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Crítica

Ouvimos: Starsailor, “Where the wild things grow”

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Ouvimos: Starsailor, "Where the wild things grow"
  • Where the wild things grow é o sexto disco da banda britânica Starsailor, formada desde o começo por James Walsh (voz e guitarra), James Stelfox (baixo), Barry Westhead (teclados) e Ben Byrne (bateria). É o segundo disco desde o retorno do grupo em 2014.
  • Walsh disse em entrevista que muito do material do disco vem de experiências recentes, como seu divórcio (ele se casou de novo depois). “Foi uma pequena janela de tempo em que eu não estava mais casado e não tinha outro relacionamento. Você se sente perdido, isolado e sem saber que caminho sua vida vai tomar agora”, diz.
  • Rick McNamara, guitarrista de uma banda britânica dez anos mais antiga que o Starsailor, o Embrace, produziu o álbum – já havia produzido All this life (2017), o anterior.
  • O Starsailor foi uma das últimas bandas produzidas pelo esquisitão Phil Spector, em algumas faixas do segundo disco, Silence is easy (2003). Quando Phil foi preso e condenado em 2009, a banda emitiu uma nota dizendo que Spector foi um produtor maravilhoso, mas os músicos admitiram que foram vítimas do gênio instável do sujeito, que passou algumas semanas fora e voltou “retraído e difícil de se comunicar”.

O Starsailor é considerado uma banda de pós-brit pop. Ou seja: é uma banda que serviu de ponte entre a movimentação roqueira da Inglaterra dos anos 1990, com todo aquele orgulho vindo da cool britannia, e o que veio depois.

Não por acaso, as bandas classificadas dessa forma são um pouco mais esclarecidas a respeito de assuntos como comercialização, influências do rock norte-americano, referências cênicas do circo pop. E quase todas (o Coldplay está bastante incluído nisso aí, assim como Keane e Snow Patrol) lidam com uma sensação de vazio, de tristeza e contemplação até mesmo quando falam de temas felizes. Detalhe: quase sempre lidam com uma sensação de maravilhamento que produz hits presentes até hoje no repertório de rádios de teor mais pop – mesmo não sendo clássicos como Oasis e Blur, são cachorros grandes do mercado, enfim.

O quarteto britânico não é tão conhecido no Brasil quanto seus pares. Where the wild things grow parte, musicalmente, de uma união entre o lado mais baladeiro do som britânico recente e o lado mais violeiro dos Rolling Stones – este último, matriz de músicas como o blues folk After the rain e a contemplativa Flowers. O mesmo lado contemplativo-maravilhado que deu origem a discos como Parachutes, estreia do Coldplay e a hits como Open you eyes, do Snow Patrol, é o que comanda músicas como a faixa-título, a balada-hino Better times e a delicada e grandiloquente Last shot, além de Hanging in the balance, canção de piano, violão e falsete.

Já a face mais roqueira e ruidosa surge em Into the wild, Heavyweight e na ágil Dead on the money, que lembra um Bon Jovi brit pop – e nisso não vai ironia nenhuma. O conteúdo das letras de Where the wild things grow, por sua vez, é contaminado de experiências reais, que vão desde as constatações pessoais vindas da pandemia, até o divórcio do vocalista James Walsh. Dead on the money fala do isolamento e da desesperança dos últimos anos, com os versos “estamos tentando construir uma vida com o que sobrou depois da tempestade/porque todo mundo quer saber as rachaduras do seu código secreto”.

Nota: 7
Gravadora: Independente.

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Ouvimos: DJ Guaraná Jesus – “Ouroboros”

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Em Ouroboros, DJ Guaraná Jesus funde memórias e beats acelerados em 20 minutos de nostalgia 32-bit, funk, big beat e eletrônica pop multitonal.

RESENHA: Em Ouroboros, DJ Guaraná Jesus funde memórias e beats acelerados em 20 minutos de nostalgia 32-bit, funk, big beat e eletrônica pop multitonal.

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“O álbum é uma homenagem a um passado não tão distante – uma fusão de memórias e futuros imaginados convergindo para o presente”. Criado pelo produtor Julio Santa Cecilia, o projeto solo DJ Guaraná Jesus reúne memórias, música e sons eletrônicos num álbum curto (são nove faixas em menos de vinte minutos!), que voa como se fosse apenas uma faixa dinâmica, evocando desde sons de jogos em 32-bit, até sons como Prodigy e Skrillex.

Não foi à toa que ele escolheu para o disco o título Ouroboros – que nada mais é do que o conceito do eterno retorno, da morte e reconstrução, simbolizado pela serpente mordendo a própria cauda. Na real, não deixa de ser uma maneira construtiva de se referir ao próprio universo pop e à sua mistura de épocas e desenhos musicais, que aqui aponta para sons acelerados como num dia a dia anfetamínico (Vitalwaterxxfly3 e XP), sem descuidar das surpresas melódicas. E prossegue com o batidão quase funk de Mercúrio retrógrado e a viagem sonora de Unidade de medida e D-50 loop – a primeira em tom meditativo, a segunda de volta à aceleração.

  • Ouvimos: Skrillex – FUCK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT!! <3
  • Ouvimos: Papatinho – MPC (Música Popular Carioca)

Ouroboros parte também para o heavy samba eletrônico e ágil de Brsl, o batidão-de-caixinha-de-música de Hauss_hypa_vvvv e o big beat de Firenzi dolce vitta, encerrando com um batidão que remete ao samba-funk aceleradíssimo (Campari Devochka). Algumas faixas rendem mais do que apenas poucos minutos – ou até segundos – e poderiam ser esticadas. Mas Julio, com o DJ Guaraná Jesus e Ouroboros, quis aparentemente fazer um disco que pudesse acompanhar um passeio rápido no dia a dia.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 16 de maio de 2025

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Ouvimos: Jonabug – “Três tigres tristes”

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No álbum Três tigres tristes, Jonabug mistura noise rock, grunge e pós-punk com letras em inglês e português, guitarras ruidosas e identidade forte

RESENHA: No álbum Três tigres tristes, Jonabug mistura noise rock, grunge e pós-punk com letras em inglês e português, guitarras ruidosas e identidade forte

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Vindo de Marília, interior de São Paulo, o Jonabug vem sendo incluído no rol do “emo caipira”, de bandas vindas de cidades pequenas, e que são influenciadas pela cena emocore do Centro-Oeste norte-americano. É isso, mas não só isso: o grupo de Marília Jonas (guitarra, vocal), Dennis Felipe (baixo) e Samuel Berardo (bateria) é um dos melhores exemplos atuais do noise rock brasileiro. Misturando inglês e português, fazem em Três tigres tristes, álbum de estreia, um som que está mais para grunge do que para shoegaze – mesmo que invista em paredes de guitarra e ruídos.

  • Ouvimos: Anika – Abyss
  • Ouvimos: Guandu – No-fi

Esse é o som de faixas como Mommy issues, Além da dor, Look ate me e At least on paper my mistakes can be erased, misturas de vocal provocativo, guitarras cheias de riffs, certo balanço na batida e vibe sombria e confessional. Músicas como Fome de fugir e You cut my wings levam o esquema do Jonabug para algo mais próximo do pós-punk. A sua voz é o motivo da minha insônia e Taste everybody’s tears dispensam rótulos e lembram a vocação ruidosa e melódica dos anos 1990. E Nº 365 é um guitar rock falado, soando quase como uma trilha de filme.

No fim, Brown colored eyes traz mais um diferencial para o som do Jonabug: é quase uma balada guitar rock, com clima tranquilo e solo de guitarra com design sonoro oriental. O Jonabug escapa de qualquer caixinha e entrega um disco coeso, intenso e cheio de identidade própria.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 15 de junho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Monchmonch – “Martemorte”

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Ouvimos: Monchmonch - "Martemorte"

RESENHA: Monchmonch lança Martemorte, disco punk-eletrônico gravado no Brasil e Portugal, com HQ, vinil exclusivo e vibe no-wave psicodélica.

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Lucas Monch, criador do projeto musical experimental Monchmonch, pensa grande: Martemorte, disco novo do projeto, teve sessões de gravação em Brasil e Portugal, e sai junto com uma HQ que transforma o disco em projeto visual. Também vai sair em vinil, com um lado B exclusivo da mídia física. Lucas também criou duas formações do Monchmonch, uma no Brasil e outra em Portugal.

Martemorte é um bom exemplo de punk experimental e eletrônico – tendendo para algo bem próximo da no-wave às vezes, ou da zoeira misturada de punk, funk e eletrônicos do Duo Chipa (por sinal, Cleozinhu, do Duo, participa do disco com produções, samples e ruídos). Efeitos de guitarra e sons que parecem videogames ou trilhas de desenho animado marcam Bolinha de ferro, Vala lava, o punk espacial de Jeff Bezos paga um pão de queijo e a psicodelia lo-fi de Prédios. Rola até um clima psico-krautrock em City bunda e Coisa linda.

O disco vai ainda para o punk-country sacana em Velhos brancos jovens carequinhas e para uma perversão dos Beach Boys do disco Smiley smile (1966) em Rasga céu, tema espacial-psicodélico apavorante, em que milionários e donos de big techs são fatiados sem dó.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 17 de junho de 2025.

  • Ouvimos: Ultrasonho – Nós nunca vamos morrer
  • Ouvimos: Duo Chipa – Lugar distante
  • Ouvimos: Vovô Bebê – Bad english

 

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