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Crítica

Ouvimos: Glenn Hughes – “Chosen”

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Glenn Hughes pode estar se despedindo com Chosen, um hard rock variado, intenso e espiritual, que mistura força, blues e redenção.

RESENHA: Glenn Hughes pode estar se despedindo dos estúdios com Chosen, um hard rock variado, intenso e espiritual, que mistura força, blues e redenção.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Frontiers Records
Lançamento: 5 de setembro de 2025

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Tem um papo rolando aí de que Chosen é o último disco de Glenn Hughes, após vários álbuns solo, participações em projetos, altos, baixos e retornos. Se for, Hughes sai de cena com um álbum tão bom que deveria ter parte 2 e 3, e edição de luxe com versões ao vivo, demos e out-takes. Enfim, aqueles truques que artistas pop usam para “requentar” discos – mas que aqui deveriam ser utilizados porque, na boa, todo mundo vai querer mais de Chosen.

A voz de Glenn manteve-se em forma, como já foi possível ver nos shows que ele fez no Brasil. E a maneira como Hughes pensa o hard rock – estilo ao qual se dedica em seus discos solo – é cheia de caminhos diferentes, e é clássica sem soar reacionária. Chosen tem rocks pauleiras do tipo que ninguém conseguiria resistir, como Voices in my head, The lost parade, In the golden (com riff de guitarra lembrando Led Zeppelin), Hot damn thing (cujo ritmo oscila entre Rolling Stones e Aerosmith). Tem também rock pesado elegante e em clima blues, como My alibi, música sustentada pelos vocais de grande alcance de Glenn e por uma linha bem forte de baixo. E um rhythm’n blues pesado e excelente, Black cat moan.

A faixa-título, por sua vez, tem abertura próxima do esporro punk, e depois se torna um hard rock com uma estrutura próxima do reggae na bateria – mas no fim das contas, os ventos da música ganham velocidade de hard rock oitentista. Essa vibração punk também esta por trás de Into the fade, hard rock com peso e beleza reais. Mas Chosen é também o disco de duas faixas épicas: a feroz e emocionante Heal, de seis minutos, e a balada Come and go, apresentando romantismo oscilando entre o rock britânico e o grunge, entre Pink Floyd e Pearl Jam, com uso de mellotron e clima voador.

  • Ouvimos: Black Sabbath – The eternal idol (relançamento)

Tem ainda as letras do disco: quem é fã de metal hedonista e destrutivo vai se sentir perdido com Chosen. Glenn, que já declarou ter pedido a deus para tirá-lo da jaca das drogas e disse se arrepender de ter cantado em Seventh star, álbum do Black Sabbath de 1986 (porque era “uma banda que falava de demônios”), prefere o estado de graça em que ele se sente escolhido (Chosen, enfim) ou curado após uma experiência de isolamento e reflexão (Heal).

Já em Voices in my head, Glenn recorda a fase dos excessos (“por um caminho fui conduzido / como uma criança deixada sem alimentação / nenhuma palavra deixada sem ser dita”) e diz ter escapado do abismo porque “o céu sussurrou meu nome”. Escolha a faceta que bem entender em Chosen e boa audição.

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Crítica

Ouvimos: Parcels – “Loved”

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Em Loved, o Parcels refina seu sophisti-pop com vibes eletrônicas apresentando clima casual, grooves disco relaxados e vocais vintage em faixas leves e dançantes.

RESENHA: Em Loved, o Parcels refina seu sophisti-pop com vibes eletrônicas apresentando clima casual, grooves disco relaxados e vocais vintage em faixas leves e dançantes.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Because
Lançamento: 12 de setembro de 2025

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Banda formada na Austrália em 2014, o Parcels é uma banda de poucos discos de estúdio – Loved é o terceiro. Em compensação, honrando a tradição de grupo bom de festival, já sairam dois álbuns ao vivo, e também um número considerável de EPs e singles.

Com referências que vão de Marvin Gaye a Beatles e Beach Boys, e uma vocação enorme para juntar tudo isso com uma vibração electropop, o quinteto pode ser definido basicamente como sophisti-pop – pu qualquer uma dessas definições que apaziguam o lado roqueiro e o lado pop em vez de botar tudo para brigar. Traduzindo: o Parcels é “dançante” e “eletrônico” quase na mesma medida em que é clássico e voltado para o pop das antigas. Uma espécie de linha do tempo musical.

  • Ouvimos: Chéri Chéri – Don’t you think it’s funny (EP)
  • Ouvimos: Lake Street Dive – Good together

Loved é o famoso “se você gostou dos outros discos vai adorar esse”. A receita de Parcels (2018) e Day/Night (2021) volta melhorada, orgânica e relaxada, com a alegria quase disco music de Tobeloved e Ifyoucall, o soft rock-britpp de Safeandsound e a UK garage humanzada de Yougotmefeeling. Sorry tem algo do lado mais pop e pós-disco do Daft Punk diluído, num clima tecno e pop, que não necessariamente é tecnopop. Leaves tem algo de jazzístico tanto quanto tem algo de soul e disco.

Um detalhe de Loved é que as músicas, mesmo as mais trabalhadas, seguem um clima de total casualidade – às vezes parece que invadimos o estúdio onde os Parcels ensaiam e compõem, e não deve ser por acaso que os títulos surgem sem espaços, como em working titles de canções. Esse despojamento rola no balanço tranquilo de Everybodyelse e no clima contemplativo e romântico de Iwanttobeyourlightagain, que fecha o disco deixando a impressão de um ensaio estendido que valeu e virou música.

Além disso, vocais lembrando Bee Gees, Earth, Wind & Fire e até Beatles surgem na onda disco de Summerinlove, Leaveyourlove, Thinkaboutit e Finallyover – essa, com um andamento que lembra Let’s get it on, sucesso de Marvin Gaye. Pop bem feito, sofisticado, vintage e (muito) desencanado.

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Crítica

Ouvimos: Sorry – “Cosplay”

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Sorry faz de Cosplay um jogo pop de citações, referências e ruídos, misturando pós-punk, baladas tensas e homenagens irônicas ao passado.

RESENHA: Sorry faz de Cosplay um jogo pop de citações, referências e ruídos, misturando pós-punk, baladas tensas e homenagens irônicas ao passado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Domino
Lançamento: 7 de novembro de 2025

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O Sorry, banda londrina liderada pela dupla Asha Lorenz e Louis O’Bryen, recentemente soltou uma frase lapidar a respeito de como rola a transa entre as pessoas e a cultura pop nos dias de hoje: “Nós simplesmente usamos coisas do passado porque são a única coisa à qual nos agarramos. Estamos todos fazendo cosplay de algo que não existe”, afirmam.

Traduzindo: há alguns anos, o saudoso Isaac Hayes criticava o rap dizendo que de tanto samplear, os artistas iriam acabar sampleando os próprios samplers. É exatamente isso que rola hoje com a febre de IA, ou com o reenvelopamento de coisas antigas (já existe newsletter há trocentos anos e só agora virou mania). Rola também com a febre de remakes. Afinal, se “novela é tudo igual”, como dizem os detratores, nada melhor do que pegar uma história que já deu certo e criar em cima – mesmo com o risco de estragar o original.

Vai daí que o Sorry decidiu brincar com isso em seu terceiro álbum, Cosplay – a dupla diz ter “morrido” ao começar a compor para o disco, e o release zoa a possibilidade de uma turma nova ter ocupado os lugares deles, tipo o sósia que ficou no lugar do “falecido” Paul McCartney nos Beatles. As referências que vão surgindo em letras e músicas são enfiadas nas canções da mesma forma que o Oasis fazia com as músicas dos Beatles – tipo Noel Gallagher (Oasis) fazendo uma música chamada Wonderwall sem admitir que a inspiração veio do álbum Wonderwall music, de George Harrison (1968) ou sapecando uma outra canção chamada It’s getting better now.

  • Ouvimos: Piri & Tommy – Magic (EP)

Algumas dessas referências ganham crédito: a balada introvertida e explosiva Antelope, candidamente cantada por Asha, fala que “existe uma arte em te amar / aprendo algo novo a cada um ou dois anos / agora que se espalha mais rápido do que a velocidade com que falamos / como a bala de canhão na música do Dylan”. A não ser que você tenha todo o repertório de Bob Dylan na ponta da língua, provavelmente vai se sentir tentado/tentada a procurar no Google. Provavelmente é a bala de canhão que voa em Blowin’ in the wind, embora tenha também a gravação que ele fez do tema tradicional Dink’s song, que fala de alguém que “movia seu corpo como uma bala de canhão”.

Bom, vale dizer que a letra fala também que existe “uma lua assassina” (“killing moon”, no original). A balada Candle, que consegue ter algo ao mesmo tempo de Garbage e de Cranberries – margeando o clima tenso das duas bandas – evoca fragilidade falando em “sou apenas uma vela ao vento” (epa, Elton John passou aqui?). Jetplane, punk sombrio herdado de The Cure e das guitarras em desalinho da no wave, tem um sample de Hot freaks, do Guided By Voices. Mais: para fazer o refrão do ótimo trip hop Waxwing, o Sorry achou que seria uma excelente ideia homenagear o hit único da coreógrafa Toni Basil, Mickey, de 1982. Ficou… pitoresco, vamos dizer.

Na maior parte do tempo, Cosplay mostra o Sorry não muito irmanamente dividido entre canções sombrias e sons com herança pós-punk. Estes últimos governam músicas como Echoes (som lindo e gélido, com algo de Garbage e vocal despedaçado), Jetplane, o alt pop fantasmagórico de Love posture. Today might be the hit é um rock com cara punk, guitarras distorcidas e clima ligeiramente beatle – na real, tem tanto de Beatles quanto de Siouxsie and The Banshees – e cuja letra é uma espécie de mantra irônico das (im) possibilidades: “hoje pode ser o dia do sucesso / ou pode ser um dia péssimo / yada-yada-yada-ya / nada vai me incomodar mais”.

Por outro lado, tem a elegância ruidosa de Magic, as estranhas sombras de Into the dark (cuja letra faz uma referência pra lá de “que porra é essa?” ao dramaturgo japonês Yukio Mishima) e a balada violeira Life in this body, música em que o amor e os relacionamentos se transformam numa perigosa despersonalização. No final, Jive, música que abre tão sussurrada que até as guitarras e a bateria parecem sussurrar junto – e ganha depois um clima ruidoso e sexy. Cosplay parece um jogo de tabuleiro em formato de disco, cheio de pedrinhas, labirintos e “volte três casas”.

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Ouvimos: Guided By Voices – “Thick rich and delicious”

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Guided By Voices revisita demos antigas e aposta em algo próximo do power pop em Thick rich and delicious, disco de 15 faixas que destaca o talento melódico de Robert Pollard.

RESENHA: Guided By Voices revisita demos antigas e aposta em algo próximo do power pop em Thick rich and delicious, disco de 15 faixas que destaca o talento melódico de Robert Pollard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Guided By Voices Inc
Lançamento: 31 de outubro de 2025

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O que você mais vai achar na internet, provavelmente, são definições para o som do Guided By Voices, grupo criado há heroicos 42 anos pelo músico norte-americano Robert Pollard. A Wikipedia arrisca quatro: lo-fi, indie rock, slacker rock e garage rock, e todas fazem sentido. Power pop, heartland rock e até grunge e guitar rock também já foram citadas por aí – algumas dessas definições foram usadas até mesmo por este crítico musical que vos fala.

Pode ser que – e isso por culpa da própria crítica musical e do mercado fonográfico – muita gente tenha desaprendido a ouvir rock sem rotular o que está ouvindo. Aquela coisa de “isso é rock” sem que imediamente a música tenha que fazer parte de algum nicho ou ramificação, tipo shoegaze, guitar rock, punk, pós-hardcore, pós-punk ou coisas do tipo. Isso porque, no geral, o Guided By Voices, mesmo sendo na prática uma banda punk, indie-rock, independentaça, talvez seja um raro caso de grupo que segue cada vez mais próximo da nomenclatura “rock”, puramente falando.

  • Ouvimos: White Lies – Night light
  • Mais Guided By Voices no Pop Fantasma aqui.

No geral, o GBV faz som de guitarras, bastante referenciado em The Who, e com a mesma noção pé-fincado-na-terra, de heroi do rock, que dá sentido à existência de Bruce Springsteen. Com uma média de três discos lançados por ano, e basicamente centrados na figura de Pollard como compositor, tinham tudo para ser uma banda repetitiva – o diabo é que até quando eles se repetem, conseguem fazer discos excelentes, porque é uma repetição que você vai querer ouvir de novo.

Thick rich and delicious, que já é o 42º (!) álbum do grupo – e o segundo lançado em 2025 – explora o passado do Guided By Voices, com músicas novas misturando-se a canções que estavam perdidas em demos havia vários anos. Por acaso, é um dos discos recentes mais associáveis com os momentos mais power pop do grupo, como na fase em que gravaram dois discos pelo selo TVT (e deram uma estourada na maconhística Glad girls).

Babies and gentlemen, (You can’t go back to) Oxford Talawanda, Our man Syracuse, A. Glum Swoboda (canção de clima mod e sixties) e Phantasmagoric upstarts unem melodias bacanas com peso e agilidade que lembra bandas como The Who, The Cars e Replacements. Robert ainda impõe clima mágico ao punk de ataque Lucy’s world e à tristeza selvagem de Mother John – esta, soando como alguém tentando recobrar a sanidade sozinho no quarto. Há também um lado beatle em A tribute to beatle Bob e na punk e épica Captain Kangaroo won the war.

Com 15 músicas, algumas delas bem curtas, Thick rich and delicious pode parecer um disco esquisito e até pouco comercial. O irônico é que, dos álbuns mais recentes do GBV, é o disco em que mais dá para enxergar Pollard como um grande criador de melodias.

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