Lançamentos
The Gilbertos: banda de Thomas Pappon (Fellini) lança músicas de arquivo em single novo

De surpresa, o The Gilbertos – projeto criado nos anos 1990 pelo músico Thomas Pappon, que fez parte do Fellini, do Smack e do Voluntários da Pátria – retornou com um single. São duas faixas antigas que estavam nos arquivos do grupo: o folk nordestino Be quiet, feito há dez anos, e que saiu como bônus na versão digital remasterizada do álbum Um novo ritmo vai nascer (2017), e Louise, música feita há trinta anos e ate hoje inédita. O single sai pela midsummer madness.
Be quiet havia sido originalmente gravada para Um novo ritmo, mas ficou de fora porque, diz Thomas no texto de lançamento do single, não se encaixava no álbum. “Reouvi recentemente e achei que tinha de ser lançada. Louise é uma balada romântica que fiz em 1993 ou 94, e sempre fiquei meio constrangido com ela. Mas foi a mesma coisa que Be quiet: ouvi recentemente e achei que tinha de ser lançada”.
Louise, basicamente um soft rock setentista em tons de bossa, deixou Thomas tão contrariado que a banda nem sequer a incluiu em seu disco de estreia, Os Eurosambas 1992-1999. Foi buscada direto das ditas K7 que Thomas tinha guardadas da primeira fase da banda – e o próprio músico remasterizou as faixas.
“Parei de gravar em cassete logo depois do Amanhã é tarde, do Fellini (que recentemente ganhou financiamento coletivo para lançamento em vinil e sai em breve) porque comprei um porta-estúdio digital, no qual gravaria o segundo álbum dos Gilbertos, o Deite-se ao meu lado. Mas o que fiz entre de 1991 a 2001 tá tudo em cassete. Acho que há ainda uma coisa ou outra que pode ser aproveitada”. A arte do single foi feita por Clarissa San Pedro, que fez a capa dos últimos dois discos dos Gilbertos (Foto: reprodução do Bandcamp do grupo).
Lançamentos
Radar: Rhamayana, Lia de Itamaracá e Daúde, Luís Perdiz, Clau Aniz, Martin e os Martírios

Depois de alguns dias meio sumido da grade do Pop Fantasma, o Radar abre a semana com cinco sons nacionais que, antes de qualquer outro assunto, falam de nós mesmos. Aliás da gente em relação ao mundo, às circunstâncias, ao meio ambiente, às outras pessoas- e da nossa real dimensão diante de tudo isso.
E, bom, a gente percebe também que muitas vezes, todos esses temas são tratados como algo sem importância por uma turma bem poderosa – o que acaba causando desastres naturais, guerras, chacinas disfarçadas de “operações” e outras coisas de triste lembrança. Isso também faz parte do repertório de hoje. Mais do que nunca, ouça e passe adiante.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Rhamayana): João Regis/Divulgação
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RHAMAYANA, “COMEÇO, MEIO E COMEÇO”. Cinco minutos de musicalidade profunda, herdada do som do músico baiano Letieres Leite (1959-2021), com uma letra inspirada no princípio filosófico africano da circularidade – a ideia de que não há fim, apenas movimento e continuidade. Começo, meio e começo veio da pesquisa de mestrado de Rhamayana, que estuda o Universo Percussivo Baiano (UPB), método educacional criado por Letieres.
A faixa conta ainda com a participação de três ex-alunos de Letieres Leite, integrantes do coletivo Rumpilezzinho: Jordi Amorim (guitarra, violão e baixo), Alana Gabriela (percussões) e Lucas Decliê (flauta transversa). “Quando canto que não existe fim, eu canto também que Letieres segue vivo em seus alunos, na música, no coração de muita gente que, como eu, é tocado e se inspira pelo seu legado”, orgulha-se ela.
LIA DE ITAMARACÁ E DAÚDE, “FLORESTANIA”. Em breve sai Pelos olhos do mar, álbum que reúne as duas cantoras (Selo Sesc) e que tem como principal característica a união de vozes carregadas de ancestralidade. Florestania, o primeiro single, é uma união musical São Paulo-Bahia – a faixa foi composta por Céu e Russo Passapusso (BaianaSystem). O som tem abertura levemente orquestral, e um beat minimalista que se localiza entre o samba e o reggae.
Florestania saiu na sexta (31) e foi estratégico que ela chegasse às plataformas na véspera da COP30. “É uma canção que ecoa uma luta pela vida e pela natureza. Desde a primeira audição, ela nos atravessou de um jeito muito profundo. Há algo de ancestral, de espiritual e, ao mesmo tempo, extremamente atual na composição”, conta Lia.
LUÍS PERDIZ, “TERRA QUENTE”. Poeta, editor e compositor, Luís tem três livros publicados – o último deles, Desejo de terra, teve prefácio escrito por Jorge Mautner. Reinventando-se como cantor, ele lança Terra quente, um pós-punk com baixo à frente, beat dançante e guitarra econômica e circular. The Smiths, Fellini, The Cure e Jovens Ateus estão entre as influências sonoras – já a letra e o conceito, afirma Luís, devem muito a Mautner, Roberto Piva e Hilda Hilst. Já tem clipe, dirigido por Milena Rosado.
CLAU ANIZ, “E OLHAR DE LONGE AS BRASAS QUE DANÇAM NA SUPERFÍCIE”. Ambient + MPB + delicadeza e poesia. A cearense Clau Aniz faz um som repleto de texturas em seu single novo, lançado hoje: tem guitarras com saturação, synths, ruídos de fita, percussões, sopros e várias lembranças envolvidas. Vai ter clipe, que chega no YouTube nesta quinta-feira (6).
Uma das influências de Clau é a musicista norte-americana Georgia Anne Muldrow, criadora de um som eletrônico e repleto de climas – e ela também inclui a musicista e cantora Luiza Brina e o guitarrista cearense Fernando Catatau num “para quem gosta de” particular. Mácula, disco novo de Clau, chega em março de 2026.
MARTIN E OS MARTÍRIOS, “POUCO ALEGRE”. Nascido em Butiá (município de pouco mais de 19 mil habitantes, no Rio Grande do Sul), Martin migrou para Porto Alegre e adotou a capital gaúcha como seu lar. À frente da banda Martin e Os Martírios – ao lado de Guilherme Kessler (guitarra), Beto Stone (bateria) e Vini (contrabaixo) – o músico apresenta Pouco alegre, rock com argamassa punk que faz uma “viagem afetiva” por Porto Alegre, falando carinhosamente de lugares conhecidos da cidade. E também sobre a tristeza do descuido com a capital, o flagelo das chuvas e da maior tragédia climática da história gaúcha.
Dirigido por Ricardo Ara, o clipe mostra lugares de Porto Alegre afetados e desgastados pelo tempo, pelo descuido e pelas próprias enchentes – dando uma dimensão musical e política de tudo que vem acontecendo com a capital gaúcha.
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Crítica
Ouvimos: Rick Wakeman – “Melancholia”

RESENHA: Em Melancholia, Rick Wakeman retorna ao piano solo com peças de beleza clássica e introspectiva, misturando emoção, cura e memória.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Madfish Music / Snapper Music
Lançamento: 17 de outubro de 2025
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Eternamente lembrado como ex-tecladista do Yes e como o autor de peças enormes como Journey to the centre of the Earth (1974), Rick Wakeman é um pouco mais do que isso. É o dono de uma carreira solo estabelecida, é o amigo durango de Marc Bolan que pediu pra tocar em Electric warrior, do T. Rex (1971) porque estava sem dinheiro para pagar o aluguel, é o responsável pelo piano belíssimo de Life on mars?, sucesso de David Bowie. Um caso de músico que deixou lembranças e histórias por todos os lugares em que passou.
Das várias versões pessoais de Rick Wakeman que já circularam pelo universo musical, a que surge em seu novo álbum, Melancholia, é a do pianista influenciado pelo lado romântico da música clássica, que tem aparecido em discos solo recentes. Melancholia tem doze peças solo de piano, e surgiu de uma ocasião em que sua esposa elogiou um rascunho de composição que ele tocava no piano. Rick juntou a isso uma visão pessoal a respeito do papel curativo da música.
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Algumas faixas, como Alone e Dance of the ghosts, caso ganhassem letras, vocal e mais músicos no estúdio, dariam boas canções entre o pop e o rock – são músicas que têm algo de Elton John, Cat Stevens, Queen, The Who, até de David Bowie. Já faixas como The morning light, Reflection, 409 e Sitting at the window estão mais próximas da construção de temas clássicos, com variações rítmicas e clima solene.
Músicas como Hidden tranquility e a faixa-título são o tipo de música para ouvir e pensar na vida, algo próximo da proposta de cura da qual Rick fala. E Watching life tem muito do piano do próprio Rick em Life on mars?, soando quase como homenagem ao passado dele e a David Bowie.
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Crítica
Ouvimos: Michelle – “Kiss/Kill” (EP)

RESENHA: No EP Kiss/Kill, o Michelle se despede com um pop esperto e irônico, misturando doçura, sexo, caos e autodepreciação com brilho e humor.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Transgressive Records / Atlantic
Lançamento: 26 de setembro de 2025
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Banda novaiorquina formada por seis integrantes que compõem todo o material (Sofia D’Angelo, Julian Kaufman, Charlie Kilgore, Layla Ku, Emma Lee e Jamee Lockard), o Michelle – devidamente resenhado aqui com o álbum anterior, Songs about you specifically – está entrando em um “hiato por tempo indeterminado”. A despedida é com uma turnê e com um EP, Kiss/Kill, que meio que resume os propósitos do grupo em seis faixas.
- Ouvimos: Rocket – R is for rocket
 
Antes de mais nada, o Michelle é uma banda de “música pop com maldade”. O que significa dizer que as canções são doces como qualquer música do Jackson 5, mas o dia a dia narrado nas letras é de discussões, ranços, autoestima profissional baleada, amores que são dispensados após uma única noite de amor, fodelança universitária, relacionamentos cagados. Na real, muito da temática do Michelle vem sendo fagocitada por artistas como Taylor Swift e Sabrina Carpenter, que fazem canções pop aparentemente inofensivas, mas que falam com todas as letras do tamanho do pênis do namorado, de um ex que se comportava como uma criança, de relacionamentos que só se sustentavam na cama, e coisas do tipo.
A diferença é que o Michelle faz isso do ponto de vista não de uma garota com autoestima de showgirl mimada, mas do lugar de jovens universitários merdeiros e felizes. Kiss/Kill abre com um indie-pop cara anos 1980/1990 falando sobre mulheres que não levam desaforo pra casa (Girl is a gun). Prossegue com a dream bossa de Babysitting (que fala justamente sobre uma garota que cansou de bancar a babá de um namorado adulto não-funcional), com a vibe michaeljacksoniana de MVP (r&b com cara noturna e alegre sobre um relacionamento a três em que uma das partes envolvida é o most valuable player, o jogador mais valioso do trisal) e com o ótimo indie rock, lembrando The Killers, de Water on the floor.
O Michelle encerra Kiss/Kill com o pop ágil, bossanovista e bonito de Get 2U (canção sobre relacionamentos que vivem cercados de desculpas e de situações mais do que cagadas) e com o soft rock de amor e ódio da faixa-título, que lembra o som da banda canadense Tops. Por sinal, um grupo que achou um ótima solução para continuar fazendo pop sem virar comida de leão predador das paradas de sucesso – coisa que o Michelle vinha fazendo também.
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