Cultura Pop
Vamos falar do POP FANTASMA nesse domingo no Rock Horror In Rio Film Festival

Domingo (8 de dezembro), 11h da manhã, possivelmente muitos leitores do POP FANTASMA vão estar dormindo, transando, indo à praia, fazendo qualquer coisa que não seja ir à Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, para ver a gente (no caso eu, Ricardo Schott, e Luciano Cirne, um dos colaboradores mais ativos do site) falando sobre Cultura pop outsider e bizarrices do mundo pop. A palestra faz parte de um dos eventos mais legais do Rio de Janeiro, que é o festival Rock Horror In Rio. Ainda assim, com todos esses afazeres que porventura você poderá estar fazendo, vão aí algumas razões para quem estiver no Rio ou nos arredores largar tudo e ir lá ver a gente:
- É a primeira vez que eu vou estar batendo um papo específico sobre como é fazer o POP FANTASMA, e sobre o que a gente (no caso eu e a turma que de vez em quando colabora com o site) faz. Também vou aproveitar e contar um pouco da história do site.
- Como muita gente sabe, o POP FANTASMA nasceu de uma paixão enorme por um blog americano chamado Dangerous Minds, e da constatação de que, no Brasil, havia muito pouca coisa parecida. No bate-papo, vamos falar um pouco sobre qual é a sensação de tentar enxergar a cultura pop por uma perspectiva marginal: enfim, enxergar lados B e C onde muita gente só vê os lados A, descobrir coisas nem sempre comentadas de gente do mainstream, achar personagens legais (Tony Lopes e Celso Zambel, entre eles). Vale dizer que nem chegamos a fazer metade do que queremos.
- Vamos recordar alguns personagens e histórias estranhas, bizarras e inesperadas que já apareceram no site desde que ele foi fundado. Muita coisa engraçada (ou coisas que a gente acha que são engraçadas, vá lá) vão rolar e vale ir porque, hum, vai ser divertido.
- Todo mundo está acompanhando o festival de imbecilidades que está rolando no Brasil em relação à cultura brasileira e ao cinema nacional. O assunto “cinema brasileiro” volta e meia vem parar (como aconteceu aqui e aqui) nas matérias do site. E nos orgulhamos muito de termos sido um dos primeiros veículos a dar voz a Rafael Spaca, que está fazendo um documentário muito corajoso sobre os Trapalhões. Demos uma resgatada também num doc esquecido sobre Zé do Caixão, dirigido por Ivan Cardoso. E em O 5º poder, filme brasileiro de ficção científica feito em 1962.
- Vamos chamar a atenção para uma coisa básica: tem uma turma enorme (volta e meia entrevistamos esse pessoal) produzindo conteúdo pop sem a ajuda de uma grande estação de televisão ou de um grande jornal.
- Jornalismo é bom, mas achar que seu emprego num jornalão vai durar a vida inteira é piada. Não vai. E tem muita, mas muita gente mesmo se virando sozinha, produzindo seu próprio material, achando um jeito de fazer seu material chegar ao público. A ideia é incentivar mais gente a fazer coisas.
- Não precisa nem dizer que se você está estudando jornalismo, ou quer passar a produzir conteúdo de qualquer jeito, o que vamos dizer lá te interessa muito.
- Quem já trabalhou em jornal sabe: as pautas mais fodas vão para os jornais grandes, as pautas fodinhas vão para os jornais pequenos (percebi isso no dia em que me ofereceram uma entrevista com o tecladista do Whitesnake), quem escreve em blog tem que implorar para conseguir fazer uma simples entrevistinha por e-mail. Enquanto isso, estações de TV que você acha que dão traço no IBOPE conseguem ter até certo conforto na hora de conseguir anunciantes porque os produtos que são anunciados lá vão para um público certo, etc.
- Isso é só um parêntese para reforçar a ideia de que, sim, vale a pena produzir conteúdo para um público que funciona em escalas não muito astronômicas. Talvez falte só algumas pessoas que lidam com jornalistas observarem isso. E enfim, quem sabe um dia a coisa não muda.
- O POP FANTASMA está com projetos legais para 2020: voltar com podcast, fazer um canal de vídeos. Vamos adiantar um pouco disso.
- Uma das maiores fontes do POP FANTASMA é aquele site que você frequenta todo dia, o YouTube. Ele não serve só como fonte de renda para youtubers endinheirados: também é uma fonte inesgotável de vídeos que ninguém lembra, shows completos, discos esquecidos, coisas bizarras que os arquivos de estações de TV do Brasil e de lá de fora esqueceram. No comecinho do site, uma coisa que ficou clara é que daria para fazer um bom trabalho apenas fazendo curadoria do YouTube (como naquela vez em que achamos imagens raras do movimento punk no Ceará). Depois começamos a produzir nosso próprio material.
- Vamos falar também de um dos assuntos mais complexos em se tratando do POP FANTASMA que é: tempo. Eu faço o site enquanto faço um porrilhão de outras coisas. Nem sempre dá para entrevistar os personagens que eu queria, uma matéria pode demorar meses a fio para ser terminada, etc. Vivemos sempre no dilema de Tostines: o site não dá grana porque eu não me dedico o suficiente ou não me dedico o suficiente porque não dá grana? Vamos falar disso também.
E é isso. O bate-papo é domingo, dia 8 de dezembro, às 11h, na Casa de Cultura Laura Alvim. Entrada franca, mas é preciso se inscrever aqui. Conheça também o site do evento.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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