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Crítica

Ouvimos: Heal Mura, “The limited repetition of pleasure”

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Ouvimos: Heal Mura, "The limited repetition of pleasure"

Antes de mais nada, vale avisar: o título deste álbum (The limited repetition of pleasure) não é só uma provocação conceitual – ele define bem a experiência sonora proposta. Murilo Faria, tecladista da Aldo The Band, assume aqui o codinome Heal Mura e mergulha em um universo de loops hipnóticos, samples garimpados em discos de eletrônica e experimental, e influências que vão de rituais sonoros a viagens psicodélicas. O resultado tem ecos de healing music e até de uma espécie de terapia sonora alucinógena.

Mesmo nos momentos mais intensos, o álbum de Heal Mura não parece buscar impacto físico, trabalhando mais na esfera mental – e provocando sensações que reverberam no pensamento. O espírito progressivo aparece em faixas como More pillows than heads, onde os vocais lembram um cruzamento entre Pink Floyd e Electric Prunes, e Tide, que faz jus ao nome ao construir ondas sonoras. Wu Wei mistura a pulsação frenética da dance music com tons psicodélicos, enquanto Aiming high e Thong len remetem ao rock britânico do começo dos anos 1990. Já Awake é repleta de cânticos astrais.

O fecho com Heal é um mergulho de nove minutos em um ritmo quase cardíaco, entre samples de percussões e de gaitas de fole – além de progressões sonoras que flertam com a música indiana, e com sons mais experimentais e desafiadores. No fim das contas, The limited repetition of pleasure é um disco para expandir a mente. Mesmo quando se aproxima do lado mais visceral da eletrônica.

Nota: 7,5
Gravadora: Hungry Ghosts
Lançamento: 24 de janeiro de 2025

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Crítica

Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

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Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

Curto, tranquilo e girando em torno de variações do alt-country, Automatic, o novo disco do duo norte-americano The Lumineers (Jeremiah Fraites e Wesley Schultz são os integrantes), é um álbum carregado na ironia fina – e ela suplanta, muitas vezes, a própria nova seleção de melodias da dupla, que nem sempre acerta no alvo.

No álbum, dá para destacar a abertura com Same old song, country com referências de punk e até de emo, fala sobre insucessos, canções tristes e lança mão de versos como “ei, mamãe, você pagaria meu aluguel? / você me deixaria ficar no seu porão? / porque qualquer um de nós poderia fazer sucesso ou poderia acabar morto na calçada”. A auto-explicativa Asshole é marcada por um piano nostálgico e alguma grandiloquência, com letra falando de um desencontro bem estranho: “a primeira vez que nos encontramos / você me achou um babaca / provavelmente está certa”.

O lado melódico-ao-extremo do pós-britpop bate ponto na faixa-título e em You’re all I got, e também no piano “voador” de Sunflowers, cujo arranjo impressiona pela beleza. So long tem um clima mais classic rock e estradeiro que o resto do disco, com um arranjo que cresce e vai ganhando outros elementos. A doçura do grupo dá aquela enjoadinha básica no country-gospel de Plasticine e patina de vez nas acústicas e chatinhas Ativan e Keys on the table – para recuperar tudo na mistura de despojamento e rigor pianístico quase clássico de Better day, um anti-hino ao vazio que rege a vida de muitas pessoas (“sonhando com dias melhores / assistindo pornô e programa de imóveis na TV”).

Nota: 7
Gravadora: Dualtone
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

A estreia solo do mineiro Tátio, produzida por Chico Neves, é um disco curto, direto, que poderia ter sido lançado pela antiga CBS em 1979 ou 1980 – ou seja: quando revelações da MPB eram lançadas a todo momento e encontravam espaço no rádio e nas trilhas de novela. Contrabandeado é um disco de afirmação, que fala sobre progresso sem regalias, amores fluidos e liberdade (sexual, inclusive) nas grandes cidades.

O tom quase mangue-bit de Radar é emoldurado por versos que dizem “vai ser difícil de controlar/tudo o que vive debaixo do sol”. A democracia e a fartura aparecem no samba-reggae-forró Será que eu sou louco. A MPB mineira clássica é evocada em Seres distantes e na meditativa Anhangabaú. A psicodelia surge no tom mutante do blues Sonho antigo e no ambient brasileiro da faixa-título.

A voz impressionante de Tátio ganha destaque em faixas como a balada do ex bem resolvido Longe de mim (com Zeca Baleiro como convidado) e o forrock apocalíptico de Reza milagreira, que ganha uma excelente participação de Juliana Linhares, e um arranjo em que o uso de eco faz parte do cenário. Contrabandeado é uma renovação da MPB da era da abertura, e um disco que funciona como vingança do oprimido.

Nota: 9
Gravadora: Estúdio 304
Lançamento: 29 de janeiro de 2025.

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

Banda psicodélica de Novo Hamburgo (RS), o Pedra Lunar é um quarteto formado por Gabrieli Kruger (voz e percussão), Bruno A. Henneman (guitarra e backing vocal), Leonardo Winck (baixo e backing vocal) e Felipe Frodo (bateria, percussão e backing vocal). O caminho rumo ao infinito, primeiro álbum do grupo, revela uma sonoridade que quase sempre está mais para 1966 do que para 1968. Algo entre o mod e o psicodélico em faixas como Tudo está no lugar, a quase-faixa título Caminhando rumo ao infinito (esta, com vocais bastante criativos), Livres por aí e Eterna juventude – essa última, com piano lembrando Nicky Hopkins (Rolling Stones) e clima herdado não só de Kinks como do começo do glam rock (David Bowie, T Rex).

Aumentando a variedade do som, o Pedra Lunar ganha tons progressivos em Chuva passageira, clima estradeiro e rock-barroco em Toda essa confusão, vibe entre o power pop e o country rock em Dias de inverno e um som entre Bob Dylan e Raul Seixas em Eu também quero voar. O saldo do disco do Pedra Lunar é bem positivo e promissor, e pega direto na veia de quem curte rock brasileiro setentista, por causa das letras e da argamassa vintage.

Nota: 7,5
Gravadora: Áudio Garagem
Lançamento: 14 de dezembro de 2024.

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