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Crítica

Ouvimos: Feeble Little Horse, “Girl with fish”

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Ouvimos: Feeble Little Horse, "Girl with fish"
  • O Feeble Little Horse (que costuma gostar de escrever seu nome sem maiúsculas) é uma banda de noise rock de Pittsburgh, Pensilvânia, que começou há bem pouco tempo (início de 2021) e inicialmente era um projetinho musical pandêmico dos guitarristas Sebastian Kinsler e Ryan Walchonski.
  • Depois entrou o baterista Jake Kelley e a banda, como trio, lançou o EP Modern tourism (maio de 2021, igualmente também estilizado com minúsculas às vezes). A vocalista Lydia Slocum entrou em seguida. E, de quebra, deu uma melhorada nas letras da banda.
  • Em outubro de 2021, saiu o primeiro álbum, Hayday, pelo selo Julia’s War Recordings. Depois, a banda foi contratada pelo experiente selo Saddle Creek. A gravadora pegou o disco, acrescentou faixas e relançou.
  • Girl with fish é o segundo álbum da banda e (você já deve ter percebido) tudo aconteceu bem rápido na vida do FLH, a ponto de nem a banda entender. O New York Times elogiou a música deles. A rádio WXPN afirmou que o grupo estava se tornando “uma daquelas bandas que no futuro as pessoas vão se gabar de terem visto antes que ficassem grandes”.

Para cada “o rock morreu”, sempre vão surgir garotos bem pouco interessados em reinventar a roda, e interessadíssimos em dar uma cara própria ao trio guitarra-baixo-bateria- muitas vezes seguindo na contramão do mercado. No caso do Feeble Little Horse (“cavalinho fraco”, ao que consta, em português), a personalidade da banda é dada por noise-rocks, com guitarra estourada (como se fosse transmitida de um walkie talkie, em alguns casos), com um ou outro ruído eletrônico surgindo de vez em quando, dando às músicas um certo design de erro de transmissão, ou de fita cassete oxidando. Tem também os teclados que Lydia acrescentou no som do grupo. Mas são músicas que podem ser resumidas ao esqueleto voz-e-violão sem problemas, quase sempre.

Não é shoegaze de verdade porque o ruído não abraça o ouvinte: o som de Girl with fish é profissional demais para parecer uma demo, lascado demais para parecer um projeto bastante ambicioso – mas músicas como Freak, Tin man (com um violão relaxante e uma simpática e discreta percussão de latas na abertura) e a ruidosa Steamroller têm cara de trilha sonora de filme, o que já indica o cuidado com a produção. O disco segue, em boa parte das músicas, no binômio quietude-barulho que, quando bem feito, rende boas canções. Cabendo ainda a angelical (em sua maior parte) Heaven, o tom quase pop de Paces e Sweet, e a curtinha e bela Healing, uma canção de violões, efeitos de guitarra/teclados e percussões, que abraça o ouvinte.

Lydia insere sentimentos bem complexos nas letras, falando de marcas e cicatrizes do que se foi  – e é acompanhada na construção de melodias e arranjos. Como em Pocket, com versos pesados e feministas como “engravidada por um homem morto/estou magra, estou sozinha na criação de bebês/cada maldito dia da minha vida”, ou Healing, dos versos “minha pele ainda deixou uma marca/mesmo depois que a cura parou/quanto tempo até cicatrizar?”. Um disco curto para ser escutado diversas vezes, e que pega o ouvinte de cara.

Gravadora: Saddle Creek.
Nota: 8

Crítica

Ouvimos: Ethel Cain – “Willoughby Tucker, I’ll always love you”

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Novo disco de Ethel Cain, sombrio e denso, une country, post-rock e climas sombrios para revelar as origens e histórias de sua estreia.

RESENHA: Novo disco de Ethel Cain, sombrio e denso, une country, post-rock e climas sombrios para revelar as origens e histórias de sua estreia.

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Por algum motivo particular, Perverts, segundo álbum de Ethel Cain, lançado no começo do ano (e resenhado pela gente aqui) costuma ser tratado pela própria artista como um “EP”, uma “gravação de estúdio” ou um “corpo de trabalho” – mesmo ultrapassando os 90 minutos. Trata-se de um disco perturbador, quase inaudível para muita gente e que desafia até mesmo quem realmente ama música experimental. Ainda que haja muita beleza nos sons angustiantes e aterrorizantes de faixas como Punish e Housofpsychoticwomn.

Willoughby Tucker, I’ll always love you, terceiro disco e – como Ethel deseja – segundo álbum, dá uma volta no tempo e inicia as histórias da estreia dela, Preacher’s daughter (2022), álbum sobre poder, religião, bullying, abusos e morte (da “filha do pastor” do título). Um espelho da sequência de Star wars, que abre no episódio IV, ou das origens da família Corleone em O poderoso chefão 2, alguém diria. O disco novo de Ethel tem lá seus ares de volta às origens para ela própria, já que traz a artista voltando a investir em algo próximo da noção de canções – e, mais do que em Perverts, ela combina climas sombrios e frutos musicais do Sul dos EUA.

Com duração igualmente longa – mais de 60 minutos – e temas densos e quilométricos, Willoughby Tucker (o nome representa um namorado que Ethel teve na adolescência, e sua eterna paixão) abre com uma balada grunge deprê e fantasmagórica, Janie. E segue com uma música que poderia sonorizar um passeio por uma mansão empoeirada e abandonada, Willoughby’s theme. Já Fuck me eyes, que vem depois, é um synthpop introspectivo e sensual, falando de uma garota sexy e decidida que consegue tudo o que quer – e que precisa deixar sua cidade.

O astral das letras de Ethel mudou em alguns momentos – poucos, aliás. A musicalidade do disco abarca referências country (violões, slide guitars, sons estradeiros) em faixas como Nettles e a pinkfloydiana Dust bowl – no caso dessa última, por sinal, a morbidez prevalece, já que a letra fala de um “garoto bonito consumido pela morte” e de pactos estranhos feitos na escola. A knock at the door, tema de voz, violão e eco, é um hino à ausência, com vocais que soam como lamentos.

Já faixas como Radio towers e Waco, Texas soam como post rock fantasmagórico, o tipo de bad trip que você vai querer acompanhar até o fim – no caso da última, são 15 minutos de Cain relatando uma história de amor, ódio, culpa, autodestruição e sentimentos ambivalentes (“eu prefiro morrer / do que ser qualquer coisa além de sua garota / eu nunca quis te machucar / mas de alguma forma, eu sabia que faria”).

Para ouvir Perverts, era preciso disposição para encarar as sombras – Willoughby Tucker, I’ll always love you, por sua vez, parece revelar as histórias por trás delas. No final, você sente que uma história foi sendo contada, por mais que deixe várias perguntas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Daughters of Cain/AWAL
Lançamento: 8 de agosto de 2025

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Crítica

Ouvimos: Shearling – “Motherfucker, I am both: ‘amen’ and ‘hallelujah’ …”

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Shearling lança Motherfucker, disco com uma única faixa de 62min que mistura metal, noise e hardcore em caos sonoro intenso e perturbador.

RESENHA: Shearling lança Motherfucker, disco com uma única faixa de 62min que mistura metal, noise e hardcore em caos sonoro intenso e perturbador.

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Um amigo anda dizendo que esse disco de estreia do Shearling, banda extremamente barulhenta de Los Angeles, é o melhor de 2025 desde Perverts, o perturbador álbum de Ethel Cain, lançado em janeiro. A verdade é que Motherfucker, I am both: “amen” and “hallelujah” … é mais do que apenas um disco perturbador. Ele provoca o mesmo efeito de assistir a vídeos de cirurgias arriscadas ou de lutas sanguinolentas de MMA, ou de acidentes em que ninguém sai vivo. Tudo graças aos ruídos, aos sustos (sem aviso prévio) e aos vocais no limite da rasgação de garganta.

Outro detalhe é que não se trata de um “disco”: Motherfucker é apenas uma única faixa, de 62 minutos (!), que você pode ouvir no Bandcamp e no YouTube do grupo, e também em aplicativos como o Deezer – sabe-se lá o motivo, a música estava no Spotify e pulou fora de lá. O disco também ganhou uma edição limitadíssima em CD, à venda no Bandcamp. E se você acha que não conhece o Shearling, talvez conheça o Sprain, banda de noise-rock da qual vêm os criadores do grupo, Alex Kent e Sylvie Simmons – o Sprain, vale completar, encerrou atividades após o segundo álbum, The lamb as effigy (2023).

E aí que Motherfucker é uma peça barulhenta una, feita de guitarra, baixo, bateria, gritos, metais (soprados na mesma onda jazz infernal de bandas como King Crimson) e efeitos sonoros, conseguidos com instrumentos exóticos como harmônio, autoharp e glockenspiel, além de “dulcimer martelado” e “serra cantante”. A letra reúne histórias animalescas e mumunhas bíblicas, em versos como “muitas vezes me pego pensando / o que exatamente pode passar pela cabeça de um cavalo?”, “vou enterrar você, Adão / vou subir na sua perna / e puxar para baixo sua pequena cueca alegre / e vou enterrar você a cinquenta mil pés no subsolo” e outros.

A música não tem parte calma, nem parte alegre: é porrada o tempo todo, dividindo-se em segmentos metal, hardcore, metal experimental, barulheira no estilo do Suicide, punk no estilo do Wire (das mais violentas do Wire, vale dizer) e um clima meio post-rock que surge aqui e ali. Ouça com tempo, disposição e volume alto – os vizinhos vão reclamar, mas isso pode ser bom.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Mishap Records
Lançamento: 1 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Luiz Bruno – “Lule e as Crianças Adultas ao vivo no espaço” (EP)

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Luiz Bruno, o Lule, volta ao Brasil com EP ao vivo, misturando psicodelia, rock, jazz e humor em faixas lisérgicas e cheias de referências.

RESENHA: Luiz Bruno, o Lule, volta ao Brasil com EP ao vivo, misturando psicodelia, rock, jazz e humor em faixas lisérgicas e cheias de referências.

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O músico e compositor gaúcho Luiz Bruno, o Lule, morou onze anos em Londres – lá, montou uma banda chamada The Adult Children e desenvolveu uma discografia de nove discos, um EP e um single que, por um bom tempo, ficou só no Bandcamp. Lule e as Crianças Adultas ao vivo no espaço é um EP que marca a volta de Luiz ao Brasil, e que resume o clima zoeiro e psicodélico das músicas de discos como Chicken dinner (2024) e Curtição suprema vols 1 e 2 (ambos de 2022).

Os fungos abre o disco com flautinhas, barulhos de pássaros – lembrando um Jethro Tull + Recordando O Vale Das Maçãs com senso de humor, com uma conversa naturalista, punk e pseudo gospel na letra. Jovens fumando vape no bus e Manteiga mental unem jazz rock a la Khruangbin, rock pauleira e psicodelia, como naquelas coisas que você só descobria fuçando as pastas “Brazilian Nuggets” do Soulseek. Eu me afundei na lama da culpa é lisérgica na letra e na melodia, unindo Who, Kinks e Mutantes.

No final, roncos a la In another land (Rolling Stones) e evocações de Kinks e Todd Rundgren em Acordo noiado. E os efeitos sonoros do soul psicodélico e espacial de We are actors in your cosmic play. Um som para voar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Tal & Tal Records
Lançamento: 22 de julho de 2025

  • Ouvimos: It’s The Ocean – Enfins (EP)
  • Ouvimos: Schlop – Senhoras e senhores, cachorros e madames (EP)

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