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Destaque

O DVD inédito de Gerson King Combo

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O DVD inédito de Gerson King Combo

A alegria dos shows do já saudoso Gerson King Combo (1943-2020) continuava (e começava) nos bastidores das apresentações dele. Pessoas que trabalhavam com ele se recordam que o cantor de Jingle black era do tipo que perdia o amigo, mas não perdia a piada.

“Ele botava pilha em todo mundo, desde o piloto do avião até o contratante do show, mas sempre com respeito. O Gerson foi um grande amigo, fiz mais de 600 shows com ele. Conversamos muito sobre música, sobre as histórias da estrada. Mas também sobre outros assuntos, como política, sexo, futebol, etc.”, recorda Ronaldo Pereira, que passou a empresariar o cantor a partir de 2009. E que ajudou a comandar um DVD ainda inédito do artista, gravado no Teatro Rival (Rio de Janeiro) em 28 de novembro de 2013. O show aconteceu dois dias antes do aniversário de 70 anos do cantor.

‘ARTISTA DE VERDADE’

Gerson encarou, como Ronaldo lembra, uma bateria de ensaios num estúdio no Catete. No acompanhamento, a banda do empresário, a Supergroove. “Ele conhecia cada músico e adorava a banda”, recorda ele, que conheceu o som de Gerson ainda nos anos 1980, e rodou o pais com o cantor.

“Aprendi muito com o mestre. Ele era o mister carisma nos palcos e o nosso diretor de clima fora dele. Passamos situações de som ruim, produções capengas e ele sempre revertia qualquer problema e saia do palco ovacionado. Um artista de verdade, com um olhar super atento pra banda, pro figurino e pra tudo que envolvesse o espetáculo”.

Alguns momentos do DVD já podem ser vistos no You Tube, como o making of do espetáculo (feito pela Revista do Cinema Brasileiro). E os clipes de Uma chance e Deixe sair o suor, ambas ao vivo. O show inteiro, no entanto, espera por uma oportunidade de lançamento. O repertório tem clássicos do cantor, como Mandamentos black.

DOCUMENTO

O futuro DVD, além de mostrar o repertório de Gerson, ainda documenta uma parte preciosa do som black nacional, por unir convidados como os dançarinos da velha guarda do soul do Rio, o Quarteirão do Soul de Belo Horizonte, Getúlio Côrtes (irmão de Gerson e autor de clássicos como Negro gato), Sergio Loroza e nomes clássicos do estilo, como Carlos Dafé e Lady Zu.

Outro nome que recentemente saiu de cena, Renato Barros (do Renato & Seus Blue Caps) está também no show. E rola um encontro de gerações, que inclui os rappers André Ramiro, Rabu Gonzales e De Leve, além de um dos últimos parceiros de Gerson, Gilber T.

CROWDFUNDING

Pedro Serra, que acumulou as funções de diretor, editor de imagens e câmera (esta, dividida com outros profissionais), se diz pessoalmente frustrado com o fato do DVD ainda permanecer inédito. A gravação do DVD de Gerson King Combo foi toda realizada em esquema de crowdfunding, mas ainda faltava uma parte considerável do dinheiro, que foi completado pelo empresário Ronaldo.

“Ele tinha um dinheiro guardado que seria usado na pós-produção e teve que completar para a gente conseguir gravar”, conta Pedro. Diretor e empresário esbarraram num problema que não imaginaram que teriam que enfrentar: nenhuma gravadora ou canal de TV se interessou pelo DVD. “Fizemos várias reuniões com gravadoras e canais de TV e nada. Só que o depois de gravado o show, o dinheiro tinha acabado. Nem eu nem Ronaldo nem o pessoal da finalização de áudio chegamos a receber nossos cachês, esperando receber depois. E não tínhamos como finalizar o produto”.

FRUSTRAÇÃO

Para conseguir chamar a atenção para o DVD, Ronaldo e Pedro lançaram os dois clipes que você viu acima. “Quando o Gerson morreu eu fiquei me sentindo super frustrado, porque esse DVD era um sonho dele que ele não viu realizado. Isso é muito chato, porque o Brasil tem essa coisa de homenagear seus ídolos só depois da morte. Mas espero que esse DVD veja a luz do dia, porque o Gerson estava tinindo e o acompanhamento da banda Supergroove, que estava com ele há muitos anos, era espetacular. Gosto muito dessa mistura de gerações na música – juntar a genialidade do veterano com a vitalidade do jovem dá uma liga fenomenal”, completa Pedro.

O DVD inédito de Gerson King Combo

Flyer da Copaphonic: retorno de Gerson em 1997

Ronaldo e Pedro já conheciam Gerson King Combo pessoalmente há bastante tempo. O primeiro havia convidado em 2004 o cantor para participar de uma releitura de Hora de união (Samba soul), de Totó e Lady Zu, feita pelo Supergroove. Pedro recorda da redescoberta de Gerson, em 1997, quando o DJ e escritor carioca Zé Octávio convenceu o cantor a fazer uma participação na antiga festa Copaphonic – Zé e Pedro eram DJs da festa. Na época, Gerson foi capa da revista Domingo, do Jornal do Brasil, e apareceu no Muvuca, programa apresentado por Regina Casé na Globo.

‘TURMA DO SOUL’

Apesar de muitos fãs de Gerson King Combo se lembrarem só de músicas como Mandamentos black e Melô do mão branca, a carreira dele vinha de antes. Gerson veio do rádio e da TV e virou coreógrafo de Wilson Simonal, no show De Cabral a Simonal (1969).

Gerson chegou a gravar um single pela CBS, além de LPs com o supergrupo de bailes Fórmula 7. Antes dos cultuados discos que lançou pela Polydor na segunda metade dos anos 1970, gravou Gerson Combo e a Turma do Soul, em 1969, no mesmo selo. “Nesse disco, ele sacramentou o jeito de cantar black music nacional. Com a voz rouca, com seus gritos e intervenções nos intervalos da melodia”, conta Ronaldo. A turma do soul nunca foi reeditado em CD.

SAINDO DE CENA

Pedro lembra da tristeza que foi ver Gerson King Combo ser internado no mesmo dia do show que faria no Caxias Music Festival, dia 19 de setembro. O evento aconteceu no Teatro Raul Cortez, em Duque de Caxias, sem plateia e seguindo todas as recomendações.

“Gerson tinha problema com diabetes já há algum tempo, mas parecia controlado. Acho que a pandemia deve ter dado uma desestabilizada e ele também estava um pouco ansioso por causa do show. Sua partida foi uma tristeza, porque ele era a ligação entre o soul dos anos 1970 e a nova geração do rap. E ainda tinha muito gás para dar”, recorda.

MÚSICA NOVA

Nesta segunda (30), dia do aniversário de Gerson, saiu uma música nova do cantor. Tira esse joelho daí é uma parceria de Gerson com o irmão Getúlio Côrtes. A canção foi gravada duas semanas antes da morte do cantor e faz referência ao assassinato do americano George Floyd por policiais em Atlanta, Estados Unidos.

“O mundo estarrecido, viu, no chão homem caído, porém ninguém lhe deu a mão. / Sou afrodescendente, e muito consciente, é tempo de tomar decisão. / No mundo se diz, que a nossa pele tem raiz, o meu sangue é vermelho (sem distinção de cor). / Não aceito e não tolero, minha tolerância é zero, pra covardia e sua discriminação (comigo não, comigo não)”, diz a letra.

Fotos: Pedro Serra/Divulgação

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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