Lançamentos
Radar: Ty Segall, Black Country New Road, Fidlar, Haim e novos sons internacionais

Ontem foi dia de Radar brasileiro, e hoje o Pop Fantasma fala um pouco sobre alguns singles que saíram e merecem todo destaque do mundo. Ty Segall, um sujeito conhecido pela ousadia e pela capacidade de fazer, às vezes, vários discos em um só ano, encabeça a lista – mas ainda tem muito mais…
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TY SEGALL, “FANTASTIC TOMB”. Dia 30 de maio sai Possession, disco novo de Ty Segall, anunciado por um release em que se lê que o cantor, compositor e multiinstrumentista “atinge a grande trilha do céu do nosso bom e velho império da fronteira, descobrindo sucessos ininterruptos e novos sons inspirados em cada curva” (eita). Sei lá o que vem por aí, mas Fantastic tomb já dá vontade de escutar o resto: rock com inspiração glam e sulista, levado adiante por piano Rhodes e solos espaciais de guitarra. O Stereogum percebeu que a letra da faixa tem algo de Edgar Allan Poe, grande escritor de terror, mas ainda assim a canção é bem menos intranquila e lúgubre que a obra do autor do poema O corvo.
BLACK COUNTRY NEW ROAD, “HAPPY BIRTHDAY”. Falta pouco (sai 4 de abril) para o lançamento do próximo disco do BCNR, o ousado e (aparentemente) ensolarado Forever howlong. O primeiro single foi a beatle Besties, e lá vem agora o segundo compactinho, Happy birthday, um rock barroco que lembra igualmente Beatles, além de Beach Boys e até as músicas mais elaboradas e orquestrais do 10cc.
FIDLAR, “NEW TATTOO”. Já levou um pé na bunda? Dói, certo? E o que você acha de alguém que resolve fazer uma tatuagem para esquecer a dor do amor que não deu em nada? É o que o Fidlar, uma simpaticíssima banda de punk pop, propõe nesse novo single – que surge como bônus da versão deluxe do disco Surviving the dream, lançado no ano passado (e resenhado por nós aqui). No clipe, uma homenagem aos fãs de fé que tatuam o nome do grupo na pele.
NOVOS ROMÂNTICOS, “MESA POSTA”. O rock português vai bem, obrigado – inclusive vem abordando temas importantíssimos para as terras lusitanas, como democracia, guerras, extremismos e ameaça nuclear. O grupo Novos Românticos anuncia que vai falar disso tudo em seu primeiro álbum (previsto para o fim do ano) e já abre os trabalhos com o darkwave Mesa posta, que recorda as movimentações políticas do país após a Revolução dos Cravos.
HAIM, “RELATIONSHIPS”. O que as Haim estão preparando ainda é um mistério. Nome do álbum? Data de lançamento? Nada confirmado até o momento. Mas Relationships chega como o primeiro single, trazendo um pop adulto com alma oitentista, marcado por batidas e vocais esparsos rajados de referências do hip hop. Sobre a sonoridade do álbum, o trio afirma – ou despista – que a faixa é pouco representativa “do som Rock que há no disco” (o R maiúsculo vem delas, exatamente como no release). A letra fala sobre relacionamentos falidos, e o clipe traz as três dividindo a cena com o ator Drew Starkey.
PETER MURPHY feat TRENT REZNOR, “SWOON”. Quase esquecíamos que tem single novo de Peter Murphy rodando por aí. Swoon é um rock sintetizado, sombrio e classudo, em que Peter divide os vocais com Trent Reznor (Nine Inch Nails), cantor com quem tem uma amizade de vários anos – o NIN abriu shows para Peter em 1990, por exemplo. O single anuncia um álbum do cantor do Bauhaus que está para sair, Silver shade, com produção de Youth (Killing Joke).
REBECCA BLACK, “SALVATION”. Quem sai na chuva é para se molhar, diz o ditado. Mas vamos e venhamos, o que rolou com Rebecca Black em 2011 foi um baita exagero. Com 13 anos naquela época, ela ouviu poucas e boas por causa de seu primeiro single, a ingênua Friday – a BBC, por exemplo, considerou-o a pior música de todos os tempos (!), e as críticas se tornaram cyber bullying em pouco tempo. Pois bem: Rebecca sobreviveu ao bombardeio de críticas, se reinventou e voltou com o álbum hyperpop Salvation, cuja faixa título ganhou um clipe, digamos, ousado.
SHYGIRL feat BAMBII, “FLEX”. De tímida (“shy”, em inglês), ela não tem nada. Blane Muise, a Shygirl, é um misto de DJ, cantora, musa queer e estrela fashion, que abriu shows para Charlie XCX e acaba de lançar o EP Club Shy Room 2, uma zoeira pesada e dançante que traz de volta a música e o imaginário dos anos 2000. A faixa Flex, com participação de BAMBII, é som para causar na pista e na vida. “Pronta para se divertir/tenho que ir fundo/só os bandidos conseguem as manchetes”, diz a letra, só para você ter uma (pequena) ideia.
HIMALAYAS, “SURRENDER”. Em 25 de abril sal o próximo disco desses indie-rockers galeses, Bad star. E Surrender, o novo single, abre com uma pequena torrente guitarrística, e se revela uma das canções mais potentes da história da banda – quase um indie-rock-heavy metal, com peso e ruído à frente. A letra fala sobre gente que se liga a organizações e aceita tudo sem contestar.
SEAFRET, “RIVER OF TEARS”. Preparando um disco novo aos poucos, a banda-dupla formada por Jack Sedman e Harry Draper manda bala numa sonoridade dançante, a meio caminho do indie rock e do indie-pop, em seu novo single. River of tears cumpre o que promete no título: a letra fala sobre “o desgosto de estar em um relacionamento que você sempre soube que estava condenado, mas ainda assim luta para aceitar seu fim inevitável”, como define a dupla.
(Foto Ty Segall: Reprodução Bandcamp)
Lançamentos
Urgente!: Primeiro disco do Public Image Ltd ganha edição “alternativa”

E esse tal lançamento do Public Image Ltd? Vamos por partes. Historicamente, os mercados musicais da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos funcionam em paralelo. Tanto que existem discografias britânicas e norte-americanas de bandas como Beatles, Rolling Stones, Kinks, The Who. Ou seja: para cada país, discos com nomes diferentes, capas diferentes, ordem das faixas diferentes, músicas diferentes, mixagens diferentes, e vai por aí.
Mais exemplos: a Capitol Records, divisão norte-americana da EMI, só topou lançar The piper at the gates of dawn, estreia do Pink Floyd (1967) se fizesse algumas mudanças. Desfigurou completamente a lista de faixas, pôs o single See Emily play (ausente do LP britânico) abrindo a seleção, jogou a quilométrica Interstellar overdrive lá para o fim do disco e lançou o disco pela subsidiária “indie” Tower Records. Em 1979, a Columbia praticamente transformou numa coletânea o primeiro disco do Clash – lançado dois anos antes – para lançá-lo nos Estados Unidos.
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E, bom, uma coisa bem mais complexa aconteceu com um dos discos mais abrasivos da história do rock: First issue, primeiro álbum do Public Image Ltd (1978). A Warner norte-americana disse em 1979 que lançaria o disco, desde que fossem remixadas ou regravadas seis das oito faixas (Theme, Fodderstompf, Annalisa, Public Image, Low life e Attack – ou seja, quase todo o disco). A ideia era que o lançamento norte-americano fosse considerado algo “único” em termos de vendas, daí as tais mudanças.
O problema foi que a Warner simplesmente desistiu de lançar o disco nos Estados Unidos. A única dessas músicas a ser lançada foi a versão diferente de Fodderstompf, que saiu num lado B de single ainda em 1979 – mas as fitas da tal “versão alternativa” foram arquivadas de maneira errada – e perdidas. Em 2013 o selo Light In The Attic pôs First issue nas lojas norte-americanas em vinil e fechou o ciclo de qualquer jeito.
Agora corta para o Record Store Day de 2025. A festa foi em 12 de abril, mas se você tiver sorte, ainda consegue esbarrar com uma cópia em vinil do mix alternativo de First issue lançada em tiragem limitada para o evento. O disco traz cinco das seis faixas do original-que-não-foi-lançado nos EUA em 1979 (Fodderstompf ficou de fora, sei lá o motivo). Como todo o material foi feito em meio às gravações de Metal box, segundo disco do PiL (1979), a relação inclui também Swan lake, que saiu nesse álbum – e que foi publicada em single como Death disco.
O novo lançamento ganhou também uma capa alternativa – com o mesmo conceito, mas fotos diferentes da formação do PiL na época – e sai por uma junção especial da Universal com a Rhino Records, apenas para Reino Unido/Europa e América do Norte/Canadá. Olha aí a versão de Public image, um remix que destaca a voz de John Lydon e os pratos da bateria, logo no começo.
A tal versão de Fodderstompf que saiu apenas em single (e não está no tal disco novo) tá aqui.
Crítica
Ouvimos: Sault, “10”

O Sault continua misterioso como sempre. 10, novo disco, saiu de surpresa na internet, mas as informações são poucas. Observando os créditos das faixas no Spotify, dá para ver que o casal Cleo Sol (compositora e cantora) e In-Flo (produtor, compositor) fez tudo, juntando forças com colaboradores importantes como o baixista Pino Palladino, o rapper Chronixx, a compositora Lydia Kitto e o jazzista afrobeat Duane Atherley. Levando em conta que o Sault gosta de arremessar discos nas plataformas e depois sumir com eles, sabe-se lá o que vem por aí, se esse 10 vai chegar até 2026 disponível, ou não.
O que se sabia do Sault era que havia um núcleo duro formado por Cleo Sol, Kid Sister, Little Simz, Chronixx, Michael Kiwanuka e o produtor In-Flo. Provavelmente essa corrente foi quebrada para 10: Little Simz reclama que emprestou dois milhões de libras para In-Flo e nunca viu a cor do dinheiro, e a coisa vem rolando nos tribunais.
Já o som, seja lá o que tenha acontecido nas internas, volta mais ágil, mais ligado ao funk, mais ligado a energias de cura e a tons quase religiosos – e mandando bala na fusão jazz-soul, em faixas cujos títulos, vai entender o motivo, surgem abreviadas. The healing, uma música agitada sobre manter as emoções em dia, com sussurros, batuques e recordações do disco Off the wall, de Michael Jackson, vira T.H. Já Know that you will survive, que lembra as incursões de Lulu Santos pelas recordações da disco music durante os anos 1990, até nas linhas vocais, torna-se K.T.Y.W.S., e vai por aí.
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Prosseguindo, R.L. (Real love) é fusion leve com cara boogie, remetendo a Lincoln Olivetti e Earth, Wind and Fire. Outras facetas ligadas à música brasileira aparecem em H.T.T.R. (Higher than the rain), com batida afro latina no comelo, ruídos de chuva e um clima praieiro, de soul impregnado de Gilberto Gil e Caetano Veloso. S.O.T.H. (Sounds of the healing) é soul balançado e hipnótico, e parece coisa de quem escutou muito discos como Limite das águas (1977), de Edu Lobo, com sua fusão nordeste-jazz-soul. Tem ainda S.I.T.L. (Sorry it’s too late), com piano em cascata na abertura, e sequência com piano e synth, num clima de pop adulto que lembra Guilherme Arantes ou 14 Bis, pelo menos inicialmente – porque a bateria seca e o clima de soul progressivo guiam tudo para os anos 1970 e para hits de Stevie Wonder ou Terry Callier.
Esse clima viajante é o que dá a cara do som do Sault, e parece ter virado o verdadeiro objetivo do grupo em 10. Faixas como W.A.L. (We are living) e P (Power) soam como inícios de grandes suítes sonoras e dançantes, com frases insttrumentais e vocais que surgem como loops, e que parecem querer hipnotizar o/a ouvinte. L.U. (Look up) tem clima soul-indie-rocker e distorções na guitarra, parecendo uma música da fase psicodélica de algum grupo da Motown. No geral, algo para descobrir rápido: ouça 10 e aproveite antes que o Sault decida tirar o disco das plataformas.
Nota: 10
Gravadora: Forever Living Originals
Lançamento: 18 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Pai Guga, “O túmulo do mergulhador”

Guga Valiante está há quase duas décadas cantando na banda Amplexos, de Volta Redonda (RJ) – um grupo cuja sonoridade une rock, afrobeat, brasilidades e boa mão para a composição pop. Com o nome artístico de Pai Guga, ele estreia em carreira solo com o álbum O túmulo do mergulhador, e se dedica não apenas a um som pessoal, como também a um imaginário pessoal. As faixas do álbum falam sobre descobertas, psicanálise, ansiedade, conversas com o espelho (Mirror) e palavras não ditas de modo geral (Feitiço, soul com cara de Titãs que ganha aparência de música eletrônica anos 1990, é bem isso).
Musicalmente, Pai Guga faz de O túmulo um disco psicodélico e variado. Essa vibe já surge na primeira faixa, Preciso, um samba-marcha que evoca Caetano Veloso, com guitarra lembrando Lanny Gordin e a Gal Costa de 1971. Lua rosa é MPB bregadélica, focando em gatilhos, crises de pânico e necessidade de respirar. Vento é MPB dream pop lembrando simultaneamente Charlie Brown Jr e Marcos Valle. Relacionamentos entre pai e filho, e entre tipos diferentes de masculinidade, brotam no drum’n bass tenso de A chave.
Guga traz de volta pensamentos e histórias da infância na parte final do disco, na união de folk e Jorge Ben de Gira e no diálogo entre ele e sua criança do neo soul Voo. O túmulo do mergulhador ressoa como uma sessão de terapia que virou letra e música, e ponte entre artista e ouvinte.
Nota: 8,5
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 7 de fevereiro de 2025.
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