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Cultura Pop

Peter Lemongello: um candidato a astro dos anos 1970 que vendia seu disco pela TV

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Peter Lemongello: um candidato a astro dos anos 1970 que vendia seu disco pela TV

Em Nova York, tem quem se recorde de Peter Lemongello até hoje. E não há como negar que o cantor ítalo-americano, se não criou um estilo, criou pelo menos uma maneira de vender música, em plenos anos 1970. Na época, já havia gravadoras que vendiam discos em comerciais em rádio e TV (como a K-Tel), mas em 1976 Peter inovou por lançar um disco DUPLO que era vendido apenas por comerciais na televisão. O tal disco era Love 76. E ele está nas plataformas digitais em versão deluxe.

Peter, vale dizer, era uma daquelas figurinhas da TV que você fica até em dúvida se existiram de verdade. O cara cantava sons românticos e melosos na linha do Barry Manilow, tinha cabelo liso extremamente escovado e aparecia vestido no rigor do que havia de mais “cheguei” na moda da época: ternos coloridos, camisões abertos mostrando o peito cabeludo, etc.

Mas foi graças a comerciais como esses aí que ele chamou bastante atenção para seu lançamento, fazendo uma campanha de TV aberta em Nova York (seguindo de cidade a cidade) a partir de 1º de janeiro de 1976. O cenário dos comerciais também era o que dava certo em programas de TV da época: ambientes espelhados, lugares que lembravam tanto uma boate quanto uma suíte de motel, etc.

Peter, cidadão de Nova Jersey, era novidade para uma renca de gente em 1976, mas não era nenhum iniciante. Antes do disco duplo, ele tinha carreira de crooner e até tinha conseguido gravar dois singles ilustres e desconhecidos pelo selo Rare Bird. Em 1971, por causa de um contato com o humorista de TV Don Rickles, chegou a aparecer no Tonight show, programa de Johnny Carson.

Não deu muito certo: Peter foi a última atração da noite e ainda por cima esteve lá durante umas férias de Carson, quando o programa foi comandado por Joey Bishop. Com o sucesso do álbum duplo, posteriormente, ele apareceria diversas vezes lá e viraria quase freguês da atração. Olha aí a aparição dele no programa.

Antes de Love 76, Peter também havia conseguido um contrato com a Epic Records, que renderia três singles. Mas acabou rendendo apenas um compactinho em dezembro de 1973 com Mary Lee no lado A e no lado B. O disco teve função apenas promocional e não fez sucesso – e o contrato de Peter acabou.

Love 76 surgiu numa época em que Peter basicamente ganhava a vida como vendedor e empreendedor, e decidiu apostar tudo na música. Com a ajuda de um banqueiro chamado Bob Pascuzzi, investiu 32 mil dólares e conseguiu bancar um show na Westbury Music Fair, em Long Island, onde sabia que seria assistido por vários nomões do mercado, e poderia atrair mais investidores. Teve sucesso: conseguiu bancar músicos, horas de estúdio e soltou o disco, que tinha um LP ao vivo (do tal show da feira de música) e um de estúdio.

E para promover o disco? Bom, aí surgiu o tal comercial de TV, que começou a ser veiculado no ano-novo de 1976, em estações de Nova York, também com a ajuda de uma turma boa (187 mil dólares foram investidos na brincadeira). Lemongello foi fazendo marketing cidade a cidade, à medida que o reclame seria divulgado. Se você viu o comercial lá em cima, já sabe: a ideia era vender Peter como uma experiência que você nunca viu.

“Você está prestes a testemunhar uma nova dimensão no entretenimento”, dizia o texto, afirmando também que o cantor fazia “mood rock” e “uma música romântica e envolvente”. “Mesmo na década de 1970, uma década conhecida por seus excessos bizarros, o comercial de mais de dois minutos se destacou pela peculiaridade”, diz um texto do site Cinema Crazed. O disco e o 8-track de Love 76 eram vendidos apenas pelo número divulgado no comercial e o disco não era vendido em lojas – a não ser quando algum exemplar ia parar num sebo, lógico.

Uma curiosa matéria na Time mostrava que a grana não tinha sido investida à toa: os primeiros fãs de Peter apareceram. “Uma garota do Brooklyn começou a ficar acordada até as 4h30 só para ver seu anúncio de um minuto na TV. Outra, beijava o tubo de TV sempre que ele aparecia. Ele agendou um show no Lincoln Center de Manhattan, e o show esgotou”, explicava o texto. O disco vendeu 43 mil cópias (um prodígio em se tratando de um lançamento independente) mas Peter esquentava a cabeça com coisas básicas: seu nome era conhecido apenas em Nova York, Nova Jersey e Connecticut.

Se o problema era esse, talvez um contrato com uma gravadora desse certo: o cantor foi contratado por um selinho chamado Private Stock, dedicado a artistas anacrônicos e da velha guarda. Por sinal, o mesmo selo que lançou o primeiro disco do Blondie, mas não sabia o que fazer com ele (você leu sobre isso no POP FANTASMA). Lemongello lançou Do I love you naquele mesmo ano de 1976, mas não fez sucesso nenhum após ir parar numa gravadora. Acabou partindo para a construção civil. O disco, de nome curioso (“eu amo você?”) está nas plataformas também.

Tem mais quatro curiosidades sobre Peter Lemongello que você precisa saber:

– No começo da carreira, ele mandava pacotes de gelatina de limão (“lemon jello”) para DJs, com a ideia de ensiná-los a pronunciar seu sobrenome (Lemongello).

– Em janeiro de 1982, já tocando uma construtora, dois homens armados saltaram de uma van verde quando ele inspecionava uma das casas nas quais trabalhava, e sequestraram Peter e seu irmão Mike. Os dois foram levados a um banco, tiveram que abrir um cofre que mantinham lá e sacaram mais de 50 mil dólares para os criminosos. O primo dos dois, Mark, um ex-jogador de beisebol, se entregou e assumiu a autoria do sequestro.

– Em julho de 1982, ele foi acusado de ser o mentor de dois incêndios criminosos em duas casas de luxo nas quais sua construtora trabalhava, perto de São Petersburgo, na Flórida. Por causa do passado de celebridade de Peter, o caso foi explorado por alguns jornais (a People deu algo sobre). Lemongello alegou que as acusações eram falsas.

– Peter Lemongello Jr, o filho de Peter, também é cantor e participou em 2019 do American Idol. Olha o garotão aí.

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Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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