Cultura Pop
Guilherme Lamounier: cult e de volta em vinil

A receptividade ao segundo LP do compositor carioca Guilherme Lamounier (1950-2018), quando saiu em agosto de 1973, foi discreta. O álbum foi um dos raros discos nacionais que a gravadora Continental lançou pelo selo Atco (ligado à gravadora americana Atlantic), aproveitando o contrato que a empresa tinha com a Warner, que lhe permitia lançar LPs de bandas como Led Zeppelin, Yes e Emerson, Lake & Palmer no Brasil. Ainda assim, o disco epônimo, que foi relançado recentemente em vinil pelo selo português Mad About Records, teve tempo de se tornar uma obra bastante cultuada nos últimos quinze anos.
As poucas cópias do vinil colocadas à disposição no dia 21 de junho já se esgotaram na gravadora, embora alguns revendedores ainda tenham para vender. Para quem não conseguir comprar, o Mad About oferece o álbum digital no Bandcamp, à venda por 9 euros. Todo o trabalho foi feito pelo selo junto à Warner de Portugal.
“Comprei esse disco do Lamounier na minha primeira visita a São Paulo, acho que em 2003. Um amigo com quem andava a fazer compras de vinil chamou-me a atenção e me sugeriu”, conta Joaquim Paulo, dono do selo, que nunca tinha escutado falar em Lamounier. E acabou levando o LP assim que muita gente ouvia falar do álbum, por intermédio de downloads.
NAS PLATAFORMAS
Além do disco no Bandcamp, a Warner, só que a brasileira, animou-se para colocar Guilherme Lamounier (ou Guilherme Lamounier 1973, como ele se tornou conhecido entre fãs) nas plataformas. Alguns admiradores do disco criticam o som do disco no Spotify, preferindo a versão publicada no Bandcamp. O álbum chegou a ser remasterizado para um lançamento em CD há alguns anos, mas não chegou às lojas porque, consultado na época, Guilherme não concordou com o contrato de relançamento.
Viúva de Guilherme, Marcia Weber diz que ainda não há planos para novos lançamentos, embora o cantor tenha deixado um mundo de singles e EPs em gravadoras como Continental, Som Livre e Philips. O terceiro LP de Guilherme, igualmente com o nome dele no título, saiu em CD há alguns anos pelo selo Discobertas. O primeiro, lançado em 1970 pela Odeon (um doce para quem adivinhar o título) está nas plataformas digitais sem a capa original.
PSICODÉLICO
Guilherme Lamounier é apontado como “psych rock” em sites de vendas, mas lisérgica de verdade só mesmo a última faixa do disco, Cabeça feita, um hard rock com participação de Lanny Gordin na guitarra. O disco é repleto de baladas, das mais delicadas (Patrícia, Telhados do mundo, Capitão de papel) às mais intensas (Passam anos, passam Anas, uma balada blues cujo clima sonoro lembra, duas décadas antes, os discos do Black Crowes).
O disco era a segunda tentativa de Guilherme de dar certo, após um início fracassado como protegido de Carlos Imperial. O cantor chegou a ser vaiadíssimo num festival em 1970, mas porque Imperial, por trás dele, apareceu vestido de índio, com uma fantasia do Cacique de Ramos. As vaias não eram para Guilherme, mas o cantor ficou extremamente traumatizado e desapareceu por alguns anos, até retornar com o novo disco.
O repertório do LP de 1973 foi todo composto por Guilherme e Tibério Gaspar, ex-letrista de Antonio Adolfo. Antonio saíra do Brasil e Tibério, que conhecia Guilherme desde que ele era um adolescente de Copacabana, ficara espantado com as novas melodias do amigo. O repertório dos dois saía influenciado pelos novos nomes do bittersweet: James Taylor, Carole King, Carly Simon, além do clima Woodstock de Crosby, Stills, Nash & Young. Uma tendência que não havia aqui.
DEMOROU
Tibério e Guilherme começaram a compor em 1971 e logo conseguiram chamar a atenção de André Midani, da Philips, que se interessou pelo disco. Houve problemas com a censura “Passam anos era para ser Entre anos, entre Anas, porque Ana era um nome recorrente na minha obra. A censura cortou porque achou que era uma referência ao coito anal”, contou Tibério, morto em 2017. Cabeça feita, mesmo com versos como “a cabeça feita não marca bobeira”, passou.
Guilherme acabou se afastando – um comportamento errático que marcaria sua carreira, e que muitos creditam a problemas psicológicos. E a Philips desistiu do disco. Só em 1973, quando Tibério e ele nem compunham mais juntos, a Continental se interessou e contratou o cantor. Tibério reapareceu para ser fotografado com o amigo para a capa interna, meio chateado com o fato do lançamento ter ocorrido numa gravadora bem mais modesta que a Philips. “Esse som ia estourar aqui”, lamentou. O álbum foi gravado em São Paulo, mas com time de músicos quase todo do Rio – incluindo Luiz Claudio Ramos (violão) e Oberdan Magalhães (sopro).
SUCESSO DE RÁDIO EM PORTO ALEGRE
Guilherme gravou até 1975 na Continental – chegou a sair um EP em 1975 com a mesma capa do LP de 1973, trazendo uma mistura de faixas de compactos (como Me deixa viver como bicho na terra) com músicas do álbum. Mas o artista que se tornou popular rolou a partir de 1977, quando Enrosca estourou na trilha da novela Locomotivas. O álbum de 1973 encontrou pouco espaço em rádios e TV.
“Lembro de ouvir Guilherme na rádio Mundial, mas minhas memórias dele são mais dançantes. Mas lembro dos nomes das músicas Será que eu pus um grilo na sua cabeça? e Cabeça feita“, conta a radialista carioca Selma Boiron. O jornalista gaúcho Emilio Pacheco, no entanto, conta ter ouvido bastante GB em alto relevo e Mini-Neila em Porto Alegre, executadas pela histórica Rádio Continental, que pertencia ao Sistema Globo de Rádio, transmitia na frequência 1120 AM e fazia sucesso entre os jovens do Rio Grande do Sul. E que, por acaso, tinha um estilo de programação parecido com o da Mundial.
ESCOLHAS PRÓPRIAS
“As músicas brasileiras que tocavam na Continental raramente eram as ‘de trabalho’ indicadas pelas gravadoras com aquele carimbo da setinha. O diretor de programação Marcus Aurélio Wesendonk fazia suas próprias escolhas. Então, do Sérgio Sampaio, tocava Viajei de trem. Do Jorge Ben, entre outras, Errare humanum est. A versão de Medo de avião, do Belchior, que a Continental tocava em 1979 era a mais lenta, com parceria de Gilberto Gil”, recorda Emílio, que ouviu Mini-Neila em dezembro de 1973, num rádio-relógio no quarto de seus pais.
“O locutor sempre tinha algo a dizer no começo de cada música e, nesse caso, lembro bem que ele disse: ‘Joia brasileira’. Então eu já sabia que viria uma música brasileira. Era Mini- Neila. A Continental sempre dizia os autores das músicas brasileiras, então o locutor falou no final: ‘Guilherme Lamounier, dele e do Tibério Gaspar, Mini Neila‘. Eu me apaixonei pela música”, recorda ele, que considera o álbum um dos melhores discos de música brasileira de todos os tempos, mas não se sentiu muito atraído pela continuidade da obra do cantor.
Emilio não comprou o disco na época, mas lembra-se do álbum exposto nas vitrines das lojas de Porto Alegre. “O que tocava na Continental geralmente virava sucesso entre os jovens, mas não lembro de ter visto o LP em nenhuma lista de mais vendidos dos jornais locais. Meu irmão tinha o LP e o trouxe para tocarmos nas nossas ‘reuniões dançantes'”, conta. “De certa forma, me lembrava a fórmula do Elton John, em que canções acessíveis traziam letras sofisticadas. E Guilherme tinha ótima voz”.
FÃS RECENTES
O preço do álbum de Lamounier, de lá para cá, já variou bastante. Exemplares de 1973 já foram vistos à venda por mais de R$ 1.000. Já o site Discogs traz vendas do relançamento da Mad About por preços entre R$ 150 e R$ 200. “Eu só tive três cópias desse LP do Guilherme em 25 anos. Por aqui ele quase não apareceu. O preço dele seria algo em torno de R$ 2 mil, né?”, diz Eduardo Lemos, dono da loja de discos Melômano, de Maringá (PR). O EP de Guilherme com a mesma capa do LP, aliás, pode ser achado nas mãos de alguns vendedores pelo mesmo preço de R$ 2 mil.
Em 2003, Guilherme Lamounier, o disco, fez 30 anos. Quem ouviu o álbum de lá para cá, aproveitou-se de uma onda típica do começo da web 2.0: os blogs de MP3, além das antigas comunidades do Orkut também dedicadas a divulgar arquivos de discos antigos – zipados e compartilhados em sites como Rapidshare e Sendspace. Impossível precisar quantos downloads do disco foram feitos dessa forma. Essa redescoberta animou até mesmo o Kid Abelha a gravar uma das faixas do disco, Será que eu pus um grilo na sua cabeça?, em 2005.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Peraí, quem é Celso Zambel?
O radialista e jornalista Bruno Capelas é um desses fãs que conheceram o disco já na era digital, tirado do vinil e transformado em MP3, e se assusta com o fato de uma obra dessas ter passado despercebida quando saiu.
“Desde as primeiras vezes que escutei esse disco, eu me surpreendi com duas coisas: a primeira é a capacidade do Guilherme Lamounier de escrever melodias pop-rock de uma sensibilidade rara. A segunda é porque raios esse disco passou despercebido”, afirma ele, que apresenta o Programa de indie, na Rádio Eldorado. “Não é só uma mera questão de refrães: é um disco com apuro estético – a flauta do Oberdan em GB e os coros de Neila, enquanto escrevo, não me deixam mentir. É sofisticado, mas ao mesmo tempo simples. E além de tudo, tem as letras do Tibério Gaspar, que é outro cara incrível e que precisa ser redescoberto, sempre”.
“É um disco que nem em sua época gerou muito barulho, então faz sentido que nem as gravadoras direito se lembrem dele. Mais legal é pensar que agora ele deixou de ser um artigo empoeirado em MP3 e YouTube, e que está disponível no streaming. É uma diferença pequena, mas que faz a diferença para a sobrevivência de uma obra nos dias de hoje. Doido pra colocar Mini Neila na minha playlist de powerpop. Agora só falta esperar chegar Enrosca, na versão original, pra inserir numa mixtape virtual pro crush”, brinca
TRABALHO
Um desses fãs da era digital foi bastante tocado pelo disco, a ponto de juntar forças com a viúva de Lamounier pelo resgate de sua obra. Alípio Argeu, músico baiano de 26 anos, montou a conta do Instagram Guilherme Lamounier Oficial, que dá imagem à vida e obra do cantor, com fotos raras, matérias de jornal e artes exclusivas. Recentemente resgatou um vídeo com uma vinheta instrumental feita pelo Guilherme em casa, em 2007, além de uma gravação dele cantando De frente pra realidade.
Alípio fez até mesmo o texto para o relançamento da Mad About, e vem procurando material de Guilherme em jornais e gravadoras. “O trabalho está andando. Conseguimos localizar amigos do Guilherme e fãs afim de contribuir de alguma forma com esse resgate”, afirma o pesquisador. “Os contatos estão acontecendo pelas redes sociais entre anônimos e famosos, como Fábio Stella, Rosa Marya Collin, entre outros”.

Guilherme e Marcia Weber, em 2007 (foto: divulgação)
>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.
4 discos
4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.
Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.
O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.
Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto
“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.
Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).
“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.
Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.
“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.
Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.
“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.
A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.
Cultura Pop
Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:
- É a 67ª edição da premiação.
- Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
- O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
- Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
- O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
- Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.
E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.
(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).
Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar
Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin
Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX
Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish
Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Billie Eilish
Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé
Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)
Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX
Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).
Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.
Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.
Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.
Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon
Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).
Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Crítica
Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.
Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.
Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.
No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.
Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).
Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?