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Crítica

Ouvimos: Cátia de França, “No rastro de Catarina”

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Ouvimos: Cátia de França, "No rastro de Catarina"
  • No rastro de Catarina é o sétimo disco da cantora, compositora e violonista paraibana Cátia de França. A cantora de 77 anos estreou em disco com 20 palavras ao redor do sol, lançado em 1979 pela CBS (hoje Sony Music).
  • Seus dois discos pela multinacional tinham na ficha técnica nomes como Zé Ramalho, Dominguinhos, Sivuca, Chico Batera, Lulu Santos e Bezerra da Silva (estes dois últimos, antes da fama como artistas solo). E no mesmo ano em que saiu o primeiro álbum, Elba Ramalho gravou Kukukaya (Jogo da asa da bruxa) em sua estreia, Ave de prata.
  • O disco foi gravado ao vivo no estúdio Peixeboi, em João Pessoa (PB), com uma banda formada por Cristiano Oliveira (viola, violão e violão de aço), Marcelo Macêdo (guitarra e violão de aço), Elma Virgínia (baixo acústico, baixo elétrico e fretless), Beto Preah (bateria e percussões) e Chico Correa (sintetizadores e samplers), que também produziu o álbum ao lado de Marcelo Macêdo. 

20 palavras ao redor do sol, estreia de Cátia de França (1979) era forró e ritmos nordestinos em geral. Mas era psicodelia e era até (com licença poética) rock. Nem era preciso fazer muito esforço para achar elementos do estilo perdidos aqui e ali, porque o disco cabia com folga num guarda-chuva de liberdade musical no qual entravam também o galope pauleira de Alceu Valença, o progressivismo de Zé Ramalho, o blues do Estácio de Luiz Melodia e até o samba-crônica de Martinho da Vila. Uma música com raízes, mas ligada em tudo, e de olho no dia a dia.

Passou tempo, e a discografia de Cátia foi acrescida de outros discos, como o essencialmente nordestino Estilhaços (1980, seu último álbum por uma multinacional) e o curioso Feliz demais (álbum independente de 1985, em cuja capa, curiosamente, surge com um ar desconfiado e nada alegre). Em tempos de CDs e plataformas digitais, ela vem se mantendo bastante ativa nas gravações, voltando agora com esse No rastro de Catarina.

No rastro é um disco basicamente regido pelo renascimento, pela afirmação e pela visibilidade, cujas música valem como crônicas. É o disco de músicas como a psicodélica Fênix, o reggae-blues Em resposta (que caberia bem na voz de Ney Matogrosso), o afrobeat Espelho de Oloxá e o belo soul Negritude, cujos títulos já inserem o ouvinte no universo de Cátia.

Cátia canta também o envelhecimento e o orgulho pela idade avançada e pelo tempo passado, em meio às batidas dançantes de Malakuyawa. Traz recordações de seu passado no bolero Veias abertas e na romântica Indecisão (feita a partir de um poema que ela escreveu aos 14 anos). E encerra com a meditação da balada Meu pensamento II e da violeira Conversando com o rio.

Nota: 9
Gravadora: Tuim Discos (Brasil)/Amplifica Music (outros países)

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Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

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Ouvimos: Home Is Where - "Hunting season"

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.

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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).

Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.

Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

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Ouvimos: Satanique Samba Trio - "Cursed brazilian beats Vol. 1" (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1

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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).

Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.

A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.

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Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

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Ouvimos: Mugune - "Lua menor" (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.

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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.

A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.

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