Cultura Pop
Dez fatos sobre os Beach Boys em 1967

Tem muitos motivos para você, mesmo nessa época de crise, gastar uma grana importando o CD duplo 1967 – Sunshine tomorrow, dos Beach Boys. Vale dizer que, na verdade, não é das coisas mais caras do mundo (são apenas US$ 15,99, o que dá uns R$ 50). Aliás, se você for assinante de algum sistema de streaming e quiser dispensar a compra do CD, vale a pena passar algumas horas escutando com atenção todo o material, que revaloriza um dos melhores álbuns dos Beach Boys, o pós-psicodélico Wild honey, de 1967, de clássicos como Darlin‘ e a faixa-título – esta, lembrando um The Doors ensolarado, se é que isso é possível.
Sunshine traz o álbum em estéreo, mais outtakes dele e do disco anterior, Smiley smile (que trazia o que o líder Brian Wilson concordou em lançar do projeto Smile, abortado até aquele momento) e mais gravações de shows. Tudo indispensável para fãs da banda e de rock dos anos 1960.
Você com certeza está se perguntando: “Peraí, isso tudo coube em dois CDs?”. Coube com folga. Smiley smile (setembro de 1967) e Wild honey (dezembro de 1967) já haviam sido lançados em CD numa edição dupla histórica, em 1990, que ainda tinha faixas bônus. Numa época em que as bandas começavam a explorar os limites dos formatos “álbum” e “canção”, os Beach Boys continuavam “convencionais”: o primeiro disco tem 27 minutos, o segundo tem 23 (!) e as músicas são bem curtas.
E se você ficou animado para pelo menos procurar as músicas do CD duplo pra ouvir, pega aí dez infos sobre essa fase dos Beach Boys – tiradas direto das liner notes (escritas pelo biógrafo Mark Linett) do tal CD com Smiley Smiley e Wild honey, lançado em 1990.
DÁ PRA PIORAR? O disco Smile, que gerou Smiley smile, deveria ter sido o lançamento de Natal dos Beach Boys em 1966. Não foi. Começou 1967 e Brian Wilson, obcecado com o disco e deixando os tapes pegarem poeira, estava brigado com praticamente todos os seus colaboradores: os outros Beach Boys, o letrista Van Dyke Parks (parceiro em músicas como Heroes and villains), o executivo Michael Anderle (que cuidava do selo da banda, Brother Records). Em março de 1967, os Beach Boys decidiram processar a Capitol, gravadora original do grupo, por royalties. Piorou um pouco.
SIM, DÁ. Smile acabou sendo abandonado, sem término, por esgotamento criativo de seu principal artífice (Brian) coincidentemente três semanas antes do lançamento de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, clássico dos Beatles que acabou se tornando “o” disco-líder da psicodelia na época e modelo de revolução sonora para qualquer outro disco.
TENTANDO CONSERTAR. Smiley smile – com parte do repertório de Smile, mais o single Good vibrations – chegou ao 41º posto da Billboard. O disco ficou totalmente perdido em meio aos acontecimentos de 1967, numa época em que os Beach Boys pareciam ultrapassados em relação aos Beatles. A crítica falou mal (jornalistas haviam ido em romaria ao estúdio de Brian Wilson, meses antes, para conferir o que já estava mais ou menos encaminhado de Smile, o que acabou sendo péssimo negócio para a própria banda), os fãs ficaram decepcionados.
O “sonho americano” do grupo, lá do Sul da Califórnia, estava em baixa e era tido como música da velha guarda – em compensação, a turma do Norte do estado, bem mais doidona, lisérgica e dada a manifestos (Grateful Dead, em especial) chegava à toda. Brian Johnston, um dos Beach Boys, chegou a falar que a banda era vista como nada mais que “Doris Days do surfe”.
FICARAM DE FORA. Os Beach Boys acabaram cancelando sua participação no festival de Monterey, realizado de 16 a 18 de junho de 1967 – ainda que Brian Wilson fosse um dos caciques do evento. Sem nada para apresentar, acabaram achando que o material antigo não levantaria a plateia (e Brian estava sem tocar ao vivo com a banda fazia tempo).
FICOU DE FORA. Outro problema que impediu a apresentação da banda veio do fato de Carl Wilson ter se recusado a se alistar no exército por causa da guerra do Vietnã. O músico ainda deu entrevistas se dizendo um “formador de opinião”. Passou longe.
RAPIDINHO. Smiley smile não agradou, ok. A banda preferiu nem lamber as próprias feridas: se meteu no estúdio para fazer um disco “simples” e conciso, que em nada lembrasse Smile, Smiley smile ou coisa parecida. Wild honey foi gravado em dois meses, não teve contribuições de parceiros de fora e teve todo o material composto por Brian Wilson e Mike Love, à exceção de How she boogalooed it (de todos da banda, menos Brian e Dennis Wilson) e I was made to love her (regravação de Stevie Wonder). A produção, como já acontecera em Smiley smile, foi creditada à banda – depois do aborto de Smile, Brian já nem ousava mais assinar os serviços sozinho.
https://www.youtube.com/watch?v=cpTnLK5mxu4
SEM CONVIDADOS MESMO. Os Beach Boys, mesmo sendo uma seção de baixo-guitarra-bateria-vocais-teclados, costumavam usar músicos de estúdio nos discos. Isso quando Brian Wilson não se enchia com a falta de técnica dos irmãos e agregados, e ele mesmo tocava tudo. Em Wild honey, pela primeira vez desde 1963, a própria banda tocou todos os instrumentos num disco. Carl Wilson, a pedido do próprio Brian, comandou boa parte do trabalho.
BAIXA FIDELIDADE. Wild honey é tido como um disco de (vá lá) lo-fi, baixa fidelidade. Gravação feita às pressas, mixagem simples, arranjos sem muitos floreios, nada que complicasse a vida dos técnicos, da banda, nem dos ouvintes. A crítica não entendeu da mesma maneira e (numa época em que cordas, metais e zoações de estúdio eram o padrão) não aprovou o disco. O LP saiu pela Capitol, não pelo selo criado pelo grupo, Brother Records, o que já gerou suspeitas de que a banda estava decadente.
NÃO DEU. Wild honey tinha músicas excelentes mas não melhorou a vida dos Beach Boys – o disco teve vendagens ruins e ficou só 15 semanas nas paradas. Depois sumiu.
E MAIS. Há rumores de que, após Smiley smile, a Capitol pôs Brian Wilson contra a parede e mandou que ele terminasse Smile de qualquer jeito – coisa que ele só faria na década passada, como se sabe. Nos catálogos da gravadora, Smiley smile era número Brother 9001 e Wild honey deveria sair como Brother 9003. O que seria o 9002 só Deus sabe.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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