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Cultura Pop

O Public Image Ltd anda com saudades do Brasil

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O Public Image Ltd, ou PiL, monolito pós-punk liderado pelo ex-Sex Pistols John Lydon desde 1978, anda sentindo saudades do Brasil. Liberaram recentemente em suas redes sociais até uma foto da camiseta da turnê da banda por aqui, em 1987. Nesse mês, completou-se exatamente 32 anos (data não-redonda) que o grupo fez a primeira data da turnê sul-americana do disco Happy?, justamente em São Paulo.

https://www.instagram.com/p/B1TFFVRAVj3/

O PiL andava em certa lua de mel com o mainstream, com singles como Seattle conquistando lugares modestos nas paradas e canções como Rise (do disco anterior, Album, de 1986) fazendo sucesso em rádios comerciais no Brasil. A atenção que os jornais e estações de TV (e rádio) deram para a banda não foi pouca.

O inoxidável Tom Leão, no jornal O Globo – e com aquela saudosa ironia fácil de ser encontrada nas páginas dos cadernos de cultura entre os anos 1980 e 1990 – anunciou dessa forma a apresentação que Lydon e seus camaradas fariam no Canecão em 21 de agosto.

O Realce, programa de surf e cultura pop que quebrava um galhão na era pré-MTV, esteve no Canecão e fez algumas imagens.

E, como lembra o blog de música Floga-se, agosto de 1987 foi um mês bastante movimentado para o rock nos palcos do Rio e de São Paulo. Até porque não era só o PiL que circulava por aqui. A velha rivalidade entre Sex Pistols (primeira banda de Lydon) e Clash voltava no Brasil, graças à presença do Big Audio Dynamite, que tinha Mick Jones, do Clash, como comandante.

De acordo com o Floga-se

Os bastidores desses shows do PiL tinham mais histórias que ainda precisam ser desvendadas. Não custa lembrar que lidar com John Lydon, sujeito conhecido por testar todo mundo que está ao seu redor, não era tarefa das mais fáceis.

Quem precisou ter um pouco mais de contato com ele foi ninguém menos que Roberto Verta, ex-tecladista da banda santista Harry e, por aqueles dias, executivo da gravadora RCA, que lançava por aqui os discos da Virgin, selo da banda. Por acaso, foi Verta que mandou fazer a camiseta acima. Sim, ele tem uma foto com ela. Olha aí.

Roberto Verta em 1987, com PiL no peito (foto: arquivo pessoal)

Verta (que hoje é executivo da Sony Music, multinacional que, após fusão atrás de fusão, responde pela antiga RCA) não se lembra de quantas camisetas foram feitas na época. “Era uma camiseta bem básica. Então não deve ter sido cara, não. O que lembro bem é que demos algumas camisetas para a banda”, conta ele. “Não era tão comum assim a gravadora mandar fazer camisetas comemorativas, mas era uma banda que eu gostava, o disco Album tinha Rise que era – e ainda é – um hit e fazia sentido comemorar a tour no Brasil, com uma camiseta”.

O cargo de Verta não o obrigava a estar ao lado do grupo em todos os compromissos, mas foi a todos os encontros profissionais da banda, e também compareceu a um jantar com o grupo. Vale a pergunta: Lydon era mesmo uma mala sem alça, como se diz por aí?

“Antes de responder a pergunta, é preciso deixar claro que penso que o Never mind the bollocks (disco dos Sex Pistols) foi um marco na história da música, e que era e continuo sendo fã dos Pistols e do Lydon. O problema é que alguns artistas criam um personagem e não sabem – ou não querem – separar o lado profissional do personagem. Eu estava lá para promover o PiL e não era obrigado a ver ou ouvir certas coisas que são comuns quando você está com Rotten ou Lydon, sendo que você nunca sabe com qual deles está lidando. Então acho que o humor do Lydon estava ótimo enquanto não virava Johnny Rotten!”, conta.

Mesmo mantendo distância profissional, Verta não escapou de pelo menos uma aporrinhação com Lydon. “O momento que lembro com mais clareza foi uma ofensa que Lydon, em um momento Rotten, proferiu a uma jornalista brasileira. Ela, por sorte, não entendia inglês. Então, eu não traduzi literalmente a ofensa. O que o fez ficar puto comigo”, recorda. “Eu tive um colega de profissão já falecido que não trabalhava com Tim Maia. Então, em qualquer entrevista de emprego dele em gravadoras, ficavam acertados salário, benefícios… e que ele não trabalharia com o Tim Maia. Acho que o John Lydon é o meu Tim Maia!!”, brinca.

No show da banda no Canecão, o público, mesmo gostando da apresentação, agiu com a mesma casca-grossice que se esperaria de um sujeito insolente como Lydon. Brindou o líder da banda, durante todo o show, com uma chuva de catarradas. Lydon, cuspido e escarrado, ameaçou parar o show (segundo testemunhas, sob o argumento de que ele não era mais Johnny Rotten e aquilo não era o Sex Pistols). Verta ficou só olhando.

“O punk rock como música, energia e contestação me fez querer ser músico. Mas sempre houve toda essa coisa da atitude punk que vinha junto e que nem sempre era agradável. Sinceramente, acho esse lado do punk uma idiotice que nenhum artista merece. No caso do Lydon deve ser a lei do karma, né?”, brinca.

Uma história que Verta se lembra e que causa espanto até hoje: nos bastidores do Auditório Elis Regina, no Anhembi, ele flagrou uma conversa entre ninguém menos que Mick Jones e… Joe Strummer, também ex-líder do Clash. Mick, evidentemente, estava lá por causa dos shows de sua banda, o Bid Audio Dynamite, no Brasil. O que surpreendeu foi o Joe Strummer por lá.

“Fiquei surpreso ao ver o Mick Jones no backstage durante o show do P.I.L. em São Paulo, mas era algo que fazia sentido porque o B.A.D. estava em tour por aqui também, mas não falei com nenhum dos dois. O PiL tinha nessa época membros lendários da cena punk como o Keith Levine e o John McGeoch, então Jones e Strummer podiam estar lá convidados por qualquer um deles”, conta.

Mas o que diabos o Strummer fazia no Brasil na época? “Nunca li ou ouvi nada a respeito, mas o Strummer tinha uma ligação cultural com coisas latinas, então talvez fosse isso um pretexto para se reaproximar do Mick Jones. Realmente não sei ao certo, mas como também vi em 1993 o Nirvana gravar no estúdio da BMG no Rio algum material para o In Utero e demorou muitos anos até começar a ver isso publicado em livros e na imprensa… O que sei é que foi uma pena o Clash nunca mais ter se reunido, porque era o punk não somente na sua melhor forma, como também no seu melhor conteúdo”, conta o executivo. Seja como for, o BAD foi entrevistado para o mesmo O Globo (também por Tom Leão) naquela época e Mick Jones se recusou a falar sobre o amigo na coletiva.

Se você chegou até aqui, pega aí John Lydon como convidado do 120 Minutes da MTV em 1987, e fazendo o que sabe de melhor: testando o entrevistador (o simpático e amigável Kevin Seal). Perguntado sobre o Echo & The Bunnymen, Lydon responde que pelo menos eles “são melhores que as porcarias que vocês tendem a mostrar nesse programa”.

Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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