Cultura Pop
Cadê o Pat The Bunny?
Não existem muitos músicos de rock e pop que podem se considerar aposentados antes dos 30 anos. Mas com certeza Patrick Schneeweis, nascido em Vermont (Estados Unidos) em 1987, é um deles. Mais conhecido pelo nome artístico de Pat The Bunny, e dono de uma carreira marcada pelo apego ao folk punk e a ideais anarquistas, ele anunciou em 2015 que estava largando a ideologia anarcopunk, que surgia em praticamente todas as letras dos projetos que manteve ao longo da carreira. Assinou a nota como “Pat (finalmente sem o ‘Bunny’)”.
“Nada do que escrevo parece muito hábil em comunicar o que estou tentando dizer, mas parece importante dizer que não sou mais um anarquista ou um punk. Meu ponto de vista mudou dramaticamente nos últimos seis a nove meses, e esse tipo de política e de música não está mais onde meu coração está. Não tenho interesse em convencer ninguém de nada, por isso é tudo o que é importante dizer sobre isso. Só não quero que as pessoas se sintam enganadas quando compram ou ouvir minha música”, escreveu o cantor e compositor, que em outros tempos era conhecido por canções como Orgasmos do faça você mesmo (DIY orgasms), Canção para uma conta da Netflix (Song for a Netflix account), Não nos cansamos, ficamos quites (We don’t get tired, we get even) e outras.
Recentemente um amigo do POP FANTASMA sugeriu Pat como exemplo de artista que deixa todo mundo meio deprê quando se escuta as canções dele. Patrick, hoje quieto no canto dele, teve uma vida nada fácil: internou-se em 2009 para tratar da dependência de álcool e heroína e já avisou que sua carreira poderia parar ali. Suas canções falam sobre temas tão diversos e espinhosos quanto o amor, o ódio, o uso de drogas, os males do capitalismo, a pobreza e o suicídio. Sua vida pessoal é um mistério poucas vezes falado por ele em entrevistas.
Uma crônica no site Pop Matters lembra que certa vez, Pat agendou uma turnê de um de seus projetos, o Ramshackle Glory, definido como “uma banda de punk rock com todos os instrumentos errados” (era uma big band de 12 integrantes que usava instrumentos como acordeão e banjo). Só que no site do grupo não informou nada a respeito de locais e datas. Os fãs tiveram que suar para descobrir onde seriam os shows. Descobriram.
Esses confusionismos eram comuns na obra de Pat, que em 2000 abriu os trabalhos de seu primeiro grupo, Johnny Hobo and the Freight Trains (Trens de Carga). Muita gente pensava que ele “fosse” o Johnny Hobo, e aliás o grupo em vários momentos se apresentou como ato solo, com Pat sendo o único integrante no palco. De 2003 a 2005 foram cinco discos, lançados em formato CD-R. Também saíram discos divididos com outras bandas e até um the best of.
Nessa época, Pat também colaborou num projeto de bedroom music de seu irmão Michael, o Sad Joys. E logo na sequência viria o Wingnut Dishwashers Union, outra banda de Pat, na qual ele tocava um pouco mais de guitarra. O grupo fazia turnês constantes (o próprio Pat arrumava o equipamento e dirigia) e gravou álbuns em CD-R e em formato digital.
Entre os discos lançados pelo grupo estão Toward a world without dishwashers (Rumo a um mundo sem máquina de lavar louças, de 2007) e Never trust a man who plays guitar (Nunca confie num homem que toca guitarra, de 2008). O anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon foi o personagem de Proudhon in Manhattan, uma das músicas do grupo.
O projeto foi interrompido porque Pat foi para a reabilitação. Pat passou a compor para um projeto solo, que gerou vários CD-Rs lançados com seu nome, e que gerou também o material do Ramshackle Glory. As letras dessa época giravam em torno de suas experiências pessoais com drogas, reabilitação, e outros assuntos. O material de canções como Take me by the hand and lead through this disaster era bastante confessional e dava a entender o quanto Pat tinha sofrido nos últimos anos. Essa é a canção dos versos “eu estive deitado no chão/sozinho e sem me lavar, sem coragem suficiente para escovar os dentes”.
Nessa época, Pat ficou especialmente prolífico. Até mesmo uma espécie de disco conceitual de 25 minutos, Big Swamp Gospel, emergiu em 2013. O disco, dividido entre Pat e o amigo Wyndham Maxwell, falava de “Deus e do demônio numa cidade pequena” e permanecia no folk punk de lançamentos anteriores. Uma coisa ou outra lembrava uma espécie de Queen lo-fi.
O material de Pat hoje repousa em seu Bandcamp. O último disco, o EP Cocoon music, tá lá e tem canções como This is it (Michael Jordan touchdown pass cover). “Patrick Schneeweis (sou eu!) escreveu e gravou as músicas, com uma ajuda enorme dos efeitos e instrumentos de software do GarageBand”, afirma Pat, assinando com seu nome verdadeiro.
Opa, Pat andou subindo no palco, em clima de aparição especial, em 2019. Um cara fez um vídeo da noite.
https://www.instagram.com/p/Bv5vY0MlFXE
Cultura Pop
No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970
No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!
Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.
Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).
Crítica
Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)
Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.
O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).
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O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.
And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.
Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor
Crítica
Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”
A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.
O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).
O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.
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- Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
- Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators
Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.
Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.
Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records
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