Lançamentos
Barroca: cyberpunk rural e interiorano no single “Fogo fátuo”

Pedro Barroca, mais conhecido pelo sobrenome, e que acaba de lançar o single Fogo fátuo, já passou por projetos bastante variados. Entre eles o Limbotrônico, que ele levou adiante no período em que morou em Buenos Aires, gravou cerca de 35 faixas espalhadas em sete EPs, e é definido por ele como “um elogio ao precário, à baixa definição e ao ruído”. Passou também pela banda pop-experimental Lepipedo, cujas gravações sumiram da internet por causa de plataformas musicais que foram descontinuadas, e pelo grupo indie-rock The Bad Joke, montado também quando ele viveu na Argentina, e que contava também com músicos do Equador e da Colômbia.
O Barroca, seu projeto solo, surgiu de um projeto recente dele, o show Meus inimigos sempre têm uma segunda chance, realizado em 2018 em São Carlos (SP), numa parceria de Pedro Barroca (guitarra e vozes) com Brunno Fsc (poemas e performances) e Mateus Paludetti, o Palú (produção, synths, guitarras e vozes). A ideia era “abordar temas, imagens e histórias do ambiente rural com uma inspiração cibernética distópica, uma espécie de “cyberpunk rural”.
Fogo fátuo, que sai pelo selo Interior Ressonante, de Descalvado (SP), veio justamente disso. A canção, que mistura ritmos brasileiros e temática de lendas brasileiras, “nasceu com uns acordes de violão, secos, mas desde o começo eu sabia que era uma música de sintetizadores. Um tempo depois, encontrei o Palu, e foi aí que a mágica aconteceu”, explica Barroca. “O single foi gravado todo durante a pandemia, o Palu na casa dele refinando e retrabalhando as bases e eu aqui repensando algumas guitarras e gravando tudo com i-rig pelo celular. Vale destacar aqui também a parceria do Fernando Parré que tocou e gravou as alfaias”, complementa.
A canção já ganhou até um mix eletrônico produzido pelo DJ Neuroniohm, que já saiu na coletânea Kick bass Brazil vol. 6, com vários outros artistas, lançada pelo selo Elevation Records. “A ideia com essa música é preparar o terreno para alguns outros sons que estão para sair, flertando tanto com a música eletrônica como com a música indie”, comenta Pedro.
Crítica
Ouvimos: Clara Lima – “As ruas sabem”

RESENHA: Clara Lima entrega frases afiadas e boombap clássico em As ruas sabem, disco sobre corre, fé e vivência das ruas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 de julho de 2025
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Rapper vinda de Belo Horizonte, Clara Lima é ótima de frases: “queria que toda essa neurose fosse grana na minha conta”, “meu bairro me ensinou que você não pode abraçar o errado”, “onde tava escrito que você podia sonhar?” “se alguma mãe vai chorar, não vai ser a minha nem fodendo”. O repertório de As ruas sabem, seu sétimo álbum, é pura luta do dia a dia e vivência das ruas. O batidão do disco, por sua vez, surge ligado à onda clássica do boombap, mesmo quando flerta com estilos como r&b e com vibes latinas, ou com batidas mais lentas.
Trilhado no corredor da batalha, As ruas sabem já abre com Bom dia, que traz a gravação de um telefonema de banco (“sou Daniela do banco x / queremos oferecer um acordo de parcelamento da sua dívida”) – seguindo com a batida lenta de Tabuleiro e com o vocal rápido e grave de PHD, faixa sobre procedimentos e cobranças da vida, e sobre maturidade (“nada passa batido, a cobrança vai chegar / adestrei os demônios e aguardo a poeira baixar”). Nível profissional traz lembranças de injustiças e desigualdades da vida, falando da sorte de quem já sai de casa no privilégio.
- Ouvimos: Stefanie – Bunmi
As ruas sabem vai crescendo no ouvido de modo bem diferente dos vários discos de rap atuais – por acaso, uma característica que Clara divide com outro rapper mineiro, FBC, em seu recente Assaltos & batidas. Letras como a do rap gospel Praticando a fé e ganham um ar de manual do corre, mais até do que de relatório sobre inimigos e vacilões do meio artístico. O mesmo rola nos planos infalíveis de Corda bamba, na visão atualizada da fama em Um brinde aos reais e nos perrengues da pixação de Tinta na mão: “Fuga na viatura / sem medo de altura (…) / letreiro do submundo / doença sem cura / dos gueto oriundo”, emendando com: “foda-se seu discurso barato / foda-se seu bolsonazi”.
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Crítica
Ouvimos: Deekapz – “Deekapz FM”

RESENHA: Em Deekapz FM, a dupla Deekapz transforma o rádio em pista de dança e memória afetiva, misturando funk, pop, drum’n’bass e emoção.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.
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Projeto criado pela dupla Paulo Vitor e Matheus Henrique, produtores de música eletrônica, o Deekapz decidiu se transformar numa rádio em seu disco de estreia. Deekapz FM surgiu em nossos ouvidos bem na hora em que se noticia o fim da rede Transamérica. E o rádio, como memória afetiva do lançamento de músicas, e da descoberta de sons novos, recebe um baita golpe.
Paulo e Matheus não estão apenas lançando um disco, na real: estão prestando uma homenagem ao rádio e a toda a sua importância histórica – sem falar nas suas possibilidades, que nem de longe são cobertas pelas playlists e pelas plataformas de música. A faixa inicial, Dance, é uma dance music com narração e vinhetas, participação da Fat Family e anúncio da lista variada de convidados do álbum.
- Ouvimos: Cyberkills – Dedo no cue
Fica claro que Deekapz FM não tem apenas música. Tem companhia e curadoria, seguindo inicialmente com o funk sacana de Maui em Vem comigo, com a drum n bossa de Criolo, DJ Marky e Makoto em Onde anda o meu amor – com referência à música homônima de Orlandivo – e com o som dançante e autotunado de Luccas Carlos em Eu te entendo. Deekapz FM é também uma soma de tendências musicais, que seguem atrás da outra, como num daqueles programas de “festa pronta” que tocam no rádio no fim de semana à noite.
Num conceito de “comandar o melhor do que faz o seu corpo balançar” (como diz uma das vinhetas do álbum), Deekapz FM segue com o pop romântico de Kaike em Detalha, o samba drum n bass solar e desconcertante de Riscos (apresentando a boa voz de Bibi Caetano), o clima indie pop de Gab Ferreira (em Manias disfuncionais), a musicalidade do Tuyo (na celestial Repara), as ótimas participações de Urias e da rapper mineira Clara Lima – a primeira, ao lado de Maffalda no club-pop Bafora, a segunda na ousada e sombria Nóis é o trem, seguida pelo batidão de Nego Bala em Ego.
Ouvindo Deekapz FM você pode até trocar as bolas e achar realmente que está ouvindo rádio – inclusive porque tem uma “hora dos comerciais” no disco. Faz parte da viagem.
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Crítica
Ouvimos: Funmilayo Afrobeat Orquestra – “De ponta a ponta” (EP)

RESENHA: Funmilayo Afrobeat Orquestra mistura afrobeat, jazz e reggae em um EP que reflete São Paulo e o ser negro.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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“Como pessoas negras, perguntamos sempre: quais são nossos desafios? Como é ser de axé numa cidade de concreto?”, perguntam-se as integrantes da Funmilayo Afrobeat Orquestra, noneto feminino que une estilos como reggae, rock, jazz e soul ao afrobeat, e que faz do EP De ponta e ponta um produto não apenas musical, mas também social e existencial.
- Ouvimos: Naïf – Trópicos úmidos (EP)
O beat leve e os metais da faixa de abertura, A cidade é um espelho, descortinam um mergulho na obra de Itamar Assumpção, e uma letra que fala sobre amar e odiar São Paulo ao mesmo tempo – e sofrer para se enxergar numa metrópole competitiva. O encanto e a maquinaria abre com ótimos riffs de teclado, e com metais cheio de vivacidade, que valem por vocais bem dirigidos. Até que surge a letra, inspirada pelos desastres ambientais de São Paulo e pela desigualdade social descortinada por eles.
Já a quase faixa-tíulo (Ponta a ponta, sem o “de”), com sete minutos, une afrobeat, jazz e Nordeste para falar sobre missões diárias das quais não se desiste, mesmo com as dificuldades, com o racismo e com a distância dos grandes centros. Música, documento e afirmação lado a lado.
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