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Crítica

Ouvimos: Deize Tigrona, “Não tem rolé tranquilo”

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Ouvimos: Deize Tigrona, "Não tem rolê tranquilo"
  • Não tem rolé tranquilo é o novo álbum da funkeira carioca Deize Tigrona, que surgiu da ideia de fazer um EP especial para o Dia dos Namorados. “Por conta da turnê na Europa, não consegui lançar o EP, mas ainda na turnê eu escrevi Massagem“, contou ela à TAG revista, dizendo também que completou o repertório depois. A sacana 25 de abril foi, diz ela, inspirada “numa festa da São Paulo Fashion Week”.
  • Em 2009, após voltar de uma turnê, Deize começou a desenvolver depressão e se afastou da carreira, em meio a boatos. Depois foi voltando aos poucos. “A mídia criou uma história de que eu tinha medo de voar e de que eu tinha virado cristã”, contou em 2020 a O Globo.

Deize Tigrona manda bala num estilo novo de funk em seu novo álbum, Não tem rolé tranquilo: o existencialismo (altamente) sacana. Isso acontece em faixas como LSD, que mistura drogas, feminismo (“queria bater em todo homem/que tentou machucar você”), empoderamento, questionamentos pessoais (a parte em que Deize fala sobre cortar alimentos dá vontade de ouvir dez vezes). E ainda tem ele mesmo, o sexo. 25 de abril tem participação da banda neopsicodélica Boogarins, e basicamente é um funk distorcido, lisérgico e repleto de ruídos, com letra unindo fé, dia a dia de escolhas, ganhos e perdas, e sacanagem.

A faixa-título, com participação da produtora e DJ Badsista, tem batidão de dance music dos anos 1990 e uma letra que é pura filosofia de rua, num papo sobre enriquecimento, fazer o que tem que ser feito e não ficar na pista. A zoeira, sempre ela, manda bala no lado mais romântico (sério!) do álbum, no r&b Massagem (“não tem corda de alpinista/nos seus dedos eu vou voar”, cantada por ela com Larinhx) e na balada Prazer sou eu. E também no gangsta Bctinha ploc ploc e no funk anos 2000 Vilão.

Nota: 8
Gravadora: Independente.

Crítica

Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”

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Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”
  • How did this happen and what does it now mean é o vigésimo-primeiro disco de estúdio da cantora e compositora britânica Joan Armatrading. A única coisa que ela não fez no disco foi a engenharia de gravação: ela compôs, tocou, cantou, produziu e programou tudo.
  • Ao The Guardian, ela explicou o título do disco (“como isso foi acontecer e o que significa agora?”): “Acho que nos tornamos polarizados porque quando você está cara a cara com alguém, coisas como linguagem corporal e contato visual nos impedem de fazer certas coisas. Isso não acontece nas mídias sociais, então se espalha para o mundo real. Não vamos nos livrar de todas as guerras e desentendimentos, mas o título do álbum está perguntando como diabos podemos sair dessa situação em que estamos e como voltamos para um lugar melhor”.

Descobrir, sem estar esperando, que Joan Armatrading lançou um novo álbum, é uma surpresa enorme. Ver que o disco é um projeto quase inteiramente solo (ela compôs, produziu, tocou e programou tudo sozinha) não chega a ser uma surpresa para quem conhece um pouco da história dela e pelo menos alguns hits e discos clássicos.

No caso de How did this happen and what does it now mean, o estilo conhecido de pop-rock confessional dela, já a partir do título, vem com um subtexto de sobrevivência e superação. Ainda que algumas histórias contadas nas letras apontem para ressacas amorosas e falsidades do amor em geral, como no pop-rock Someone else e no r&b I gave you my keys (“eu te dei minhas chaves para tudo que eu tinha/você era minha divindade, você governou meu mundo/governou minha terra, governou meu céu/como você pôde me machucar tanto?”).

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Já o blues-rock-soul percussivo I’m not moving põe violência urbana no disco, com Joan recordando as cenas que viu durante um assalto, e levando a história para uma situação em que a minoria tem as maiores cartas na mão (“posso ser pequeno/mas sou poderoso/você pode ser muito mais velho/mas ainda assim eu governo você”). O pop com argamassa soul e musicalidade herdada do folk, especialidade dela, volta em faixas como 25 kisses, Here’s what I know e a faixa-título, que conta outra história de amor que acaba com problemas e dúvidas (“onde está aquela versão de nós mesmos/que nós amávamos, que era tão preciosa/em nosso mundo, em nossos corações?”).

Para quem tem saudades do lado baladão de AM de Joan, registre-se a presença de Irresistible e Say it tomorrow e do gospel Redemption love. No disco novo, ela fez questão de que todos os seus lados musicais convivessem sem problemas, cabendo até dois instrumentais, Now what e Back to forth, nos quais ela se mostra uma excelente guitarrista de blues e rock. Aos 74 anos e sabendo fazer de tudo num estúdio, Joan é o poder, mesmo que falte um certo empoderamento nas histórias amorosas das letras.

Nota: 7,5
Gravadora: BMG

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Ouvimos: Lazy Day, “Open the door”

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Ouvimos: Lazy Day, “Open the door”
  • Open the door é o primeiro álbum do Lazy Day, codinome usado pela cantora e compositora Tilly Scantlebury. Ela compôs tudo, tocou guitarra, baixo, piano e synths e produziu o álbum ao lado de Gethin Pearson.
  • Ao Songwriting Magazine, ela disse que o ritmo das faixas ajudou a dar uma forma para as canções. “Essa é uma das coisas que definitivamente impulsionou o processo de composição. Seja um padrão de bateria… Estou obsessivamente cortando, fazendo loops e retrabalhando, o que então impulsiona as letras, que então impulsionam o padrão das palavras”, disse.
  • “Espero que as músicas alegres façam as pessoas se sentirem felizes. Espero que as músicas tristes façam as pessoas se sentirem validadas e em casa. Espero que as angustiadas e melancólicas façam as pessoas se sentirem fortes e determinadas. Espero que as animadas façam as pessoas se levantarem e dançarem”, afirma sobre o disco.

Os primeiros lançamentos de Tilly Scantlebury, que usa o codinome Lazy Day, eram mais lo-fi, como se fossem feitos no quarto – eram apenas alguns singles e um EP, que mostravam o começo do projeto. Curiosamente, ela escolheu o nome Open the door para seu primeiro álbum, indicando não apenas o mergulho em sua intimidade nas letras, como também a abertura para um mundo novo de criações musicais.

Batendo em temas como relacionamentos complicados e cascas de banana da vida adulta, Open the door é música pop de quem escutou muito Nirvana, Smashing Pumpkins, Smiths e… música eletrônica, tudo combinado. Killer, uma canção sobre emoções fortes no amor (ela diz que é sobre “como o amor encontra seu apetite”) é pop adulto em tom misterioso e ruidoso.

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Getting good põe a síndrome de impostor e as desilusões com o mundo do trabalho na frente (“acho que estou ficando boa/em coisas que eu queria não ser/sempre adiei/então acumulei todos os problemas”), em meio a um tom de rock adulto que lembra Hole e Fleetwood Mac, simultaneamente. Strangest relief abre com violão e banjo, e põe certo clima de trilha de filme da Sessão da tarde no ar. Já Falling behind é um rock que provavelmente não existiria sem que o Dinosaur Jr tivesse aparecido.

Por outro lado, tem uma faceta tecnopop e oitentista presente em algumas músicas de Tilly, como na dançante (e inspirada em Robyn e Mitski) Bright yellow e na smithiana Concrete. Não é o que mais aparece, já que a principal função de Open the door é aquecer corações com faixas como All the things, uma canção de voz e violão com vocais despedaçados, e Not now – esta, chamando atenção pelo clima folk-jazz que permite vocais tranquilos e linhas de baixo aparentes. A balada Alright tem efeito quase calmante: uma canção com guitarras tranquilas, vocais cantaroláveis e balanço de rock dos anos 1990, mas sem peso. E quase representa toda a riqueza musical do álbum, musicalmente.

Nota: 9
Gravadora: Brace Yourself Records

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Crítica

Ouvimos: Gwen Stefani, “Bouquet”

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Ouvimos: Gwen Stefani, “Bouquet”
  • Bouquet é o quinto disco de Gwen Stefani, ex-vocalista da banda de ska e música pop No Doubt (lembra-se de Don’t speak?). Ela chegou a afirmar que o disco marcaria sua volta às raízes reggae e ska – não foi o que aconteceu, já que o novo álbum tem até produção de um sujeito tarimbadíssimo no country, Scott Hendricks.
  • Mesmo com a cara country do disco, Gwen vê Bouquet como um disco de yacht rock, influenciado pelos sucessos do rádio pop dos anos 1970. Ela contou em entrevistas que o álbum inspirou-se em “todas as coisas que eu ouvia na van a caminho da igreja” quando criança, e que ele tem um “motivo floral”, já que há referências a flores por todos os lados. Por acaso, ela está recentemente divulgando um app religioso (e não custa lembrar que seu disco anterior era um álbum de Natal).

Com a felicidade não se discute. Certo? Bom, nem tanto, porque é naqueles momentos em que a gente se alegra e fica bobo que, muitas vezes, tudo se perde. No caso de Bouquet, disco novo de Gwen Stefani, a felicidade levou muita coisa embora.

Gwen, depois de um divórcio tumultuado (ela ficou casada por mais de uma década com Gavin Rossdale, cantor do Bush), encontrou o cantor de country Blake Shelton, com quem dividia a bancada do The Voice, e começou um relacionamento com ele – que evoluiu para um casamento e para uma temporada passada no rancho dele durante a pandemia. Com a vida pessoal plena, Gwen decidiu aderir ao country e a letras sobre o dia a dia feliz de casada em Bouquet. A faixa-título, um baladão country, tem versos como “I drive you crazy/you drive the truck” (nem vou traduzir porque o jogo de palavras com “drive” até que é bacana) e “eu até tenho seu sobrenome”.

Se alguém esperava que Gwen, cuja discografia tem discos solo bem legais, voltasse fazendo a dance music bacana de seu primeiro álbum (Love. Angel. Music. Baby., de 2004), ou um som mais próximo do ska-reggae-pop do No Doubt… bom, é pra dar com a cara na porta. Mas assusta bastante que o disco novo dela prime até mais pelo conservadorismo do que tão somente pelo romantismo em todos os aspectos: letras, composições, arranjos, produção.

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Não é tudo ruim em Bouquet. Vale dizer que Somebody else, a primeira faixa, engana: é um rock com cara new wave, bem formulaico, cuja letra parece dizer umas verdades a Rossdale, já que trata de empoderamento após o fim de um relacionamento tóxico (sente os versos: “você é o problema de outra pessoa/eu não sabia que algo tão falso/poderia realmente fazer doer tanto”, “cada dia com você foi o fundo do poço”). E também Purple irises, um country-rock com guitarra lembrando The Police na abertura, participação de Blake nos vocais, e versos como “não é 1999, mas esse rosto ainda é meu”. Ou Marigolds, soft rock com alma pós-punk, ainda que bem discreta.

Basicamente o novo da Gwen é um disco que vende um sonho de enamoramento romântico e de felicidade que só aparece quando alguém especial aparece – o anti-Brat, vá lá. Empty box é uma mistura de romantismo com louvor (“nossa oração termina em abril/eu fui à igreja, mas você foi o primeiro/a me mostrar o que significa ser fiel”), Pretty é uma balada de empoderamento “romântico” bem duvidosa (“não me sentia bonita até que você apareceu”). Nem dá para dizer que é mais do mesmo, porque dava para esperar bem mais de Gwen levando em conta seu passado.

Nota: 5
Gravadora: Interscope.

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