Crítica
Ouvimos: Evidence Of A Struggle, “Evidence Of A Struggle”

- O Evidence Of A Struggle é uma banda de um homem só – no caso, o músico Rev. Billy Simmons, que toca todos os instrumentos. O primeiro álbum do projeto, epônimo, saiu em junho. O material do disco é quase todo instrumental.
- Algumas faixas do disco já ganharam clipes: Sal-E, Do’oa, Alans song, Bisquee e Bassakards, feitos pelo artista visual John Airo. Essa última faixa, a mais recente, é definida por Billy como “uma música sobre saudade e perda. Há tantos contrapontos nessa música, tanto sonoramente quanto visualmente e emocionalmente”.
“Jazz elétrico” e “renovação do krautrock” são termos comumente associados à música do Evidence Of A Struggle, um projeto-de-uma-pessoa-só de Chicago, cujo primeiro álbum é feito para ser ouvido com certa atenção, especialmente por fãs de bandas como And You Will Know Us By The Trail Of Dead, Swans e Wire. O comandante da banda, Rev. Billy Simmons, tem certa paixão por unir climas musicais que vão do art rock setentista aos ruídos de bandas com herança do punk. O fato de algumas faixas já terem sido turbinadas por clipes demonstra que o álbum epônimo de estreia está próximo de uma viagem audiovisual, em meio a sons pesados, voos guitarrísticos e ruídos de teclados.
Fãs de rock dos anos 1990 vão encontrar sonoridades familiares em faixas como Twins, Casting e Do’oa, ou em Tensioned, uma música que, caso tivesse letra, daria uma boa balada gótica. Algo mais próximo do pós-punk surge em músicas como as ritmadas Sal-E, Bassakards e The first fight. A sonoridade crua de algumas faixas, também poderia tranquilamente ganhar a assinatura de Steve Albini como produtor em alguns momentos, até porque Simmons parece usar o mesmo método de “fotografar” musicalmente o estúdio, com a bateria soando acima dos outros instrumentos. No final, Keep it insere um pouco de caos, unindo jazz, stoner rock, tons sombrios e a única letra (quase toda falada) do álbum, encerrada pela repetição dos versos “você parou de me ver/você parou de me ouvir”.
Gravadora: Loveless
Nota: 7
Foto: Jeremy Glickstein/Divulgação
Crítica
Ouvimos: Clara Lima – “As ruas sabem”

RESENHA: Clara Lima entrega frases afiadas e boombap clássico em As ruas sabem, disco sobre corre, fé e vivência das ruas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 de julho de 2025
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Rapper vinda de Belo Horizonte, Clara Lima é ótima de frases: “queria que toda essa neurose fosse grana na minha conta”, “meu bairro me ensinou que você não pode abraçar o errado”, “onde tava escrito que você podia sonhar?” “se alguma mãe vai chorar, não vai ser a minha nem fodendo”. O repertório de As ruas sabem, seu sétimo álbum, é pura luta do dia a dia e vivência das ruas. O batidão do disco, por sua vez, surge ligado à onda clássica do boombap, mesmo quando flerta com estilos como r&b e com vibes latinas, ou com batidas mais lentas.
Trilhado no corredor da batalha, As ruas sabem já abre com Bom dia, que traz a gravação de um telefonema de banco (“sou Daniela do banco x / queremos oferecer um acordo de parcelamento da sua dívida”) – seguindo com a batida lenta de Tabuleiro e com o vocal rápido e grave de PHD, faixa sobre procedimentos e cobranças da vida, e sobre maturidade (“nada passa batido, a cobrança vai chegar / adestrei os demônios e aguardo a poeira baixar”). Nível profissional traz lembranças de injustiças e desigualdades da vida, falando da sorte de quem já sai de casa no privilégio.
- Ouvimos: Stefanie – Bunmi
As ruas sabem vai crescendo no ouvido de modo bem diferente dos vários discos de rap atuais – por acaso, uma característica que Clara divide com outro rapper mineiro, FBC, em seu recente Assaltos & batidas. Letras como a do rap gospel Praticando a fé e ganham um ar de manual do corre, mais até do que de relatório sobre inimigos e vacilões do meio artístico. O mesmo rola nos planos infalíveis de Corda bamba, na visão atualizada da fama em Um brinde aos reais e nos perrengues da pixação de Tinta na mão: “Fuga na viatura / sem medo de altura (…) / letreiro do submundo / doença sem cura / dos gueto oriundo”, emendando com: “foda-se seu discurso barato / foda-se seu bolsonazi”.
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Crítica
Ouvimos: Deekapz – “Deekapz FM”

RESENHA: Em Deekapz FM, a dupla Deekapz transforma o rádio em pista de dança e memória afetiva, misturando funk, pop, drum’n’bass e emoção.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.
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Projeto criado pela dupla Paulo Vitor e Matheus Henrique, produtores de música eletrônica, o Deekapz decidiu se transformar numa rádio em seu disco de estreia. Deekapz FM surgiu em nossos ouvidos bem na hora em que se noticia o fim da rede Transamérica. E o rádio, como memória afetiva do lançamento de músicas, e da descoberta de sons novos, recebe um baita golpe.
Paulo e Matheus não estão apenas lançando um disco, na real: estão prestando uma homenagem ao rádio e a toda a sua importância histórica – sem falar nas suas possibilidades, que nem de longe são cobertas pelas playlists e pelas plataformas de música. A faixa inicial, Dance, é uma dance music com narração e vinhetas, participação da Fat Family e anúncio da lista variada de convidados do álbum.
- Ouvimos: Cyberkills – Dedo no cue
Fica claro que Deekapz FM não tem apenas música. Tem companhia e curadoria, seguindo inicialmente com o funk sacana de Maui em Vem comigo, com a drum n bossa de Criolo, DJ Marky e Makoto em Onde anda o meu amor – com referência à música homônima de Orlandivo – e com o som dançante e autotunado de Luccas Carlos em Eu te entendo. Deekapz FM é também uma soma de tendências musicais, que seguem atrás da outra, como num daqueles programas de “festa pronta” que tocam no rádio no fim de semana à noite.
Num conceito de “comandar o melhor do que faz o seu corpo balançar” (como diz uma das vinhetas do álbum), Deekapz FM segue com o pop romântico de Kaike em Detalha, o samba drum n bass solar e desconcertante de Riscos (apresentando a boa voz de Bibi Caetano), o clima indie pop de Gab Ferreira (em Manias disfuncionais), a musicalidade do Tuyo (na celestial Repara), as ótimas participações de Urias e da rapper mineira Clara Lima – a primeira, ao lado de Maffalda no club-pop Bafora, a segunda na ousada e sombria Nóis é o trem, seguida pelo batidão de Nego Bala em Ego.
Ouvindo Deekapz FM você pode até trocar as bolas e achar realmente que está ouvindo rádio – inclusive porque tem uma “hora dos comerciais” no disco. Faz parte da viagem.
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Crítica
Ouvimos: Funmilayo Afrobeat Orquestra – “De ponta a ponta” (EP)

RESENHA: Funmilayo Afrobeat Orquestra mistura afrobeat, jazz e reggae em um EP que reflete São Paulo e o ser negro.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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“Como pessoas negras, perguntamos sempre: quais são nossos desafios? Como é ser de axé numa cidade de concreto?”, perguntam-se as integrantes da Funmilayo Afrobeat Orquestra, noneto feminino que une estilos como reggae, rock, jazz e soul ao afrobeat, e que faz do EP De ponta e ponta um produto não apenas musical, mas também social e existencial.
- Ouvimos: Naïf – Trópicos úmidos (EP)
O beat leve e os metais da faixa de abertura, A cidade é um espelho, descortinam um mergulho na obra de Itamar Assumpção, e uma letra que fala sobre amar e odiar São Paulo ao mesmo tempo – e sofrer para se enxergar numa metrópole competitiva. O encanto e a maquinaria abre com ótimos riffs de teclado, e com metais cheio de vivacidade, que valem por vocais bem dirigidos. Até que surge a letra, inspirada pelos desastres ambientais de São Paulo e pela desigualdade social descortinada por eles.
Já a quase faixa-tíulo (Ponta a ponta, sem o “de”), com sete minutos, une afrobeat, jazz e Nordeste para falar sobre missões diárias das quais não se desiste, mesmo com as dificuldades, com o racismo e com a distância dos grandes centros. Música, documento e afirmação lado a lado.
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