Cultura Pop
Quarenta clássicos pop da música infantil

Arca de noé (1980/1981) é um puta disco. A trilha de Sítio do Pica-Pau Amarelo (1977) também. Mas não há nada deles aqui, porque de modo geral, eles são álbuns que trazem a fina flor da MPB fazendo música infantil. A lua, hit do MPB 4, é pop pra burro – mas também ficou de fora. Na lista abaixo, em comemoração ao Dia da Criança, quarenta hits e não-hits dos tempos em que fãs dos Beatles, gente ligada em novidades pop, em rock dos anos 50/60/70/80, cantores mirins, astros da TV, etc, dominaram as paradas fazendo som para a criançada e para os pré-adolescentes. Curte aí. Leia e ouça.
“FUNGA FUNGA” – TRIO SONECA (Vila Sésamo, Som Livre, 1974). Convidados para fazer a trilha do programa infantil Vila Sésamo, Marcos Valle e o irmão letrista Paulo Sergio Valle tiveram reuniões com vários psicólogos e pedagogos. “A ideia era que o disco tivesse uma mensagem como: ‘Acredite em você, você pode derrubar a ditadura!'”, contou. Depois, trancou-se num estúdio caseiro com alguns músicos (o baixista Novelli entre eles). E de lá saiu com várias músicas que pouco lembravam seu passado na bossa nova – a inspiração parecia vir dos Beatles e do soul, em músicas como essa.
“A LENDA DA CONCHINHA” – VELUDO AZUL (O mundo é da criança, Som Livre, 1977). Sucesso entre pais e filhos no fim dos anos 70 (até por vir com um pôster cheio de desenhos de animais), esse disco gravado por um grupo de proveta da Som Livre tinha O pato (hit de João Gilberto) em versão samba-rock, Papai Walt Disney (hit infantil do Grupo Farroupilha) em tons psicodélicos e, fechando, a alegre releitura desse sucesso de Celly Campello.
“NÃO EMPURRE, NÃO FORCE” – A PATOTINHA (Ao sucesso com a Patotinha, RCA, 1980). No quarto álbum, o grupo infantil de proveta vinha com alguns sucessos infantis misturados com versões de disco music e até alguns hits adultos regravados (coisas como Abri a porta, de A Cor do Som, e Menino do Rio, de Caetano Veloso). A versão de Don’t push, don’t force it, de Leon Haywood, vinha com o subtítulo Melô dos patins e versos formidáveis como “estamos de patins/se você nos empurra/acho que vamos cair”.
“RAIMUNDO QUER VOAR” – DANIEL AZULAY (Turma do lambe-lambe, CBS, 1980). Bem antes de começar a compor com Ronaldo Bastos, o cantor, compositor e guitarrista Celso Fonseca ajudou a dar cara soul-pop ao primeiro álbum do desenhista Azulay feito para o programa Turma do lambe lambe (Rede Bandeirantes).
“O ELEFANTE” – ROBERTINHO DE RECIFE (Satisfação, Philips, 1981). Em shows do projeto metaleiro Metal Mania e do neoclássico-rocker Rapsódia rock, o herói da guitarra pernambucano precisava aturar um monte de gente na plateia berrando “toca O elefante!”. Perdido num dos álbuns mais roqueiros do músico, esse tema infantil com corinho de crianças marcou época.
“MEU BUMERANGUE NÃO QUER MAIS VOLTAR” – ERASMO CARLOS (Amar pra viver ou morrer de amor, Polydor, 1982). Animado com a vida em família, Erasmo Carlos já havia conquistado o público infantil com a animada Pega na mentira, em 1981. Meu bumerangue… foi logo adotada pelas crianças e até regravada pela Xuxa no disco Xuxa e seus amigos, de 1985. O sucesso com a molecada fez Erasmo ser convidado para o filme O cavalinho azul (1984), baseado em peça de Maria Clara Machado.
“BRINCADEIRAS DE CRIANÇA” – BOZO (Bozo, RCA, 1982). Que John Lennon revire-se na tumba e Paul McCartney chame os advogados: o Bozo (sim, o próprio) gravou uma versão de Ob-la-di, Ob-la-da, dos Beatles, em seu primeiro álbum…
“NARIZINHO” – BOZO (Bozo, RCA, 1982) … e, mais pop que isso impossível: gravou uma marchinha de carnaval que tem o “patrão” Silvio Santos como um dos autores. Narizinho observa que “criança que gosta do Bozo é muito feliz/criança que gosta do Bozo sabe onde tem o nariz” (sic).
“O INCRÍVEL HULK” – JUNINHO BILL (Festival Internacional da Criança, RCA, 1983). Você não deve lembrar, mas Juninho, depois um dos integrantes do Trem da Alegria, começou sua carreira com essa música, no álbum do festival criado pelo SBT – e que também lançou as carreiras, em separado, de Patricia Marx (então conhecida como Patricia Marques) e Luciano. O disco vendeu bem e algumas músicas pegaram mais do que praga de piolho em jardim de infância.
“ROCK DA LANCHONETE” – LUCIANO DI FRANCO (Festival Internacional da Criança, RCA, 1983). Parece que seu toca-discos está com a rotação acelerada, mas é só o então petiz Luciano, futuro Trem da Alegria, fazendo sua estreia em disco no mesmo festival que lançou Juninho Bill.
“LINDO BALÃO AZUL” – MORAES MOREIRA, BABY CONSUELO, BEBEL GILBERTO, RICARDO GRAÇA MELLO (Pirlimpimpim, Som Livre, 1983). Meio sumido do circo pop havia alguns anos (“minha crise do segundo disco foi a do segundo, do terceiro e do quarto”, disse), Guilherme Arantes voltava como compositor de música infantil, graças a esse hit…
“BRINCAR DE VIVER” – MARIA BETHÂNIA (Plunct plact zuuum, Som Livre, 1983). … e a esse, com letra escrita por Guilherme em cima de um tema musical do jazzista britânico Jon Lucien, e que encerrava um dos principais especiais infantis da Globo dos anos 80.
“O CARIMBADOR MALUCO” – RAUL SEIXAS (Plunct plact zuuum, Som Livre, 1983). Após dois anos tentando, Kika Seixas, então esposa de Raul, conseguiu reposicioná-lo no mercado, com um disco pela Eldorado (Raul Seixas, do mesmo ano) e uma participação de peso em Plunct, cantando o tema de abertura. A inspiração da letra veio de um texto do anarquista francês Pierre-Jouseph Proudhon (que falava em “ser governado é: ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, depositado, doutrinado, instituído, controlado, avaliado, apreciado, censurado, comandado por outros que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude”).
“SUPERFANTÁSTICO” – TURMA DO BALÃO MÁGICO E DJAVAN (Turma do Balão Mágico, CBS, 1983). Composta inicialmente para Roberto Carlos gravar com a Turma (o primeiro verso deveria ter sido “Roberto Carlos amigo/que bom estar contigo/em nosso balão”), acabou nas vozes dos meninos Tobi, Mike e Simony, e na de Djavan. E virou um dos maiores hits do grupo infantil, inclusive graças ao arranjo de cordas feito pelo mago dos estúdios Lincoln Olivetti.
“É DE CHOCOLATE” – ROBERTINHO DE RECIFE, PATRICIA, LUCIANO E EMILINHA (Clube da criança, RCA, 1984). O sucesso com O elefante credenciou Robertinho e sua guitarra para mais serviços no mercado da música infantil. Esse hit da dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas pôs em clipe no Fantástico (e no programa de Xuxa na Manchete, Clube da criança) Patricia Marx e Luciano Nassyn, que entrariam no grupo Trem da Alegria um ano depois.
“VAMOS A LA PLAYA” – BOM BOM (Bom Bom, Epic/CBS, 1984). Hoje multi-instrumentista, produtor e professor de música, Sandro Haick, filho de Netinho (Incríveis, Casa das Máquinas) começou aos 12 anos tocando bateria nesse grupo, que fez sucesso com essa versão em português do duo italiano Righeira. O repertório do primeiro disco trazia de Leo Jaime a letras feitas pelo versionista oficial da Turma do Balão Mágico, Edgard Poças. Ninguém percebeu, mas apesar do alto astral da versão, o original de Vamos a la playa falava dos resultados altamente tóxicos de uma guerra nuclear (você já leu sobre isso no POP FANTASMA).
“XIXI NAS ESTRELAS” – GUILHERME ARANTES (Pirlimpimpim 2, Som Livre, 1984). Quando um conhecido compositor de música pop precisa fazer um disco infantil bacana, que marque época e venda discos, o que ele faz? Bom, a primeira providência de Guilherme Arantes ao ser convidado para escrever Pirlimpimpim 2 foi chamar Julio Barroso, da Gang 90, e o poeta Paulo Lemisnki para dividir as parcerias. O resultado foi uma verdadeira pérola maldita da música infantil oitentista. O hit do álbum, composto com Leminski, foi esse aí.
“É TÃO LINDO” – TURMA DO BALÃO MÁGICO E ROBERTO CARLOS (Turma do Balão Mágico, 1984). Pronto: o Rei finalmente topou participar de uma gravação da Turma – na versão de It`s not easy, do filme da Disney Meu amigo dragão (Pete’s dragon, de 1977).
“SE ENAMORA” – TURMA DO BALÃO MÁGICO (Turma do Balão Mágico, 1984). Versionista de quase todo o repertório da Turma, Edgard Poças conseguiu realmente – e de forma assombrosa – entender o que se passava na cabeça de uma criança dos anos 80 que vivia as agonias de um amor platônico de escola. A música ainda faz muito marmanjo chorar.
“AGULHA NO PALHEIRO” – LUIZ MELODIA (A turma do Pererê, Som Livre, 1984). O especial infantil de Ziraldo, quando levado à tela da TV, trouxe a MPB de Gal Costa (na bela Grande final, de Moraes Moreira), o sertanejo de Sergio Reis (em Canção dos caçadores), um pop infantil que nem parece mas é de Raul Seixas (Canção do vento) e o tom black Rio da canção de Luiz Melodia, que fala da ida do índio Tininim para a cidade grande.
“A VERDADEIRA HISTÓRIA DE ADÃO E EVA” – BLITZ (Plunct plact zuuum II, Som Livre, 1984). A segunda parte do especial infantil falava, em sua maior parte, sobre vivências de pais separados e filhos alijados do próprio lar. Por algum motivo que não lembro mais qual é, o programa começava com essa música da Blitz que não havia sido incluída em disco nenhum do grupo e contava a história da criação do mundo com uma letra cheia de duplos e triplos sentidos (“Adão segura sua cobra/que eu tô com maçã de sobra pra dar”, cantavam as vocalistas). Até no Rock In Rio rolou.
“PAPAI SABE TUDO” – ERASMO CARLOS (Plunct plact zuuum II, Som Livre, 1984). Em alta com o público infantil e prestes a se tornar ele mesmo um pai separado, Erasmo falava sobre o drama do pai que cuidava da vida, da carreira e dos filhos pequenos, tudo ao mesmo tempo, nessa canção de Leo Jaime e Leandro (ex-João Penca e seus Miquinhos Amestrados).
“SUBPRODUTO DE ROCK (GERAÇÃO DO ROCK)” – BARÃO VERMELHO (Plunct plact zuuum II, Som Livre, 1984). O clássico infantil do Barão com Cazuza se tornou popular a ponto de ser executado pela banda em seu show no Rock In Rio I, em 1985 – com um nada infantil “foda-se” anexado na letra.
“MEU URSINHO BLAU BLAU” – ABSYNTHO (Absyntho, RCA, 1984). Er… um estranho encontro entre música infantil + rock brasileiro dos anos 80 + glam rock + psicodelia (era uma banda com repertório infantil que adotou como nome uma bebida alcoólica – quer coisa mais psicodélica que isso?). Marcou época e é até hoje executada em festas Ploc. O vocalista Sylvinho, você deve saber, deve seu atual nome artístico (Sylvinho Blau Blau) ao hit.
“PLANETA MORTO” – TITÃS (A era dos Halley, Som Livre, 1985). A Globo pegou carona na cauda do cometa (ai) Halley, que seria avistado do Planeta Terra em 1986. E bolou esse especial, com participações de nomes como Barão Vermelho (em sua primeira aparição sem Cazuza, com Torre de babel), o ex-mutante Sergio Dias (Anos luz de amor), Baby Consuelo (a radiofônica Que delícia) e os Titãs a poucos meses de Cabeça dinossauro, com Planeta morto, que não apareceria em nenhum disco da banda.
“O SENHOR DA GUERRA” – LEGIÃO URBANA (A era dos Halley, Som Livre, 1985). A Legião também participou do mesmo especial, com uma música que parece um outtake do primeiro disco. O senhor da guerra ficou de fora da discografia do grupo – apenas em Música para acampamentos (1991) surgiria uma versão gravada ao vivo e com o nome mudado para A canção do senhor da guerra. Durante as gravações do vídeo, segundo o guitarrista Dado Villa-Lobos, a banda se assustou bastante com o estilo mandão do diretor Augusto Cesar Vanucci e odiou o figurino (no qual nem apitaram).
“EU NÃO RANGO” – ULTRAJE A RIGOR (Os Trapalhões no rabo do cometa, WEA, 1986). Brigados, os Trapalhões toparam fazer um filme em parceria com a Mauricio de Sousa Produções, em que boa parte do trabalho seria feita em desenho animado. Na trilha, vigorava o rock nacional, com músicas inéditas de Premeditando o Breque (O bruxo e o passarinho), Ira! (1914) e uma versão especial de Eu me amo (Ultraje A Rigor) com o nome modificado para Eu não rango – por causa de uma cena em que um Didi pré-histórico saía buscando comida, sem sucesso, no tempo das cavernas.
“HE-MAN” – TREM DA ALEGRIA (Trem da alegria, RCA, 1986). Michael Sullivan e Paulo Massadas, autores da música, lançaram de vez seus tentáculos para cima do público infantil com essa canção, um estranho e feliz encontro entre metal farofa e trilhas de seriados japoneses. “Das músicas que fiz, é uma das que mais gosto”, chegou a afirmar Sullivan. A gravação envolveu uma trabalheira brutal que incluiu o uso de uma orquestra de cordas apenas para dar uma “sombra” na música – coberta depois com uma camada de sintetizadores.
“FERA NENÉM” – TREM DA ALEGRIA E EVANDRO MESQUITA (Trem da Alegria, RCA, 1986). Mais rock nacional na farra da música infantil dos 80: o ex-O Terço Vinicius Cantuária e o ex-Blitz Evandro Mesquita compuseram essa, cantada por Juninho Bill e que, bem, chocou algumas pessoas por causa dos versos “brinco de médico, ninguém é de ferro” e “acordo feliz quando sonho com a Xuxa”. Ora, vejam só…
“TE CUIDA MEU BEM” – PATRICIA (Patricia, RCA, 1986). Antes, bem antes de descobrir o pop adulto e a música eletrônica, Patricia Marx fazia um raro mix “adolescente-adulto”, influenciado por jovem guarda, soul e bossa nova. A fofa Te cuida meu bem, de Michel Sullivan e Paulo Massadas, foi regravada em ritmo de funk recentemente por MC Marcinho com outra letra e nome modificado para Garota nota cem.
“MIRAGEM VIAGEM” – XUXA (Xou da Xuxa, Som Livre, 1986). Um dos letristas oficiais do Clube da Esquina, responsável pela produção de vários discos de Milton Nascimento, Ronaldo Bastos verteu para o português Black orchid, de Stevie Wonder – da trilha do documentário The secret life of plants, de 1979.
“SHE-RA” – XUXA (Xou da Xuxa, Som Livre, 1986). Joe Euthanazia, parceiro de Neusinha Brizola em Mintchura (e que teve sucessos solo como Me leva pra casa) e Tavinho Paes, parceiro de Lobão (em Rádio blá) e Arnaldo Brandão (em Totalmente demais, do Hanoi Hanoi, e na própria Rádio blá), inacreditavelmente, compuseram um dos maiores hits da Rainha dos Baixinhos. Segundo Tavinho, a música não foi uma encomenda: inicialmente era uma bossa nova feita para sua filha, Dianna. Por causa dessa música, Joe e Tavinho ganharam US$ 15 mil e foram imediatamente para Nova York gastar o dinheiro.
“AS CRIANÇAS E OS ANIMAIS” – ABELHUDOS (Patrulha do coração, EMI, 1987). Formado por dois filhos de Renato Corrêa, dos Golden Boys, esse grupo soava como uma Turma do Balão Mágico mais “crescida” (os integrantes tocavam instrumentos de verdade), pré-adolescente e, graças à influência paterna, mais pós-jovemguardista. Isso tocou muito em rádio.
“CORAÇÃO DE PAPELÃO” – JAIRZINHO E SIMONY (Jairzinho e Simony, CBS, 1987). A versão para Puppy love, de Paul Anka, foi feita por (adivinhe quem?) Edgard Poças. Fez sucesso estrondoso e reabilitou por uns tempos a carreira dos dois ex-A Turma do Balão Mágico. O único disco da dupla tinha ainda participações de Gal Costa (em Oi mundo), Tim Maia (A voz do trovão), a ex-cantora do Metrô, Virginie (numa versão de O vira, do Secos & Molhados) e muitas músicas feitas por Paul Mounsey, um compositor escocês que vivia no Brasil na época e hoje se dedica a trilhas de cinema em Los Angeles.
“PRA VER SE COLA” – TREM DA ALEGRIA (Trem da alegria, RCA, 1988). Marcou as infâncias de muita gente que acabou de passar dos trinta – inclusive a de Marcelo Camelo, que chegou a cantar a música com o Los Hermanos num Luau MTV do grupo.
“DIA DE PARAÍSO” – ABELHUDOS (Dia de paraíso, EMI, 1988). Boa parte do material do terceiro disco dos Abelhudos foi composto por vários autores ao lado do letrista Claudio Rabello – aquele mesmo, de Muito estranho, de Dalto. Essa, de Rabello e Erich Bulling, levou o trio infantil para apresentações no Cassino do Chacrinha, no Clube do Bolinha, no Xou da Xuxa, no Globo de Ouro…
“BRUXINHA” – A NOVA TURMA DO BALÃO MÁGICO (A Nova Turma do Balão Mágico, CBS, 1988). Balão Mágico, o programa, saiu do ar em 1986 e deu lugar ao Xou da Xuxa. O antigo quarteto (com Jairzinho) se separou e cada um foi tratar da sua vida. Mas a CBS não perdeu a oportunidade e, sob o mesmo nome, juntou dois anos depois Rodrigo Camargo e as gêmeas Natanna e Tuanny, filhas da cantora Adriana. O grande hit foi esse. Em outras faixas, Edgard Poças, versionista dos primeiros discos, subia de posto e virava co-autor, mas sem muitos sucessos.
“VOU DE TÁXI” – ANGÉLICA (Angélica, CBS, 1988). A versão em português de Joe le taxi, gravada por Vanessa Paradis, foi feita por Byafra e Aloysio Reis mantendo um pouco do tema original (táxis, enfim). “Lembro que o Aloysio chegou em casa dizendo que ia estrear uma lourinha na Rede Manchete. Ele estava chegando de Paris e disse que tinha uma música arrebentando por lá. Era Joe le taxi, da Vanessa Paradis, que falava de uma menina apaixonada pelo motorista de táxi que ia buscá-la na casa dela”, relatou Byafra aqui.
“NÃO FAZ MAL (TÔ CARENTE MAS TÔ LEGAL)” – MARA (Deixa a vida rolar, EMI, 1990). Os créditos dos discos da apresentador e cantora assustam: músicas inéditas de Cecelo Frony, Baby do Brasil, Caramez (ex-empresário e amigo dos Novos Baianos), Fábio Fonseca. Esse hit adolescente foi feito pela dupla de jurados do Astros, Thomas Roth e Arnaldo Saccomani. E você conhece.
“NANA NENÉM” – RAIMUNDOS (single, Warner, 1998). “Quem não calar a boca/vai entrar na chinela”. Os Raimundos, ainda com Rodolfo no vocal, mantinham a fama casca-grossa gravando um jingle para o chinelo Rider que virou hit infantil e saiu em CD-single, com Reggae do manero de b-side. Aparentemente, na época, ninguém se chocou com a letra. A empresa também não se importou muito com o fato de a música fazer referência a usos bem pouco ortodoxos e mais inapropriados de seu produto.
4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
										
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