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Cinema

Metropolis: Giorgio Moroder no cinema

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Durante um bom tempo (e possivelmente até hoje), o assunto Metropolis tirou bastante o humor do produtor musical Giorgio Moroder. Que aliás comemora 81 anos nesta segunda (26). Fanático pelo filme de Fritz Lang desde a infância (a produção original é de 1927), ele decidiu relançá-lo nos anos 1980. Aliás, cá pra nós, não foi apenas um relançamento. Moroder retrabalhou todo o filme, usou várias cópias encontradas cada uma num canto, e fez várias redescobertas a respeito da produção.

Pioneiro da ficção científica e das distopias, Metropolis contava uma história sobre luta de classes, envolvendo os personagens Freder (o garotão rico, filho do comandante da cidade, Jon Fredersen) e Maria (jovem com papel de liderança entre os trabalhadores). Os funcionários das fábricas trabalham no subterrâneo e ficam de fora dos negócios da turma graúda, que são fechados em meio a arranha-céus e paisagens futuristas. Freder decide ir aos subterrâneos conhecer Maria e descobre que há planos conspiratórios lá embaixo. Descobre depois que Fredersen havia criado um robô com a cara de Maria, com a ideia de promover confusão entre os operários.

Metropolis: Giorgio Moroder no cinema

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O resultado é uma espécie de fábula bizarra a respeito de como as relações entre empresários e trabalhadores rolam até hoje. A filmagem durou inacreditáveis 17 meses. O filme teve seu orçamento escandalosamente estourado (no fim, gastou-se US$ 16,5 milhões, em valores atuais). O trabalho ainda envolveu a criação detalhada de inacreditáveis efeitos especiais. Além da composição da trilha sonora, inspirada por Richard Wagner, e feita para orquestra. Já as paisagens do filme foram inspiradas pelos prédios que Fritz conhecera em Manhattan.

Mesmo com tamanha qualidade, o filme acabou desaparecido ao longo dos anos. Isso porque houve vários retalhamentos e edições do filme, alguns por obra de mandatários nazistas. Quando saiu, Metropolis ganhou críticas bem ácidas. Aliás, o próprio Lang – que faria carreira em Hollywood a partir dos anos 1930 – soltaria os cachorros no próprio filme algumas vezes. O diretor disse que se arrependeu do filme pouco após tê-lo dirigido. E chegou a tachá-lo de alienado, dizendo que o plot era coisa de conto de fadas. “Você não pode fazer um filme com consciência social no qual você diz que o mediador entre a mão e o cérebro é o coração”, disse.

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E teve Moroder na jogada. O produtor e compositor, ícone da música eletrônica e grande artífice da disco music, inicialmente faria apenas uma nova trilha sonora. Mas resolveu se indignar com a falta de um corte definitivo e decidiu pôr a mão na massa. Fez contato com um sujeito chamado Enno Patalas (“o czar de Metropolis“, diz Giorgio) e deparou com vários trechos vindos de diferentes fontes. Tinha pedaços vindos do Museu de Arte Contemporânea de Nova York, do museu do cinema de Berlim, etc.

Com a tecnologia disponível (ou não disponível, você decide) na época, restou a Moroder verificar praticamente quadro a quadro tudo que tinha na mão. Descobriu um lugar que poderia fazer a restauração, arranjou uma mesa de edição e, ciente de que muita coisa de Metropolis não estava em bom estado, juntou tudo com os melhores elementos que pôde achar. Também deu uma acelerada no filme e cortou coisas: o Metropolis original tinha 153 minutos e o de Moroder, 84.

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Aliás, detalhe básico: Metropolis não era bagunça. Antes de fazer qualquer coisa, o músico precisava da autorização dos detentores dos direitos. Demorou cerca de dois anos para encontrar o filme. E mais um outro ano para obter a tal permissão. Pagou 200 mil dólares para mexer em tudo. Em seguida, editou, acrescentou novas tonalidades de cor e comandou a bendita trilha sonora. Moroder compôs quase todas as músicas ao lado de um parça das antigas, Pete Bellotte, e convidou Freddie Mercury, Billy Squier, Loverboy, Bonnie Tyler, Pat Benatar, Adam Ant e Jon Anderson para cantar.

Com exceção de Love kills, parceria de Moroder com Freddie Mercury (cantada pelo frontman do Queen), tá tudo no Spotifai.

Mas você acha o clipe de Love kills no YouTube.

A trabalheira de Moroder não encontrou muito apoio na crítica. Muitos jornalistas viram o filme e reclamaram que o Metropolis lançado em 1984 não era fiel ao original, e coisas do tipo. Moroder se defendia falando que “nem sequer havia um original”. Um texto do site Methods Unsound tenta achar algumas explicações para os narizes torcidos. Uma delas é o contraste entre a trilha sonora altamente tecnológica de 1984 e as imagens produzidas nos anos 1920. Mas seja como for, o prêmio Framboesa de Ouro não perdeu a oportunidade e deu à recriação de Moroder indicações de pior trilha sonora (ai) e pior canção (para Love kills). O diretor perdeu nas duas.

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Moroder, depois do filme, continuou próximo da indústria do cinema – aliás, se você não sabia, ele é um dos autores de Take my breath away, tema de Top gun, Ases indomáveis. Ele acabou incentivando uma turma enorme a remexer no arquivo de Metropolis e a lançar outras edições, buscando sempre mais fidelidade a Lang. Enno Pattalas fuçou nos arquivos do Museu do Cinema de Munique, que dirigia, e fez sua versão em 1987. Posteriormente foram sendo produzidas outras versões. Em 2010 saiu uma versão de 148 minutos, lançada também em DVD e Blu-Ray.

E já que você chegou até aqui, pega logo aí a edição de Moroder inteirinha antes que tirem do YouTube.

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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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