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Destaque
Que saudade do Apple Pippin

O comercial abaixo anunciou um produto que, caso tivesse conseguido vender bastante, teria provocado uma revolução no mundo da informática e, mais especificamente, da internet. Na época em que qualquer zé mané sonhava em ter um “kit multimídia” em casa (lembra disso?) lá vinha a Apple, fazendo de tudo para voltar à dianteira do mercado de computadores, oferecendo uma verdadeira central tecnológica chamada Apple Pippin.
O Pippin, pelo menos no entender de Satjiv Chahil (que era vice-presidente da Apple na época do seu lançamento) ia “muito bem”. Pelo menos foi assim que ele se referiu à plataforma durante um voo rápido ao Brasil, quando bateu um papo com o jornal O Globo. “Acredito que ele será um tocador de multimídia ideal”, contou. “Como bônus, ele pode ser transformado num computador com a simples adição de periféricos e tornar-se a set-top do futuro, dando acesso à Information Highway”. Em 1995, esse papo de “autoestrada da informação” era sinônimo de internet.
PARCEIROS
O Pippin surgiu (em dezembro de 1994) numa época em que a Apple tentava se reestruturar e investia forte até mesmo no mercado de videogames, que era filé-mignon por aquele período. A empresa tinha ficado vários anos sem seu criador, Steve Jobs, que saiu em 1985 e só retornaria em 1997 como CEO. Projetos como o Newton, uma espécie de pequena plataforma multimídia lançada em 1993, não tinham conseguido o sucesso desejado e não continuaram no mercado. Para piorar, os consumidores de informática, em sua maioria, só tinham olhos para os produtos da Microsoft, que invadia o mercado com estratégias como permitir que o Windows viesse em computadores mais acessíveis.
E aí que a Apple teve uma ideia que parecia boa (e contrariava formalmente a mania de controle que marcara a empresa na era Jobs): a empresa japonesa Bandai seria a responsável pela fabricação e pela distribuição do produto. Em 1994, a empresa já havia conversado com a Apple sobre uma parceria, com a ideia de desenvolver um computador portátil voltado para jogos no hoje saudoso formato CD-ROM. Ficou definido que a Apple cuidaria apenas de assuntos como design e hardware.
MAS O QUE ERA ESSE TAL DE PIPPIN?
O Pippin já tinha um fator complicador que pode matar qualquer tipo de produto logo no comecinho, que é o “parece, mas não é”. Não “era” um computador nem um game comum, mas era isso tudo ao mesmo tempo. E numa época em que muita gente achava que nunca nem precisaria de um computador em casa, era duro explicar isso.
No geral, tratava-se da Apple quase pensando um kit da mesma forma que um computador é usado hoje em dia. Ou seja: como uma central de entretenimento que pode ter livros, documentos de trabalho, a vídeos, interações com pessoas, jogos, fotos da férias em Cambuci, etc. A empresa chamava a nova engenhoca de “parte integrante do ambiente audiovisual, estéreo e televisivo do consumidor”. O aparelho tinha drive de CD de quatro velocidades, processador PowerPC da IBM de 66 MHz, placa gráfica com 16 bits de cores e modem de internet. Também tinha controles de jogos e cabiam nele mouse e teclados.
NÃO DEU NÃO
A ideia da Apple – inclusive quando resolveu fazer parceria com a Bandai – era baratear a chegada do aparelho ao consumidor. O modem de internet foi baratíssimo e não era dos mais potentes. Como o computador não era distribuído com um monitor, as pessoas tinham que ligá-lo em seus aparelhos de TV. Só que, você deve se recordar, nos anos 1990 os aparelhos ainda eram de tubo – ou seja: não daria para esperar muita resolução.
Ainda assim, o Pippin foi resistindo, com algumas mudanças na maneira como ele era apresentado ao mercado. A empresa norueguesa Katz Media responsabilizou-se por distribuir o aparelho nos EUA e Canadá, a partir de 1996, quando a internet já era uma realidade. Bom, uma realidade com poucos usuários, mas uma realidade – em maio de 1997 só 20% de moradores do Canadá tinham acesso.
300 MIL?
Um problema que muita gente costuma apontar como determinante para o fracasso do Pippin: ele não tinha jogos embutidos e até seu fim, teve uma biblioteca de jogos muito escassa. O estúdio Bungie, que anos depois faria jogos como Destiny, levou o jogo de tiro Marathon para o Pippin. Mas não foi um grande sucesso. O papo geral sobre o aparelho é que ele fazia de tudo, mas não fazia nada direito.
No primeiro ano de vendas, a previsão da Bandai para o Pippin era de 300 mil unidades vendidas. Não chegou nem perto disso (fala-se até em 42 mil consoles comercializados). O console pensado para lançamento nos EUA, o @WORLD, ficou impopular a ponto do produto ser descontinuado e as sobras serem despachadas para o Japão.
E DEPOIS?
E depois, em 1997, Steve Jobs voltou para a Apple como CEO e acabou com a festa do caqui dos produtos clonados e feitos em parceria. O Pippin foi tirado em definitivo do mercado. Na época, a empresa estava no inferno por causa da venda de produtos pouco atraentes, e tinha grana para sobreviver 90 dias, se tanto. A empresa precisou de uma reestruturação enorme e vendeu até ações para a Microsoft – recuperadas depois.
A parceria com a Bandai foi igualmente pro espaço, mas a empresa ainda ofereceu suporte para os usuários resistentes do Pippin até 2002. Hoje o aparelho entrou para o museu de badulaques internáuticos que não deram certo, e volta e meia um ou outro youtuber acha alguma máquina antiga e faz um vídeo de “teste” com ela. Esse é um deles.
E já que você chegou até aqui, pega aí mais um promo da Pippin.
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Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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