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Cultura Pop

O músico que saiu do Fleetwood Mac para entrar num culto religioso

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O músico que saiu do Fleetwood Mac para entrar num culto religioso

,Em 2005, o jornal The Guardian foi bater um papo com uma banda absolutamente desconhecida, mas cheia de histórias meio bizarras. The Jinxt (algo como “os azarados”) era uma banda britânica, formada por três irmãos, Nat, Ben e Jez, e mais uma meia-irmã, Tally.

Um detalhe básico provocava o interesse do periódico nessa turma. O nome que une essa galera toda é ninguém menos que Jeremy Spencer, guitarrista da primeira fase do Fleetwood Ma, pai do trio de irmãos – e que foi casado em segundas núpcias com a mãe de Tally, Fiona. Jeremy tinha saído abruptamente do Fleetwood Mac em 1971, quando afirmou que estava saindo para “comprar uma revista” e nunca mais voltou.

O grupo, já despedaçado pela saída de outro membro importante, Peter Green, foi procurar por Jeremy. Para espanto geral, descobriram que ele saíra da banda e já estava envolvido com um grupo religioso chamado Meninos de Deus.

>>> Várias coisas que você já sabia sobre Tango in the night, do Fleetwood Mac

Quem quiser saber sobre o que é essa religião, encontra vasto material na internet. O grupo havia sido criado em 1968 pelo ex-pastor David Berg em Huntington Beach, Califórnia, e era um dos vários cultos conhecidos nos EUA que misturavam a palavra de Cristo (ou de qualquer outro messias) a pregações hippies, e conversas “de jovem para jovem”. Não por acaso, em 1971 saiu um documentário que trazia entrevistas com integrantes da seita, cujo nome era… The Jesus trip.

Há um monte de histórias bem cabeludas envolvendo a religião, incluindo papos sobre abusos de crianças. Ou histórias sobre integrantes mulheres que atraíam garotos para o culto usando sexo casual como arma. De 1995 para cá, a seita fez o que pôde para mudar de cara: criou um estatuto, passou a denunciar abusadores e a colaborar com investigações policiais. Na época, o culto já mudara o nome para The Family e, desde 2004, é The Family International.

O filhos e a enteada de Jeremy, no tal papo com o The Guardian, contam histórias meio escabrosas do relacionamento com o pai. Todos foram separados dos pais quando adolescentes e enviados para outros países (segundo eles, era uma prática da seita, para que a “família” crescesse). Também relatam que durante um belo dum tempo, os Meninos de Deus mudavam os nomes dos adolescentes conforme estivessem passando por alguma fase. Um garoto que precisasse aprender a pescar mudava o nome para Pedro, por exemplo.

>>> Veja também no POP FANTASMA: A fase casa-da-sogra do Fleetwood Mac (1969-1974) em nove músicas

Um detalhe curioso é que uma das “crianças” de Jeremy chegou a morar com ele… no Brasil. Sim, porque numa das “missões” dos Meninos de Deus, Jeremy esteve morando por aqui durante alguns anos e chegou a fazer parte até mesmo de um grupo musical ligado à seita, que cantava músicas em português e lotou shows até mesmo no Maracanã. Essa operação nativa da religião ganhou uma boa reportagem da Trip certa vez.

Buscando em jornais antigos, dá para achar tijolinhos de shows dos Meninos de Deus anunciados como “grupo liderado por Jeremy Spencer”. O guitarrista inicial do Fleetwood Mac também fez aparições especiais nos dois LPs do grupo lançados em 1974 e 1976 pela Polydor nacional – ambos tiveram arranjos de nomes como Luiz Claudio Ramos (hoje violonista de Chico Buarque) e participações de integrantes do Azymuth. Jeremy também foi a programas de TV por aqui com a galera.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Aquela vez em que Keith Olsen mudou o som do Fleetwood Mac

Só que as investigações que rolavam contra a seita lá fora, chegaram aqui no Brasil. Aliás, com direito a Flavio Cavalcanti, campeão de audiência na época, chamando a trupe de “os meninos do diabo”, com o dedo em riste. O assunto popularizou-se rapidamente e passou a interessar até mesmo cronistas. José Carlos Oliveira, no Jornal do Brasil, em 1976, chamou os Meninos de Deus de “hippies de banho tomado e penteado de recruta” e se perguntou: “Não seriam eles a prova viva de que até mesmo nossos pivetes entraram finalmente na ordem democrática?”.

Jeremy Spencer, por sinal, continua na religião até hoje. O músico, aliás chegou a ser acusado de abuso de menores quando começaram a surgir acusações pesadas sobre os Meninos de Deus. Negou tudo, alegando que nunca teve papel de liderança na seita, embora tenha havido um número significativo de denúncias – significativo a ponto de atrapalhar o crowdfunding de uma turnê dele, há alguns anos. Em entrevistas recentes, ele reconhece que não largou o Fleetwood Mac de forma muito bonita, mas que “tinha dúvidas sobre a vida, morte, amor, meu futuro, deus”.

Foto: W.W. Thaler/Wikimedia Commons

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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