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Crítica

Ouvimos: Swave, “Foi o que deu pra fazer”

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Ouvimos: Swave, “Foi o que deu pra fazer”

O Swave é um supergrupo do rock brasileiro atual, reunindo músicos de bandas como Far From Alaska, Violet Soda, Supercombo e Sugar Kane – além da vocalista Aline Mendes, cantora solo com o codinome Alinbloom. Foi o que deu pra fazer, estreia da banda, não faz jus ao título: é um disco de rock despojado e repleto de uniões sonoras que, no fim das contas, apontam para o punk rock, em seu formato mais cantarolável e grudento.

Esse é o som que o Swave apresenta em faixas como Te assustar, Sirene, Já foi (com cara de anos 1990) e a ágil Despertador, com vibração mais pós-punk. Mesmo investindo em um punk mais acessível, eles também chegam perto dos Pixies em músicas como Mais uma vez (aberta com riff sombrio de guitarra, depois ganhando clima próximo do grunge), Vai cair (com abertura imediata e guitarras explosivas alternadas) e Longe do fim. Nada de extremamente inovador, mas o básico que gruda na mente e rende canções legais.

As letras de Foi o que deu pra fazer alternam temas como ansiedades, cobranças e autodescobertas – além do “estado constante de alerta” de Como eu vou?, lembrando discretamente bandas como Concrete Blonde. Na parte final do disco, faixas como DGE e Egotrip promovem uniões bem claras entre punk, grunge e até rap.

Nota: 8
Gravadora: Deck
Lançamento: 20 de março de 2025

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Crítica

Ouvindo: Ichiko Aoba, “Luminescent creatures”

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Ouvindo: Ichiko Aoba, “Luminescent creatures”

Com shows marcados em São Paulo (dia 25 de novembro no Teatro Liberdade, e 2 de dezembro no Teatro Bradesco), Ichiko Aoba se vê mais como uma criadora de esferas e atmosferas, e nem tanto como uma compositora comum, ou uma criadora de futuros hits. Luminescent cratures, seu segundo álbum, é música para sonhar, e não necessariamente para “ouvir” distraidamente.

É mais ou menos como acontece com Myrtus myth, álbum do projeto moscovita Kedr Livanskiy, mas sem carregar nos flertes com a música pop dos quais o Kedr lançou mão em seu novo disco (resenhado aqui). Em Coloratura, a primeira faixa, dividida em duas partes, há um clima brasileiro que chega a lembrar Chovendo na roseira, de Tom Jobim. Quando a voz de Ichiko surge, tem algo que faz lembrar a voz de Jane Birkin – um sussurro que chega a parecer um gemido em alguns momentos, mas com vibe angelical, e não necessariamente sexy. Já Flag, lá adiante no disco, tem ares de Milton Nascimento – e de folk do começo dos anos 1970.

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Mas no geral, Luminescent parece mais próximo de referências de jazz, clássicos e de sons asiáticos, que aparecem em músicas como a quase valsa Tower, a meditativa 24° 3′ 27.0″ N, 123° 47′ 7.5″ E. (adaptação de uma canção folclórica da ilha japonesa de Wateruma – o título são as coordenadas para se encontrar um farol no centro da região). Surgem também na cantiga Aurora e na cinematográfica Sonar, uma canção triste, quase um post-rock. Luciférine e Pirsomnia têm algo de progressivo nas mudanças bruscas de acordes e na construção dos arranjos, baseados em pianos circulares e intervenções de cordas.

Inspirado pelas visitas dela ao Arquipélago Ryukyu, no Japão, Luminescent creatures tem muito dos sustos e das sensações mágicas pelas quais Ichiko passou ao mergulhar no local – por sinal, os mergulhos dela foram sem equipamento (!) e correndo altos riscos. Como reflexo mais da magia do que dos perigos, o disco novo dela oferece muita beleza, muita experimentação musical e a sensação de estar submerso/submersa em um sonho onde cada som revela um novo mistério.

Nota: 9
Gravadora: Hermine
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025

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Ouvimos: Heartworms, “Glutton for punishment”

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Ouvimos: Heartworms, “Glutton for punishment”

O site The Quietus deu a definição perfeita para Jojo Orme, a mulher por trás do Heartworms: “a filha perdida de Michael Jackson e Siouxsie Sioux”. Londrina, 26 anos, ela abriu shows para St Vincent e investe numa sonoridade a meio caminho do pós-punk e do industrial – e aí a comparação com Siouxsie faz mais sentido ainda, porque Glutton for punishment, primeiro álbum do projeto, acaba remetendo aos Banshees em vários momentos, justamente por causa dessa escolha musical.

O Heartworms ganhou fãs por causa do dance-punk sombrio do EP A comforting notion (2023). Uma sonoridade que, em Glutton, ganha expansão no tom tribal de Just to ask a dance – uma canção que, na real, é um conto de amor, misantropia e morte (“não tenho chance de pedir uma dança a você / sou tão tímida / me dói pedir a você para me salvar também”). E também no eletrorock de Jacked, uma explosão de riffs e solos. Ou em Warplane, uma dance music ligeira e violenta, cuja letra, que se refere à história real de um piloto de avião morto na Segunda Guerra, tenta ver alguma esperança no meio do caos: “você consegue ver um Spitfire? / e você diz / olhe lá em cima / seremos livres / olhe lá em cima / nós ficaremos bem”.

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Essa mistura de guerra, medo, amor, morte e (um tiquinho de) esperança dá o tom de Glutton, um disco que chega perto de algo místico, sexy e misterioso em Extraordinary wings, faz o pós-punk dar vários cruzados de direita em Celebrate (uma música em que Jojo vai do semi-operístico ao gutural) e ganha tons épicos em Smugglers adventure. Uma música de seis minutos e pouco, em que Jojo relembra fases difíceis da adolescência, enquanto constrói uma canção com várias partes, herdeira tanto do LCD Soundsystem quanto dos Smashing Pumpkins de Mellon Collie and the infinite sadness.

O disco encerra com a faixa-título, uma balada de violão que inicia com tom ligeiramente jazz, e que se torna uma música dançante logo depois. E que mostra que a grande guerra de Glutton for punishment começa na mente, contando uma história de timidez, pé na bunda e, no subtexto, ansiedade – e muita.

Nota: 8,5
Gravadora: Speedy Wunderground/PIAS
Lançamento: 7 de fevereiro de 2025

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Ouvimos: Véu Sublime, “Não é nenhum segredo” (EP)

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Ouvimos: Véu Sublime, “Não é nenhum segredo” (EP)

Vindo de Sorocaba (SP), o Véu Sublime faz uma coisa que é bastante comum no rock atual lá de fora, e ainda é pouco habitual entre bandas novas no Brasil: misturar eras diferentes do estilo. Já houve, faixa de abertura de Não é nenhum segredo, começa de súbito com distorções, e embarca num riff de guitarra próximo da psicodelia hendrixiana. Na sequência, revela-se uma mescla de power pop e hard rock, com letra idealista. Confusão une mais épocas e estilos: de um riff de guitarra quase folk, desemboca em algo que fica a meio caminho do pós-punk e do shoegaze.

Essa disposição para explorar coisas, que era bem típica do rock brasileiro dos anos 1990, é a principal arma do Véu Sublime. E prossegue no restante do EP, com o clima mod (lembrando Who e Ira!) da faixa-título, o rock funkeado de Tempestade e o soul-MPB-rock de Quando o sol se põe, unindo flautas (remetendo a Prince), teclados e psicodelia fluida na onda de bandas como Unknown Mortal Orchestra. Tem também a vinheta jazz de Resquícios, lembrando um respiro da turma que tocava com Gal Costa no disco ao vivo Fa-tal: Gal a todo vapor (1971). Boa mistura musical, especialmente muito bem tocada – as guitarras em particular – e bem gravada. Só os vocais precisavam de mais volume.

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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