Cultura Pop
E aí, dá pra defender Thank You, disco de covers do Duran Duran?

A revista Q considerou Thank you, disco de covers do Duran Duran lançado em 1995, como “o pior disco de todos os tempos”. O álbum, lançado dois anos após o bem sucedido “wedding album” (Duran Duran, o de Come undone e Ordinary world), trazia uma gama de versões bem louca, digamos assim. Tinha coisas que você jamais imaginaria escutar na voz de Simon Le Bon, como 911 is a joke (Public Enemy), White lines (Grandmaster Flash), Lay lady lay (Bob Dylan) e a faixa-título (aquela mesma do Led Zeppelin).
Se você quiser tirar suas próprias conclusões, o disco está nas plataformas digitais.
Na época, o New Musical Express foi atrás dos fãs das músicas originais e… surpresa: vários deles curtiram as versões do Duran Duran. Alguns desejaram boa sorte para o grupo, outros deram declarações isentonas (“e, isso aí não é ruim”). Um fã de Sly Stone ouviu atentamente a versão para I wanna take you higher e ironizou: “Se eu não soubesse que era o Duran Duran, teria gostado muito mais. O que é perturbador, porque gostar de uma faixa do Duran Duran é repugnante para mim. Então eu realmente não sei o que está acontecendo. Meu deus”, brincou.
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A Parlophone, gravadora do grupo, resolveu se armar: mandou para a imprensa um kit promocional em vídeo com entrevistas não só com a banda, como também com alguns dos autores relidos no disco. Lou Reed ficou feliz com a versão de sua Perfect day e disse que tratava-se “do melhor cover já feito de uma de minhas canções”. Flavor Flav, do Public Enemy, disse que era “uma honra e um prazer” ter sua música cantada pelo grupo. Bob Dylan e Robert Plant também disseram gostar das releituras.
Eu particularmente sou fã da versão deles para White lines, de Grandmaster Flash.
O Duran Duran, por aqueles tempos, era uma banda mimoseada por causa do sucesso do disco epônimo de 1993. Uma nova geração de fãs foi apresentada ao trabalho deles por causa da bela Ordinary world, enfim. Para a tristeza de muitos fãs, o álbum de família estava incompleto: restavam Simon (vocal), Nick Rhodes (teclados) e John Taylor (baixo) da formação original. O batera original Roger Taylor reaparecera rapidamente para tocar em duas faixas como convidado. Já o fortão Warren Cuccurullo, que começara como músico convidado na história do grupo (no disco Notorious, de 1986), virara desde 1990 parte integrante do negócio, compondo, decidindo arranjos e dando entrevistas. E tava também lá em Thank you.
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A bem da verdade, a ideia de gravar um disco de covers já vinha da época em que o Duran Duran se separou, em meados dos anos 1980. “Nick e eu, lá por… 1985, tivemos a ideia de lançar um disco de covers, mas a ideia evoluiu para o lançamento do disco do Arcadia (banda que uniu os dois, na entressafra do DD). Fizemos uma lista de canções para gravar, mas depois gravamos as canções do Arcadia. E naturalmente essas músicas da lista estão em Thank you“, relembrou Simon no tal promo distribuído pela Parlophone. “As músicas não estão no disco porque são minhas favoritas, mas porque são landmarks na história da música”.
Em abril de 1995, Simon Le Bon bateu um papo com a repórter Claudia Grechi para a Bizz, e além de relatar que adoraria ganhar um disco de forró (!), contou um pouco da história do disco. Apesar do lance vir da época do Arcadia, John Taylor, que não estava no projeto, escolheu a maioria das músicas, na lembrança do vocalista. “Minha favorita é The crystal ship, dos Doors. Eu acho que conseguimos acrescentar algo novo às músicas. Não é como rever o passado, simplesmente”, recorda. Disse também que tinha adorado Loser, do Beck, e que seu grupo favorito era o Oasis.
Talvez você nem se lembre, mas Thank you tinha uma única música autoral, Drive by. A canção funcionava como uma espécie de retro-introdução de The chauffeur (música do disco Rio, de 1982). Era basicamente um texto falado com música no fundo, e era bem mais sombria que o normal do DD.
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A edição japonesa do disco tinha a (boa) versão da banda para Diamond dogs, de David Bowie. E a releitura de Femme fatale, do Velvet Underground (que havia saído justamente no “wedding album”).
O single britânico de Perfect day teve The needle and the damage done, do Neil Young, como B-side.
De qualquer jeito, Thank you daria uma boa desidratada nas expectativas dos fãs e da crítica em relação ao Duran Duran. Cuccurullo e Nick Rhodes até montariam em 1995 um projeto paralelo, TV Mania. Cujo repertório, na lembrança de Warren, seria retrabalhado para preencher boa parte do próximo álbum do DD, Medazzaland (1997).
O disco só teve edições nos EUA, Japão e América Latina, foi gravado apenas por Nick, Simon e Warren (John Taylor toca em quatro músicas apenas). Depois disso, pelo menos por alguns anos, seria raro ver o DD por aí. De Electric Barbarella, do Medazzaland, você se lembra.
E ainda sobre Thank you, uma surpresa para os (muitos) fãs do disco: um sujeito pegou várias demos e versões ao vivo, deu um tratinho, reorganizou e pôs no YouTube uma versão “reimaginada” do disco. Já que tá na moda…
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Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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