disponibilizou quase na íntegra – já reparou que rola uma trilha sonora alternativa, que não foi compilada em disco. Músicas de Pink Floyd (Money, Obscured by clouds), Edgar Winter (Frankenstein), Funkadelic (Maggot brain) emolduram e coadjuvam as cenas.
Se o Khruangbin tivesse existido no começo dos anos 1970, com certeza várias músicas de discos como Mordechai (2020), a estreia The universe smiles upon you (2015) e deste A la sala apareceriam em alguma novela – mas não nas trilhas sonoras, geralmente repletas de baladas e de canções mais românticas.
O repertório do trio é perfeito para surgir em cenas de rua, de tensão geral e até em momentos de fuga, unindo jazz latino, funk anos 1970, algo de MPB setentista e sons de trilheiros como Dave Grusin (de Os três dias do condor). As letras, quando aparecem, soam como corais, como vocalises ou como recados no meio da música – como no diálogo sussurrado e sexy de Connaissais de face, do Mordechai, que serve como uma cena sonorizada pela música.
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A la sala, disco novo do Khruangbin, une as sonoridades costumeiras do trio com um certo romantismo nostálgico, que nem sempre aparecia nos discos anteriores. E que já aparece no começo do disco, com Fifteen-fifty-three e a balada funkeada e tristonha de May ninth – esta, trazendo uma melodia que poderia estar num disco de Roberto Carlos dos anos 1980, solos de guitarra que lembram jazz cigano e latino, e vocais que soam como uma ponte esticada por toda a faixa. Fãs de filmes de trilhas de filmes safadinhos dos anos 1970 vão curtir temas perfeitos para encontros à beira-mar e escapadas noturnas, como a funkeada-abolerada Three for two e a quase fusion A love international.
Ada Jean une soul, psicodelia, surf music e sussurros – como os de um casal falando baixo. Pón pón é o lado abrasileirado-afrobeat do disco, um quase samba conduzido pela bateria e pela guitarra. Músicas como Todavía viva soam como uma versão power trio, com guitarra, baixo e bateria, de bandas como Azymuth. E o lado psicofunk do grupo continua na linha de frente em faixas como a juju music de Hold me up (Thank you) e o jazz-fusion latino poderoso de Juegos y nubes.
Nota: 8
Gravadora: Dead Oceans/Night Time Stories.
Crítica
Ouvimos: Babymetal – “Metal forth”

RESENHA: Em Metal forth, o Babymetal mistura peso e pop: nu-metal, j-pop, rap e até soul, provando maturidade após 15 anos de carreira.
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Babymetal é heavy metal para não-metaleiros, você poderia dizer. Nem tanto, né? É um banda que vem da cultura asiática de criação de ídolos, é formada por meninas (que já são mulheres) e gerenciada por uma agência poderosa – a Amuse, que tem até escola de música. Mas dá pra dizer, sem medo de errar, que muita gente foi apresentada ao universo do som pesado por causa delas. Até porque o Babymetal é esperto o suficiente para agregar mumunhas pop, e estilos como r&b e rap, a um universo conhecido pelo radicalismo.
Você piscou o olho e o Babymetal já tem quinze anos, várias turnês e, curiosamente, um número de discos bem pequeno. Metal forth é o quarto álbum e funciona bem para metaleiros de ouvidos abertos e sem preconceitos. Dando um passeio pelas faixas: Ratatata tem ar de j-pop e k-pop, e une som pesado, rap e dance music. Song 3 é uma porrada que une vocais guturais (da parte dos convidados do Slaughter To Prevail) e vozes meio Alvin e os Esquilos. From me to you, na abertura, herda sonoridades do metal alternativo e da música pop – é som rápido, pesado, eletronificado.
Entre as surpresas de Metal forth, tem Sunset kiss, que deixa o Babymetal com uma cara de Spice Girls trabalhadas no couro e no preto. E My kiss, um nu-metal cuja introdução ameça uma chupada em Ratamahatta (hit do Sepultura com participação de Carlinhos Brown). Tom Morello põe energia em Metal!!!, que também traz emanações de Sepultura, mas une som pesado e soul. Já White flame, no final, aponta para vários lados: j-pop, emo, punk… encerrando com um solo de guitarra final que lembra Queen.
Quem ouvir Metal forth de mente aberta, vai descobrir que, com o tempo, o Babymetal foi se tornando um projeto bastante equilibrado – as integrantes cresceram e o mundo ao redor delas mudou bastante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Capitol
Lançamento: 8 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Deb and The Mentals – “Old news” (EP)

RESENHA: Deb and The Mentals volta às raízes em Old news: punk, grunge e new wave com peso, energia e nostalgia.
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Com uma formação nova que traz Fi (NX Zero), na guitarra, Deb and The Mentals decidiu voltar ao começo num EP de nome sintomático, Old news. Deb Babilônia adota novamente as letras em inglês nas cinco faixas do disco – e a banda corresponde com um som voltado para uma confluência entre punk, grunge e new wave. A faixa de abertura Together again une anos 1980 e 1990, soando como Ramones na fase Mondo bizarro (1992). Suck me in, com um pouco mais de peso, tem muito de bandas como Generation X. A noventista To erase vai para a pequena área do punk + metal, com peso e intensidade.
O “lado B” de Old news tem um hardcore rápido, cavalar e acelerado, Burn it down, fechado com microfonias. Tem também a música mais bonita do disco, Runaway, união de punk e rock britânico oitentista, chegando a lembrar Smiths. Dying spark, por sua vez, chama atenção pela boa marcação de baixo e bateria, e pela linha do tempo sonora que vai dos anos 1970 aos 1990.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Algohits
Lançamento: 13 de agosto de 2025
- Ouvimos: Paira – EP01 (EP)
- Ouvimos: A Terra Vai Se Tornar Um Planeta Inabitável – Ident II dades (EP)
- Ouvimos: akaStefani e Elvi – Acabou a humanidade
Crítica
Ouvimos: Klisman – “CHTC”

RESENHA: Em CHTC, Klisman transforma o Centro Histórico de Salvador em rap visceral, misturando trap, afropop e relatos de vida dura.
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CHTC, título do disco de estreia do rapper baiano Klisman, é uma sigla para “Centro Histórico tá como?” – e uma lembrança do coração de Salvador, um conjunto de pontos turísticos que explicam a história da capital baiana (Pelourinho, Elevador Lacerda, Mercado Modelo), além de um entorno de dez bairros. Klisman cresceu por lá e levou tudo para seu som, que une mumunhas do trap, e um certo elemento de perigo vindo do rap, além de erros e acertos pessoais. O som une beats de trap, afropop e vibes latinas.
Klisman fala da vida como ela se apresentou não apenas para ele, mas para vários amigos seus. Reparação histórica entra na mente dos que são tidos como vilões, em versos como “se eu roubo esse gringo é reparação histórica / visão de cria não pega na ótica” e “poucos sabem o dilema que eu vivo / do tipo: como vender drogas e ser um bom filho? / como tirar vidas e criar meu filho?”. Caminho certo cria imagens musicais para retratar um dia a dia que exige posicionamento rápido (“são escolhas que mudam o caminho de casa”), o mesmo rolando na ameaça sonora de 25kg e na sagacidade de Proibido branco. O próximo é rap lento e climático que une ódio e tiração de onda.
Para quem for ouvir CHTC, o conselho é tentar entender tudo como um filme e não sair julgando: Klisman entrega todas as contradições de quem cresceu numa realidade bem distante do que a classe média enxerga como normal – e o normal ali são leis bem estranhas. Em Praia da Preguiça, aberta com sample de violão e flautas, e Pixadão de guerra, sonhos misturam-se com alfinetadas em trappers famosos e realidades de trincheira (“a emoção de ver o alemão sangrar / é a mesma de ver o irmão prosperar”). Ainda sou o mesmo vai para vários lados da violência urbana: “quantas mãe vai ter que chorar? / ele poderia ter um Grammy / mas ele tá na boca portando uma Glock”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Nadamal
Lançamento: 22 de maio de 2025.
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