Crítica
Ouvimos: Wet Leg – “Moisturizer”

RESENHA: Wet Leg volta com Moisturizer, disco coeso, sexy e feroz, que soa como clássico instantâneo e reafirma: o rock ainda pulsa, e muito.
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Vai ter muita gente vendo em Moisturizer, segundo disco do quinteto Wet Leg – apesar do foco nas duas mulheres da banda na capa – o disco do ano, a salvação do rock, coisas do tipo. Motivos para isso não faltam: Moisturizer segue a mesma escola de discos como Nevermind, do Nirvana, Never mind the bollocks, dos Sex Pistols, Rocket to Russia, dos Ramones, e (vamos de Brasil) Mudança de comportamento, do Ira! – o tipo de álbum que faz você ter vontade de voltar ao começo dele assim que acaba. Não há nada fora do lugar, nenhuma gordura a mais, o disco é programado desde o começo para ser exatamente o que ele é, e o resultado não poderia ser mais feliz.
Olhando de perto, o segundo disco do Wet Leg é uma boa junção de apitos de cachorro do rock. Uma série de atrativos que vão desde o novo visual punk-docinho da vocalista Rhian Teasdale, até a atual imagem do grupo, de quinteto que, nos clipes, zoa em passeios por um carro conversível, numa clima de trupe de desenho animado – ou de “quem é da nossa gangue não tem medo”. Como se não bastasse, Moisturizer é cheio de amor e sexo – dois temas que surgem mais como norte atitudinal do que qualquer outra coisa.
Tanto que o primeiro single, Catch these fists, um indie rock que lembra a descontração dos hits do Elastica, fala sobre quando Rhian descobriu sua sexualidade (“pensava que era heterossexual e que sempre seria assim, até conhecer a pessoa com quem namoro agora”, chegou a afirmar). Os dois outros singles, CPR e Davina McCall, são sobre amor cego, dedicado, ilimitado e reconhecidamente sem noção (em CPR, Rhian canta com deboche que “amarrei uma corda na minha cintura / eu costumo me perder nos seus olhos / eu respirei fundo / pulei do penhasco porque você me disse para pular”). Não é só letra, som ou poesia: é uma banda olhando no olho do público – coisa que o Wet Leg ainda não era no primeiro disco.
Entre evocações que vão de My Bloody Valentine e Pixies a Siouxsie and The Banshees, o Wet Leg mostra-se uma banda ótima para criar rocks de pista. Liquidizer vai nessa onda; Jennifer’s body, com clima meio The Cure + grunge, idem. Manguetout, com vocal blasé e batida punk, passa por rock gostosinho até que o refrão entra e a coisa fica meio feroz. Pond song tem algo tanto de pop francês quanto da zoeira das Slits. Pokemon é tecnopop orgânico com guitarra ressacada. Pillow talk, pesada, sáfica e irônica, é sobre as mil e uma utilidades que um travesseiro pode ter nas noites de solidão. A tristinha 11:21 dá uma ligeira baixada de bola, mas serve como uma boa ponte, como acontecia nos grandes vinis de rock – quando mesmo canções que à primeira vista, não eram tão geniais, passavam a bola pro craque chutar pro gol.
No fim do disco, U and me at home fala das delícias de ficar em casa – sem deixar de trazer algumas linhas de amor e tristeza que fazem lembrar Pretenders e até Bruce Springsteen (“às vezes, fico tão triste / e meus olhos azuis ficam cinzas / você me diz que não é tão ruim / você sempre sabe o que dizer”). Uma música, por sinal, que lembra também Pixies, com refrão ótimo, operando entre o punk e os anos 1960. É por causa de bandas como o Wet Leg e de discos como Moisturizer que o rock está vivo e passa bem.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Domino Recording Co.
Lançamento: 11 de julho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Lorena Moura – “Mata-leão”

RESENHA: Estreia de Lorena Moura, Mata-leão mistura MPB 70/80, blues e psicodelia em faixas delicadas e vintage; um disco agridoce, pop e cheio de identidade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Cavaca Records
Lançamento: 12 de novembro de 2025
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O disco de estreia da carioca Lorena Moura é mais um disco-de-pandemia – o repertório começou a ser pensado por ela junto com o letrista Luca Fustagno na época em que estava todo mundo trancado em casa. Mata-leão, afirmam os dois, tem mais a ver com a luta pela sobrevivência existencial (o “matar um leão por dia”) do que com jiu jitsu.
O repertório de Mata-leão mergulha em referências da MPB transante dos anos 1970/1980 (Angela Ro Ro, Gilberto Gil, Lincoln Olivetti, Robson Jorge). Por sinal, essa é uma das maiores influências da MPB jovem dos dias de hoje, mas Lorena impõe sua identidade com graça, musicalidade variada (evocações de Hyldon, Rita Lee, de jazz e de bittersweet setentista aparecem em vários momentos) e com uma boa noção de som vintage. Tanto que músicas como a sensível e misteriosa Perigo e o blues-rock Quis (esta, com uma onda musical ligada a Gil e a Beatles, além de um beat pós-disco que vai surgindo), caso tivessem sido lançadas lá por 1978, seriam cultuadas por DJs nos dias de hoje.
Mata-leão vai crescendo com a toada agridoce Mãe (uma bossa pop e celestial), o blues indie-rock Carinho, a melancolia celestial de Tripulação/Eu e Elise, e a balada blues Manhã – esta, com clima psicodélico, letra imagética, guitarra jazzística e teclados com uma sonoridade meio derretida, além de referências de Marina Lima do comecinho e de Angela Ro Ro.
No fim do disco, uma música chamada Titanomaquia – que nada tem a ver com o disco dos Titãs e fala mesmo é da guerra de dez anos entre os titãs (os da mitologia grega, não a banda) e os deuses olímpicos. Um samba leve, quase bossa, cuja letra conta uma história quase distópica envolvendo prédios, Carnavais e lugares do Brasil. Mata-leão, no geral é uma estreia que equilibra vocais delicados e solos de guitarra, romantismo e saudade, MPB e apelo pop.
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Crítica
Ouvimos: Fun For Freaks – “Big break”

RESENHA: No álbum Big break, o Fun For Freaks entrega punk direto, irônico e anticaretas. Entre porradas, pós-punk e humor ácido, o terceiro álbum mira moralistas e diverte.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 31 de outubro de 2025.
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Vindo da cidade de Santo Antonio de Posse (SP), o Fun For Freaks é punk sem muitas misturas sonoras, e com ironia e protesto como combustíveis. Big break, o terceiro álbum, sacaneia o conservadorismo à brasileira com faixas como Whorehouse moralist e a inacreditável God is a flat tire, desomenagem a seres humanos que, até pouco tempo atrás, rezavam para pneus e caminhões enquanto sonhavam em ajudar num golpe de estado (furado). A arrogância de gente que não é porra alguma e acha que é alguma porra surge no punk Duning-Kruger song.
- Ouvimos: High. – Come back down
No entanto, o disco começa com beleza triste: These streets traz a banda querendo entender como foi que tudo se tornou uma baita chatice, depois de todos eles terem se divertido bastante e terem sobrevivido às ruas, às drogas e a vários maus agouros. O punk + hard rock Never pray prega que “a gente nunca reza / ninguém liga se você é pecador”. O som fica mais casca-grossa ainda em Little boy, o pós-punk Sunburn e os 38 segundos de Fuck you Batman, além do quase-hardcore de Cops on blow.
O som do FFF é simples, mas vai apontando para outros lados ao longo do tempo: Balboa é um pós-punk com lembranças de Titãs, e os Pixies são devidamente louvados e faixas como Lead me astray. Claro que os Ramones também surgem como influência, em faixas como o country-punk Mandy Milkovich, Party hard e a própria God is a flat tire. Boa diversão punk.
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Crítica
Ouvimos: Shaun – “Shaun”

RESENHA: Shaun estreia unindo glam, 90s e rock BR em faixas que evocam Lou Reed, David Bowie, Rita Lee e Secos & Molhados, entre britpop, reggae, dub e psicodelia.
Nota: 8
Gravadora: Frase Records
Lançamento: 7 de novembro de 2025
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A banda gaúcha Shaun costuma ser também chamada de Projeto Shaun – o que indica um trabalho que se espalha por várias facetas e pensamentos. Foi com essa nomenclatura que indicamos certa vez o som deles para fãs de Lou Reed num episódio do nosso podcast Pop Fantasma Documento. Estreando com o primeiro álbum epônimo, e pela primeira vez funcionando como uma quase big band de rock brasileiro (são sete integrantes), o grupo conseguiu chegar numa coesão musical que passa pelas histórias do glam rock, do som dos anos 1990 e do rock brasileiro – os três servindo de modelo para as faixas do disco.
- Ouvimos: Fogu – Tudo de novo
O Shaun começa citando Lou Reed e David Bowie na setentista Sr. Terno Cinza, uma gozação com os padrões do mundo corporativo que logo faz lembrar o Dr. Paxeco, de Raul Seixas – e segue com Ave rara, rock com cara quase MPB, tocado no violão, com uma sensação de perigo que vem tanto de Lou e Bowie quanto de Secos & Molhados e Rita Lee. O punk delicado e provocativo de Salada de prédios, sobre a vida de forasteiros em São Paulo, remete a Rita e Velvet Underground. Mas a partir daí o disco vai ganhando um tom mais noventista, com o quase britpop de Anjos & demônios (música sobre o mês passando, a falta de grana e os boletos que não cessam), o dub indie rock de Diálogo e o curioso suíngue de Gostinho de flor, que consegue lembrar tanto Skank quanto Suede.
O Shaun mergulha também numa curiosa união de britpop e reagge, Vivienne Westwood, que cita Gilberto Gil e Rita Lee, além de falar de gentrificação e arranha-céus em tom de metal + punk na básica Derrubaram a nossa história. Pontinha de amor encerra Shaun combinando psicodelia, MPB e britpop, três aparentes obsessões do álbum.
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