Crítica
Ouvimos: The Murder Capital, “Blindness”

O terceiro disco da banda irlandesa The Murder Capital, Blindness, é uma verdadeira tensão entre climas, timbres e gêneros – e é mais um disco que expõe aquela nossa velha tese, de que bandas como Wire e Public Image Ltd estão entre as mais influentes do universo.
O vocal blasé e a sensação de “tudo desabando” provocada por vários arranjos do álbum remetem diretamente a esses dois grupos, especialmente em faixas como Moonshot, That feeling (que abre com um clima à la Brian Eno, ou David Bowie em Berlim) e Can’t pretend to know. Mas o Murder Capital reproduz essas influências com personalidade, incorporando ainda diversas outras referências.
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Em meio ao ruído e ao clima pós-punk, a banda soa como um Duran Duran do mal em Worlds lost meaning, que traz algo misturado ali que também lembra Private dancer, hit de Tina Turner. A distant life remete à fase 1969 do Velvet Underground, enquanto Love of country assume um inesperado tom de rock sulista norte-americano – só que carregado de sombras. A faixa, um cântico contra a guerra e a supremacia, traz tensão nas afinações e versos cortantes: “eu sou apenas uma criança alcançando devaneios de alguns potes desta terra / você poderia me culpar por confundir seu amor pelo país com ódio ao homem?”.
Blindness ainda transita pelo rock dos anos 1990 em faixas como The fall e Death of a giant, que em alguns momentos evocam um Soul Asylum maldito ou um Guided By Voices distorcido – e, no caso dessa última, mexe com climas ligados ao math rock e ao pós-hardcore. Já Swallow abre com um loop hipnótico antes de se transformar em uma faixa na tradição dos Smiths, mas com uma voz grave, descambando depois para um som que parece o lado sombrio do Arctic Monkeys e dos próprios Smiths.
O álbum se encerra com Trailing a wing, uma composição de clima cinematográfico, com guitarras que oscilam entre o casual e o pesado, fechando o disco em tom sombrio.
Nota: 9
Gravadora: Human Seasons Records
Lançamento: 21 de fevereiro de 2025
Crítica
Ouvimos: Morcheeba – “Escape the chaos”

RESENHA: Morcheeba retorna com Escape the chaos, disco que traz de volta a mistura de trip hop, soul, psicodelia e climas escapistas – sempre de olho no relaxamento do/da ouvinte.
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O Morcheeba já foi sinônimo de trip hop numa época em que o estilo ainda era novidade e não era usado como recurso por um número considerável de artistas do universo pop. Também foi uma das maiores responsáveis pela presença na imprensa musical brasileira do termo chill out, aquela coisa da música escapista, feita com valores bem diferentes do pop normal – com referências de hip hop, blues, psicodelia e coisas mais ou menos análogas.
Dá para dizer, sendo assim, que Escape the chaos, seu décimo-primeiro álbum – e terceiro disco depois que a banda virou uma dupla formada pela cantora Skye Edwards e o multi-instrumentista Ross Godfrey – é auto-explicativo. E é verdade: basicamente o Morcheeba volta fazendo altos investimentos na fórmula que consagrou a banda, em faixas como Call for love, a balada Far we come, o quase blues rock Elephant clouds, e a sexy Bleeding out. Além de Peace of me (com rap de Oscar Worldpeace e clima próximo do ambient) e do eletrorock We live and die, que chega a lembrar um pouco as guinadas pop do U2 nos anos 1990.
O Morcheeba chega a lembrar um pouco o soul brasleiro setentista na psicodélica Pareidolia, surge com uma balada em vibe britânica e sixties (Molten) e mostra uma faceta meio Joni Mitchell/meio bossa nova em Dead to me e na faixa-título. A ideia de Skye – cuja voz continua no mesmo tom tranquilo e aveludado – e Ross provavelmente foi fazer de Escape the chaos um momento de tranquilidade para antigos fãs. Conseguiram.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: 100%
Lançamento: 23 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Lido Pimienta – “La belleza”

RESENHA: Em La belleza, Lido Pimienta troca o pop por um réquiem visual e orquestral, com ares de cinema, teatro e paisagens sonoras latinas.
Ouvido hoje, Miss Colombia, disco de 2020 da cantora colombiana Lido Pimienta, já parecia revelar discretamente a sonoridade de La belleza, seu quarto álbum. As relações com o synthpop e o pop latino foram deixadas de lado em prol de uma sonoridade que é praticamente música clássica, cinema, teatro, elegia. Ao lado do produtor Owen Pallett, ela criou uma obra que soa como um réquiem sombrio e montanhês, com participações da Orquestra Filarmônica de Medellín e diversas intervenções percussivas e vocais.
Entre corais gregorianos e vibes cerimoniais, o disco se equilibra como uma espécie de obra “visual” – mas um visual que dispensa até mesmo um complemento de filme, ou de vídeo, porque são passagens musicais que ativam a imaginação do ouvinte. Como acontece no instrumental lírico e latino de Overturn, na cerimônia narrada de Ahora e no clima de topo de montanha de Quero que me beses, onde cordas e oboé sobrevoam como se sonorizassem uma paisagem coberta de poeira. Ares desérticos, com percussão arábica, tomam conta de El denbow del tiempo, e climas orientais surgem em Mango.
La belleza ganha ares de despedida conforme vai chegando perto do fim – destacando o clima cigano de Aun te quiero, a tristeza contida de Tengo que ir e a canção de guerra Busca la luz (“qué viva el Caribe / qué viva el Caribe /libre!”). Um disco curto, belo e que soa como uma só faixa, repleta de progressões.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Anti
Lançamento: 16 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Manco Capac – “Bom jantar” (EP)

RESENHA: Manco Capac mistura Beach Boys, psicodelia, climas progressivos e até doo wop em EP cheio de camadas.
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Essa banda carioca tem algo de Beach Boys, de Beatles, de psicodelia, de krautrock, e até de antigas trilhas de filmes – tudo ali junto e misturado, e dando a eles uma sonoridade bem diferente, o tipo da coisa que você escuta e já imagina a trabalheira para criar em estúdio.
Bom jantar, EP do Manco Capac – formado por Ricardo Lannes (vocais, guitarra, efeitos), Carlos Renan (vocais, mixagem ao vivo, efeitos, percussões de mão) e João Diégues (vocais, sampler, guitarra) – apresenta ainda inusitadas referências de doo wop na faixa-título, que encerra o disco. E surgem também por toda parte elementos do começo do rock progressivo – que parecem vir de uma época em que o estilo era mais zoeiro e livre (Moody Blues, Gilles, Gilles & Fripp, o início do Pink Floyd).
Curto (apenas três faixas, onze minutos), Bom jantar abre com a meditativa Entranhas, que soa como música de cinema, com musicalidade marítima e visual, repleta de efeitos especiais. Já Montanhas pt.2 é música atmosférica, feita para soar como se viesse do alto. Confira em disco e ao vivo – neste sábado (14), às 19h eles vão se apresentar ao lado da banda Pic-Nic e fazer um set acústico na Livaria Baratos da Ribeiro, em Botafogo (Rio).
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de dezembro de 2024.
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