Lançamentos
Radar: o lado dominatrix de Halsey em novo clipe, “Safeword”

Essa edição do Radar era para ter saído na semana passada, mas… o Pop Fantasma sumiu do ar e ficamos na mão por alguns dias, não deu pra publicar nada. Daí tem umas músicas que surgem meio atrasadas por aqui, mas que vale a pena falar e reportar – incluindo músicas novas de gente que acabou de lançar disco, como Halsey, Franz Ferdinand e Fontaines DC. Ouça tudo no volume máximo!
HALSEY, “SAFEWORD”. Depois do ótimo álbum The great impersonator (resenhado pela gente aqui), Halsey volta encarnando mais uma personagem – dessa vez, surge a dominatrix toda trabalhada no couro, ligada a paradas bem mais ferozes do que o clima indie pop pelo qual ela é conhecida. Safeword sai depois do último álbum da cantora e tem um daqueles clipes que, digamos, não são legais para ver no trabalho (mas como é Carnaval, apostamos que você está sossegadona/sossegadão em casa). O som é também um pouco mais ruidoso que o normal em se tratando dela, lembrando algo entre Bikini Kill e Joan Jett.
FONTAINES D.C, “IT’S AMAZING TO BE YOUNG”. O novo single dos Fontaines D.C., um compacto non-album, talvez seja a faixa mais grandiosa da banda até agora. E o clipe não fica atrás: dirigido por Luna Carmoon, ele encerra uma trilogia visual iniciada por ela ao lado do Fontaines DC nos vídeos de Here’s the thing e In the modern world. Os personagens Martin (Ewan Mitchell) e Spider (Grace Collender), apresentados nos clipes anteriores, voltam aqui em uma história de amor disfuncional que evoca Try, try, try, o clipe-curta dos Smashing Pumpkins – só que, desta vez, com um final feliz.
BLONDSHELL, “TWO TIMES”. Uma balada com alma dos anos 1990, pé no indie, um quê de folk e um tema que nunca sai de cena: os tropeços do amor. Sabrina Teitelbaum, a mente por trás do Blondshell, canta sobre a maneira torta como expressamos sentimentos – e como, às vezes, insistimos na ideia de que ciúme, brigas e turbulências são o tempero essencial dos relacionamentos. Sabrina deixa entrever também outro tema importante: e os relacionamentos tóxicos do dia a dia, como ficam nisso tudo aí? If you asked for a picture, disco novo do projeto, sai dia 2 de maio pela Partisan.
SLEIGH BELLS, “BUNCKY POP”. “Há partes de Brat que soam como Sleigh Bells, sabe?”, diz o site Stereogum, lembrando de uma coisa que muita gente fingiu não enxergar quando Charli XCX lançou seu disco mais recente. A dupla formada pela cantora Alexis Krauss e pelo guitarrista e produtor Derek E. Miller – que se conheceu quando Derek trabalhava num restaurante de comida brasileira no Brooklyn – anuncia o álbum Buncky Becky birthday boy para 4 de abril, puxado por um single saltitante e distorcido sobre um “cachorro feliz”. Uma homenagem ao cão de Derek, que já partiu, e aparece no fim do alegre clipe.
LEATHERETTE, “DELUSIONAL”. Curtinha (dois minutos), a nova música desse grupo italiano destaca os vocais blasé no estilo de John Lydon e a sonoridade pós-punk e ruidosa. A banda tem registrado suas músicas da maneira mais crua possível: em casa, sem firulas, cercada de bagunça e instrumentos baratos – incluindo alguns inesperados, como bandolim e bouzouki. Já a letra de Delusional é uma pequena epifania sobre amor e deslocamento, um conto de quem não se reconhece no próprio mundo.
HOST FAMILY, “DROMEDARY”. Aquele tipo de som que você lamenta que tenha chegado até você com alguns meses de atraso: essa banda de Los Angeles lançou este single em novembro de 2024, entregando um noise pop fenomenal, onde vocais etéreos se misturam a camadas de guitarras carregadas de clima shoegaze. Dromedary faz parte de Relief tape, uma fita K7 de tiragem ultra limitada, lançada para arrecadar fundos em resposta aos incêndios que devastaram a região de onde a banda veio. Ouça no último volume.
FRANZ FERDINAND, “BAR LONELY”. Essa música, uma das melhores do disco mais recente deles, The human fear (resenhado pela gente aqui) tem clima de faixa dos Kinks e do Who (e dos Beatles, e do Ira!), e um “papapa” típico do mais grudento pop sessentista. E saiu em single no dia 24 de fevereiro. Mas gostaríamos de chamar sua atenção para este vídeo do grupo tocando a canção numa sessão de sábado do CBS Mornings, soando como um Buzzcocks mod. O Bar Lonely, por sua vez, existe de verdade: fica em Tóquio e o dono é amigo de Alex Kapranos, vocalista e guitarrista.
THE STREETS, “HOW TO WIN AT ROCK PAPER SCISSORS”. “”O vencedor vai se repetir/os perdedores querem mudar”, diz o refrão da nova música do The Streets, um rap-indie-pop com um tom quase educativo, revelando supostas técnicas para vencer no clássico jogo de pedra, papel e tesoura. Além da nova música, a banda divulga um vídeo de doze minutos mostrando – entre teclados e beatmakings – como a musica foi feita e em que cenários a banda ficou burilando a nova canção (um ônibus de excursão, um barco, etc).
Crítica
Ouvimos: DJ Guaraná Jesus – “Ouroboros”

RESENHA: Em Ouroboros, DJ Guaraná Jesus funde memórias e beats acelerados em 20 minutos de nostalgia 32-bit, funk, big beat e eletrônica pop multitonal.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
“O álbum é uma homenagem a um passado não tão distante – uma fusão de memórias e futuros imaginados convergindo para o presente”. Criado pelo produtor Julio Santa Cecilia, o projeto solo DJ Guaraná Jesus reúne memórias, música e sons eletrônicos num álbum curto (são nove faixas em menos de vinte minutos!), que voa como se fosse apenas uma faixa dinâmica, evocando desde sons de jogos em 32-bit, até sons como Prodigy e Skrillex.
Não foi à toa que ele escolheu para o disco o título Ouroboros – que nada mais é do que o conceito do eterno retorno, da morte e reconstrução, simbolizado pela serpente mordendo a própria cauda. Na real, não deixa de ser uma maneira construtiva de se referir ao próprio universo pop e à sua mistura de épocas e desenhos musicais, que aqui aponta para sons acelerados como num dia a dia anfetamínico (Vitalwaterxxfly3 e XP), sem descuidar das surpresas melódicas. E prossegue com o batidão quase funk de Mercúrio retrógrado e a viagem sonora de Unidade de medida e D-50 loop – a primeira em tom meditativo, a segunda de volta à aceleração.
- Ouvimos: Skrillex – FUCK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT!! <3
- Ouvimos: Papatinho – MPC (Música Popular Carioca)
Ouroboros parte também para o heavy samba eletrônico e ágil de Brsl, o batidão-de-caixinha-de-música de Hauss_hypa_vvvv e o big beat de Firenzi dolce vitta, encerrando com um batidão que remete ao samba-funk aceleradíssimo (Campari Devochka). Algumas faixas rendem mais do que apenas poucos minutos – ou até segundos – e poderiam ser esticadas. Mas Julio, com o DJ Guaraná Jesus e Ouroboros, quis aparentemente fazer um disco que pudesse acompanhar um passeio rápido no dia a dia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 16 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Jonabug – “Três tigres tristes”

RESENHA: No álbum Três tigres tristes, Jonabug mistura noise rock, grunge e pós-punk com letras em inglês e português, guitarras ruidosas e identidade forte
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Vindo de Marília, interior de São Paulo, o Jonabug vem sendo incluído no rol do “emo caipira”, de bandas vindas de cidades pequenas, e que são influenciadas pela cena emocore do Centro-Oeste norte-americano. É isso, mas não só isso: o grupo de Marília Jonas (guitarra, vocal), Dennis Felipe (baixo) e Samuel Berardo (bateria) é um dos melhores exemplos atuais do noise rock brasileiro. Misturando inglês e português, fazem em Três tigres tristes, álbum de estreia, um som que está mais para grunge do que para shoegaze – mesmo que invista em paredes de guitarra e ruídos.
Esse é o som de faixas como Mommy issues, Além da dor, Look ate me e At least on paper my mistakes can be erased, misturas de vocal provocativo, guitarras cheias de riffs, certo balanço na batida e vibe sombria e confessional. Músicas como Fome de fugir e You cut my wings levam o esquema do Jonabug para algo mais próximo do pós-punk. A sua voz é o motivo da minha insônia e Taste everybody’s tears dispensam rótulos e lembram a vocação ruidosa e melódica dos anos 1990. E Nº 365 é um guitar rock falado, soando quase como uma trilha de filme.
No fim, Brown colored eyes traz mais um diferencial para o som do Jonabug: é quase uma balada guitar rock, com clima tranquilo e solo de guitarra com design sonoro oriental. O Jonabug escapa de qualquer caixinha e entrega um disco coeso, intenso e cheio de identidade própria.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 15 de junho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Monchmonch – “Martemorte”

RESENHA: Monchmonch lança Martemorte, disco punk-eletrônico gravado no Brasil e Portugal, com HQ, vinil exclusivo e vibe no-wave psicodélica.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Lucas Monch, criador do projeto musical experimental Monchmonch, pensa grande: Martemorte, disco novo do projeto, teve sessões de gravação em Brasil e Portugal, e sai junto com uma HQ que transforma o disco em projeto visual. Também vai sair em vinil, com um lado B exclusivo da mídia física. Lucas também criou duas formações do Monchmonch, uma no Brasil e outra em Portugal.
Martemorte é um bom exemplo de punk experimental e eletrônico – tendendo para algo bem próximo da no-wave às vezes, ou da zoeira misturada de punk, funk e eletrônicos do Duo Chipa (por sinal, Cleozinhu, do Duo, participa do disco com produções, samples e ruídos). Efeitos de guitarra e sons que parecem videogames ou trilhas de desenho animado marcam Bolinha de ferro, Vala lava, o punk espacial de Jeff Bezos paga um pão de queijo e a psicodelia lo-fi de Prédios. Rola até um clima psico-krautrock em City bunda e Coisa linda.
O disco vai ainda para o punk-country sacana em Velhos brancos jovens carequinhas e para uma perversão dos Beach Boys do disco Smiley smile (1966) em Rasga céu, tema espacial-psicodélico apavorante, em que milionários e donos de big techs são fatiados sem dó.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 17 de junho de 2025.
- Ouvimos: Ultrasonho – Nós nunca vamos morrer
- Ouvimos: Duo Chipa – Lugar distante
- Ouvimos: Vovô Bebê – Bad english
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos8 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?