Cultura Pop
Dez + 6 discos que você não sabia que tinham saído em vinil

Esquece essa história de discos que recentemente saíram em vinil. O papo aqui é outro. Depois de 1992 – quem comprava discos na época se lembra – LPs viraram objetos que ninguém mais queria e as lojas vendiam apenas CDs ou fitas cassette de cromo. Poucas grandes lojas ainda mantinham vinis à venda. Em grandes magazines como Mesbla e Lojas Americanas, o formato simplesmente tinha sumido ou era relegado a um cantinho humilde. E apenas estilos musicais realmente populares, como sertanejo e pagode (ou axé, campeoníssimo de vendas nos 1990, ou até trilhas de novelas), ainda davam o devido valor aos bolachões. Nessa, muitos discos ganhavam edições brasucas em LP e CD. E muita gente, já ligada nas bolachinhas prateadas, mal sabia que o formato mais antigo ainda era fabricado. Olha aí dez exemplos de LPs lançados no Brasil que, provavelmente, você mal sabia que existiam (e se sabia, finge que não sabe, blza? 🙂 ).
MADONNA – “BEDTIME STORIES” (1994). Em sites como o Mercado Livre, uma edição bem conservada do sexto disco da cantora em LP nacional pode custar R$ 140. Apesar de 1994 ter sido um ano MUITO bom para quem comprava CDs (foi o ano do Plano Real e você podia achar CDs importados até mais baratos que os nacionais), a Warner nacional não deixou de lançá-lo em vinil (duplo, com encarte) por aqui. A ideia do álbum era manter Madonna no mainstream, numa versão um pouco mais suave, depois do escândalo do livro Sex (1992).
RAIMUNDOS – “LAVÔ TÁ NOVO” (1995). Você pagaria R$ 300 por um LP dos Raimundos? Tem gente que paga: o segundo (e melhor, em nossa opinião) disco da banda brasiliense chegou a ser relançado há pouco em LP da Polysom. Mas a edição original da Warner custa entre R$ 200 e R$ 300 em sites de vinis usados. É o disco que tem as fundamentais Eu quero ver o oco, Tora tora e I saw you saying, lançadas após disputa da Warner com o selo Banguela (que lançou a banda e queria, segundo me disse certa vez o guitarrista Digão, dar orçamento humilde para o segundo disco deles, mesmo após o grupo ter conseguido o primeiro disco de ouro do rock brasileiro noventista).
MAMONAS ASSASSINAS – “MAMONAS ASSASSINAS” (1995). Com preços girando em torno de R$ 70, o único disco dos Mamonas Assassinas também saiu em LP (e cassette) e fez a alegria de muita criança que ainda não podia ter um CD player em casa por aqueles tempos.
VÁRIOS – “AXÉ BAHIA 96” (1995). Não falei que axé, pagode e sertanejo em vinil davam canal? Essa coletânea não é exatamente uma raridade (achei um anúncio por R$ 60 e um sujeito ainda tentou conseguir pagar R$ 20 no LP), saiu em CD também e oferece a chance de você relembrar hits de Netinho e Banda Eva em vinil – e ainda conhecer músicas de nomes pouco lembrados, como Pimenta N’Ativa, Pike e Curta-Metragem (?).
ROLLINS BAND – “END OF SILENCE” (1992). O disco que fez com que o mainstream prestasse atenção definitiva a um punk fortão, mauzão, tatuado, autor e editor de livros de poesia, e que gostava de gravar discos falados – e que brilhara na década anterior como vocalista do fundamental Black Flag. End of silence já era o terceiro LP da Rollins Band, do performático Henry Rollins, e ganhou edição em LP no Brasil. O mais bizarro é que o disco, já fruto de uma época em que álbuns eram pensados em formato CD, tinha quase oitenta minutos de duração. E se você está pensando que a gravadora optou – como se fazia muito na época – por dividir o conteúdo em dois LPs, está enganado. Quem comprou o disco levou tudo espremido num LP só, tendo o lado A 37 minutos, e lado B, 32 (!).
RACIONAIS MCS – “SOBREVIVENDO NO INFERNO” (1997). É pegar ou largar! A raríssima edição em vinil duplo do disco que virou em definitivo a chave do rap nacional custa apenas R$ 1000 (!!!) em alguns sites de vendas de LPs. Mesmo que a capa do disco sequer esteja em bom estado.
AEROSMITH – “BIG ONES” (1994). Sapateando na concorrência do universo rock´n roll, o Aerosmith comemorava a boa fase com uma coletânea e mandava bala em boas músicas novas, como Blind man. No Brasil, saiu em LP duplo.
RATOS DE PORÃO – “FEIJOADA ACIDENTE” (1995). A dupla de discos lançados pela banda com clássicos do punk (nacionais num dos álbuns, e internacionais em outro) também chegou ao vinil. Aliás, lá fora saiu até em fita K7.
https://www.youtube.com/watch?v=SCiQfdnKfS0
https://www.youtube.com/watch?v=J7zFnhLkyDM
KLEIDERMAN – “CON EL MUNDO A MIS PIES” (1994). O projetinho de Branco Mello e Sergio Britto, que davam um tempo dos Titãs e lançavam um disco pelo selo da banda, Banguela (apresentando Roberta Parisi na bateria), saiu em CD e também em LP. Quem via MTV lá pelos idos de 1994/1995, deve se lembrar do clipe de Não quero mudar, única tentativa de hit do disco.
PEARL JAM – “VITALOGY” (1994). Fã de vinil, Eddie Vedder não perderia a oportunidade de lançar no formato o disco que tinha o punk rock Spin the black circle, homenagem justamente a eles, os LPs. A versão bolachão do terceiro disco da banda saiu também no Brasil e tinha até a quilométrica e esquisitaça Hey foxymophandlemama, that’s me, que encerra o LP.
E em termos de discos nacionais, põe na conta aí mais seis pérolas do rock nacional dos anos 1990 também lançadas em vinil: o primeiro dos Raimundos (até hoje um item disputado em sebos), os dois primeiros de Chico Science & Nação Zumbi, Calango, terceiro disco do Skank e Sobre todas as forças, terceiro disco do Cidade Negra. E até Nada como um dia após o outro dia, disco de 2002 dos Racionais MCs, que também saiu no formato – e em vinil quádruplo, já que se tratava de um CD duplo e os discos dos Racionais têm duração enoooorme.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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