Lançamentos
Tess: projeto de Daniel Tessler lança clipe de “Eu ando pra frente”, com feat de Nasi (Ira!)

Criado pelo cantor, compositor e músico Daniel Tessler, o Tess lançou recentemente um EP com quatro faixas, intitulado simplesmente Mod. E dessa vez sai o clipe de uma das faixas, Eu ando pra frente, que tem participação de Nasi, vocalista do Ira!, interpretando um diretor rabugento. O clipe foi dirigido por André Fancio e filmado em São Paulo.
“O clipe traz várias facetas de mim mesmo com um toque marcante de humor. Realizar este trabalho foi uma experiência incrível. Os figurinos são peças do meu dia a dia, os instrumentos são os mesmos usados em gravações e shows. E a participação do meu grande amigo Nasi torna tudo ainda mais especial. Ele sempre foi uma referência para mim, e sua presença é o maior selo de aprovação que eu poderia desejar”, conta Daniel, que compôs todas as quatro faixas do EP, além de cantar, tocar guitarra e baixo.
“O EP celebra o espírito vibrante deste movimento que tanto me inspira ao longo dos anos. As canções enaltecem o legado de bandas como The Who e The Kinks, com estruturas simples e concisas. O objetivo é transmitir urgência, portanto, não há mudanças bruscas de andamento ou arranjos complexos. É rock and roll puro, intenso e barulhento”, diz Daniel, gaúcho radicado em SP, que já participou de bandas como Os Efervescentes e até trabalhou como ator.
“Daniel Tessler é um artista talentoso que representa as qualidades de alguns dos grandes guitarristas do cenário Mod que eu admiro. Suas músicas capturam essa essência de maneira perfeita”, comenta Nasi.
Foto: Trecho do clipe.
Crítica
Ouvimos: Elton John e Brandi Carlile, “Who believes in angels?”

O som que você ouve em Who believes in angels?, álbum colaborativo de Elton John e Brandi Carlile, é tão harmônico que nem parece ter sido feito em meio a tensões bizarras e discussões BEM ásperas. Num papo com o jornal britânico The Guardian, Elton revelou que na época em que o disco foi feito, ele passava por questões bem graves de saúde – além dos problemas de visão, ele tinha batido a cabeça, se recuperava de uma cirurgia no quadril e precisava da substituição de um dos joelhos. Elton e Brandi só faltaram sair no tapa durante alguns momentos da gravação – a cantora, cujo trabalho oscila entre country e rock, lembrou na entrevista do The Guardian que Elton atirou um iPad e um fone de ouvido no chão, e rasgou letras dela, exclamando que o material era “previsível! clichê!”.
Passado o nervosismo, os dois foram embarcando num trabalho que Elton, desde o começo, defendeu que deveria ser em dupla de verdade, com harmonizações. As harmonizações ocorreram também na composição, com Elton fazendo melodias e Brandi dividindo o trabalho nas letras com ninguém menos que o velho parceiro do cantor, Bernie Taupin. O que acabou saindo do encontro do trio (ao lado do produtor-metelão Andrew Watt, que ainda colaborou nas composições) foi uma carta de amor à música e às suas possibilidades – de companhia, de cura, de mudança, de embevecimento.
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Como compositor e pianista, Elton levou a abertura de Who believes in angels? para a mesma estileira “progressivo de patins” que marcou vários trabalhos seus dos anos 1970. A faixa de abertura, The rose of Laura Nyro, dura mais de seis minutos e só começa a ter vocais passando dos dois minutos. A faixa é quase um diário de Laura Nyro (1947-1997), cantora e compositora novaiorquina de carreira subestimada, idolatrada por Elton. Eli’s comin, quase-hit de 1967 de Laura, é citado na letra.
Não é um clima que domina o álbum, vale citar. Swing for the fences e a faixa-título são country-rock explosivo. Never too late é uma balada sonhadora e rica em notas, típica de Elton. O fantasma de We are the world assombra o baladão gospel A little light. Someone to belong to me é uma balada country que soa como um gospel que não cita deus, ou como um inventário do desafio que é estar ao lado de um sujeito com um ego enorme, como Elton (e Brandi que o diga…): “Eu sei que tentei você / desafiei e neguei você / dei socos no ar / fechei meus olhos e contei até dez / rezando para que você estivesse lá”.
Em algum momento, Who believes in angels? chega naquele mesmo tom derramado que todo mundo já espera quando ouve um disco de Elton John – e isso não é um problema, vamos dizer assim. Uma surpresa no disco é Little Richard’s bible, rock “pra cima” no estilo de Saturday night’s alright (For fighting) fala com carinho sobre a conversão de Little Richard ao cristianismo – mas conclui unindo sagrado e profano (“pompadour empilhado até o céu / Cristo chegando e passando / Long Tall Sally, cara / Ele tem o bom livro a seu lado”).
Por acaso, cada lado de Who believes in angels? ganhou uma faixa-solo de um dos cantores – ainda que ambas tenham sido feitas pela “ala” de compositores formada por Elton, Brandi, Watt e Taupin. You without me foi iniciada com Brandi externando os sentimentos por sua filha mais velha, e acabou ressoando em questões de família de Elton com o companheiro e os filhos – e é cantada apenas por Brandi com um ukelele.
A emoção fica mesmo com When this old world is done with me, com Elton solo, revendo sua história ao piano, no encerramento do disco: “quando este velho mundo acabar comigo / só saiba que vim até aqui / para ser quebrado em pedaços / espalhe-me entre as estrelas”. Who believes in angels? é um disco feito na tensão – e no amor.
Nota: 8,5
Gravadora: Island/EMI
Lançamento: 4 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Sacred Paws, “Jump into life”

Dupla escocesa formada pelas musicistas Ray Aggs (guitarra, baixo, voz) e Eilidh Rodgers (bateria, voz), o Sacred Paws parece um grupo formado por pelo menos mais uns/umas cinco integrantes, tamanha a potência do seu som. Vindas do indie-pop, as duas unem pós-punk e afrobeat, e acabam de lançar Jump into life, um álbum recheado de pérolas, e repleto de uma mistura musical que nasceu justamente dos estertores do rock feito entre os anos 1970 e 1980. Afinal, foi a união com beats diferentes que deu um diferencial enorme para bandas como Talking Heads, Siouxsie and The Banshees e Teardrop Explodes, além de Paralamas do Sucesso.
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O disco abre de maneira fluida, com sons lembrando New Order e The Cure, e uma bateria que se assemelha a uma percussão – enquanto a guitarra tocada por Ray parece viver em um planeta diferente, ordenando que todo o resto da canção se adeque a seu estilo livre, próximo do highlife (estilo africano recheado de guitarras) e repleto de variações. É o que rola em faixas como Save something, Winter e Fall for you. Já Another day é um country construído em torno da matriz de The Cure, New Order e R.E.M., com uma bateria que é puro solo, e a participação do pai de Ray tocando banjo.
Uma característica do Sacred Paws é que os vocais de Ray e Eilidh dão uma sonoridade positiva e tranquila para as canções – não importa o que esteja sendo cantado, e olha que as letras da dupla em Jump into life são basicamente sobre mudanças, finais de ciclo e coisas do tipo. Na grande área do álbum, a partir da quarta-faixa, localiza-se a porção mais afropop de Jump into life. E aí o disco une country e highlife em Simple feeling; parte para um pós-punk balançado que lembra o Aztec Camera, em Through the dark; e evoca bandas como Talking Heads e Television (esta, por causa da pegada na guitarra) em meio aos afrobeats de Turn me down.
Slowly slowly, por sua vez, é a canção do disco que tem mais cara new wave + power pop, com guitarras, vocais e batidas lembrando Blondie, Pretenders e Elvis Costello. No final, em Draw a line, uma surpresa: construindo uma fanfarra pós-punk e afrobeat que alude tanto a Fela Kuti quanto a Dexys Midnight Runners, Ray e Eilidh acabaram fazendo algo próximo do frevo, com ritmo pula-pula e metais cativantes e econômicos. Descubra logo essa banda.
Nota: 10
Gravadora: Rock Action Records
Lançamento: 28 de março de 2025
Crítica
Ouvimos: Josyara, “Avia”

Quarto álbum de Josyara (um deles, Estreite, de 2020, foi gravado ao lado de Giovanni Cidreira), Avia abre em clima latino, sambista e moderninho, com a afirmativa Eu gosto assim, prossegue com o clima cigano de Seiva, e tangencia a MPB de Gonzaguinha, Joanna e Maria Bethânia na derramada Festa nada a ver – na qual a narradora é abandonada numa festa chata e responde ao pé na bunda simplesmente deixando a pessoa ir.
Josyara chega a Avia com conceito e cara própria, abordando temas como liberdade, sofrência, feminismo e crises pessoais de maneira peculiar, e destacando seu violão ao lado de sua voz. Como tem sido comum na MPB atual, Avia é um disco curto e completo, que parte para o som cigano e nordestino na releitura de Ensacado, de Cátia de França (com Pitty), para a MPB orquestral e com acento reggae em Corredeira, e para um choro orquestrado e letrado, em parceria com Pitty, Sobre nós – que lembra a fase CBS de Elba Ramalho e Fagner. Por acaso, a capa do álbum lembra o estilo dos LPs da RCA brasileira nos anos 1970/1980, sob um viés mais moderno.
No trio final de faixas, a balada dream pop Prova de amor, o rock nordestino Peixe coração (com cordas belíssimas e ritmadas), e Oasis (A duna e o vento), com participação de Chico Chico, evocando Baby Consuelo e Novos Baianos.
Nota: 8
Gravadora: Deck
Lançamento: 11 de abril de 2025.
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