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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Transa, de Caetano Veloso

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Várias coisas que você já sabia sobre Transa, de Caetano Veloso

Transa, de Caetano Veloso, para inaugurar a nova série de “várias coisas que você já sabia sobre”? Vamos por partes. Foi no fim de 1969 que o Brasil mandou aquele abraço para a Tropicália. Caetano Veloso e Gilberto Gil foram exilados enquanto Gal Costa, Mutantes e Tom Zé lançavam as últimas obras que traziam as características em comum do movimento: capas coloridas de artistas como Albery e Rogério Duarte, guitarras de Lanny Gordin, arranjos de Rogério Duprat e produção de Manoel Barenbein.

Mesmo que pesquisadores e entusiastas afirmem que a obra do movimento se estenda até o ano de 1973, é inegável que a partir de 1969 muita coisa mudou. Os que mais sentiram essas mudanças foram, sem dúvida, Gil e Caetano, expulsos do país pela ditadura militar. Longe da família, dos amigos e em uma terra nova e estranha, a dupla iniciou uma outra viagem em suas carreiras, cada um com sua bagagem nas costas.

Gil aprendeu a tocar guitarra e saiu fazendo jams e aprendendo uma nova abordagem de sua música por Londres. Caetano se tornou mais introspectivo e parecia não haver mais lugar em seu imaginário para canções alegres como Superbacana e Atrás do trio elétrico. Em seu primeiro álbum lançado no exílio, em 1971, o que se ouve é melancolia e a saudade de sua terra.

No LP, que leva o apelido de London London, encontramos a maioria das letras em inglês, citações a canções brasileiras e músicas com tempos longos, fora do padrão comercial das rádios. Com tom triste e crítico, Caetano abre o álbum dizendo que um dia teve que deixar seu país e pede notícias da irmã Maria Bethânia. Mas antes de rever seu sol dourado, Caetano gravou seu segundo álbum na Inglaterra.

Várias coisas que você já sabia sobre Transa, de Caetano Veloso

Quando Transa (1972) foi gravado, o sentimento de tristeza já não era mais dominante em Caetano. Considerado pela crítica e por grande parte de seu público um de seus álbuns mais importantes, é um disco de banda, que pode ser considerado um sucessor direto do álbum de 1971 também em seu conceito e sonoridade.

COMO ASSIM TRANSA? No começo da década de 1970, o verbo ”transar” ou o substantivo “transa” não se referiam somente a sexo – estavam muito mais ligados ao sentido de “transação”. Segundo reportagem da Veja de 19 de abril de 1972 sobre o álbum de Caetano Veloso: “Na linguagem da moda, a palavra ‘transa’ tem a mobilidade das ideias vagas. Em resumo, pode referir-se desde transações comerciais ao negócios mais abstratos, envolvendo ou não duas e mais pessoas. E é nesse vasto campo de possibilidades que se desenham os limites do novo LP de Caetano Veloso”.

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Imagens de shows da época do “Transa” em Paris

O COMEÇO DO REGGAE DO BRASIL pode ser creditado ao Transa. A faixa Nine out of ten começa e termina com alguns compassos inspirados no ritmo jamaicano. A letra abre com Caetano narrando seus passeios pela Portobello Road, rua da capital inglesa que no começo dos anos 1970 possuía lojas que tocavam o som de artistas como Jimmy Cliff.

O CANTOR Péricles Cavalcanti, que sugeriu a inclusão do reggae na música, conta que para fazer a gravação das pequenas passagens foi preciso que o baixista Moacyr Albuquerque aprendesse a tocar o ritmo, já que o estilo não era conhecido no Brasil: “Eu fui com ele em uma loja e nós compramos umas três partituras de ska e através delas ele aprendeu a tocar o ritmo para fazer a gravação”. Caetano considera essa sua melhor canção em inglês e ela esteve presente no repertório do show do álbum Cores, nomes (1982), Zii e zie ao vivo (2010), Dois amigos – Um século de música (2015, com Gilberto Gil). E foi regravada no álbum Velô (1984).

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Caetano e banda gravando em Londres

UM GOSTO DE VIDRO E CORTE reinava nos ensaios para a gravação do LP. No centro de artes londrino Arts Lab, os músicos se reuniam para criar os arranjos e, na mesma época, havia um artista plástico produzindo uma obra com fibras de vidro, que eram cortadas no ambiente. Para desintoxicar do cheiro, Jards Macalé contou em reportagem de Leonardo Lichote que tomavam copos de leite entre as músicas.

ALÉM DE de Jards, que produziu e tocou guitarra e violão no LP, a banda de Transa contou com Tutty Moreno (bateria e percussão), Áureo de Souza (bateria e percussão) e Moacyr Albuquerque (baixo).

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Transa: em Paris com Jards Macalé

A PRIMEIRA VEZ DE ANGELA RO RO em uma gravação foi no Transa. A cantora estava passando uma temporada pela Europa e se encontrou com os baianos durante a viagem. No disco, Ro Ro toca gaita na faixa Nostalgia (That’s what rock n’ roll is all about). Com o cachê da gravação, a autora de Amor, meu grande amor conta que pagou uma semana de aluguel e comprou um par de botas para encarar o frio londrino.

A FICHA TÉCNICA DO DISCO GEROU BRIGAS e manteve muitos pesquisadores confusos por um bom tempo. Para começar, a primeira edição trazia a informação de que Angela Ro Ro havia tocado flauta, ao invés de gaita. Além disso, não havia o nome de Jards Macalé como produtor do álbum, o que foi motivo de afastamento entre ele e Caetano por tempos.

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Caetano ao vivo na época do disco

SEGUNDO o baiano, a justificativa se dá pelo fato de que a cultura de colocar o nome dos músicos nos encartes dos álbuns não era comum nos anos 1970. Em 2006, mais de 30 anos depois, as questões relativas ao encarte foram acertadas, com os créditos corretos aparecendo pela primeira vez na edição em CD do álbum que compõe a caixa Quarenta anos Caetanos 1969-1974.

“DISCOBJETO” foi o título dado para batizar o projeto gráfico da edição original do LP, assinado por Álvaro Guimarães e Aldo Luiz. Em formato trifold (triplo), a capa aberta forma uma espécie de prisma triangular, exibindo fotos do cantor e entregando uma outra interpretação. O álbum posteriormente teve reedições em capas dupla e simples, e fita K7, além de versões (em CD e LP) lançadas em outros países como Uruguai, Japão e Argentina.

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Propaganda da Rolling Stone

TODAS AS versões do álbum costumam ser raras por seu valor histórico e pelo status que recebeu ao longo dos anos de disco mais cultuado da obra de Caetano Veloso. Um exemplar da edição original tem, segundo o Discogs, preço médio de aproximadamente R$500 e já chegou a ser vendido no site por R$750.

UMA FESTIVAL DE CITAÇÕES compõe as letras de Transa. Na maioria das faixas Caetano cita a si mesmo e diversos outros compositores – além de regravar uma versão bastante alternativa do samba Mora na filosofia, de Monsueto. Segue uma lista com toda as citações do álbum:

“YOU DON’T KNOW ME”

“Nasci lá na Bahia de mucama com feitor/o meu pai dormia em cama minha mãe no pisador” foi tirada de Maria Moita (Carlos Lyra/Vinícius de Moraes)

“Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria” – veio de Reza (Edu Lobo/Ruy Guerra)

“Eu, você, nós dois, já temos um passado meu amor, um violão guardado, aquela flor, e outras mumunhas mais” – veio de Saudosismo (Caetano Veloso), citada por Gal Costa

“Eu agradeço/ao povo brasileiro/norte, centro, sul inteiro/onde reinou o baião” – veio de Hora do adeus (Luiz Queiroga e Onildo Almeida, gravada por Luiz Gonzaga).

“TRISTE BAHIA”

As duas primeiras estrofes da música são do poema de Gregório de Mattos de mesmo título. Porém, com uma alteração – o original diz “rica te vi eu já”, enquanto Caetano canta “rica te vejo eu já” – causada por um erro de transcrição presente no livro em que o cantor possuía.

Outras citações presentes na música:

“Eu já vivo tão cansado/ De viver aqui na Terra/ […] Minha mãe eu vou pra lua/ E seja o que Deus quiser” – Eu já vivo enjoado (Mestre Pastinha, com adaptações)

“Ê galo cantou/Ê galo cantou camará” – Quando eu fui pra liberdade (canto tradicional de capoeira)

“Ê vamos nos embora/ ê pelo mundo afora” – Capoeira do Arnaldo (Paulo Vanzolini)

“Bandeira branca enfiada em pau forte/ trago no peito a estrela do norte” – Ponto do guerreiro Branco (canto tradicional, gravado também por Maria Bethânia em seu álbum de 1969).

“O vapor de cachoeira não navega mais no mar” – Canto tradicional, gravado também por Maria Bethânia em Cirandas, no álbum Dentro do mar tem rio (2007).

“Pé dentro, pé fora/quem tiver pé pequeno vai embora” – Canto tradicional de capoeira, gravado também por Tom Zé em Lavagem da Igreja de Irará, no álbum Correio da Estação do Brás (1978).

“Ó virgem mãe puríssima” – Hino a Nossa Senhora da Purificação

“IT’S A LONG WAY”

“O zóio da cobra verde/[..] não amava quem amei”; “Arrenego de quem diz/que o nosso amor se acabou” – Sôdade, meu bem, sôdade (Zé do Norte), gravada por Vanja Orico para a trilha de O cangaceiro, filme de Lima Barreto (1953), e por Nana Caymmi no álbum Renascer (1976).

“Água com areia/brinca na beira do mar/a água passa a areia fica no lugar” – Água com areia (Jair Amorim/Jacobina). Também gravada com alterações em outras versões registradas antes do lançamento de Transa, como a de Pery Ribeiro (1961).

“E se não tivesse o amor/E se não tivesse essa dor” – Consolação (Baden Powell/Vinícius de Moraes)

“No Abaeté tem uma lagoa escura/arrudiada de areia branca! – A lenda do Abaeté (Dorival Caymmi)

“NEOLITHIC MAN”

“Quem tem vovó/ Pelanca só” – Palavras atribuídas ao canto do Sabiá da Mata, pássaro muito comum na Bahia.

OS BEATLES APARECEM NO DISCO em duas citações: It’s a long way (The long and winding road, 1970) e em Neolithic man (You won’t see me, 1966).

MARIA BETHÂNIA além de ter gravado algumas das músicas citadas em Transa, gravou o álbum Drama também em 1972 com os músicos Moacyr Albuquerque (baixo) e Tutti Moreno (bateria). Além disso, o LP possui produção do mano Caetano e o primeiro registro da música Anjo exterminado, de autoria de Jards Macalé.

CAETANO REJEITOU PARCERIA COM BOWIE na época em que estava exilado. Acontece que Ralph Mace, que produziu Transa, já havia trabalhado com o cantor britânico (é ele o responsável pelos teclados no álbum The man who sold the world, de 1970) e queria unir os dois talentos.

MACE levou o baiano até um show de David Bowie na Round House. Em entrevistas, Caetano revela que não gostou do show e que no camarim ele e o “Camaleão” apenas se cumprimentaram cordialmente. Enquanto o cantor recorda que Ralph queria que ele contribuísse com as músicas de David, o produtor revela o que gostaria de propor a Bowie que traduzisse as letras do artista brasileiro.

O PRODUTOR SE CHATEOU COM CAETANO, não por conta da rejeição à parceria com Bowie, mas porque logo após a finalização das gravações de Transa, houve a possibilidade do cantor voltar ao Brasil e ele assim fez. Ralph queria que o artista continuasse em Londres para divulgar Transa e produzir outros trabalhos, mas ele foi irredutível. Além do mal estar entre os dois, a decisão fez com que o LP não fosse lançado na Inglaterra naquele momento e até hoje não existe uma edição lançada no país.

NA CHEGADA AO BRASIL, O SHOW FOI UM SUCESSO. Mesmo ainda sem os LPs nas lojas, Caetano fez o show com as faixas de Transa assim que voltou do exílio para o Brasil, em Janeiro de 1972. Se em Londres os músicos tocaram no Queen Elizabeth Hall e até em cima de um caminhão, o primeiro destino no Brasil foi o Teatro João Caetano, no centro do Rio de Janeiro.

MUITO COMENTADA na imprensa, a temporada teve dias com ingressos esgotados sem que as portas do teatro foram abertas, para que, além dos 1500 pagantes, outras pessoas pudessem acompanhar o espetáculo. Caetano abria os show com Bim-bom, de João Gilberto, e o repertório incluía músicas que não estavam em Transa, como Você não entende nada, Maria Bethânia, Preta pretinha (Novos Baianos), Que tudo mais vá pro inferno (Roberto Carlos), um pout-pourri de músicas de carnaval e encerrava com Eu e a brisa, de Johnny Alf.

A CRÍTICA elogiou bastante o show, que também teve temporada em São Paulo (no teatro Tuca, onde Caetano foi bastante vaiado em 1968 pela apresentação da música É proibido proibir) e retornou ao Rio ainda em janeiro para mais três shows resultantes da grande procura por parte do público.

O ÁLBUM TAMBÉM DIVIDIU OPINIÕES na imprensa. O número 487 da revista Intervalo 2000, em matéria sobre o lançamento do LP garantiu: “Não tenham dúvida: já pode ser considerado o disco do ano”. Outra edição, de número 500, lançada em agosto de 1972, dizia que “Nostalgia”, faixa que encerra o disco, estava fazendo um grande sucesso. Em O Jornal, a crítica foi dura: “Este LP não é, de modo algum, um produto do talento com T maiúsculo do Caetano”.

UMA QUANTIDADE GRANDE DE LPS VEIO EMPENADA DE FÁBRICA em uma edição recente fabricada na Alemanha. Lançado pela gravadora Universal Music em 2012, o disco recria o “discobjeto” e teve problemas por conta de sua plastificação. Com a capa feita de um papel de alta gramatura e com o plástico lacrado de forma muito apertada, várias unidades tiveram o vinil entortado pela pressão.

HEITOR Trengrouse, proprietário da loja de discos Tracks, no Rio de Janeiro, teve essa edição a venda e comenta: “Praticamente todas as unidades que recebemos desse LP vieram com esse problema, o que é lamentável porque é um disco histórico e que foi poucas vezes relançado. Eu acredito que o motivo de ele ter saído também em capas duplas e simples tenha a ver com a complexidade dessa capa. Os próprios lojistas deveriam reclamar porque é um disco difícil de acomodar nas prateleiras com esse padrão diferente”.

O CANTOR PAULISTANO ROMULO FRÓES estreou em junho de 2014 um show em que apresenta as canções de Transa na íntegra. Inicialmente parte do projeto Radiola Urbana 1972 (em que 20 artistas diferentes interpretaram álbuns que estavam então completando 40 anos), a apresentação contou com o guitarrista Kiko Dinucci (Metá Metá), o saxofonista Thiago França (Metá Metá); o violonista e guitarrista Rodrigo Campos; o baixista Marcelo Cabral (Passo Torto); e o baterista Pedro Ito (do grupo de jazz Improvisado).

A BANDA das apresentações contou com outras formações, que incluíram músicos como o guitarrista Guilherme Held, o baixista Marcos Gerez e o baterista Richard Ribeiro. A sonoridade é completamente diferente do que está no álbum, o que torna o show muito interessante. Rômulo e os músicos mudam a roupagem das colagens sonoras de Caetano e fazem versões totalmente imersas na estética da geração atual da música de São Paulo.

CAETANO DISSE QUE NÃO FARÁ UM SHOW COM O REPERTÓRIO DO ÁLBUM mesmo com abaixo-assinados para a realização do show terem circulado na internet. O cantor considera Transa um disco de banda e disse que não tem intenção de se reunir sem o músico Moacyr Albuquerque, falecido em outubro de 2000.

APESAR de não fazer um show com o repertório do álbum, algumas músicas do LP apareceram em shows da trilogia . Na versão ao vivo do álbum (2007) Caetano canta Nine out of ten (que também fez parte do show Dois amigos, um século de música, com Gilberto Gil) e You don’t know me e em Abraçaço ao vivo (2014) foi incluída a música Triste Bahia.

HOJE Transa é considerado um dos mais importantes da música popular brasileira e da discografia de Caetano. Segundo reportagem de Marcus Preto, a adoração se intensificou tanto no público quanto entre músicos na década de 1990. Em entrevista a Marcelo Perrone, o cantor revelou: “Eu gostei dele quando o fiz. Mas o achei mais satisfatório com o passar do tempo. Mas o fato é que não ouço meus discos quase nunca. Então, não sei direito”.

Mais várias coisas que você já sabia sobre aqui.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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