Cultura Pop
ZZ Top: cobras, búfalos e abutres no palco (!) em turnê

Por turnês loucas dos anos 1970, todo mundo entende: groupies, drogas, farras, goró, overdose, equipamento roubado (acontecia muito), grana de cachê sumida (idem), mortes, armas, gente nervosa, etc. O ZZ Top, cujo baixista Dusty Hill despediu-se há poucos dias, levou isso a um patamar que…bom, difícil definir. Foi na turnê Worldwide Texas, em 1976, na qual levaram quase um zoológico inteiro para o palco e tiveram problemas que uma banda comum não teria.
ZZ Top's Worldwide Texas Tour 1976. Aerosmith and the superb Point Blank. pic.twitter.com/oahpnECrMg
— howardjohnson1@mac.com (@RockCandyMag) November 22, 2020
O tal giro servia para divulgar o álbum Tejas (1976), com várias referências ao estado norte-americano – até mesmo o palco foi construído no formato do mapa do estado. Para aumentar o efeito “entendeu ou quer que eu desenhe?”, a banda decidiu levar um pouco mais do Texas para o povo, e levou para o palco nada menos que um búfalo, um boi Longhorn, várias cascavéis venenosas, algumas tarântulas e seis abutres (todos eles chamados de Oscar).
Para conseguir realizar essa total insanidade com um mínimo de aporrinhação aos bichos, o grupo de Dusty Hill, Billy Gibbons e Frank Beard decidiu antes bater um papinho com um adestrador de animais, Ralph Fisher, que na época estava trabalhando como toureiro em rodeios. Fisher, que nunca nem tinha ouvido falar do ZZ Top, adquiriu os animais, montou um centro de treinamento, pôs luzes perto dos bichos, estourou fogos de artifício, colocou música alta… “Qualquer coisa para simular o que poderia acontecer em um show”, contou Fisher à Loudersound.
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O tal treinamento durou meses e, na estreia da tour, em 29 de maio de 1976 na Carolina do Norte, os bichos foram puxados por rampas. Gibbons e os colegas juram que tudo era acompanhado de perto por grupos de direitos dos animais – e de fato, a equipe gastou cerca de US$ 140.000 para manter os bichos em boas condições;. Era perigoso para os músicos também: se os abutres decidissem pular até onde os integrantes do ZZ Top estavam, com certeza daria merda e alguém poderia sair ferido.
Feels great to be screening #ZZTopFilm in our hometown this Thursday 9/12 at the legendary @TexasTheatre, #Dallas. Here's a shot from the Worldwide Texas Tour in 1977! Get your tickets now, folks! pic.twitter.com/4YHrg8Se8G
— ZZ Top (@ZZTop) September 10, 2019
Paralelamente, outras merdas aconteceram no meio da tour, como a ocasião em que o Aerosmith, abrindo uma das apresentações, quebrou tudo no camarim porque as toalhas da área deles eram de cor azul-clara (“nós pedimos azul-escuro”, reclamou o empresário). Nessa noite (que rolou no Three Rivers Stadium, em Pittsburgh) o público detestou o Aerosmith e provocou um chuva de latas e garrafas no palco, o que deixou vários feridos. Outro problema foi quando os cactos do palco começavam a murchar (para solucionar, a banda roubava cactos dos hotéis e substituía todos).
Aos trancos e barrancos, os espécimes humanos (como a turma do Aerosmith) causaram mais problemas durante a tour do que os animais. As cascavéis era consideradas as mais perigosas, e causavam irritação nos búfalos e bois – durante a turnê, elas não podiam ir no trailer de gado e seguiam com a equipe, numa caixa de ferramentas cheia de adesivos onde se lia “risco biológico”. Agora, em pior situação ficou mesmo foi o búfalo, durante um show em Fort Worth em 28 de novembro de 1976: o anel do focinho do animal foi arrancado, saiu (bastante) sangue, e ele foi direto para cima dos motoristas de limusines.
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Segundo um texto do site Cracked, em certa ocasião o animal, já bastante irritado com aquela animação toda, foi para cima dos tanques de cascavel. A equipe teve que lidar também com a época de hibernação das cascavéis e precisou deixar de fazer shows na Europa, Japão, Austrália e México por causa de restrições de quarentena para búfalos.
Se você quiser saber mais sobre essa turnê que, na boa, foi uma maluquice e uma irresponsabilidade (controlada) dos diabos (e que jamais aconteceria nos dias de hoje), tem aí imagens e entrevistas do ZZ Top falando sobre a tour, e da turma preparando palcos e descarregando animais. Dusty Hill e Billy Gibbons estão irreconhecíveis porque os dois músicos ainda não haviam adotado as barbas enormes. Ah, o giro do ZZ Top durou bastante: 29 de maio de 1976 a 31 de dezembro de 1977.
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Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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