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Peraí, tem um prêmio de música que criou uma categoria para livros musicais?

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Peraí, tem um prêmio de música que criou uma categoria para livros musicais?

Nas últimas semanas, virou passatempo dos fãs de cultura pop “discutir” se Raul Seixas delatou Paulo Coelho aos militares ou não – tudo por causa de uma biografia do cantor baiano, Não diga que a canção está perdida, de Jotabê Medeiros, que ninguém ainda tinha lido, e de uma matéria sobre o mesmo livro publicada na Folha de S. Paulo. Em resumo: biografias e livros sobre músicas (e sobre grandes e pequenos personagens) têm muita força. Podem significar a salvação da lavoura em épocas de crise. Quando ninguém acredita em mais nada, lá vem um livro sobre Raul Seixas, ou sobre Planet Hemp, ou sobre os Mutantes para mostrar que as coisas podem ser diferentes.

Uma mudança básica que mostra o quanto livros de música são importantes é que uma premiação lá de Brasília, o Prêmio Profissionais da Música – que já está na quinta edição – criou neste ano uma categoria de “livros musicais”. Foram quatro inscritos, e a lista uniu livros didáticos a biografias. A vencedora foi Chris Fuscaldo com a Discobiografia Mutante, sobre o discos dos Mutantes. Mas ainda concorreram Planet Hemp: Mantenha o respeito, de Pedro de Luna, o livro didático Cadernos de percussão, de Vinas Peixoto e o livro-CD O livro que canta, de Nelson Itaberá.

Para um setor que volta e meia conta com a antipatia de artistas (que querem ter controle total sobre suas próprias histórias) e com tentativas de censura, é um feito e tanto. Por causa da presença dos livros na premiação, o evento, que aconteceu nos três primeiros dias de novembro, ainda teve uma feira literária. Um dos homenageados da edição foi Ronaldo Bastos, letrista e parceiro de nomes como Beto Guedes, Milton Nascimento e Celso Fonseca.

https://www.instagram.com/p/B4eG_lqlrJK/

Batemos um papo com Gustavo Ribeiro de Vasconcellos, criador do prêmio (e da GRV, que cuida de empreendimentos culturais e também é uma gravadora) para entender qual a motivação por trás da categoria “livros musicais”, que começou totalmente por acaso.

POP FANTASMA: Biografias e livros sobre música fazem barulho: recentemente vimos aí que rolou uma discussão a respeito de uma biografia do Raul Seixas sem que ninguém nem sequer tivesse lido o livro. A movimentação no mercado é dada por esse tipo de livro e pelo resgate de grandes personagens?
GUSTAVO RIBEIRO DE VASCONCELLOS: Não existe riqueza maior do que a história das pessoas que de alguma forma mudaram o curso das coisas. Elas são bastante atraentes e chamam a atenção. A gente fez uma mistura na categoria incluindo livros didáticos e biografias. É algo que talvez a gente tenha que rever no futuro. O grande barato para mim, como realizador do prêmio, é trazer essas diversas fontes de riquezas literárias, mas claro que ter personagens como Mutantes e Planet Hemp contam. Ou mesmo Legião Urbana, já que a Chris Fuscaldo lançou o livro dela sobre a banda aqui (Discobiografia legionária) ou ou o livro da Clementina de Jesus que a Janaína Marquesini escreveu (Quelé, a voz da cor, escrito por ela e mais três autores). 

Por que a ideia de criar uma categoria sobre livros musicais? Foi por acaso. As pessoas que concorrem ao prêmio enxergam as categorias que a gente disponibiliza no site – que foram 70 neste ano – e vão lá fazer suas inscrições, com links comprobatórios. Vi que quatro pessoas haviam colocado links de livros. Eu sempre tive interesse em fazer algo com literatura e, neste ano, um dos homenageados foi o Claudio Santoro, que foi fundador do departamento de música da UnB e faria cem anos se estivesse vivo. Antes de abrirmos a votação, resolvi sugerir a criação de uma nova categoria. Para minha surpresa surgiu o livro do Ronaldo Bastos (Hotel Universo, análise da sua obra escrita por Marcos Lacerda), a presença em Brasília de outras pessoas que escrevem. Transformamos o que seriam inscrições erradas em outras categorias numa categoria que tinha uma mini-feira literária. Aconteceu do inesperado. Uma das melhores coisas que a música nos proporciona é o inesperado a partir do improviso, né?

A ideia é que haja bem mais livros nos próximos anos? Sim, daqui para a frente não tem mais volta. A categoria vai se transformar num braço do prêmio e numa grande atração.

As histórias de duas grandes bandas brasileiras (Mutantes e Planet Hemp) estão concorrendo ao prêmio. Como vê o fato de o pop nacional estar bem representado na premiação? Para mim é um privilégio porque são dois grandes autores, inclusive da mesma cidade (Niterói) que se uniram para fortalecer a criação dessa categoria. Quando você junta o interesse do autor com a força do conteúdo, de forma afetuosa, isso desperta a curiosidade e a participação de outros.

Que história do pop nacional ou da música brasileira você curtiria ver contada em livro? Olha, vou até puxar um pouco a brasa pra minha sardinha, mas histórias de empreendimentos! (risos). Adoraria que alguém se interessasse em escrever a história de como é criar uma premiação como essa. Talvez fosse um fracasso comercial, mas falta uma literatura sobre isso, sobre realizadores de ideias que surgem do nada e movimentam diversas pessoas. Uma biografia que eu gostaria de ler seria sobre a cena musical brasiliense. Ano que vem vai ter uma série chamada iRaridades com relançamentos remasterizados de artistas de Brasília. Vamos começar com Fama Volat, Banda69 e Tonton Macoute. Queria ver coisas sobre pessoas que foram protagonistas em suas cidades mas que não tiveram o mesmo sucesso, ou as mesmas oportunidades.

Veja também no POP FANTASMA:
Fala aí: “Luan Santana comete ato de covardia com Paula Fernandes que poucos vêem”
– Um papo com Dave Thompson, autor do livro Dangerous glitter
– Um papo com Jeff Guinn, autor da biografia definitiva de Charles Manson
– Diário de Ian Hunter, do Mott The Hoople, volta às livrarias
Panço: turnê, zine, K7 e livros ao mesmo tempo
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– Saiu um livro mostrando como as mudanças políticas e sociais mudaram as novelas no Brasil

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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