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Som

Em casa com Dorothy, Raymond e um monte de invenções musicais malucas

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Você pode não ter ouvido falar nunca do casal Raymond Scott (1908-1994) e Dorothy Collins (1926-1994). Mas se bobear, morreria de vontade de morar na casa deles. O relacionamento dos dois gerou dois filhos e alguns discos em conjunto – como o jazzístico e maluco At home with Dorothy and Raymond, lançado em 1957 pela Coral, uma subsidiária jazzística da Decca Records. É a maravilhosa bizarrice abaixo, com músicas como Bird life in the Bronx e Dedicatory piece to the crew and passengers of the first experimental rocket express to the moon.

Agora dá só uma olhadinha na parafernália eletrônico-musical que Raymond e sua então mulher guardavam numa sensacional casa de 32 quartos (um “labirinto musical”) em Manhasset, Nova York.

A foto acima saiu num número de 1959 da Popular Mechanics, numa reportagem que mostrava parte da aparelhagem do casal – incluindo muitos aparelhos inventados pelo próprio Raymond. Scott era descrito como um “engenheiro de som autodidata” que trafegava tanto pelo jazz (era band leader desde cedo) quanto pelas trilhas de filmes, e também por sons mais pop – cujos vocais eram feitos por sua mulher.

Raymond, cujo nome na verdade era Harry Warnow, tinha inventado entre outras coisas um rudimentar sampler de voz – o clavivox, que tinha teclados e pedais, e dava modulações novas à voz humana. Tinha ainda o videola, aparelho que projetava filmes em outras salas, por controle remoto – e ainda contava com um aparelho de reprodução de som, que permitia a Raymond trabalhar em trilhas sonoras vendo os filmes simultaneamente.

Se você acha natural ouvir rádios do mundo todo pelo TuneIn, em 1959 não era nada comum: Raymond precisou inventar um aparelho para captar todas as rádios que quisesse, e que tinha instalado ao lado de sua cama. Não tinha podcast, mas o cara já tinha um outro aparelho que pegava transmissões amadoras, para saber quais eram as novas do mundo do rádio. A fita k7 tá voltando à moda e você não tem nem sequer um toca-fitas para usar? Nosso amigo já tinha um aparelho com busca automática de faixas.

Apesar da união musical, o casamento de Raymond e Dorothy durou só de 1952 a 1965 – ambos teriam outros relacionamentos na sequência. Já o legado do músico foi mais durável do que o matrimônio. O pioneirismo de Raymond o levou a partir para novos ofícios: trabalhou com música clássica, foi diretor de gravadora, lançou a série de discos Soothing sounds for baby em 1964 (só com músicas para botar crianças para dormir) e até ajudou no desenvolvimento de um chocalho eletrônico para bebês (!).

De 1971 a 1977, Scott foi diretor do departamento de pesquisa em música eletrônica da Motown – mas não chegou a desenvolver nenhum trabalho para a gravadora, que ainda assim investiu em projetos do músico, como o sintetizador Electronium, que não ficava pronto nunca. O único aparelho que chegou a ser montado foi comprado por ninguém menos que Mark Mothersbaugh, do Devo, em 1996. Olha ele mostrando o aparelho aí.

Infos de The Guardian

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Crítica

Ouvimos: Peter Doherty – “Felt better alive”

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Ouvimos: Peter Doherty - "Felt better alive"

RESENHA: Peter Doherty renasce no country rock em Felt better alive, disco de histórias rurais, faroeste psicodélico e gratidão pós-caos.

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Peter Doherty, o líder dos Libertines, é o sobrevivente mais jovem do rock. Enganou a morte por uma gota – e estamos falando de uma pessoa que costumava se divertir com ninguém menos que Amy Winehouse, e que no meio de uma rebordosa de drogas, simplesmente resolveu assaltar o apartamento de seu colega de banda Carl Barat.

Felt better alive, seu quinto disco solo, traz o som de alguém que se sente grato e feliz por ter conseguido escapar do pior – mas que se divertiu muito enquanto curtia os frutos proibidos da vida. Peter escolheu o country, estilo musical eternamente associado a contadores errantes de histórias, para balizar o disco – e o repertório associa-se também a seu atual estado de morador da área rural da Normandia, pai de três filhos (Billie Mae, a mais nova, é homenageada na doce e suingada Pot of gold, com emanações tanto de Bob Dylan quanto de Red Hot Chili Peppers), socialista, limpo e livre de vícios ilegais desde 2019.

  • Fizemos resenha do disco mais recente dos Libertines, All quiet on the eastern esplanade.

Felt better alive é um disco, na real, de country rock, com cordas que dão um ar bonito e triste a faixas como Calvados, Out of tune balloon (na cola tanto de Bob Dylan quanto de Tom Waits) e a música-título (que tem uma baita cara de música de faroeste). A nata da malandragem ganha homenagem em Poca Mahoney’s, uma curiosa mistura de canção francesa com tema punk – que vira um curioso hardcore no fim.

Por sinal, sons do país onde Doherty está atualmente morando dão as caras também em Stade océan, quase um blend de Serge Gainsbourg e os álbuns solo de John Frusciante, e o faroeste não-estadunidense de Prêtre de la mer. E até David Bowie é convocado como referência em Fingee, som estiloso, acústico, blueseiro, com cara sonhadora e levemente psicodélica. Um disco de música e histórias, onde Peter arrisca-se a se tornar um menestrel punk-country, a seu estilo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Strap
Lançamento: 16 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: TVOD – “Party time”

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Ouvimos: TVOD - "Party time"

RESENHA: TVOD mistura punk e pós-punk em Party time, disco barulhento e introspectivo sobre solidão, abuso e amores fracassados.

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O título Party time pode parecer convite para uma festa insana, mas o terceiro disco da banda nova-iorquina TVOD (“television overdose”) vai além do porre coletivo. Punk e pós-punk de boas guitarras, com clima espacial e um synth apitando para avisar que a festa ali é para quem dança na pista, mas também viaja sozinho pelos cantos.

Os temas abordados nas letras também estão bem longe do clima “festeiro”: quase sempre, Party time fala de abusos, acidentes, amores cagados, morte, solidão – embora a faixa-título fale de uma festa bêbada e nudista que vai até altas horas. De modo geral, Party time é um disco introspectivo com coração barulhento – como se a Gang of Four encontrasse os Buzzcocks numa pista meio vazia, cheia de luzes piscando.

Uniform abre os trabalhos com um riff bêbado de sintetizador. Já Car wreck surfa em guitarras com wah-wah e clima voador, com algo de Syd Barrett. Pool house cruza The Cars e Pixies no meio do caminho entre o punk e o pop sombrio. Em Empty boy, o som cresce em camadas psicodélicas, enquanto Super spy chega a lembrar o U2 em começo de carreira – só que ganhando vocais falados na cola do Sonic Youth. A viagem continua com Mud, que parece o B-52’s em órbita. Wells fargo mistura o cima ríspido e nervoso do The Fall com viradas sessentistas, sons rangendo e clima de garagem. Alcohol desacelera num clima sombrio que remete à fase atual dos Pixies.

No mais, Take it all away traz guitarra econômica e eficaz. Bend ganha batida quase cigana no início, e conclui levando a argamassa sonora dos Pixies para o espaço. E no final, tem a faixa-título, com clima herdado de The Cars, um theremin possuído, guitarras ruidosas e vocais falados lembrando Talking Heads. Um disco coeso, sujo e sentimental.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Mothland
Lançamento: 9 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Cristian Dujmović, “Atisbo” (EP)

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Ouvimos: Cristian Dujmović, "Atisbo" (EP)

RESENHA: Cristian Dujmović mistura pós-punk, bossa e MPB setentista no inventivo EP Atisbo.

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Cantor e compositor formado entre os sons da Argentina e da Espanha, Cristian Dujmović herdou muito da magia do rock argentino na construção de melodias e arranjos, voltando-se para um som ligado ao pós-punk e para algumas doses de experimentalismo musical.

Segundo lançamento após o álbum Desde acá (resenhado aqui), o EP Atisbo abre com as inseguranças e ansiedades de Shock, repleta de riffs simples e bem bolados, de climas entre o luminoso e o sombrio, e apresentando algo de bossa nova na melodia. A mesma vibe, por sinal, surge no jogo de acordes da sinuosa Sin cuerpo.

Já a bela Animal tem algo de rock gaúcho (Nenhum de Nós, Cidadão Quem), e simultaneamente, uma musicalidade que une anos 1990 e 1980. No final, a abolerada Destello ganha uma cara musical próxima da MPB setentista (Beto Guedes, Flávio Venturini), e Quemar tem tom ambient na abertura, emendando com um pós-punk vigoroso e levado adiante por baixo e bateria bem marcados.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de maio de 2025.

 

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