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Cultura Pop

Já leu o livro dos mil shows do Melvin?

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Melvin Ribeiro já passou por bandas como Autoramas, Los Hermanos (tocou com eles por uma noite, e trabalha até hoje com o merchandising deles), Hill Valleys, Carbona (“seu” grupo, que existe até hoje). Já tocou com os Buzzocks, numa situação que ele mesmo não acredita até hoje que aconteceu de verdade. Também quase tocou no CBGB’s, meca ramônica, e acabou precisando desmarcar o show. Quando foi remarcar, lidou com a incredulidade dos funcionários, que não imaginavam que alguém fosse desmarcar um show no local onde a cena de Nova York dos anos 1970 começou – mas conseguiu finalmente tocar! Em outra fase, foi cabeludão e tocou thrash metal com uma banda na Argentina – e chegou quase a gravar um disco por um selo de porte com ela.

Cada um dos seus mil shows rendeu histórias memoráveis, engraçadas e bizarras (como a do dia em que um músico convidado – e desavisado – dedicou uma canção para a namorada do baterista de sua banda). Agora, essa trajetória está contada no livro Estrada – Mil shows do Melvin, lançado a partir de financiamento coletivo. O lançamento rola ao mesmo tempo em que o Carbona faz uma turnê e volta ao disco, e em que Melvin, além dos vários shows, continua fazendo de tudo. Inclusive lançar projetos musicais novos – como Melvin & Os Inoxidáveis, com quem gravou um EP ano passado.

Batemos um papo com Melvin sobre o livro e, como tem sido comum no POP FANTASMA, a ideia é, ir além de música e livros. Giramos em torno do seguinte tema: o que a pessoa leva pra casa de interessante (ou até de inspirador) quando observa a trajetória de um cara como Melvin, que além de tocar e produzir, já trabalhou em gravadoras e viu muita coisa acontecer? Pega aí.

POP FANTASMA: Como você tem visto o interesse dos fãs de rock, de música pop, pelos bastidores dos seus shows, e pela sua história?
MELVIN: Tenho sempre encontrado gente interessada. Na minha trajetória toda, eu via uma coisa que me interessava e resolvia fazer também. Tipo: “Aquela banda fez CD independente. Pô, dá pra prensar CD já? Vamos fazer um selo?”. É importante falar que não fiz o livro numa coisa de “o incrível cara que deu mil shows”. Até porque muitos músicos já fizeram isso mas não pararam para contar: o Marcelo Callado, o Gustavo Benjão, os próprios Los Hermanos. Todo mundo ali já chegou nisso. Os mil shows serviram para dar um ponto de partida pro livro. E como eu sou viciado em livros de rock, de bastidores, fiz o meu. Hoje eu vejo até que fiz o livro que gostaria que outros músicos fizessem. Se o Callado, se o Marcelo Camelo fizerem um livro com esse tipo de história, eu vou ser o primeiro a ler.

No livro tem material de diários antigos seus, coisas antigas suas. Como esse material estava conservado? Esse material sempre ia comigo. É uma tragédia, porque morei com meus pais até os 20 e poucos e depois me mudei seis, sete vezes. E em todas as mudanças tinha aquelas caixas, pastas com cartazes. Tinha um por um no plástico. Quando cheguei com esse material na casa da minha namorada, ela ficou meio horrorizada, mas quando comecei o livro, ela entendeu (risos). Mas alguns dos diários já estavam em digital. Os diários do Carbona estavam num blog que a gente tinha na época. Eu comecei a escrever o livro pelo índice, o que é meio doido. Ou não, sei lá. Nunca fiz outro livro (rindo).

Analisando bem, se você sabia o que queria escrever, era mesmo só organizar em tópicos. Acho que de repente foi até uma maneira boa de organizar tudo… Sim, sim. Na verdade nem sabia por onde começar. Muitas pessoas imaginavam que ia ser um livro de verbetes, falando show por show. Mas teve show que mesmo sendo importante, não tive muito o que contar dele. Deixei só as histórias que eu achei que eram relevantes mesmo, que eram divertidas. Peguei todas as histórias que eram best sellers, as que eu contava muito. E fui batendo com a minha lista de shows, os que não estavam sendo atendidos pela lista. Todo dia eu escolhia um capítulo para escrever e pesquisar sobre. Nessa de pesquisar, ir nos HDs, achei textos que mandamos para a Rock Press (revista, que hoje funciona na internet sob outra direção) e acabaram não saindo, e que contavam histórias que nem eu lembrava mais. Tem um capítulo que é o Henrique (cantor e guitarrista do Carbona) escrevendo tudo, porque é um diário de turnê que não achei registro meu e achei um dele, gigante. O Autoramas, fiz ali na hora, vendo e-mails e lembrando como foi.

Já leu o livro dos mil shows do Melvin?

Capa do livro

Aquela história do anão (que roubou a mochila do Melvin nos bastidores de um show) é muito engraçada! Você teve contato com esse anão depois? Ele tá vivo? É sensacional, né? Eu tomei cuidado, porque não falei onde aconteceu essa história…

É, percebi… Se você quiser muito saber onde foi, tem um capítulo onde eu falo sem querer o lugar. Até porque a ideia não era humilhar o cara. Era contar uma história tensa. Como a do vocalista que cantou com a gente e dedicou uma música para a namorada do baterista.

Isso foi muito engraçado. Bom, deve ter sido tenso na hora! Foi desesperador! Mas a história não ficava melhor se eu dissesse com quem foi. Mas o anão fez uma grande carreira. Ele era negro, de black power e tatuado. Ele foi para a Europa, morou um tempo lá, fez filmes lá – tem fotos dele em set de filmagem – e hoje ele é um leprechaun de St Patrick Day em alguns lugares. Acho que ele mora em São Paulo. Esse cara nunca passou incólume em lugar nenhum, acho que todo mundo que lê o conto e passou pela mesma cidade em que esse cara esteve pensa: “Ah, conheci”.

Como foi a trabalheira pra fazer o crowdfunding e como teve essa ideia? Engraçado porque eu tinha o Embolacha, que era uma empresa de crowdfunding. Entrei lá por um desafio profissional. Mas eu nunca achei crowdfunding muito legal. Achava meio pedir esmola. Fui entender o esquema, fiz para os outros, mas ficava bolado de fazer o meu. Eu fiz do Autoramas na época, mas antes disso eles já tinham feito dois. Eu ficava meio cagado, eu queria mesmo era uma editora para lançar. Mas fui vendo que o mar não tá pra peixe, mesmo as editoras que tinham mais a ver davam uma enrolada…

O mercado está complicado mesmo. Mas aí um dia um amigo meu, o Mateus, apareceu, e falei que estava escrevendo um livro. Perguntei se ele queria dar uma lida e ele: “Eu conheço uma menina que vai diagramar o livro pra você”. Era a Carol Santos, que fez a capa, depois saiu do projeto. E ela sugeriu de fazer crowdfunding. De fato, uns meses depois, com o livro meio pronto, eu tava sem horizonte. Não tinha a grana pra lançar, e ninguém aparentemente estava a fim de lançar. E pensei: vamos tentar o crowdfunding.
E deu certo. Não sei te explicar direito porque deu tão certo. Fazia isso no Embolacha, tinha uma noção, mas deu muito, muito certo. Foi uma mistura de coisas.

Eu vi uma história num filme sobre crowdfunding. O cara fala que quando você consegue transmitir para as pessoas que aquilo é um projeto que importa muito para a sua vida, elas chegam junto. Mais do que o fato de ser um produto legal ou não: quando as pessoas entendem que você quer muito fazer isso, elas ajudam. No Embolacha a gente tinha uma meta que era fazer 10% no primeiro dia. É porque arranca, depois estaciona e no final arranca de novo. E fiz 10% em uma hora. Em um dia, eu estava com 40%, o que é um absurdo. Tanto que nem enchi muito o saco com a campanha depois. Minha namorada é escritora e ela ficava tentando dimensionar o que podia acontecer comigo, pra eu não me decepcionar muito. Falava: “Pensa que vai vender uns duzentos livros”. E vendi 188 no crowdfunding. Pra minha cabeça, já saiu resolvido.

Já leu o livro dos mil shows do Melvin?

Melvin e o livro

E o livro ainda tá à venda? Eu prensei 500 livros, eles estão quase acabando. Não dá pra prometer, mas a minha ideia era fazer uma segunda edição com uma ou outra revisão de erros que já achei. E ainda continuar vendendo. Mas chegou a 500 e eu já achei uma loucura.

Como que você analisa esse tempo todo de Carbona, que é uma banda que já passou por vários lançamentos e selos, já tocou lá fora, já teve altas mudanças de formação, agora tá tendo esse gás aí de ter o Fred (Raimundos) na bateria… Qual o balanço que você faz da história do grupo? Cara, é muito louco. Se você olhar pra sua coleção de CDs e pensar em bandas que você gostou na vida, a quantidade de bandas que passam do quarto disco, do quinto disco, é pequena. A maioria das bandas que passa disso é muito pequena, diria que 5%. E a gente virou isso. Uma banda de 22 anos, onze discos, que sempre manteve a mesma base – Eu, Henrique e o Pedro (bateria). O Fred entrou tem dois anos. A gente preferia esperar o Pedro voltar pro Brasil, porque ele está morando fora. Mas chegou uma hora que bateu vontade de tocar mais, o Fred eu tinha acabado de conhecer no Autoramas e o chamei para entrar na formação nova, que é meio família. A gente tem grupo com o Pedro e com o Fred (no WhatsApp). O Pedro veio tocar em dezembro com a gente e o Fred emprestou os pratos pra ele. E a gente acabou de fazer o melhor disco da gente.

Disco novo? Isso. Se chama Vingue no ringue, foi gravado com um produtor de Porto Alegre, tem as melhores composições e a melhor gravação disparado. Depois das turnês em que a gente passou o Brasil todo, fizemos menos show. Durante quatro anos a gente fazia só show no Rio, gravava disco, mas não saía do Rio. Quando o Hangar foi fechar, anunciou que ia fechar um ano antes, a gente pensou: “Precisamos dar um jeito de ir pra São Paulo”. Marcamos um show no Hangar, o cara de Curitiba chamou (para fazer show), o de Porto Alegre chamou, o de Goiânia chamou… Não sei dizer se hoje está pior, estamos como a gente aguenta. Por causa dos compromissos de todo mundo não temos como viajar muito, mas estamos fazendo Rio e São Paulo direto, uma ou outra cidade.

Você considera que sua trajetória como profissional da música, e não apenas como músico de banda, é inspiradora para outros profissionais? Você foi um cara que além de ser músico passou por diversos outros lugares: Som Livre, Embolacha… E agora tem o livro. Pois é, eu cheguei a escrever em algumas dedicatórias do livro: “Que esse livro possa te inspirar…”. Achei meio pretensioso, mas eu estava meio pretensioso no dia (risos). Eu tenho um amigo que é técnico de futebol e comprou meu livro. E ele me fez umas perguntas bem interessantes, me disse: “Pô, eu li seu livro inteiro e queria saber em qual momento você deixou de perseguir aquele sonho da rádio e do estádio lotado”. Uma pergunta que eu nunca tinha me feito. Quando comecei, o sonho não era estádio lotado. Era o sonho de ter uma banda empreendedora, que corria atrás de tudo, que queria desbravar. O CD independente estava em voga, as bandas estavam começando a se virar só com isso. Nunca teve uma coisa de: ‘Ah, daqui a pouco a gente vai estar na trilha da novela!’. Era: “Daqui a pouco a gente pode prensar nosso CD e viajar”. Mesmo em termos de hoje o Carbona é um absurdo. Em 1997, com seis meses de banda, a gente estava com repertório, já tinha gravado disco e estava em Detroit com CD no bolso.

https://www.youtube.com/watch?v=U_ew72wP_Wk

Minha escola foi muito mais de cair dentro do que tentar outro tipo de recompensa. E eu penso até muito no Panço, que sempre foi muito inspirador. Era um cara que se tinha alguma coisa que ele queria fazer, ele fazia. Na minha leitura era assim: quer lançar um zine? Lança um zine. Quer lançar um livro? Lança um livro. Isso é inspirador, o lance de correr atrás, de fazer as coisas. É legal passar isso adiante, mostrar que se você cair dentro, você vai conseguir resultados. Não é uma coisa de “fiz isso e fiquei milionário”, mas vai fazendo as paradas.

Vou tocar agora em Portugal com o Guga Bruno, meu guitarrista, e quero armar shows lá. E eu estava pensando: “Cara, tá difícil pra caralho, um lugar pode, o outro quer mas não pode porque a bateria faz barulho, o outro não responde e-mail há cinco dias…”. Mas é tão legal fazer isso, sabe? Quero tanto fazer esse show, que nem estou aguentando isso. Tem uma galera que desiste antes porque é chato pra caralho mesmo, sabe? O quanto você está disposto a disparar de e-mails para fazer um show numa cidade onde você não tem interesses comercial nenhum, que você quer fazer porque quer fazer? Acho que se for pra inspirar alguém, é nesse lado de “faz as paradas”. Tem uma galera que me escreve e fala: “Que maneiro seu livro. Quero fazer também”. E eu: “Faz seu livro! Quero conhecer suas histórias!”. Muita gente me pergunta onde fiz o livro, com quem diagramei, como cheguei na editora mais barata… E vamo lá, vamo só fazer.

Hoje em dia mudou muito o jeito como as pessoas se relacionam com tudo isso. O alcance de internet é tão grande que o cara tenta ser grande no mundo antes de ser grande na cidade dele! A gente pirava em lotar em Empório. Não tem uma banda hoje em dia querendo lotar o Audio Rebel. Nego parece que já tá querendo ir mais adiante, tipo: “Quando é que eu vou tocar no Maracanã também? Los Hermanos já tocou!” (risos). Bom, eu queria inspirar as pessoas a terem resultados maneiros e pra mim o melhor resultado que cheguei até hoje foi o livro. Achei que dava trabalho e foi o maior barato escrever. E dá pra sonhar com alguém falando: “Pô, eu caí muito dentro de uma parada porque li aquele livro”.

Você falou de Los Hermanos e muita gente comprou o livro para ver as histórias suas com a banda. Como você vê essa conexão e como tem sido o contato com os fãs deles? Bom, desde a turnê de 2015 sou o responsável pelo merchandising deles. Você acaba batendo papo com as pessoas da lojinha, numa hora você conta que tocou na banda… Quando fiz o crowdfunding, o produtor deles, o Alex, foi um dos primeiros a entrar. Ele e o Barba foram no show de lançamento pegar o livro. Depois o Alex me falou: “O livro tá muito legal, vamos vender na lojinha”. Na lojinha tem um menu com camisa, ecobag, LP e… “livro do Melvin” (risos). As pessoas sempre perguntam: “Mas quem é Melvin e por que o livro dele tá aqui?” (risos). E é uma deixa, como aquela sobremesa especial do Outback que os funcionários vão adorar explicar. É o item do menu que nosso funcionário vai adorar explicar: “Ah, o Melvin tá aqui, é amigo deles, já tocou na banda”. Volta e meia alguém se interessa. O Marcelo (Camelo) já veio comentar do livro, falou de algumas histórias. Tá fluindo bem no universo deles. O show que fiz com o Los Hermanos eu subi no YouTube, inclusive.

Tá no YouTube? Sim, o da final da turnê do Bloco do eu sozinho (em 2002). Mas tem coisas ali que são raras em vídeo. Não sei exatamente o que é, mas tem coisas que são meio raras ali, volta e meia comentam. Tem um cara achando que eu sou o Patrick (Laplan, ex-baixista da banda).

https://www.instagram.com/p/BxHqW0KlxtB/

E como você analisa esse sucesso que os Hermanos fizeram até chegar no Maracanã? No livro eu falo uma coisa que eu não consigo falar diferente… Durante muito tempo vi as pessoas usando eles como referência, porque a relação que aquelas músicas criaram com os fãs é uma loucura. Ninguém acreditava no Maracanã, um amigo meu foi e não estava acreditando lá (risos). Ele chegou cedo pro Tim Bernardes e quando viu o estádio vazio falou: “Ufa, achei que eu estava ficando maluco”. Só que depois ele viu o estádio enchendo e falou: “Caralho, eu tô maluco mesmo!” (risos). Eu fico na gerência, correndo de uma lojinha para outra, e sempre tento ver o início do show. Ver o cara tocando A flor e levantando o Maracanã, uma Fonte Nova… É sempre emocionante. O do Maracanã, eu lembro de ter visto uma galera falar depois: “Ah, vou pra São Paulo ver!”. Eu sempre falava: “Cara, vai, mas o que rolou no Maracanã não pode ser recriado”. Acho que pesou pra todo mundo, tava todo mundo com nó na garganta, senti a banda eletrizada de outro jeito. E não tem explicação, não tem fórmula mesmo. Acho quase uma ofensa alguém se achar muito conhecedor do business e achar que descobriu a fórmula que está por trás. Não tem isso! É uma relação dos fãs com as músicas que eu vi poucas vezes na vida.

Algum recado para quem não conhece o livro? Bom, quem se interessar fico muito feliz. São os maiores sucessos das histórias que eu já contei várias vezes, e o livro mostra um pouco do que foi ter banda nesses vinte anos. Viajei em van com banda, fui pra fora com baixo nas costas… O livro é uma forma de retratar isso sem ter a pretensão de dar uma forma definitiva. Nem eu, nem Panço nem Pedro de Luna saímos para escrever a verdade absoluta disso tudo. Quem ler todos esses livros vai ter um entendimento mais legal.

Fotos: Divulgação/André Oliveira

Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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