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Cultura Pop

Sete capas clicadas por Mick Rock: descubra agora!

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Mick Rock precisava explicar a cada entrevista que o “Rock” do seu nome não era um pseudônimo: era seu sobrenome mesmo, herdado do pai. O fotógrafo morto na sexta (19) aos 72 anos, fez do estilo musical um de seus ofícios, clicando vários artistas conhecidos nos anos 1970 – a ponto de ser chamado de “o homem que clicou” a década. Frequentemente cedia seus talentos a nomes de outros estilos musicais, mas sempre será lembrado como o cara que fotografou Syd Barrett pouco após sua saída do Pink Floyd, o sujeito que deu uma “cara” ao glam rock, o clicador profissa que foi contratado pelo próprio David Bowie para cobrir a turnê Ziggy Stardust. Entre outros atributos.

Rock era costumeiramente apontado como um fotógrafo bom para clicar o mito por trás da imagem – chegando a um ponto em que artista, pessoa e mito estavam ali, quase misturados, e sempre comunicando alguma coisa impactante ao fã, ou futuro fã. Ele conseguia mostrar exatamente o que artista queria dizer com seu visual, num resultado que muitas vezes partia de uma intuição do próprio Mick. Teve também a sorte de começar a atuar numa época, os anos 1970, em que ainda não havia um batalhão de produtores e assessores, e o acesso à persona do artista era mais fácil, mais tranquilo, sem defesas.

“Uma boa foto é como um hit, sempre faz com que você volte para mais uma mordidinha”, brincava o fotógrafo, que via em seu trabalho algo como “projetar energia, como os músicos fazem. Você pode obter um pouco de energia de um modelo, e eu consigo fazer isso, mas é um pouco unidimensional. Com um músico, você está lidando com um artista”, dizia.

Seguem aí sete das capas que Mick fotografou para você conhecer o trabalho dele. E vale conferir o documentário Shot!: The psycho spiritual mantra of rock – Mick Rock, que pode ser assistido com legendas em espanhol no YouTube. Veja logo antes que tirem de lá.

“THE MADCAP LAUGHS” – SYD BARRETT (1970). O Pink Floyd não pensou duas vezes quando resolveu expulsar Syd Barrett da banda, mas David Gilmour e Roger Waters pelo menos ajudaram o ex-colega em seu primeiro disco solo – um daqueles trabalhos que quem acompanhou de perto nem imaginava que fosse ficar pronto. A foto da capa foi tirada no quarto de Syd na casa em que morava. Syd pintara o chão com a ajuda de Iggy The Eskimo, a garota misteriosa que aparece nua na contracapa, e com quem ele andava tendo um rolo recente. “Quando cheguei para a sessão de fotos, Syd ainda estava de cueca. Iggy estava nua na cozinha”, revelou Mick.

Syd Barrett na capa do disco The Madcap Laughs: foto de Mick Rock

“SPACE ODDITY” – DAVID BOWIE (1972). O segundo disco de David Bowie, epônimo, foi lançado em 1969. Já Space oddity, a terceira encarnação do disco, com nome diferente e capa atualizada, como a de um relançamento literário (trazendo o Bowie já transformado em Ziggy Stardust), saiu em 10 de novembro de 1972. Na época, Mick Rock era fotógrafo oficial de David Bowie, e coube a ele seguir o cantor por tudo quanto era lado: palco, bastidores, quartos de hotel, todos os lugares. O período gerou livros como Moonage daydream: The life and times of Ziggy Stardust. Já a foto do relançamento foi clicada na casa que Bowie morou entre 1969 e 1972: a moradia vitoriana Haddon Hall, em Beckhenham, Sul de Londres.

David Bowie na capa do disco Space Oddity: foto de Mick Rock

“TRANSFORMER” – LOU REED (1972). Mick disse no documentário Shot que aprendeu muita coisa com Lou Reed, “mas não foram os melhores hábitos, devo admitir”. O fotógrafo, que havia conhecido Lou Reed através de David Bowie, tirou a foto da capa durante um show de Lou no King’s Cross Cinema de Londres em 14 de julho de 1972. A ideia original não era clicá-la para a foto de capa de um disco. Mick tirou várias fotos, mostrou essa para Lou e ele simplesmente decidiu que a capa do disco estava ali.

Lou Reed na capa do disco Transformer: foto de Mick Rock

“RAW POWER” – IGGY POP & THE STOOGES (1973). O tal show no King’s Cross do qual Lou participava fazia parte de um festival chamado King Sound, que durou duas semanas do mês de julho de 1972, e trouxe uma escalação que incluía nomes do progressivo e da vanguarda (Gnidrolog, Soft Machine, Matching Mole), além de uma ou outra atração mais acessível (como o punk-power-pop do Flamin’ Groovies). Na noite seguinte ao show de Lou, Iggy & Stooges tocaram lá e o cantor, de peito nu, foi clicado por Rock. A banda estava em Londres gravando o disco Raw power.

Iggy Pop na capa do disco Raw Power, dele e dos Stooges: foto de Mick Rock

“END OF THE CENTURY”- RAMONES (1980). Disco de elaboração difícil, com encrencas entre a banda e o produtor-problema Phil Spector, e a substituição de Johnny, Marky e Dee Dee por músicos de estúdio quando necessário. Mas Mick Rock estava lá clicando a foto da capa, que causou tristeza entre alguns dos integrantes da banda – foi a primeira vez que os Ramones apareciam numa capa de disco sem os casacos de couro.

Ramones na capa do disco End of the century: foto de Mick Rock

“I LOVE ROCK´N ROLL” – JOAN JETT & THE BLACKHEARTS (1982). Mick havia se oferecido para clicar Joan por intermédio do advogado da cantora, que era seu amigo. O tempo passou e um dia toca o telefone na casa do fotógrafo: a cantora havia tentado trabalhar com três fotógrafos para clicar a capa de seu próximo disco, não tinha dado certo e eles estavam quase sem grana. A foto da capa de I love rock’n roll foi uma das últimas da sessão, foi tirada provavelmente às 3h da madrugada, e Mick disse que Joan foi bastante gentil. “Ela é meio como Elvis Presley com aquele visual meio sombrio. Eu olho para aquela foto da capa e é como se ela quisesse sair com você. Muitas pessoas, quando pensam em Joanie, é nessa cena que pensam”, disse.

Joan Jett na capa do disco I love rock´n roll: foto de Mick Rock

“PLASTIC HEARTS” – MILEY CYRUS (2020). Depois da década passada, Mick começou a anunciar que faria fotos de artistas mais recentes, “ainda que eles não tivessem o fator de choque que a gente tinha nos anos 1970”. Um dos último trabalhos do fotógrafo foi na capa do disco mais recente de Miley. Um dos produtores dela havia sondado Mick para fotografá-la, mas os planos desapareceram por causa da pandemia, já que Mick morava em Nova York e ela, em Los Angeles. Aconteceu que ela própria foi a NY e o produtor contatou Mick. “Ela é muito fácil de fotografar. Ela não tem que pensar muito sobre isso. Pode ter levado no total cerca de quatro horas”, contou Mick, dizendo que vê “algo de David Bowie” em Miley.

Miley Cyrua na capa do disco Plastic hearts: foto de Mick Rock

Via Interview Magazine.

Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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