Destaque
Velvert Turner: o único aluno de guitarra de Jimi Hendrix

Você provavelmente nunca ouviu falar de Velvert Turner (1951-2000). O guitarrista americano se juntou à pequena fileira de músicos que foram considerados seguidores de Jimi Hendrix (1942-1970), durante os anos 1970. Com uma vantagem: foi aluno do próprio.
Jimi Hendrix tinha técnicas bem peculiares de guitarra e não costumava dar aulas do instrumento – no máximo uma dica ou outra, quando tinha disposição. Em 1966, Velvert, aos 15 anos, morava no Brooklyn e conheceu Hendrix, que estava iniciando carreira e dentro em breve seria um dos nomes mais famosos do mundo da música.
Velvert ficou amigo do músico e passou a frequentar seu apartamento. E passou a ter aulas de guitarra com ele. Ou melhor: passou a ter aulas de como Hendrix tocava, que era uma técnica completamente diferente e inovadora. Detalhe: Velvert, ao contrário de Hendrix, era destro. Nas aulas que tinha com Hendrix, tinha que usar um espelho (enorme!) para poder tocar da mesma maneira que ele tocava e aprender as lições.
O papo de que o adolescente era amigo de uma estrela pop não era segredo. Tanto que Velvert começou a tirar onda com a rapaziada e explanou que era amigo e aluno do autor de Purple haze. Deu errado: o jovem foi considerado o maior cascateiro por seus amigos. O único que acreditava nas histórias do adolescente era seu amigo Richard Lloyd, que depois viraria guitarrista do Television. Tanto que Lloyd acabou sendo apresentado a Hendrix e ficou amigo dele – além de levar um soco na cara dado por Hendrix (sobre o soco, você já leu no POP FANTASMA).
Hendrix, você sabe, morreu em 1970. A carreira de Velvert só começou mesmo a partir daí, quando o guitarrista e cantor se juntou a Prescott Niles (guitarra), Christopher Robinson (teclados) e Tim McGovern (bateria) e montou o Velvert Turner Group. O produtor Tom Wilson, que trabalhara com uma gama de artistas que ia de Bob Dylan a Velvet Underground, curtiu o som de Velvert e produziu um disco dele para o selo americano Family em 1972.
Velvert Turner Group, o disco, era tão reverente a Hendrix que chegava a ser cara de pau. Além do visual do cantor, a contra-capa tinha uma foto tirada com lente olho-de-peixe (igualzinho à estreia de Hendrix, Are you experienced?). O vocais de Velvert também lembravam bastante o de seu modelo, em canções como Talkin ‘bout my baby e Madonna (Of the seven moons).
Para acentuar mais ainda a semelhança, além do material autoral, Velvert também gravava uma música do guitarrista, Freedom. Nem mesmo o público de Hendrix se animou com o LP, apesar de Velvert Turner Group ter ganhado até uma edição caprichada pela Philips na Alemanha.
O grupo terminou e os ex-integrantes foram reaparecendo em formações de new wave, como The Knack (Prescott) e The Motels (McGovern). Robinson, por sua vez, tocou com uma turma que vai de John Lennon a New York Dolls. Já a história de Turner teve mais um (obscuro, por sinal) lance em 1976: o cantor e guitarrista lançou um disco solo, Velvert Turner, com músicas como I was possessed by the devil e I’ll show you.
A sorte não bateu na porta de Velvert: o segundo disco saiu pelo infame selo Tiger Lily, especializado em discos “promocionais” que mal chegavam às lojas e eram fabricados apenas para que a gravadora ficasse isenta de impostos. Esse LP não está nem no YouTube. O músico deu uma bela sumida depois disso. Fez um show ou outro e tocou em 1977 num disco solo epônimo de outra figura protegidíssima por Hendrix – Arthur Lee, do Love.
Velvert morreu aos 49 anos em 11 de dezembro de 2000. Há bem pouca informação sobre o músico na internet, ou sobre como ele vivia. Nos últimos anos de vida trabalhou com atendimento a pessoas em situação de abuso de substâncias, numa clínica chamada Samaritan Village, no Brooklyn. E uma novidade para fãs e futuros fãs é que Velvert Turner Group foi recentemente relançado em vinil rosa pelo selo Org Music, após várias décadas fora de catálogo. Curiosamente o único aluno conhecido de Hendrix está sendo relembrado no ano do cinquentenário da morte do guitarrista. Antes tarde do que nunca.
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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