Artes
Andy Warhol: o documentário banido da TV

Você leu livros como Famosos por 15 minutos – Meus anos com Andy Warhol, da Ultraviolet? E sentiu um misto de fascínio, repulsa e (vá lá) medo por aquela loucura toda da Factory (o ateliê-escritório-tudo de Warhol)?
Bom, você não está sozinho. Em 1972, o celebrado fotógrafo de moda David Bailey fez, sob encomenda do canal ITV, um documentário sobre Warhol que já abria batendo nessa tecla, num texto de abertura. Explicava, já no fim de festa da Factory, que o estilo de vida de Warhol e sua turma poderia soar como degradante e ofensivo para muita gente. E que era necessário ver o que havia de realidade e fantasia nisso tudo.
Bailey, hoje com 81 anos, foi o fotógrafo-celebridade da Vogue nos anos 1960 e tinha sido o inspirador do fotógrafo Thomas (David Hemmings) de Blow up, de Michelangelo Antonioni. Mesmo não tendo experiência em direção de documentários, foi contratado pela ITV para fazer uma série de docs sobre arte. Fez um sobre Cecil Beaton, um sobre Visconti e o de Warhol. Este último, programado para ser exibido em 1973 após mais de um ano de trabalho de Bailey e sua equipe, foi censurado no último minuto antes de ir ao ar.
Um dos maiores objetivos (atingidos) de Warhol, o filme, era capturar o que havia de mais interessante nas técnicas do artista. E mostrar no que exatamente ele havia sido pioneiro, seja em arte, música ou comportamento. Não economizou no lado “cinema-verdade” da coisa, com imagens de Bailey deitado na cama ao lado de Warhol e cenas com todo tipo de gente que frequentava a Factory naqueles tempos. Uma das cenas mais exploradas pelos tabloides da época (antes do filme ir ao ar) foi da atriz Brigid Berlin fazendo tit press: pintando os seios e, com a tinta na pele, imprimindo papeis.
O site Reprobate Press conta a história do filme e de sua censura com detalhes e explica que Ross McWhirter, ex-editor do Livro Guinness dos Recordes e fanático direitista, sequer chegou a ver o filme. Mas viu as reportagens publicadas na imprensa e resolveu fazer justiça a seu modo. Emitiu um mandado para a empresa que controlava a ITV proibindo o filme, baseado nas descrições da cena dos seios e de uma outra que falava sobre fazer sexo em uma motocicleta viajando a 60 km/h (e que – oh Deus – contrariava normas de trânsito).
McWhirter só contou vitória por pouco tempo, porque o filme foi exibido em março pelo canal, sem cortes e sem maiores problemas. O estrago foi feito de qualquer maneira, já que Bailey nunca mais dirigiu nada para a ITV. Mas o filme ficou bastante famoso. E alguém jogou no YouTube. Pega aí antes que tirem.
Artes
Frank Kozik, criador de capas de discos e pôsteres, morre aos 61

Frank Kozik, um dos mais criativos artistas gráficos e criadores de capas de discos dos últimos 30 anos, morreu no sábado, de causas não-reveladas, aos 61 anos, na Califórnia. Nascido na Espanha e radicado nos Estados Unidos, filho de norte-americano e espanhola, Kozik fez artes para bandas como Queens Of The Stone Age (o primeiro disco, de 1998, epônimo), Melvins (Houdini), Offspring (Americana), e ainda criou pôsteres de turnê para Nirvana, Sonic Youth, White Stripes, Butthole Surfers e outros grupos.
“Frank era um homem maior do que ele mesmo, um ícone em cada gênero em que trabalhou”, diz uma declaração compartilhada pela esposa de Kozik, Sharon. “Ele mudou drasticamente a indústria da qual fazia parte. Ele era uma força criativa da natureza. Estamos muito além de sortudos e honrados por fazer parte de sua jornada, e ele fará falta além do que as palavras poderiam expressar”. Ele costumava atribuir muito do seu trabalho artístico ao fato de ter “um senso de humor sombrio” e a ter crescido no meio do punk rock.
Kozik começou a fazer pôsteres enquanto morava em Austin, Texas, no início dos anos 1980 e chegou a trabalhar com publicidade antes das capas de discos, Também foi dono de uma gravadora, a Man’s Ruin Records, e foi diretor criativo da Kidrobot, a empresa de brinquedos artísticos de edição limitada. Dirigiu também um clipe do Soundgarden, Pretty noose.
Artes
E se a capa “da raquete” do disco Houses Of The Holy, do Led Zeppelin, tivesse sido feita?

Se você ouviu o episódio mais recente do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, sobre o Led Zeppelin no ano de 1972 (não ouviu? tá aqui), deve lembrar que em 1972, o grupo estava elaborando o disco Houses of the holy, que acabou sendo lançado só um ano depois. E que antes daquela capa com as crianças ficar pronta, Storm Thorgerson, da empresa Hipgnosis, havia sugerido a eles uma capa “com uma quadra de tênis verde e uma raquete” – que Jimmy Page odiou.
Aparentemente essa capa rejeitada (rejeitadíssima, Page ficou p… da vida com a sugestão e mandou o designer sumir da frente dele) nunca tinha sido desenhada. Pelo menos até agora. A Aline Haluch, que faz as artes do Pop Fantasma Documento e do Acervo Pop Fantasma, fez três versões da ideia original de Storm para Houses of the holy. Mais do que uma brincadeira com a história, fica aqui como homenagem a esse designer morto em 2013, e que revolucionou as capas de discos.
“A ideia foi fazer aquelas brincadeiras das capas do Pink Floyd, como a do cara cheio de lâmpadas no disco ao vivo A momentary lapse of reason (de 1988, feita pelo mesmo Storm Thorgerson). Quis brincar com as sobreposições das redes, mas são redes de aço, aquelas de cadeia. Um pouco como se fosse um condomínio, já que tênis é um jogo da elite, cercada de proteção”, conta. “Na segunda capa, a própria raquete é de grama. E na terceira, tem um céu, meio que para brincar com a paisagem da capa do disco Atom heart mother, também do Pink Floyd (1970, com capa também de Storm)“.
A que a gente mais gostou (a do céu), ganhou a faixinha branca com o nome do disco e da banda, que vinha envolvendo a capa do LP original. 🙂
Artes
Aquela vez em que Elifas Andreato começou a fazer capas de discos

“Em 2009, os jornalistas Marcos Lauro e Peu Araújo entrevistaram o artista plástico Elifas Andreato para uma matéria sobre capas de discos. A ideia era falar com capistas profissionais e amadores sobre as mudanças de formato que a internet impunha – do tamanho do vinil ao thumbnail da rede mundial. Players como Spotify já existiam, mas ainda não eram populares como hoje. A matéria nunca saiu, isso acontece. Mas um trecho do material guardado está aqui em homenagem a Elifas Andreato, que nos deixou no dia 29 de março aos 76 anos. Vida eterna ao artista e sua imensa obra”.
Em 2009, @peuaraujo__ e eu entrevistamos o artista plástico Elifas Andreato para uma matéria sobre capas de discos. A ideia era falar com capistas profissionais e amadores sobre as mudanças de formato que a internet impunha – do tamanho do vinil ao thumbail da rede mundial.
— Marcos Lauro (@marcoslauro) March 30, 2022
Logo depois que Elifas morreu, o radialista, jornalista e podcaster Marcos Lauro subiu no YouTube esse bate-papo dele e de Peu com o capista. A conversa é curtinha mas cheia de detalhes a respeito de como Elifas entrou no mundo das capas de discos – ele trabalhava na editora Abril Cultural em 1970 e acabou fazendo as capas da série História da Música Popular Brasileira, com discos vendidos em bancas de jornal. O trabalho gráfico foi considerado inovador para a época, “e a ideia era interpretar cada personagem de uma maneira”, conta. Foi a partir daí que Elifas conheceu vários artistas e se envolveu com o trabalho nas capas de discos. Partiu direto para a produção de uma capa de Paulinho da Viola – a do disco Foi um rio que passou em minha vida, em 1970, mas ainda apenas usando uma foto do cantor, sem desenhos.
Confira o bate-papo aí.
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