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Cultura Pop

Anitta, música pop periférica, clipes e tretas em pesquisa acadêmica que virou livro

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Um livro que leva o termo treta em definitivo para a pesquisa acadêmica, e que discute a cultura pop da periferia, as viralizações, a importância dos clipes, do YouTube e da música divulgada digitalmente em geral, o poder de Anitta e de Kondzilla, entre vários outros temas. Música Pop-Periférica Brasileira: videoclipes, performances e tretas na cultura digital, livro de Simone Pereira de Sá (Ed. Appris), professora do departamento de Estudos Culturais de MídIa da Universidade Federal Fluminense (UFF), veio de pesquisas desenvolvidas há duas décadas, e que já passaram por temas como cultura pop, fãs, audiovisualidades digitais e até Carmen Miranda (tema de um outro livro dela, Baiana internacional: as mediações culturais de Carmen Miranda).

Simone Pereira de Sá – Foto: Tatyane Larrubia

Simone bateu um papo com a gente sobre o livro e sobre os temas de pesquisa de Música Pop-Periférica Brasileira. O livro pode ser comprado no site da editora, mas as vendas dos livros de Simone Pereira de Sá comprados diretamente com a autora terão a renda revertida para o projeto Mães da Favela, da Central Única de Favelas (CUFA). Só falar com ela em livromusicapopperiferica @ gmail.com.

Como surgiu a ideia de pesquisar a música pop periférica? Aliás, como foi trabalhar o tema numa época em que as noções de “periferia”, para a indústria cultural, estão completamente modificadas, já que antes havia quase um rótulo de “música da periferia”, “cultura da periferia”, que foi se perdendo com o tempo?

Primeiramente, é importante explicar o rótulo de música periférica. Pois, em nenhum momento, eu gostaria de “essencializar” esta noção de periferia ou de fazer uma oposição entre periferia e centros globais. Assim, quando uso a noção, é para me referir a gêneros que têm origem nas favelas e periferias das grandes cidades (como o funk, por exemplo). Mas, ao falar de “pop periférico”, quero enfatizar o movimento dessas músicas, que por meio da internet, saem de seus ambientes de origem e alcançam outros públicos, principalmente através dos videoclipes postados no YouTube.

Sobre a ideia da pesquisa… desde meu Doutorado na ECO/UFRJ, onde pesquisei sobre a trajetória da atriz e cantora Carmen Miranda, tenho interesse por pensar a música brasileira a partir de artistas com visibilidade “pop” e mainstream. Depois de Carmen, já como professora da UFF, testemunhei a reconfiguração do mercado musical a partir do ambiente digital e comecei a pesquisar o assunto. Portanto, esta temática – cultura digital e música brasileira – tem sido o foco de minhas pesquisas há duas décadas.

Anitta e sua obra ganham três capítulos no livro. Como foi levar a música feita por ela para o ambiente acadêmico?

Com muito orgulho, faço parte da geração que trouxe estas temáticas da música, cultura pop, funk e outros temas afins para a Universidade. A gente vem apresentando a relevância de pensar o Brasil a partir destas expressões populares há bastante tempo. Acredito que a cultura pop é o coração onde se travam as principais batalhas políticas e estéticas da atualidade e por isso, acho importante que estes temas sejam discutidos na Universidade. Mas, tenho a sorte de ser docente no curso de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense e de seu Programa de Pós-Graduação em Comunicação, espaços pioneiros na abordagem destas questões.

Pesquisando os gêneros musicais que estudou para o livro, teve alguma descoberta nova que te deixou bastante espantada? Algum gênero superfamoso que você não havia conhecido ainda?

Sim, vários. Naquele momento que comecei a pesquisa, acompanhei a explosão do funk ostentação e “descobri” a cena paulistana formada em torno da Kondzilla por nomes como Mc Guimê e outros. Também tem a cena do brega recifense, a cena do funk em Minas Gerais, em especial em Juiz de Fora… Além disso, por volta de 2010, eu não conhecia nomes tais como Wesley Safadão; e passei a conhecer mais a fundo as artistas da cena do feminejo através da pesquisa.

O livro Eu não sou cachorro não, do Paulo César de Araújo, faz 20 anos ano que vem. Como você vê a mudança que ele provocou na noção de música “de bom gosto”, já que a música que a crítica gostava era sempre a que cabia numa definição mais cool de MPB?

Acho que o livro de Paulo Cesar é um marco na discussão, por duas razões. A primeira é insistir num fato óbvio, mas sempre esquecido, que é o de que a música verdadeiramente popular no Brasil – no sentido de admirada por diferentes segmentos socioeconômicos – é a música romântica e “brega”, e não a MPB, que circula no nicho mais restrito das camadas médias urbanas. O contexto ao qual ele se refere é o dos anos 70, mas essa afirmação pode ser estendida até os dias atuais e englobar a música que chamamos de pop-periférica.

A segunda é demonstrar que artistas desse segmento “brega” também foram censurados pela ditadura militar nos anos 70, por tocarem em temas “tabu” tais como sexo, prostituição etc. – trazendo complexidade e nuances ao argumento dos críticos que acusam estes gêneros de alienação.

Como você vê o papel do Caetano Veloso nessa transformação da maneira de ver a música periférica, já que ele sempre foi um cara voltado para esse tipo de resgate, seja cantando Vicente Celestino, Odair José ou Peninha, ou participando de disco da Anitta?

Caetano Veloso é genial e é uma dádiva estar viva ao mesmo tempo que ele e ter a sua música como uma das trilhas mais poderosas da minha vida, que me acompanha desde a adolescência. E, em termos de abertura para outros gêneros musicais, ele nunca deixou de ser tropicalista – ou seja, nunca teve preconceitos com nenhum gênero musical e dialogou com múltiplas referências, o que é maravilhoso.

Porém, ainda que seja muito importante esta “curadoria” que Caetano faz das músicas periféricas, acho que ela tem limites em termos do público que alcança. Um exemplo é a participação dele no álbum de Anitta. Acho que ela é importante para dar visibilidade para a Anitta no segmento que Caetano circula. Mas, para a crítica que tem preconceito com o funk, só vale ouvir “a versão do Caetano”, mas não a fonte – que seria a Anitta. E em termos dos fãs de Anitta, infelizmente Caetano parece agregar pouco valor ao trabalho dela – haja visto, por exemplo, que o clipe com o Caetano é um dos menos vistos do álbum.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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