Cinema
Jogaram no Vimeo “Procura-se”, documentário sobre cantor desaparecido

Já tem dez anos que Procura-se, filme do cineasta Rica Saito sobre a vida do desaparecidíssimo cantor e compositor Mario Rocha, foi feito. A Temporal Filmes, do cineasta, jogou o filme inteirinho no Vimeo, para quem quiser conferir aí. E não é que o filme continua rendendo até hoje?
(leia o texto abaixo preferencialmente depois de ver o filme, porque tem um ou outro spoiler)
Com participações de Wanderléa e do jornalista Carlos Callado (que escreveu a biografia A divina comédia dos Mutantes), o filme conta a história de Mário, músico paulistano que sumiu do mercado após deixar vários fãs. E que, entre as décadas de 1960 e 1970, agitou uma movimentação hippie na Vila Mariana, bairro de São Paulo. Tratava-se de um universo paralelíssimo ao dos próprios Mutantes, que andavam entre a Pompéia e a Serra da Cantareira naqueles tempos.
Pelo que diz lá, ele deixou dois discos gravados. O primeiro é o EP de uma banda chamada The Lattes (pronuncia-se “The Leites”), que fazia parte de uma turma mais experimental da jovem guarda. Wanderléa, de quem Mário foi músico, teria arrumado uma oportunidade para ele na CBS (hoje Sony) e possibilitou o disco. E, no finalzinho dos anos 1960, saiu o único LP do Psilocibina, grupo de rock psicodélico comandado por ele.
O produtor do álbum, Jorge Mascarenhas, conta no filme detalhes de como o LP foi produzido. E faz uma viagem pelo disco, na onda daqueles documentários de “classic albums”, mostrando cada canal de gravação.
Se você está se perguntando: “Peraí, como eu nunca ouvi falar desse tal de Mário Rocha?”, calma. “Procura-se é um filme que permite muitas leituras”, brinca Rica Saito, que em 2008 exibiu o filme no festival É tudo verdade. E na sequência, foi para a mostra de falsos documentários F de Falso — Nem tudo é verdade.
“O Mário Rocha é uma mistura. Tem um pouco do meu tio, que é músico. O nome é uma brincadeira com o Mariozinho Rocha (produtor). Mas nesse processo tem muita coisa que fomos descobrindo de Super 8, do meu tio, e fomos colocando no filme. Aquelas imagens da Festa da Vila que aparecem no filme, são da primeira Feira da Vila Madalena (de 1977)“, completa Rica, falando com a gente.
Os tais discos na verdade não saíram. “Deixamos algumas pistas no filme sobre o que era ou não verdade”, diz. Comento com Rica que fiquei intrigado com o fato de o produtor Jorge Mascarenhas aparecer o tempo todo com um cigarro apagado no estúdio. Se você já trabalhou ou frequentou estúdios, sabe que quem apenas ameaça acender um cigarro na sala de gravação, é sério candidato a levar um belo esporro. “E sabe que você não é o primeiro que me fala isso?”, conta.
O tio de Rica é um nome conhecido de quem acompanha a música psicodélica do Brasil: Edu Viola. Na atividade desde os anos 1960, com trabalhos acumulados para cinema e TV, ele gravou discos que hoje são cultuados, como O direito ao avesso, de 1980.
A produção do disco Edu Viola e o Bando Novo, lançado em 2012 (ouça aqui) também ganhou um documentário feito por Rica Saito.
“O Edu é um museu vivo. Ele recebe pessoas, é um luthier, fabrica instrumentos. Tem todo um outro filme para ser feito sobre ele. Ele tem um enorme acervo bibliográfico: filmes, fotos, revistas. Ele vai em várias camadas. Pensamos em contar a história dele de outra forma, porque era muito difícil de sintetizar tudo”, conta Rica. “Achei que meu tio fosse ficar incomodado com o filme. Mas ele achou até mais interessante que a história dele fosse contada assim”. Para quem acompanha a música underground paulistana, uma info importante é que o filme traz algumas das últimas imagens de Gigante Brazil, baterista morto em 2008, e que tocou com Itamar Assumpção e Gang 90.
E a novidade é que uma turma está querendo levar o som de Psilocibina para o universo do vinil. Rola até o fim de fevereiro um crowdfunding para lançar finalmente o disco, que tem gravações feitas dos anos 1970 até 2008. Saiba mais aqui.
“A ideia é o disco ter a mesma capa que aparece no filme, com a trilha sonora dele. Tem gravações do Edu da época em que ele tocava com o (cartunista) Paulo Caruso, muita coisa”, adianta o diretor.
Cinema
Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.
As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.
E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.
Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.
O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).
Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.
A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.
Cinema
Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

- Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
- Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.
Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.
A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.
O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.
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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.
De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.
Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.
Nota: 7
Gravadora: Interscope.
Agenda
Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio

O Rock Horror Film Festival, festival carioca de filmes de terror, está de volta na praça – e vai rolar de 19 de setembro a 02 de outubro no Cinesystem de Botafogo (Zona Sul do Rio). Dessa vez, o evento vai trazer uma seleção de mais de 50 filmes de 17 países em seis categorias: Longas Sinistros, Médias Bizarros, Docs Estranhos, Curtas Macabros, Brasil Assombrado e Pílulas de Medo.
O objetivo do festival é unir terror, cultura pop e rock, e juntar os públicos das três coisas. Entre os filmes selecionados, há produções como The history of the metal and the horror, documentário de Mike Schiff repleto de nomões do som pesado (EUA), Tales of babylon, de Pelayo de Lario (Reino Unido), The Quantum Devil, de Larry Wade Carrell (EUA). Há também Death link, dirigido por David Lipper (EUA), com um time de astros e estrelas que inclui Jessica Belkin (Pretty little liars), Riker Lynch (Glee), David Lipper (Full House) e outros.
O evento também vai ter mesas redondas com diretores, atores e outros profissionais da indústria para o público do festival, comandadas pela criadora do Rock Horror Film Festival, Chrys Rochat (Sin Fronteras Filmes), e que vão rolar no hall do Cinesystem. Entre os convidados já estão confirmados diretores da Polônia, EUA, Canadá e Brasil. Happy hours cinéfilas, shows de rock e oficinas estão no programa também, além da exibição de um filme inédito no Brasil na abertura.
Lista completa dos filmes que participarão da edição no site do festival: www.
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