Cinema
Quando fizeram um drama televisivo com John Lennon e Yoko Ono

Em 1985, você deve saber, John Lennon completou cinco anos de morto, o que dava espaço para que começassem as várias homenagens, tributos e coisas parecidas. Era um ano bastante movimentado no que dizia respeito a tudo do catálogo dos Beatles, já que os direitos do songbook de Lennon-McCartney tinham ido para um inacreditável leilão público, e tinham sido comprados por Michael Jackson. Já o nome de John, para uso em homenagens e tributos, esbarrava numa questão que talvez fosse um pouco mais complicada: sem Yoko Ono, nada rolaria. Mas de qualquer jeito, ela foi bem colaborativa quando uma turma apareceu com a proposta de fazer um telefilme sobre a vida dela com John, e que se tornaria John and Yoko: A love story.
A novidade é que esse filme está legendado no YouTube para alegrar (ou não) a tarde de sábado que você passaria assistindo ao Caldeirão do Mion.
John and Yoko: A love story assusta pela duração: são três horas (!) de filme contando a história do casal, com Mark McGann e Kin Mioyri nos papéis principais. Yoko colaborou, cedeu músicas, mas também apitou em algumas coisas. “John J. McMahon, produtor executivo da Carson Productions, escolheu Sandor Stern como roteirista e diretor depois que um roteiro inicial de Edward Hume (do filme O dia seguinte) supostamente não agradou Yoko porque continha muito material sobre drogas. A versão de Stern dos anos de John e Yoko é muito mais diplomática, apenas tocando em partes dos incidentes de drogas públicos e privados, sem mencionar algumas das infidelidades amplamente divulgadas de Lennon”, contou o The New York Times no lançamento do filme, em dezembro de 1985.
Bom, a vida do casal era romantismo com alguns lances bem estranhos: uso de drogas, abandono parental (Julian, filho mais velho de John, ficou anos sem vê-lo), traições, inseguranças de Lennon, brigas domésticas. Da história romântica do casal, não deu para não falar da época em que John e Yoko se separaram e o ex-beatle foi viver com May Pang, e do dia em que John e o brother Harry Nilsson foram expulsos de uma boate por atrapalharem um show dos Smothers Brothers. Isso tem no filme. O contexto político de todos os períodos também está lá.
Aliás John and Yoko: A love story não fica só na história do casal. Ele abre com nada menos que os próprios Beatles, em 1966, vivendo a tensão de ver seus discos queimados no Alabama, depois que o próprio John Lennon declarou que a banda era mais popular do que Jesus Cristo. Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr são interpretados respectivamente por Kenneth Price, Peter Capaldi e Phillip Walsh.
O filme, aliás, tem dois detalhes interessantes. Aos 22 anos e iniciando carreira, Mike Myers faz um papel rápido e não creditado, como um entregador (vídeo abaixo). E um ator chamado Mark Lindsay chegou a ser considerado para o papel de Lennon, após impressionar a própria Yoko Ono durante um teste. Só que a viúva de Lennon descobriu que o nome do ator era… Mark Lindsay Chapman. E, como você deve saber, o nome do cara que matou Lennon era Mark David Chapman. Claro que Yoko dispensou Mark na hora.
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Cinema
Mulheres do punk no Reino Unido, em documentário

Se você só tiver tempo de ver UM filme sobre música em algum momento do dia de hoje, veja este. She’s a punk rocker UK é um filme ultra-hiper-independente, dirigido durante vários anos por Zillah Minx, a vocalista do grupo gótico-anarco-punk Rubella Ballet, e que conta a história do punk feito por mulheres no Reino Unido. Entre as fontes, tem gente muito conhecida, como Poly Styrene (X-Ray Spex) e Eve Libertine (Crass).
No filme, dá pra ver também os depoimentos de nomes como Caroline Coon, que durante um tempinho foi empresária do Clash e trabalhou com a banda num especial período de confusão – quando a banda ainda era um incompreendido nome da CBS britânica que não conseguia estourar nos Estados Unidos de jeito nenhum (opa, fizemos um podcast sobre isso).
Um depoimento interessante é o de Mary, uma punk veterana que trabalhou por uns tempos como segurança de Poly Styrene, cantora do X-Ray Spex. Tanto ela quanto Poly lembram que o público dos shows era meio violento em alguns lugares – com “fãs” jogando cerveja e cuspindo na plateia para demonstrar que estavam gostando da apresentação (era comum). Logo no começo do documentário, entrevistadas como Rachel Minx (também do Rubella Ballet) contam que nem tinham uma ideia exata de que elas eram punks quando começaram a adotar o visual típico do estilo – roupas rasgadas, maquiagem, reaproveitamento de peças usadas. Em vários casos, a ideia era se vestir diferente porque todas começaram a produzir suas próprias roupas – e a moda se refletia na música, nas letras e no comportamento.
A própria Zillah é uma figura importante e pouco citada do estilo musical, e viveu o estilo de vida punk antes mesmo dos Sex Pistols começarem a fazer sucesso. O filme dela foi feito inicialmente com uma câmera emprestada e precisou passar por vários processos de edição durante vários anos. Apoiando o Patreon do projeto, aliás, você consegue ter acesso às integras de todas as entrevistas.
Ela disse nesse papo aqui que foi aprendendo a fazer tudo sozinha, sem nenhum financiamento, com a ideia de responder algumas perguntas sobre a presença feminina no punk britânico. “Ser punk era perigoso, então por que tantas mulheres se tornaram punks? Foi apenas sobre vestir-se escandalosamente? Essas mulheres punk foram tratadas como membros iguais da subcultura e como foram tratadas pelo resto da sociedade? Como ser uma mulher punk afetou suas vidas? A mulher punk influenciou diretamente as atitudes da sociedade em relação às mulheres de hoje?”, disse.
Cinema
Jogaram o documentário musical brasileiro Som Alucinante no YouTube

Som alucinante, filme de Guga de Oliveira (irmão de Boni, ex-todo poderoso da Rede Globo), lançado nos cinemas em 1971, apareceu pela primeira vez na íntegra no YouTube há poucos dias. O filme traz um apanhado de shows do programa Som Livre Exportação, musical exibido pela Rede Globo entre 1970 e 1971. A produção foi feita no espírito do filme do festival de Woodstock, de Michael Wadleigh, com shows misturados a entrevistas com artistas, músicos, a equipe técnica tanto do festival quanto do filme, e com pessoas da plateia.
Logo no começo, o radialista paulistano Walter Silva (o popular Pica-Pau) resolve perguntar a uma mulher da plateia o que ela espera encontrar no show. Como resposta, recebe risos e um “ah, sei lá, dizem que tá bacana, né?”. Bom, de fato, o formato de festival não competitivo – ou de pacote de shows – ainda não era das coisas mais conhecidas aqui no Brasil.
Tudo ali era meio novidade, tanto o fato de tantos nomes estarem reunidos num mesmo evento, quanto o fato de vários nomes “alternativos”, de uma hora para outra, terem virado grandes atrações de um programa da Globo: Ivan Lins (em ascensão e fazendo seu primeiro show em São Paulo), Gonzaguinha, Mutantes, A Bolha, Ademir Lemos e até um deslocadíssimo grupo americano chamado Human Race – que apresentou uma cover de Paranoid, do Grand Funk. Para contrabalancear e garantir mais audiência ao programa, Elis Regina, Wilson Simonal e Roberto Carlos participaram da temporada de 1971 da atração (que mesmo assim continuou sem audiência, mas com sucesso de crítica). O show levado ao ar nessa temporada serviu de fonte para o documentário.
O que mais chama a atenção em Som alucinante, na real, não é nem mesmo a música. Bom, e isso ainda que o filme apresente uma entrevista bem interessante com um iniciante Gonzaguinha (que faz um excelente discurso sobre “não pensar no mercado e ser você mesmo”), uma Rita Lee aparentemente em órbita falando sobre “é bom ganhar dinheiro com o que se faz, né?”, Mutantes tocando José e Ando meio desligado, A Bolha tocando o gospel-lisérgico Matermatéria, Elis Regina dividindo-se entre os papéis de cantora e mestra de cerimônia. E também várias entrevistas com Milton Nascimento que não vão adiante, de tão constrangido que o cantor estava.
O mais maluco no filme é que a plateia desmaia, e o tempo todo (!). Os fãs começam a empurrar uns aos outros e num determinado momento, a solução da produção é convidar os que estavam em maior situação de vulnerabilidade para subir no palco. Numa cena, um policial carrega uma garota desmaiada e ele próprio quase toma um estabaco.

Companhias indesejáveis na plateia do Som Livre Exportação
Em outro momento, os fãs são puxados ao palco por policiais e pessoas da produção com uma tal intensidade, que aquilo fica parecendo uma tragédia bíblica. Ou um evento que estava mais para Altamont do que para Woodstock, porque era evidente que aquilo estava ficando perigoso. Especialmente porque militares circulavam na plateia e aparecem, em determinados momentos, atrás do palco, o que já explica todo aquele estresse.
Ah, sim a parte do “nós estamos todos reunidos nessa grande festa”, dos Mutantes (que aparece no documentário Loki?, sobre Arnaldo Baptista) foi tirada de Som alucinante. E pelo menos um crítico do Jornal do Brasil, Alberto Shatovsky, detestou a linguagem “moderna” do filme.
A sequência de Roberto Carlos no filme.
E se você não reconheceu o sujeito de bigodes e cabelo black que aparece em alguns momentos no filme, é o Ademir Lemos, do Rap da rapa (lembra?). Era um dos apresentadores do Som Livre Exportação.
Cinema
O Homem Que Caiu na Terra, feito para TV em 1987

Considerado um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos, O homem que caiu na Terra saiu em 1976 e tinha David Bowie interpretando o papel-título – o do alienígena Thomas Jerome Newton, que veio pra essas terras pegar água para levar a seu planeta natal, que está passando por uma seca medonha. O filme tem no subtexto a própria vida desregrada que Bowie levava na época: o personagem torna-se dependente de álcool e televisão, tem um relacionamento amoroso (com Mary Lou, interpretada por Candy Clark, de American graffiti) arruinado por causa dos problemas pessoais e dos vícios, e encara o luxo, a incapacidade e a decadência de perto. Enfim, se você não viu, dê um jeito de ver hoje mesmo.
O que muita gente hem sequer desconfia é que entre o filme com Bowie e a série com o mesmo nome levada ao ar pelo canal Showtime, ainda existe uma versão de O homem que caiu na Terra feita pra televisão. E ela tá até no YouTube.
O homem que caiu na Terra de 1987 foi produzido pela MGM e também seria, ao que consta, o piloto de uma série que nunca foi feita. O filme também foi baseado no livro de Valter Tevis. Ao contrário do filme de Bowie, o personagem principal se chama John Dory e ele, ao chegar, envolve-se com uma mulher que tem um filho adolescente que vive de pequenos roubos e golpes. O grande objetivo do extraterrestre é arrumar dinheiro para construir uma nave espacial e voltar para o seu planeta, daí ele aceita o que aparecer de trabalho.
O elenco inclui atores como Lewis Smith (John Dory), Beverly D’Angelo (Eva Smith, a namorada terráquea do personagem principal) e Robert Picardo (um agente governamental, Richard Morse). A pergunta de um milhão de dólares é: vale assistir? Ué, vale – mas tendo em mente que tentaram fazer um filme de Sessão da Tarde com um épico da ficção científica.
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