Lançamentos
Radar: Drama Em Crise, Tomaz, Oruã, Clariá, Stela

O Radar nacional de hoje tem experimentação musical (abrindo com a psicodelia do Drama Em Crise), mas também tem música pop e guitarras bem pesadas, numa mistura musical-existencial que inclui altos astrais e vibrações mais melancólicas. Ouça tudo e ponha na sua playlist de hoje o que estiver mais de acordo com seu astral.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Drama Em Crise): Divulgação
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
- Mais Radar aqui.
DRAMA EM CRISE, “A GAIVOTA”. Essa banda de Mogi das Cruzes (SP) inspirou-se em A gaivota, peça do dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904), para compor essa música – lançada por eles em seu álbum de estreia, de 2023. Gabe Fortunato (guitarra e voz), Sérgio Jomori (baixo e backing vocals), Leo Zocolaro (bateria) e Guilherme Araújo (flauta) voltaram à canção e fizeram um clipe para ela, realizado na praia de Itaguaré, em Bertioga, litoral norte de São Paulo. O clima psicodélico e caleidoscópico do vídeo lembra os primeiros clipes do Pink Floyd – e a canção tem energia de Zé Ramalho e Mutantes.
TOMAZ, “PARTIU”. Tomaz é uma cantora, que está prestes a lançar o EP Amor e mortes (sai no finzinho de outubro) e que adianta o trabalho com mais um single e mais um clipe. Partiu segue uma onda triste contemplativa em som e imagem: Tomaz conversa com as pessoas que desistiram de seus sonhos e acabaram desistindo, de certa forma, de uma parte de si próprias, “seja por autossabotagem ou por coisas ruins que acontecem pelo caminho”, conta. No clipe, Tomaz caminha, num dia bastante chuvoso e cinzento, por uma praia de Rio das Ostras (RJ).
ORUÃ, “MÉXICO SUÍTE” / “CASUAL”. Aos poucos vai surgindo Slacker, disco novo da banda Oruã, que sai em 24 de outubro pela K Records, gravadora histórica de Seattle. Originalmente vindo do Rio, o grupo hoje mistura gente do Rio e de São Paulo na formação, e ganhou ares de supergrupo, com os ocupadíssimos Lê Almeida (guitarra/vocal), João Casaes (sintetizadores), Bigu Medine (baixo) e Ana Zumpano (bateria). México suíte, música que brinca com o sotaque carioca (com “vocês” falado como na música Por causa de você, menina, de Jorge Ben: “voxês”), e Casual são as músicas apresentadas agora. São duas faixas ligadas ao slacker rock misterioso e psicodélico, sendo que a segunda une emanações de Smashing Pumpkins e Pavement.
CLARIÁ, “21” / “ASTRAL”. Lançada pelo selo Caravela Records, Clariá vai lançar um EP autoral em dezembro e abre o trabalho com dois singles que ficam entre o pop e a MPB – e cujo universo pop inclui de indie-folk a climas confessionais, lembrando cantoras como Ariana Grande. 21 e Astral têm co-produção de Luiz Lopes (Filhos da Judith, Erasmo Carlos, A Cor do Som) e letras que falam de encontros e desencontros amorosos. Aliás, põe desencontro nisso: na letra de 21, a personagem deseja ganhar de presente no aniversário de 21 anos um reencontro com um ex-namorado que sumiu do mapa – mas reconhece: “eu não acho que essa dor seja amor / é dependência emocional”. Astral já é mais positiva.
STELA, “CONSTELAÇÃO DE ESCORPIÃO”. Mesmo sendo uma banda identificada com a onda do “rock triste”, o Stela – criado pelo músico amazonense Vinicius Lavor (voz, guitarra) e hoje complementado por Filipe Gosmano (bateria), Lygia Mel Couto (baixo) e Felipe Thibeiro (segunda guitarra) – volta falando de amor e sexo por uma perspectiva bem mais tranquila em seu novo single, Constelação de escorpião, música com guitarras pesadas que aludem tanto a Smashing Pumpkins quanto a Charlie Brown Jr, e uma letra “lisérgica e mais otimista em relação a uma possibilidade de um novo amor”, como diz o próprio Vinicius.
A banda também procurou mandar muito bem no clipe, feito na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo, com equipamento alugado pelos músicos. “Os amigos de São Paulo, mais profissionais que a gente, nos ajudaram a executar de uma forma bem legal”, alegra-se Vinicius.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Lançamentos
Radar: Clara Bicho, Tontom, Seu Calixto, Miragaya, Tenório

Atchim! Em meio a um baita resfriado, vamos devagar para o segundo Radar nacional da semana – agora são três vezes! – destacando o clipe retrô-moderninho de Clara Bicho, mas seguindo também com o pop brasileiro de Tontom, o rock’n roll de Seu Calixto e Miragaya, e o jazz indie do Tenório.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Clara Bicho): Pedro Patti / Divulgação
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
- Mais Radar aqui.
CLARA BICHO, “TELEJORNAL ANIMAL”. Primeiro single da mineira Clara desde o EP Cores da TV (resenhado pela gente aqui), Telejornal animal é um easy listening ensolaradíssimo, com balanço lembrando Lincoln Olivetti e estileira dream pop nos vocais e nos teclados. Narrando um romance mediado pela TV, a letra fala em largar tudo e voar pra bem longe de tudo que causa estresse e aporrinhação.
Já o clipe, dirigido por Mariana Barbosa, traz a personagem Lua – um personagem imaginado por Clara, que ganhou fantoche feito por Laura Kind – apresentando um misto de telejornal com talk show no estilo do Johnny Carson. A cláusula de tempo é a dos anos 1960/1970: vestidões, roupas em clima psicodélico, gente fumando na plateia e até no palco. Ainda que Telejornal animal, a música, seja o mais 2025 possível.
TONTOM, “OLHA”. A carioca Tontom (Antonia Perissé) também lança o primeiro single após um EP – Mania 2000 saiu no ano passado e foi resenhado pela gente aqui. Olha, o novo compactinho dela, é uma ska-bossa com efeitos, ruídos e psicodelia no design sonoro. A letra, por sua vez, narra de maneira fofíssima o começo de uma paixão. “Eu escrevi o single enquanto conhecia meu namorado, fiz a melodia junto com o primeiro verso, e ao longo do tempo e dos acontecimentos, fui completando as lacunas vazias da melodia com a letra. É uma canção extremamente sincera e pessoal”, conta ela, que hoje está estudando música em Berlim, na Alemanha.
SEU CALIXTO, “LÁ FORA”. Essa banda de Salvador (BA) une referências como Clube da Esquina, Raul Seixas e Red Hot Chili Peppers – e, pode acreditar, você vai encontrar tudo isso misturado em Lá fora, novo single de Pedro Bulcão (voz), Seu Zé (guitarra), Gabriel Brandão (baixo) e David Bernardes (bateria). É uma música que une o senso melódico e as texturas imortalizadas por John Frusciante (guitarrista do RHCP) e uma poesia bem brasileira. Seu Zé, o guitarrista, conta que a música fala sobre aproveitar de maneira plena “a companhia de outra pessoa, uma conexão de almas que exclui o resto do mundo”. Já a ideia por trás da melodia é a de “traduzir um clima de que há tempo de sobra para aproveitar o momento, sem pressa”.
MIRAGAYA, “LOCKDOWN”. Autor de músicas para comerciais e trilhas, o guitarrista Ronaldo Miragaya deu um tempo nas bandas com vocalistas e decidiu montar um power trio instrumental com Vinícius Giffoni (baixo) e Dawton Mendes (bateria). O trabalho chegou ao disco, por intermédio do selo Caravela Records, e também à TV: o EP Ao vivo do Ipiranga sai nas plataformas e também virou especial do canal de TV Music Box Brazil. Lockdown, uma das mais significativas faixas do EP, dá uma cara blues-rock ao fecha-tudo da pandemia, trazendo o que Miragaya chama de “riffs e grooves coexistindo em harmonia”, além de inúmeros solos.
TENÓRIO, “PEDRA DO RIO NÃO SABE QUE MONTANHA É QUENTE”. Jazz caudaloso, progressivo e referenciado em Tigran Hamasyan, Amaro Freitas, Radiohead, Badbadnotgood e Porstishead. É a proposta do Tenório, projeto musical que acaba de estrear com seu primeiro single, Pedra do rio não sabe que montanha é quente. Uma música que passeia por vários ritmos, conduzida pelo piano e pelo design percussivo.
Na formação do Tenório, Filipe Consolini (piano), Henrique Meyer (guitarra), Victor José (baixo) e Felipe Marques (bateria). O grupo pretende lançar mais um single até o começo de dezembro, e o álbum inteiro do Tenório no ano que vem.
Crítica
Ouvimos: Lana Del Rabies – “Omnipotent fuck”

RESENHA: Projeto solo de Sam An, Lana Del Rabies cria em Omnipotent fuck um noise demoníaco e visceral, mistura de ritual, grito e salvação pelo barulho.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Feral Crone Recordings
Lançamento: 7 de novembro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Disquinho bom pra ouvir depois da meia-noite, esse. Lana Del Rabies não é uma banda – é o codinome usado pela musicista Samanta Angulo (que também reduz o nome verdadeiro para Sam An), de Los Angeles. Lana Del Rabies, além da zoação explícita com a cantora Lana Del Rey, é um projeto de noise extremo, demoníaco, feito para aterrorizar.
Omnipotent fuck, quarto disco de LDR, faz lembrar aquela velha história de quando Jimmy Page (Led Zeppelin) comprou a Boleskine House, que pertencia ao ocultista Aleister Crowley, e botou um amigo para tomar conta da mansão enquanto se ocupava dos afazeres do Led. O tal amigo não apenas se mudou para lá como também levou a família – e de noite, com a esposa no quarto trancado à chave, ouvia os rugidos de um suposto “animal selvagem” à solta nos corredores da casa.
- Ouvimos: Ethel Cain – Perverts
Nas nove faixas de Omnipotent fuck, Lana une todo tipo de ruído maligno, de teclados ambient a percussões assustadoras – por sinal, num curioso espelho da trilha que o próprio Page fez para Lucifer rising, filme do cineasta do oculto Kenneth Anger. Soltando a voz, ela dá agudos, sussurra e também “é” esse animal selvagem, em tons guturais.
O disco abre com Tactical avoidance, uma porrada ambient satânica em que ela repete as palavras “isolamento” e “excesso”, ambas transformando-se em grito e em dor. Lá pelas tantas parece que um espírito maligno toma conta da faixa – espírito esse que se solta em Objective death e Consensual pain, faixa repleta de risadas que soam como algo ritualístico, e de gritos de dor.
O restante de Omnipotent fuck é basicamente o monstro da Boleskine House arranhando sua porta: Bedroom sores une “gritos”, “pecados” e a ordem “toque-me!” na letra, com direito a ruídos que lembram nada menos que (olha aí, ó) o interlúdio instrumental de Whole lotta love, do Led. Wisdom spit, a melhor do álbum, é tiro, porrada e obscenidade. Vulnerable package é totalmente desenvolvida nas sombras, com Lana berrando “estou prestes a ter a porra de um desmaio!”. Obedient master é post rock demoníaco e hipnótico.
No fim, a faixa-título recebe o ouvinte com um grito gutural, é trilhada no corredor da violência sonora, e tem tanto ruído que chega a doer no ouvido – encerrando c0m tudo rodando violentamente ao contrário. A salvação pelo barulho, pela vertigem e pelo esporro, ao alcance de um clique.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Phil Lynott’s Grand Slam – “Orebro 1983”

RESENHA: Registro raro de Phil Lynott com o Grand Slam em 1983 mostra o líder do Thin Lizzy flertando com punk, pós-punk e reggae, em show na Suécia – sem deixar o som de sua antiga banda de lado.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Cleopatra Records
Lançamento: 15 de agosto de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Com passagens por grupos de punk, pós-punk e new wave, o cantor, compositor, tecladista e guitarrista escocês Midge Ure nunca entendeu direito como é que ele foi parar justamente no Thin Lizzy, nomão do hard rock. Foi o que ele contou ao documentário Phil Lynott: Songs for while I’m away, sobre a história do líder da banda, que esteve em cartaz na edição 2021 do festival In-Edit. O fato é que o músico, que já estava até efetivado como vocalista no Ultravox, era amigo de Phil e foi chamado para ocupar guitarra e teclados no grupo entre 1979 e 1980, enquanto o grupo não arrumava um guitarrista fodão para o cargo.
Além de tocar no grupo nesse período, Midge também foi responsável por encher os ouvidos do amigo com novidades do synthpop, da música eletrônica e do pós-punk. Phil, que já andava interessadíssimo em punk rock, não apenas gostou do som, como também adotou essa sonoridade em várias músicas de seus trabalhos solo. Um pouco – mas só um pouco – disso vazou também para o Grand Slam, banda de curta duração que Phil montou em 1983 com dois ex-Thin Lizzy (Brian Downey, bateria, e John Sykes, guitarra solo) e outros músicos de sua banda solo.
- Relembrando: Thin Lizzy – Jailbreak
O Grand Slam não conseguiu contrato com nenhuma gravadora e limitou-se a fazer turnês pela Europa durante um ano – mas deixou várias demos e gravações ao vivo, nas quais se percebe que o som de Phil já estava encharcado de referências do punk, às vezes soando como um Sex Pistols motorbiker ou como um Motörhead menos bravio, cabendo também referências de reggae em vários momentos. O repertório incluía os hits solo de Phil e alguns poucos sucessos do Thin Lizzy – Whiskey in the jar, a balada Sarah, feita para sua filha mais velha, e (às vezes) The boys are back in town – pintavam no set list.
Foi nesse clima que a turma foi fazer um show em Orebro, cidade na Suécia, em 1983 – show esse que já foi diversas vezes pirateado, e ganhou resgate em vinil pelo selo Cleopatra Records. Orebro 1983 começa pela faceta mais tecnopop fake de Phil (Yellow pearl, por sinal uma parceria com Midge), segue com a roqueiragem de Old town e insere mais dois hits do TL no setlist (A night in the life of a blues singer e Still in love with you). Parisienne walkways, hit solo do ex-Thin Lizzy Gary Moore (chamada pelo sem-filtro Lynott de “Parisienne blowjob”, “boquete parisiense”), vem em clima de bluesão com viradas de bateria – se você detesta o som daquelas baterias eletrônicas Simmons, que pegaram mais que praga de piolho em creche lá por 1983, nem encare.
O som de Orebro 1983 mostra também que o The Police era ou uma influência, ou uma sombra, ou uma matéria de bullying para Lynott. O hit Solo in soho tem aquele mesmo clima de “europeus se metendo a fazer reggae” do Police. King’s call, outra música solo, tem argamassa roquenrol e clima pós-punk-reggae – lembra o som do Herva Doce. Já The boys are back in town é aberta com uma zoação feroz com Every breath you take – a banda toca a introdução do hit do Police, Phil parece sacanear a voz de Sting e em seguida avisa que se trata “apenas de uma introdução musical”. Para matar as saudades do comandante Phil.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 8: Setealém
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 2: Teletubbies
Notícias8 anos agoSaiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
Cinema8 anos agoWill Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
Videos8 anos agoUm médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
Cultura Pop7 anos agoAquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
Cultura Pop9 anos agoBarra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
Cultura Pop8 anos agoFórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?

































