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Cinema

O mundo realista dos Trapalhões

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O mundo realista dos Trapalhões

Os Trapalhões não existem desde os anos 1990, certo? Errado: como naquela piada do sujeito que pergunta por alguém que já morreu, ouve falar do óbito e dribla o mico com um “morreu pra você! continua vivo no meu coração!”, os finados Mussum e Zacarias e os ainda ativos Didi e Dedé continuam aprontando juntos para muita gente. O legado do quarteto rende documentários (Mussum ganhou o seu há pouco), livros, uma marca de cerveja, vídeos que estão entre os mais vistos do YouTube.

E, em breve, o lado oculto dos Trapalhões irá render um documentário bastante realista. É Trapalhadas sem fim, dirigido por Rafael Spaca, que já escreveu livros sobre o quarteto. O filme vai focar em temas BEM polêmicos a respeito do grupo: divisão de lucros, amizade na vida real, puxadas de tapete, a separação de Renato Aragão dos outros três em 1983. Mas Rafael explica que basicamente é um filme sobre a história do quarteto, só que as polêmicas não serão evitadas. “Não é um filme depreciativo. O público vai ver e formar o seu juízo”, esclarece.

Batemos um papo com Rafael e procuramos saber um pouco do que vem por aí. Trapalhadas sem fim (cujo Instagram, cheio de fotos dos entrevistados, ilustra o decorrer desta entrevista) renderá dois cortes: uma série de TV em cinco episódios que irá cobrir toda a trajetória do quarteto e um documentário de duas horas com material que não será mostrado na série, para o cinema. O que sobrar, vai para a web. “Já é um dos maiores levantamentos já realizados a respeito do quarteto”, conta o diretor.

Você escreveu livros sobre os Trapalhões, está fazendo um filme… Qual sua relação com o trabalho dos Trapalhões? Sempre foi fã? Sim, minha primeira ida ao cinema foi para ver Os Trapalhões e o Rei do Futebol (1986). Vi muito o programa deles e gostava mais dos filmes. Depois vi os filmes anteriores, acompanhei os que iam saindo posteriormente… Sempre considerei Os Trapalhões meus heróis de infância. Depois me interessei por produção cultural, por rádio e TV, acho que muito em razão de gostar de cinema, e principalmente por gostar dos Trapalhões. Eles acabaram influenciando até mesmo minha profissão. Escrevi um livro sobre o cinema dos Trapalhões (O cinema dos Trapalhões por quem fez e por quem viu, em 2016) e depois outro sobre as HQs deles (As HQs dos Trapalhões, de 2017). Tenho outras coisas pra lançar, mas com essa crise as editoras estão com um pé atrás. Sempre quis entender a história do grupo, os bastidores, como funcionava aquilo…

Que livros você pretende lançar? Pelo menos mais dois: um deles é a biografia do Dedé Santana, que vou dividir a autoria com o Vitor Lustosa, que foi diretor-assistente de pelo menos 15 filmes dos Trapalhões. E um livro de entrevistas e conversas com o próprio Vitor, que revela toda a dinâmica dos filmes dos Trapalhões. Vai ser um livro bem interessante. A memória do Vitor é muito boa, e o livro fala de um período que foi o mais bacana dos Trapalhões, que é até metade dos anos 1980.

Os Trapalhões, por sinal, têm apenas um documentário, que é O mundo mágico dos Trapalhões (1981), e bem chapa-branca… É o que acontece quando você faz um trabalho sob encomenda. Tem muita coisa que o filme não responde. O Renato é um cara cheio de nuances, comete erros, não é perfeito, não é um santo. Não sei se pelo cargo dele na Unicef, ele quer passar uma imagem impoluta. Sempre teve muito folclore, muita lenda em torno das histórias dos Trapalhões, como a questão do relacionamento deles, da divisão dos lucros. A Sara Silveira, que foi produtora do Carlão Reichenbach, viu que eu tinha um trabalho enorme de pesquisa dos Trapalhões e sugeriu que eu transformasse minha pesquisa em documentário.

Isso te facilitou o acesso a fontes? Uma foi puxando a outra. No livro do cinema dos Trapalhões, conversei com 132 pessoas. Quando me deu o lampejo de fazer o documentário, quis que não fosse uma repetição do livro, mas que fosse algo que complementasse. Acho que 95% das pessoas que entrevistei para o filme não estão no livro. São pessoas com as quais falei pela primeira vez na vida. Algumas delas até me falaram que o Renato gosta de florear um pouco a imagem dele, digamos. Mas como é um documentário independente, a gente fez tudo sem ter certeza de onde vai dar, de onde vai exibir. Conseguir falar com Caetano Veloso, com Supla, foi muito bacana. Tentamos fazer com que a conversa fluísse, com que fosse agradável falar. E teve gente que me falou: “Nunca falei tanto desse tema!”, ou “puta merda, tô fodido!”. Acho que com o distanciamento histórico algumas pessoas se sentiram à vontade de falar de certos temas que estavam inconscientes, ou entalados. Muita gente se soltou e falou durante quatro horas! Teve entrevista que alterou completamente o rumo do projeto, declarações tão impactantes que eu achei que seria um crime não colocar no filme. Inclusive muita gente que acompanhava o meu trabalho me mandou mensagem me xingando porque acha que fiz o filme para falar mal dos Trapalhões.

Sério? Sim, o país está tão polarizado com essa questão política que já imaginava que fosse acontecer no âmbito cultural. E era gente que acompanhava meu trabalho, que eu julgava que pudesse ter consideração por mim, e mandou mensagem falando: “Como você pode falar mal do Renato?” Eu não tô falando mal, eu entrevistei essas pessoas. Mas tem gente que nem viu o filme pronto e já tá falando que eu traí os Trapalhões (risos). É a história deles, e a história é turbulenta. O Renato fala que não, mas as pessoas que são testemunhas oculares resolveram falar.

O Renato não quis falar para o seu documentário, certo? Eu estou tentando falar, quero ouvir o lado dele. Mandei uns cinco e-mails quando fiz o livro sobre o cinema dos Trapalhões. Ele elogiou a entrevista para o livro e disse que estava à disposição, mas desde então nunca mais respondeu (a Renato Aragão Produções, que cuida da carreira do artista, esclareceu a uma reportagem do jornal O Dia que o ator não participará do documentário por “questões jurídicas e contratuais”).

Você falou das HQs dos Trapalhões e é engraçado porque elas denotam que o marketing dos Trapalhões não era tão profissional, já que o programa era na Globo e os quadrinhos eram lançados pela Bloch, que era a editora da Rede Manchete. Hoje a Globo já botaria os quatro para assinar outro tipo de contrato… Na verdade o foco da Globo era a televisão. Por mais que ela tivesse a Rio Gráfica Editora, não era unificado. Eles podiam fazer contratos à parte. Pra você ver, não tinha nem Globo Filmes. O J. B. Tamko produzia, depois a Globo exibia. Era uma coisa mais solta. Mas os Trapalhões ganharam muito dinheiro.

Tem uma velha piada que compara os Beatles aos Trapalhões. Ambos os grupos tinham um malandrão (Paul McCartney/Didi), um mal-humorado (John Lennon/Mussum), um garoto bonzinho (George Harrison/Dedé) e um cara ingênuo (Ringo Starr/Zacarias). Passou pela sua cabeça tecer comparações entre Trapalhões e Beatles, ou qualquer coisa da cultura pop? Sim, mas foi uma analogia que eu fiz na questão comportamental, não musical. O grupo era uma harmonia aparente, como eram os Beatles. Mas teve a Yoko Ono dos Trapalhões que foi a morte do Zacarias. Por mais que o grupo já houvesse tido outros integrantes, o que está no imaginário das pessoas é o quarteto. Quando sai um, dá para perceber que falta alguma coisa, já que eram três escadas pra um. Depois ficam dois para um! Algumas pessoas que entrevistei falaram disso.

Afinal, o Zacarias morreu mesmo de Aids? Foi uma hipótese nunca confirmada… Não posso dar spoiler, mas é um dos temas do filme. Tem duas versões dessa história, e algumas pessoas falam disso abertamente, sobre quem era o Zacarias na intimidade. Uma das coisas que mais me surpreenderam quando fiz o filme foi o tema da amizade. Muita gente achava que eles eram amigos de frequentar a casa um do outro. Até que em 1983 vem a separação. Para haver separação, tem que ter alguma questão. Se é entre amigos, resolve-se conversando. Mas aí eu localizei as pessoas que testemunharam essa história e tem coisas ali que nunca haviam sido faladas.

Foi o quê, afinal? Pode dar uma dica? Bom, posso falar que era uma questão que não era só financeira, tinha uma questão artística. Quando o Renato foi fazer O Trapalhão na Arca de Noé e os outros três foram fazer Atrapalhando a Suate (os filmes lançados durante a separação de 1983), houve declarações pesadas de ambos os lados, coisas que você lê hoje e fala: “Amigos não falam isso e depois voltam a tudo como era antes!”

Verdade, muita briga de ego… E teve gente até que falou que os Trapalhões não voltaram a ser como eram antes. É um material muito rico e faço questão de frisar que não é depreciativo. Tem gente que viveu e viu algumas histórias, que vai falar: “Olha, não é bem isso que aconteceu, etc”. Vai ter polêmica? Vai ter puxada de tapete? Vai. O público é que vai tirar suas conclusões. O fato é que eram todos gênios, mas não tinha nenhum santo. Santos são os que a igreja canonizou, quem está aqui não é santo (risos). Eu só dei a voz para que falassem as coisas. E teve gente que falou que eles eram geniais, como teve gente que falou que tinha puxada de tapete, histórias de um atrapalhar o desenvolvimento do outro. Eu, que pesquiso muito, fui surpreendido com histórias, com muita coisa que falaram.

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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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