Cultura Pop
Billion Dollar Babies: a banda de Alice Cooper sem ele nos vocais

Já falamos milhares de vezes mas não custa lembrar: até o disco Muscle of love (1973), Alice Cooper era uma banda, não um artista solo. Era um grupo liderado por um cantor chamado Alice Cooper, que tinha na formação Glen Buxton (guitarra), Michael Bruce (guitarra base e teclados), Dennis Dunaway (baixo) e Neal Smith (bateria).
Ocorre que essa turma começou a se desentender e a pegar pesado nas drogas. Alice, em especial, se dizia no meio de “um coma da Seagram’s” e começava a ter questões a respeito de onde terminava o cidadão Vincent Furnier (seu nome verdadeiro) e onde iniciava o personagem Alice Cooper, no melhor estilo Edson e Pelé.
A formação deu um tempo para todo mundo se concentrar em projetos pessoais. Mas longe da marca da banda, todo mundo passava dificuldades. Michael Bruce, por exemplo, lançou um disco solo, In my own way (1975), sem muita repercussão. O batera Smith gravou Platinum god, que ficou engavetado até 1999. Enquanto esperava pelas decisões da banda e já imaginava que o vocalista se lançaria sem os colegas, a Warner não perdeu tempo e soltou um Greatest hits do cantor.
Alice arrumou tempo para participar de um musical sequelado, Flash Fearless, enquanto se mantinha como um dos membros mais ativos dos Hollywood Vampires – a galera que incluía nomes como Keith Moon e John Bonham e ocupava uma sala secreta no Rainbow Bar, em Los Angeles, só para encher a cara em excesso. Como era bastante comum de acontecer numa década cheia de novidades como os anos 1970, Alice começava a se assustar com as novidades: assombrava-se com o fato do Kiss (que considerava como “quatro Alice Coopers”) estar ganhando público e se amedrontava com Diamond dogs, de David Bowie.
E aí, aconteceu que Alice se separou da própria banda, mas continuou com o nome e gravou Welcome to my nightmare, em 1975. Creditado, como acontecia com todos os outros, a Alice Cooper, é seu primeiro disco solo de verdade, gravado com músicos contratados. Conceitual, o disco era parte de um projeto multimídia que incluía turnê, especial de TV e mais truques de palco, com a ideia de deixar Kiss, David Bowie e quem mais aparecesse lá para trás.
Bruce, que vinha trabalhando com os colegas num “disco de despedida” da banda, se lembra de ter descoberto que não estava mais nos planos de Alice quando foi a um ensaio e viu outros músicos no lugar da banda. Alice, por sua vez, diz que nunca despediu os colegas e que todos foram buscando caminhos que não tinham nada a ver com o projeto original do grupo. Seja como for, se Alice passou a se apresentar sem seus ex-colegas, a Alice Cooper Band, desprovida de seu cantor (e sem o guitarrista Glen Buxton, que andava passando maus bocados com as drogas) passou a se chamar Billion Dollar Babies, mesmo nome do disco de mais sucesso de Alice Cooper (1973)
Essa formação trazia Michael Bruce (voz e guitarra), Neal Smith (bateria) e Dennis Dunaway (baixo) ao lado de Mike Marconi (guitarra) e Bob Dolan (tecladista que tocou em alguns dos últimos shows da Alice Cooper Band). O grupo conseguiu um contrato com a Polydor e lançou um disco mais voltado para o lado hard rock da Alice Cooper Band, Battle axe, em 1977.
A demo do BDB chegou a ser apresentada a Warner, diga-se de passagem – a gravadora desprezou o material assim que o ouviu. Já assinados com a Polydor, lançaram o disco e os problemas pipocaram. Ou melhor, o vinil Battle axe pipocou nos toca-discos de muita gente – mais aproximadamente a faixa Too young, mixada com volume lá no alto.
A mixagem, por sinal, acabou tomando mais tempo que o normal, desanimou a banda e, uma vez nas lojas, Battle axe estacionou nas vendas. Nos shows, a banda gastou uma baita grana para recorrer aos mesmos truques cênicos dos shows da Alice Cooper Band. Os aparantes incluíam guitarras parecidas com martelo de gladiador para Bruce e Marconi (além de uma “luta” em pleno palco), e bateria “voadora” para Michael Bruce. Só que as trocas de empresários, o sumiço dos fãs da época de Alice Cooper e a aporrinhação geral (além, claro, de certa megalomania na hora de escolher o equipamento de palco) acabaram tirando o foco da banda, que só fez quatro shows. O Billion Dollar Babies acabou aí e todos foram fazer outros trabalhos.
Discute-se até hoje (brincadeira, eu que discuto) porque é que, em pleno 1977, o grupo não preferiu adotar o despojamento do punk – que nasceu do próprio som de Alice Cooper, em discos como School’s out (1972) e o próprio Billion dollar babies. De qualquer jeito, Battle axe foi recordado não faz nem muito tempo num CD triplo, que inclui o LP original, um disco de demos e a gravação do primeiro show da banda, no Michigan, em 1977. Uma nova chance para a redescoberta.
Veja também no POP FANTASMA:
– Flash Fearless: Alice Cooper e The Who numa ópera-rock da qual ninguém lembra
– Aquela vez em que Alice Cooper fez um tema para James Bond
– Em 1974: Alice Cooper, o filme
– A balada de Dwight Frye, ator de terror
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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