Connect with us

Cultura Pop

Top 10 de jogos subestimados do Atari: descubra agora!

Published

on

Se tem uma coisa que me irrita é quando nós, nerds saudosistas, nos reunimos e começamos a lembrar dos nossos games favoritos de infância. Quando o assunto é o bom e velho Atari 2600, sempre os mesmos jogos vêm à tona: River Raid, Enduro, H.E.R.O., Pitfall, etc… Mas que povo sem criatividade!

Falando assim, parece até que só existiam esses cartuchos! Aí chega um cara como eu, com uma memória um pouquinho mais abrangente, a cara de espanto é geral e eu me sinto como se estivesse falando sobre algo de outro planeta! Prefiro acreditar que eu não sou o único a conhecê-los, porém como desencargo de consciência nós do POP FANTASMA achamos por bem citar outros dez jogos de Atari que ninguém lembra, mas que são surpreendentemente bem feitos (para os padrões do aparelho, claro) e que até hoje são diversão garantida!

Aproveitamos que hoje é aniversário da Atari (empresa fundada em 27 de junho de 1972 em Sunnyvale, Califórnia) e dividimos nosso Top 10 de jogos subestimados com nossos leitores e leitoras. Ah, e se você tiver discorda dessa lista e lembra de algum cartucho que te marcou, fale com a gente, adoraríamos saber! Agora, sem mais delongas, vamos à lista.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Punhos de Repúdio: num game, muita porrada nos negacionistas

LASER GATES: À primeira vista, trata-se de um típico shmup – corruptela de “shoot ‘em up”, ou simplesmente um jogo de tiro descerebrado onde você apenas mata tudo que vê pela frente. Mas analisando mais profundamente, ele inova bastante por você ter que administrar com sabedoria sua energia (ou seja, quanto mais pipoco você dá, mais rapidamente ficará sem energia e morrerá), seu escudo (quanto menos tiver, mais dano os ataques dos inimigos causarão) e o tempo. Desafio e diversão na medida certa!

KUNG FU MASTER: Lançado em 1987, quando o Atari 2600 lá fora já estava morto e enterrado, Kung Fu Master é incrivelmente bem feito e com comandos criativos. Aliás, se hoje em dia tem botão pra pulo, soco, chute e tudo o mais, imagina programar tudo isso tendo apenas um botão à disposição! Tem até trilha sonora, coisa que raríssimos jogos do Atari têm! E o mais assombroso é saber que tudo isso foi feito com apenas 8KBITES (só para efeitos comparativos, o logo do Google tem 6KB)!!

>>> Veja também no POP FANTASMA: Quando fizeram um game em homenagem a Charlie Chaplin

SOLARIS: Quase ninguém lembra desta pequena pérola, que tem gráficos surpreendentes e uma jogabilidade única (você usava os dois controles ao mesmo tempo!). Basicamente nós assumimos o comando de um caça estelar conhecido como StarCruiser. E exploramos vários quadrantes da galáxia em busca do planeta perdido Solaris, que seria a única forma de derrotar o inimigo, uma raça alienígena chamada Zylon.

Como curiosidade, o título original desse game seria The last starfighter, para tentar pegar carona no sucesso do filme com o mesmo nome (batizado aqui como O último guerreiro das estrelas). Mas obviamente a estratégia não deu certo e, ao serem ameaçados de processo, sabiamente resolveram mudar de nome.

PAC MAN JR.: Uma coisa que sempre me intrigou: por que diabos o Pac-Man lançado em 1982 é lembrado sempre com tanta nostalgia, e essa continuação que é mil vezes mais bonita graficamente e fiel ao arcade é sumariamente ignorada? Não dá pra entender!! Os labirintos são muito maiores, mais coloridos, a dificuldade é maior… Enfim, ele é superior ao seu antecessor em todos os aspectos. Mas talvez fosse uma questão de timing ruim. Afinal, ele foi lançado em 1986, no final da vida útil do console por lá (não aqui no Brasil, claro) e isso talvez tenha atrapalhado para ter se tornado mais popular… Pena!

>>> Veja também no POP FANTASMA: “Pai”, de Fábio Jr., em versão game 16 bits

MONTEZUMA’S REVENGE: Na minha modesta e humilde opinião, é disparado o melhor jogo do console, junto com o badalado H.E.R.O.! Sempre gostei dos pequenos detalhes que tornavam esse jogo diferenciado, como só poder acessar determinados locais depois que obtivéssemos as chaves ou de necessitar de tochas para iluminarmos algumas salas. Eram coisas que parecem corriqueiras em qualquer RPG atual, mas que eram novidade no distante ano de 1984, quando foi lançado.

SMURFS – RESCUE IN GARGAMEL’S CASTLE: Outro caso de game que eu não consigo entender porque é tão ignorado. OK, concordo que ele é bastante repetitivo e a trilha sonora é irritante. Porém não dá pra negar que a jogabilidade é excelente e que seus gráficos são muito bonitos e coloridos. E o resultado final é infinitamente superior a tralhas insuportáveis como Bobby is going home, que sabe-se lá porque fez um sucesso tremendo aqui no Brasil. É, o mundo nem sempre é justo…

CHOPPER COMMANDO: Neste jogo lançado em 1982, assumíamos o controle de um helicóptero, cujo objetivo era escoltar um comboio de caminhões e protegê-lo contra ataques dos inimigo. Era avançadíssimo para a época, porém foi mais um caso de timing ruim que acabou atrapalhando sua popularização. Por ter uma jogabilidade semelhante ao do clássico Defender muita gente achou na época tratar-se de uma imitação e optou por deixar Chopper commando de lado. Uma tremenda injustiça, já que ambos chegaram ao mercado praticamente ao mesmo tempo. E, no aspecto visual, ele deixava o rival no chinelo.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Cadê o Howard Scott Warshaw?

PRESSURE COOKER: Nesse jogo, assumíamos o papel de um confeiteiro que precisava fazer bolos de acordo com os pedidos dos clientes, conforme indicado na base da tela. Mas claro que, à medida que o tempo passa, a velocidade vai aumentando até chegar a algo humanamente impossível. Uma coisa que me chamava muito a atenção no game era o fato de ele não seguir o padrão usual dos demais jogos do sistema. Não havia tiros, cenários diferentes a serem acessados, veículos ou vidas. Era bem simples e divertido, como todo o bom game deveria ser!

MOON PATROL: Havia muitas conversões de arcades famosos para o Atari 2600 e 99% delas ficavam muito inferiores ao original. Claro, nem dava para ser muito diferente, haja vista que o hardware do videogame em questão já era obsoleto no início dos anos 1980. Se duvida, é só comparar um game da época com seu similar para os consoles rivais Intelevision ou ColecoVision.

Entre as raríssimas exceções, Moon patrol se destaca. Você vai conduzindo um veículo lunar que patrulha o terreno (daí o título, oras). O jogo é difícil, mas não a ponto de fazer você querer arremessar o cartucho contra a parede. E é bonito e divertido. Pena que não pegou por aqui…

>>> Veja também no POP FANTASMA: Quando transformaram Dolly Parton em personagem de pinball

REAL SPORTS TENNIS: Games esportivos eram quase uma unanimidade negativa no Atari, mas Real Sports Tennis era a exceção que confirmava a regra. Sem falar que, para a molecada que viveu os anos 1980, era um tremendo programão para os fins de semana chuvosos, pois incitava a torcida e deixava alvoroçada a turma do “a de fora é minha” (se você sabe do que estou falando, está ficando velho!). Me trouxe boas lembranças…

>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.

Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Published

on

O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

Continue Reading

Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Published

on

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

Published

on

Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.

Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

Continue Reading
Advertisement

Trending