Crítica
Ouvimos: Aluminum, “Fully beat”

- Fully beat é o primeiro álbum da banda californiana Aluminum. O grupo é formado por quatro músicos experientes da cena pós-punk local: Marc Leyda (vocais, guitarra, sampler), Ryann Gonsalves (vocais, baixo), Austin Montanari (guitarra) e Chris Natividad (bateria).
- O grupo conta ter uma gama de influências que vai de “Orbital a Wipers, The Avalanches e Sly and the Family Stone”. O release conta que “músicas foram criadas ao longo de meia dúzia de meses em porões e estúdios de ensaio, criando uma abundância de paixão autêntica e catarse que é tão nostálgica e reconfortante quanto uma camiseta de banda querida e esfarrapada”.
- O selo do grupo, Felte, começou em Nova York e se mudou pra Los Angeles, inspirado por gravadoras como Factory Records, Touch & Go, Quarterstick, 4AD, Sub Pop e outras. “O clima do selo geralmente consiste em tensão — um toque de melancolia e uma espécie de peso musical ou lírico, dependendo do projeto”, diz o fundador Jeff Owens.
Mal dá para acreditar que o Aluminum é de San Francisco, Califórnia. E mal dá pra acreditar que seu disco de estreia, Fully beat, é um disco lançado em 2024. Pensando bem, olha que dá pra acreditar: a música da Bay Area sempre foi marcada por uma taxa enorme de variação de estilos, do funk metal ao punk, passando pelo rock mais barulhento. E com a quantidade de informações que qualquer pessoa tem nos dias de hoje, é mais tranquilo fazer lembrar de uma época, ou de um estilo de produção que marcou vários lançamentos.
Dito isso, Fully beat faria um baita sucesso se fosse lançado na Inglaterra no começo dos anos 1990, e poderia ter sido lançado por uma banda de Manchester. Ou , enfim, por uma banda aparentada de grupos como Ride, Happy Mondays, My Bloody Valentine e Boo Radleys. Só conferir a batida motorik, o tom viajante e as guitarradas da faixa de abertura, Smile, e todo o esplendor indie-psicodélico de Always here, never there, quase uma canção do The Jesus and Mary Chain ou do Primal Scream, com aquele mesmo aspecto simultaneamente ensolarado e sombrio, como num pôr do sol de inverno. Ou a indie dance tensa, sustentada pela linha de baixo e pelas distorções, de Behind my mouth, com vocais da baixista Ryann Gonsalves (que também faz parte da banda Torrey e tem trabalho solo).
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HaHa continua a série de referências ao Jesus and Mary Chain, e também a grupos como The Verve. Pulp é mais ruidosa e menos pop que o som da banda que deu o nome à música- está mais próxima do shoegaze ou de um power pop altamente distorcido. A dançante Beat traz de assalto a mesma mania de mesclar distorções e referências dos anos 1960 que as bandas britânicas tinham há três décadas – e soa quase como uma canção perdida do Screamadelica, do Primal Scream, ou dos Charlatans, ou um remix eletrônico do Pink Floyd de Syd Barrett. Call an angel é um filhote introspectivo do rock de Manchester dos anos 1990. E fechando, tem um Upside down que não é o do Jesus and Mary Chain, mas uma canção autoral do Aluminum – marcada por guitarras altas, vocais melódicos e riffs de teclado. Uma boa surpresa.
Nota: 9
Gravadora: Felte.
Crítica
Ouvimos: Rocket – “R is for rocket”

RESENHA: Rocket, quarteto de Los Angeles estreia com R is for rocket, disco que mistura pós-grunge, dream pop e nostalgia noventista com boas guitarras e letras afiadas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Transgressive Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025
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Não tem como não simpatizar com uma banda com um nome desses: Rocket, “foguete”, remete à figura do homem sozinho no espaço, algo que leva direto a David Bowie, ao glam rock, ao Rocket to Russia dos Ramones, até ao Rocket man do Elton John e ao Rocket dos Smashing Pumpkins.
O disco se chama R is for rocket, e aí já surge algo da soletração de The groover, do T. Rex – copiada pelos Pixies no hit Cactus. Você vai acabar sendo obrigado/obrigada a ouvir o disco, e foi meio assim que me senti ao deparar com o debute desse quarteto de Los Angeles. Parece que tem algo aí que conversa com vários anos de memória rocker, de climas sonhadores ligados ao estilo.
Passada a fantasia inicial, tudo (mais ou menos) no lugar. R is for rocket é um bom disco de rock, uma boa estreia, e um álbum que mexe mais na atualização da nostalgia noventista do que em qualquer outra coisa. Mas parece que a vocalista e baixista Alithea Tuttle, os guitarristas Baron Rinzler e Desi Scaglione e o baterista Cooper Ladomade estão trabalhando com um plano musical na cabeça que envolve atacar por vários flancos diferentes.
Ou seja: se você quiser, pode colocar o Rocket na gavetinha do pós-grunge e do “rock alternativo” norte-americano. Mas o grupo é abrangente a ponto de abrir o disco com um pós-punk eletrônico lembrando The Cure, Wire e Sonic Youth (The choice) e de partir para a luta na grande área do dream pop (em Act like your title).
Lá pela terceira faixa, Crossing fingers, rolam ritmos quebrados numa onda pós-hardcore e lembranças do Foo Fighters e dos Smashing Pumpkins do começo. Um clima que surge também na melódica Another second chance (com um som lindo de guitarra do meio para o final) e na vibe anos 90 de One million, que ganha vocais com doçura shoegaze e onda sonora igualmente próxima dos Beach Boys.
Na segunda metade de R is for rocket, o Rocket traz emanações de Fugazi, Velocity Girl e emo midwest (Pretending e o guitar rock Crazy), ganha um clima sombrio (em Number one fan), volta a mexer no espólio do Sonic Youth (Wide awake) e impressiona pela jam guitarrística e meditativa da faixa-título, que dura quase sete minutos e encerra o álbum.
Já as letras, feitas por Alithea Tuttle, mexem num tema que não estará desatualizado nem daqui a cem anos: a verdade por trás dos relacionamentos, sejam de amor ou de amizade, ou até de parentesco. Nesse departamento, é peia atrás de peia: Act like your title fala de expectativas de família, One million fala de fantasias, Pretending traz manipulação em altíssimo grau (“queria que você provasse que estou errada de alguma forma / mudando a mente de todos / você é tão bom em fingir”).
De alguma forma, o Rocket tentou fazer um disco que, no entendimento deles, pode estar sendo discutido e ouvido daqui a vinte anos – e isso é ótimo.
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Crítica
Ouvimos: The Sinks – “Crise de sonho”

RESENHA: Em 17 minutos, o novo disco do The Sinks condensa duas décadas de fúria punk em letras sombrias, guitarras pesadas e um retrato brutal da desesperança.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: DoSol
Lançamento: 26 de agosto de 2025
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A banda potiguar The Sinks já soma duas décadas de estrada, com uma discografia respeitável. De trio que cantava em inglês, virou quarteto punk com letras afiadas e realistas em português, e lança agora o álbum Crise de sonho. A faixa-título, por exemplo, aposta em bases distorcidas e faladas para lembrar que “a gente acorda todo dia para enfrentar uma guerra que a gente sabe que já perdeu”, mergulhando o/a ouvinte num cenário de desesperança, trabalhos ruins e vida sem horizonte – engrenagens que apenas mantêm a máquina girando.
- Ouvimos: Emerald Hill – À queima-roupa
Em faixas como Limiar e Chave, a sonoridade se impõe como blocos de guitarra, baixo e bateria, em sintonia com o peso de bandas como Devotos e Inocentes, mas envolta numa atmosfera mais sombria. Essa mesma sombra aparece em Ninguém duvida, com um riff de guitarra psicodélico que vem lá de trás, e uma letra que fala de barras-pesadas existenciais: “deixa o teu plano infalível pra depois / que a chuva está pesada e não há nada o que fazer”.
O disco não dá trégua e segue com Sociopatia, carregada de peso e de uma energia garageira marcial, onde surge a figura do ser humano palestrinha que “mente com verdade e deixa clara sua sociopatia”. Já Calma aposta no lado mais sombrio, com ecos de Placebo e Suede, um quê glam-punk e versos que narram uma crise de ansiedade. O encerramento vem com Figura bestial, música que flerta com o power pop em guitarras menos intranquilas, vocais melódicos e uma letra que celebra a catarse pelo grito. Um disco rápido (17 minutos!) e visceral.
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Crítica
Ouvimos: Technopolice – “Chien de la casse”

RESENHA: Banda francesa Technopolice estreia com Chien de la casse, mistura feroz de punk, synths decadentes e caos divertido vindo de outra galáxia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Howlin’ Banana Records / Idiotape / Ganache Records
Lançamento: 26 de setembro de 2025
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Banda francesa ligada ao punk, ao rock de garagem e ao chamado egg punk (estilo feroz, com guitarras pesadas, mas com sintetizadores apodrecidos e clima meio experimental), o Technopolice estreia com Chien de la casse, um paraíso de sons pesados e synths de 16 bits. São onze músicas bem curtas, misturando francês e inglês, que soam como um show na garagem. É o caso de faixas como Hellastic mr. Pox e MCB (essa ultima, com algo de The Damned e Buzzcocks), que abrem o álbum, além de Taaaannnnkkk, que surge na segunda metade do disco.
- Ouvimos: Upchuck – I’m nice now
Daí para a frente, o Technopolice adiciona um condimento a mais, que são os climas espaciais propiciados pelos efeitos de guitarra e teclados. A faixa-título, por exemplo, ganha um baixo meio pós-punk, para em seguida embicar num punk de outros planetas. Nuclear (outra música que lembra The Damned, por sinal), Sortir le soir… e …Regretter après, seguem na mesma onda.
Chien de la casse tem também punk-rock com nostalgia dos anos 1950 (a balada Puke), rock garageiro com pandeirola (Human) e sons com rapidez próxima do hardcore (People). Um disco que soa como um caos divertido vindo de outra galáxia.
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