Lançamentos
Radar: Lael Neale, Nick & June, Hello Cosmos, Nastyjoe, Laura Loriga, Tropigloom, Órgano de Corti

Tem uma turma no Radar internacional de hoje a fim de te levar pra outros universos. Uma delas é Lael Neale, dona de um som difícil de encaixar em épocas e em rótulos – e que agora recorda o dia a dia de sua família, no clipe de seu novo single. A depender de nomes como Hello Cosmos e Nick & June, a viagem pode ser para o espaço, ou para uma noção quase cinematográfica do pop. Já o Nastyjoe propõe uma volta pelas ruas, com muitos sentimentos envolvidos, e música de fundo nos fones. Ouça tudo e passe adiante!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Lael Neale): Divulgação
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LAEL NEALE, “SOME BRIGHT MORNING”. Recentemente falamos do disco mais recente dessa cantora e compositora norte-americana, Altogether stranger. Lael lança agora um outtake do álbum, Some bright morning, definida certeiramente pela gravadora dela, Sub Pop, como uma “explosão uptempo de rock n’ roll lo-fi na tradição do Velvet Underground da era Loaded”.
No clipe da faixa, Lael vai até a fazenda de seus pais fazer algumas tarefas, em meio a uma letra que zoa o consumismo e a vida de aparências das redes sociais. Neal diz ter descoberto que ser artista, aliás, não é muito diferente de ser fazendeiro, já que são profissões cujo expediente nunca fecha e sempre há coisas novas a fazer. “Você precisa ser motivado pela crença no que está fazendo, sem apego aos resultados. Há uma satisfação silenciosa nos passos diários”, conta.
NICK & JUNE, “HUSBAND & WIFE”. Essa dupla berlinense segue um esquema musical pop-clássico, com músicas que vão crescendo nos ouvidos, graças à combinação de piano, voz, orquestra e climas vaporosos e melancólicos – como se algo brotasse na frente do ouvinte, vindo direto dos anos 1960 ou 1970.
Inspirados por Arcade Fire e The Last Shadow Puppets, e com um tantinho de Lana Del Rey e Sharon Van Etten no som, Nick e June – que, detalhe, são um ex-casal – lançam no dia 5 de dezembro o álbum New year’s face. O disco é puxado pela grandiosa Husband & wife: uma espécie de réquiem para um relacionamento, e “uma de nossas canções mais pessoais até agora”, como esclarecem. Uma música de beleza triste, que poderia estar no repertório do ABBA ou do My Bloody Valentine – cada banda com seu arranjo. E já tem clipe.
HELLO COSMOS, “GRIND INTO THE SHRINE”. Tem um disco novo dessa banda de Manchester vindo aí, prometido para sair no outono inglês (que começou na segunda). O Hello Cosmos faz uma espécie de punk espacial e eletrônico, com efeitos especiais e muita criatividade e sujeira – uma fusão de pós-punk, sons de rave e psicodelia, além de palavra falada, como aponta a própria banda.
O single Grind into the shrine é sobre crescer e se manter próximo dos seus valores e preferências mesmo tendo a vida toda bastante ocupada. “Celebre a mediocracia, recicle glórias passadas, possua as histórias de outra pessoa (…) / ouro de tolo, barras de leite, somos todos feitos de estrelas / procure, são notícias antigas, contadas por renegados de outra era / verdadeira forma do berço ao túmulo, deixe de lado os roteiros que fazem de você um escravo”, diz a letra.
NASTYJOE, “WORRIED FOR YOU”. Banda francesa ligada a climas entre o punk e o pós-punk, o quarteto Nastyjoe retorna com esse single bacana e ágil, que fala sobre tentativas de se distanciar das dores e observar o sofrimento de perto ou de longe. Uma letra introspectiva, marcada por uma melodia explosiva e dançante. No clipe, a atriz Louise Gerard, em meio a cenários franceses, ouve a música num gravador portátil, canta a letra para a câmera, e vai do dançar-de-braços-abertos à pura melancolia em poucos minutos.
LAURA LORIGA, “MAY YOU”. Cantora e compositora italiana radicada em Nova York, Laura especializou-se em sons relaxantes e repleto de paisagens sonoras – algumas delas sombrias, outras de beleza meditativa e contemplativa. Moon talk, o novo EP, sai hoje pelo selo God Unknown Records, destacando o single May you, solenemente tocado por ela órgão, com participação de David John Morris na guitarra. As faixas do EP adiantam o próximo álbum de Laura, Almas, previsto para 2026.
TROPIGLOOM, “INVISIBLE”. Preparando o EP Everything now but in reverse para sair dia 9 de novembro, esse projeto pós-punk/shoegaze do Canadá é comandado pelo músico Andrew Roy, que dispara as sonoridades melancólicas, sinuosas e sonhadoras de faixas como o single Invisible. Em meio a uma batida dançante, teclados voadores e um riff de guitarra que circula pelo começo da faixa, Andrew relembra as consequências existenciais de uma experiência de quase-morte que ele teve. “É sobre o anseio de não ser afetado pelas dificuldades da vida, e sobre como suprimi-las muitas vezes só as piora”, diz.
ÓRGANO DE CORTI, “PERCECUCIÓN”. Noise-rock e psicodelia andando de mãos dadas no som desse projeto musical mexicano, criado pelo músico Geraldo Cortés. Percecución é uma das faixas mais fortes do disco mais recente do Órgano, Disolución, lançado no ano passado – uma torrente de ruídos guitarristicos em clima doce, com uma letra que fala sobre a sensação de estar constantemente em queda livre. “É uma música marcada por ansiedade, resignação e resistência. Musicalmente, é uma música crua e visceral”, define o músico.
Lançamentos
Radar: Feralkat, CPM 22, Los Otros, Carvel, Brsk Gene

Semana complicadinha por aqui: resfriado brabo (já falei disso no Radar anterior) e mal funcionamos ontem. Mas estamos aqui com o Radar nacional de hoje, destacando a novidade do single novo do Feralkat, do single comemorativo do CPM 22, do primeiro clipe de Los Otros, e de sons de Carvel e Brsk Geene. Ouça e repasse!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Feralkat): Érica Ignácio / Divulgação
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FERALKAT, “TSUNAMI”. Karukasy, próximo disco do projeto da musicista e cantora Natasha Durski, sai em 2026. E é aberto pelo single Tsunami, uma canção que une estilos que primam pelo escapismo musical e pela vibe imagética (dreampop e post rock). A ideia de Natasha foi falar do término difícil de um relacionamento, recorrendo a sons e imagens que evocam emoções de maneira densa.
“O ‘tsunami’ é tanto o mar turbulento interno quanto o pranto – as lágrimas dessa dor. O sample de Space song, do Beach House, reforça essa sensação, com o verso ‘who will dry your eyes when it falls apart’ ecoando na solidão desse fim”, conta Natasha, que gravou todo o material do disco em seu próprio estúdio. Ela recomenda inclusive o uso de bons fones de ouvidos para sentir o som do álbum por inteiro. “Trabalhei muito o paneamento (sons passando de um canal para o outro) e o estéreo”, avisa.
CPM 22, “30 ANOS DEPOIS”. A banda punk paulistana dá continuidade à comemoração pelas suas três décadas de história lançando um single que resume a sua trajetória até aqui. 30 anos depois surgiu de um texto escrito pelo vocalista Badaui, que foi transformado em letra pelo guitarrista Luciano Garcia – e sai no meio da turnê comemorativa do grupo.
“A ideia de fazer uma música em comemoração aos 30 anos da banda existia desde o ano passado, mas o processo de desenvolvimento começou há uns três ou quatro meses”, conta Luciano. Badauí completa: “No fim, essa música é uma homenagem à nossa trajetória e também um agradecimento a quem sempre esteve com a banda”.
LOS OTROS, “ROTINA”. A abertura dessa música tem conexões com Roll with me, do Oasis – mas é só começar a ouvir, que dá para perceber relações sérias com Beatles, rock de garagem, glam rock e outros estilos próximos. Rotina, single novo da banda paulistana Los Otros (Isabella Menin, baixo e voz; Tom Motta, guitarra e voz; Vinicius Czaplinski, bateria) já havia sido comentado e elogiado por aqui, lembra? E agora virou clipe, mostrando a banda em ação, tocando e fazendo de tudo para evitar ela própria, a tal da rotina.
CARVEL, “NÓS DOIS SABEMOS”. Vindos de Vinhedo (SP), Guilherme Avelino (voz e guitarra), Lucas Argenton (guitarra), Victor Gonzales (baixo) e João Gabriel Diamantino (bateria) definem seu som pela união do indie rock com o ritmo de nomes como Jamiroquai. A faixa Nós dois sabemos antecipa o lançamento de Ainda é tempo, álbum previsto para 2026, e fala sobre o término de um relacionamento, só que comentando também sobre mudanças e fases novas – justamente num momento de mudanças para o grupo. O clipe, dirigido pelo guitarrista Lucas Argenton, mostra a banda tocando em estúdio, sempre em preto e branco – e só se torna colorido no final, representando a mudança na história do grupo.
BRSK GENE feat. KOUTH, “F.a.L.a // c.o.m.i.g.o.”. Com nome de música e de banda estilizados (Brsk Gene é a abreviatura de “berserk gene”, algo como “gene furioso”), esse projeto musical veio de Massaranduba, município de Santa Catarina que é conhecido como a capital local do arroz. Jus/i, que criou o Brsk Gene, garante que a natureza de sua música é a intensidade, e fala nas letras de temas como ansiedade, TDAH, relacionamentos complexos e a luta para existir de maneira autêntica no mundo.
O som traz referências de metalcore, trap metal, eletrônica e peso em geral. O single F.a.L.a // c.o.m.i.g.o. fala sobre “esse limiar perigoso entre o real e o surreal, mas também sobre aquela sensação de ser estranho, inadequado, e a relação desesperadora disso com a necessidade de conexão social. E tem o acréscimo dos vocais da trapper paulistana Kouth.
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Crítica
Ouvimos: Gaby Amarantos – “Rock doido”

RESENHA: Disco-filme com 22 faixas em 36 minutos, Rock doido mostra Gaby Amarantos unindo tecnobrega, pop e festa em uma obra inventiva e multimídia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Deck
Lançamento: 29 de agosto de 2025
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Rock doido, o disco novo de Gaby Amarantos, tem um formato que lembra o de discos de bandas casca-grossa como D.R.I.: são 22 faixas curtíssimas em 36 minutos (!). Não é apenas um disco: tem ainda Rock doido, o filme, que traz todas as músicas do álbum filmadas com Gaby, convidados e sua turma, tudo em plano sequência, com o pessoal se movimentando em vários cenários subsequentes.
O disco funciona na medida que você esteja disponível para aprender uma nova forma de ouvir música: Rock doido é totalmente montado como se fosse uma festa, um DJ set, ou um passeio curto pelas festas de aparelhagem do Pará. Junto com a recente volta da Gang do Eletro (resenhada pela gente aqui), é quase um relato de como várias tendências musicais se uniram em momentos diferentes para gerar o tecnobrega e estilos afins.
Não é um disco feito para “tocar no rádio” e está mais para um suposto antecipador de tendências que, provavelmente, vão dar canal no rádio ou na TV em algum momento – a graça de Rock doido é justamente o lado multimídia dele, de ser um álbum que vira filme (está no YouTube na íntegra e pode, quem sabe, ser exibido na TV). A mistura de referências também chega à capa, que lembra tanto Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, quanto Dangerous, de Michael Jackson.
- Ouvimos: Lambada da Serpente – Lambada da Serpente (EP)
Com tanta rotatividade, eleger uma música preferida fica até complicado – inclusive porque os beats e refrãos vão se seguindo bem rápido. Essa noite eu vou pro rock introduz a/o ouvinte no clima festeiro. Short beira cu, Te amo fudido (com Viviane Batidão), Tumbalatum (terror fake com a já citada Gang do Eletro), Dá-lhe sal e Viciada em seduzir apresentam expressões locais e o clima da noite paraense a quem ouve o disco bem distante do Pará. Bonito feio é uma das faixas que separam um pouco o “tecno” do brega no álbum.
No final, tem Deixa, um samba-reggae que parece meio deslocado no álbum – é a música menos “rock doido” da fornada, mas talvez seja a tal “música de rádio” do disco. Sem crise: Rock doido é um disco-filme que confirma Gaby Amarantos como uma das artistas mais inventivas do pop brasileiro.
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Crítica
Ouvimos: Big Special – “National average”

RESENHA: Dance-punk ácido e sarcástico, National average faz o Big Special rir da miséria com ironia, fúria e riffs venenosos.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: SO Recordings / Silva Screen Records Ltd
Lançamento: 4 de julho de 2025
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Chega a escorrer veneno de National average, segundo álbum do Big Special, dupla britânica cujo clima basicamente é o da dança punk – às vezes soando como um EMF (lembra deles?) que entrou em órbita, ou como um desdobramento da receita doidona do selo Food, na virada dos anos 1980 para os 1990. Em vibe funky, Joe Hicklin e Callum Moloney falam dos problemas mais bizarros vividos pela população britânica nos dias de hoje.
Na real, nada que seja estranho até mesmo aqui no Brasil. A faixa God save the pony, tributo pago a Talking Heads e à turma de Madchester, inclui no mesmo saco hambúrgueres superfaturados, gentrificação, gente instagramável (“mal ganho o salário mínimo / e sou um clichê do rock and roll / e, para ser honesto / não consigo acreditar em quanto tempo isso já durou”) e um estado de letargia total, como se todo mundo já estivesse acostumado com isso – à Rolling Stone, a banda disse que se trata de um “boa noite e boa sorte para o peso que todos carregamos. Somos os cavalos cansados arrastando uma carga pessoal e, muitas vezes, o peso de outra pessoa”.
- Ouvimos: Immoral Kids – Tantrika
Outras canções falam também da merdificação geral que todo mundo vai levando adiante na vida, como The mess (que soa como um Tom Waits alt-metal) e Hug a bastard – esta, um reggae preguiçoso transformado em indie rock, com cara de Beastie Boys, Beck e até de Gorillaz, iniciado com os versos “encontrar deus? / cara, não consigo achar minhas chaves”. Nada se comparado a Shop music, synth pop stoner que equivale a um soco na boca do estômago de quem acredita em virtudes no mundo fonográfico, em versos como “vamos vender suas merdas / (…) e depois de vender suas merdas, vamos vender outras merdas” e “não consigo identificar o monstro quando ele está bem vestido / é o seguinte: dinheiro fala, mas não canta”.
Esse clima de desesperança e ironia é a cara de National average, disco que também fala sobre merdas passadas de geração a geração em família (o blues zoeiro Pigs puddin), de choque com o mercado fonográfico “profissional” (Professionals, uma mescla de The Who e Viagra Boys, se é que é possível), e de como todo e qualquer emprego ou chefe é uma merda (Yesboss, rap-punk sem o menor cacoete de rapper, com voz praticamente falada).
O disco novo do Big Special chega a ser um projeto multimídia – no sentido de que você tem que prestar atenção nas letras, ler as entrevistas, saber qual é a da banda e acompanhar o que eles andam falando para ter uma fruição total do disco. Em letra e música, tudo em National average soa como uma sequência de porradas bem dadas. O Big Special revisita-parodia o blues a la Eric Clapton em Domestic bliss, uma espécie de canção sophisti-punk que revira ao contrário o mito de Sísifo para falar sobre depressão e máscaras do dia a dia. Tem ainda Judas song, dance-punk sobre traição e rancor, com guitarras pesadas e um clima “eletrônico” que faz lembrar o Ultravox – mas com bastante sujeira.
Em resumo: National average é daqueles discos que fazem você rir, pensar e se envenenar ao mesmo tempo — e ainda sair dançando no final.
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