Cultura Pop
Várias coisas que você já sabia sobre The Man Who Sold The World, de David Bowie

O livrinho David Bowie, única biografia do cantor escrita em português (saiu pela Martin Claret, em 1991, e foi feita por um combinado de jornalistas da Bizz dos anos 1990) dispensa The man who sold the world (1970), terceiro álbum do artista, com poucas palavras. Diz que “é um disco cultuado pelos amantes de Edgar Allan Poe, da depressão e das roupas pretas”, que o cantor estava “numa trip Velvet Underground”, falando só de figuras do submundo e de situações barra-pesada. E diz se tratar do disco “mais irregular da carreira de Bowie dos anos 1970”.
Nem tanto. Mas, enfim, The man tem lá uns detalhes que contextualizam sua invisibilidade na discografia de Bowie. Primeiramente, foi um fracasso comercial quando chegou às lojas (no dia 4 de novembro de 1970). Um fato que o próprio cantor, sentindo-se injustiçado, não engoliria tão fácil. Posteriormente, o disco conseguiu se recuperar e até emplacar um hit tardio (a faixa-título) à custa de vários relançamentos, com capas diferentes. Só que um fato básico contribuiu para a impopularidade do álbum: The man who sold the world é um dos LPs mais perturbadores da obra de Bowie, e do rock dos anos 1970. Tem melodias sombrias para dar e vender, além de letras repletas de metáforas estranhas, e de referências a sexo e ocultismo.
LOUCURA
Mais: se o Pink Floyd arrumaria motivos para girar em torno do tema “loucura” em discos como Dark side of the moon (1973), havia um subtexto parecido no terceiro disco de Bowie. E que vinha de uma problemática familiar: o relacionamento do cantor com seu meio-irmão Terry Burns, diagnosticado com esquizofrenia. Terry, um dos heróis de Bowie, havia sido internado em 1969 numa clínica barra pesada, Cane Hill, ao Sul de Londres. Por causa disso, Bowie passou boa parte da vida assombrado pela possibilidade de ele também passar um tempo num manicômio, fazendo terapia eletroconvulsiva e tomando remédios devastadores, como o irmão. Esses fantasmas voltaram a assombrá-lo na época de The man who sold the world, pelas mais diversas razões.
Feito numa época de grandes questionamentos não apenas para Bowie como para vários colegas seus – e por extensão, para o mundo todo – The man who sold the world ganha hoje (hoje!) edição comemorativa de 50 anos. Só que com algumas diferenças. Em vez da capa “do vestido”, que adornou a edição inglesa (e que transformou o disco na primeira polêmica da vida de David Bowie), a reedição em formato de vinil e CD volta com a capa original (a do “cowboy”). E o pacote ganha outro nome: Metrobolist.
Para anunciar a reedição, comemorar os 50 anos do disco, explicar qual é a desse título novo (que não é novo) e arrumar mais um motivo para falar de David Bowie, segue aí nosso relatório sobre The man who sold the world. Leia ouvindo o disco. Principalmente, ouça o disco lendo.
FORÇA ESTRANHA
VAMOS COMBINAR uma coisa básica para entender a que The man who sold the world veio: o começo dos anos 1970 não foi um dos períodos mais estáveis da história recente do mundo. Mesmo porque o fim da década anterior já não era uma época tranquila.
NO PERÍODO 1968-1970, teve de tudo: seres perdidos em viagens lisérgicas intermináveis, abuso de drogas, maníacos (como Charles Manson) saindo das moitas, guerra do Vietnã, histórias trágicas em geral. Com o fim dos Beatles e as mortes estúpidas de dois artistas promissores (Jimi Hendrix e Janis Joplin, ambos em 1970), além do teste de responsabilidade que qualquer produtor de shows ou de festivais teria após a selvageria do Festival de Altamont, ninguém tinha ideia do que viria por aí. Nem que tipo de artista faria sucesso.
EU SOZINHO
UMA TENDÊNCIA que dominou o cenário pop nos primeiros 1970 – e fez bom crossover com o pop – foi a dos cantores-compositores confessionais. Uma turma que valorizava o formato voz e violão e fazia músicas com letras quase sempre amargas ou agridoces.
DRAMA PESSOAL. As letras dessa turma abusavam de parábolas e metáforas para falar de questões complexas e tragédias pessoais. James Taylor, um dos mais populares cantautores, punha canções sobre tentativas de suicídio e abuso de heroína nas paradas de sucesso. Com o tempo, nomes já estabelecidos como John Lennon e Bob Dylan foram sendo absorvidos pela onda. Ou absorvendo características dela, já que foram influenciadores dessa turma.
ALIÁS E A PROPÓSITO, Bowie já era, de fato e de direito, um precursor dessa turma por causa de sua “fase Bob Dylan” que iniciara com David Bowie (ou Space Oddity, de 1969) o segundo disco, repleto de canções de voz e violão.
ROCK ‘DURO’
SÓ QUE The man who sold the world ia numa tendência meio estranha. A estrutura das canções do terceiro disco de Bowie não deixava nada a dever ao tom sério e confessional da turma dos cantautores. Mas o cantor voltava em fase hard rock, pré-punk, bem diferente de seus discos anteriores. Mesmo os sintetizadores que volta e meia apareciam no disco davam um tom bem “sujo” à gravação. E músicas novas como She shook me cold lembravam mais o Black Sabbath do que Bob Dylan, Jacques Brel, Scott Walker ou qualquer outra influência que Bowie tivesse em 1969.
O TIME DE BOWIE
A TURMA QUE vinha acompanhando Bowie pouco antes de The man era um trio formado pelo amigo-baixista-produtor Tony Visconti, e por mais dois caras que vinham de uma banda de r&b chamada The Rats: o baterista John Cambridge e o guitarrista Mick Ronson. Esse grupo quase se chamou Harry The Hutcher, depois David Bowie’s Imagination, até adotar o nome The Hype, que pegou por uns tempos.
RONSON. O guitarrista de Bowie era um sujeito excepcional. Mick Ronson, 23 anos em 1969, era um músico cheio de qualificações: tocava vários instrumentos, entendia de música clássica, regia e escrevia arranjos para orquestra. Apesar de ser alguns meses mais velho que Bowie, era visto como um cara desprotegido e tratado como um irmão mais novo pela turma. “Eu nem sequer tinha percebido que ele era três anos mais velho que eu”, contou Angie Bowie, esposa de David.
ALIÁS E A PROPÓSITO, não era só Bowie que estava de olho na musicalidade dele. Ronson também estava no estúdio enquanto Elton John gravava o disco Tumbleweed connection (1970). Chegou a tocar guitarra numa versão não-aproveitada de Madman across the water.
ENSAIOS EM CASA
BANDA EM FAMÍLIA. O Hype passou a frequentar a residência gótica do casal David e Angie Bowie, a Haddon Hall, em Beckenham, e a ensaiar lá (Mick e Tony chegaram a deixar uma das salas propícia à gravação de demos). Foi desse local que surgiu todo o material do disco. Hoje existe um prédio no local.
Flat 7, Haddon Hall, 42 Southend Road, Beckenham. David Bowie lived here from October 1969 to May 1972. The building was demolished in the early 1980s pic.twitter.com/M96Dh1Br1e
— David Bowie – Then and Now (@bowiethenandnow) March 22, 2020
EITA. Na época, David e Angie viviam um relacionamento aberto ààààà beça, o que incluía saídas à noite em casal para descolar companhia. Além de triângulos, quadrados e hexágonos amorosos formados por casinhos de ambas as partes.
ARCO-ÍRIS
OS NOVOS LOOKS da rapaziada, bolados por Angie e pela namorada de Tony, Liz, deixaram Bowie convencido de que a música precisava estar á altura das roupas escolhidas. Lembrando os apelidos que os integrantes do Kiss receberiam por causa de suas maquiagens, cada integrante ganhou um codinome. O frontman surgia de cabelo pintado de prata e azul, e roupa de lamê preateado, e era conhecido como “o homem arco-íris”. Ronson era o “homem-gângster”, por causa do terno que usava nos shows. Visconti era o “homem homem”, por usar uma fantasia de Super Homem com um “h” onde ficaria o “s”, do super-herói. Cambridge usava um chapelão e uma camisa cheia de babados, e era o “homem cowboy”.
MANIA DE BOLAN
NA ÉPOCA EM QUE The man who sold the world era concebido, um antigo amigo de Bowie começava a fazer sucesso investindo no estilo de vida flamboyant. Liderando o T. Rex, Marc Bolan invadia as paradas com Ride a white swan e surgia na TV usando figurinos espalhafatosos. Virou mania de uma hora para outra, e passou a tratar o esforçado Bowie por cima dos ombros. Os dois passaram um bom tempo afastados e David admitiu anos depois que “morreu de inveja” de Bolan nessa época.
PESO. Com a chegada do trio – de Ronson, em especial – subitamente o repertório foi ficando mais pesado e variado. Surgiam músicas como a dramática The widht of a circle, cheia de partes unidas por riffs pesados, e tocada por Bowie e banda pela primeira vez num show da BBC em fevereiro de 1970. Cyprus Avenue, de Van Morrison, passou também a surgir no repertório dos shows.
MUDANÇA NO TIME
TCHAU. Dois nomes da equipe de Bowie ganhariam o bilhete azul em 1970. O principal deles era o empresário Kenneth Pitt, responsável pela divulgação do single Space oddity e por apresentar Bowie à musica do Velvet Underground. Bowie e Pitt tinham uma relação que misturava contornos profissionais e pessoais, o que causava problemas ao cantor e deixava sua carreira ligeiramente empacada e sem foco. Tony Defries, recomendado pela gravadora de Bowie para ocupar seu lugar, era negociador profissional, já trabalhara com o empresário predador Allen Klein e ajudaria a reposicionar Bowie no mercado. E o transformaria na melhor coisa do pop-rock dos anos 1970, a partir de sua empresa Mainman.
PITT admite que Defries foi fundamental para o sucesso do ex-contratado. “Ele era um homem que tinha muito conhecimento de leis e que montou uma empresa que tinha um produto a ser vendido, chamado David Bowie”, afirmou.
TCHAU 2. A outra mudança foi na banda: Cambridge sairia por pressão de Ronson, que indicaria seu amigo Mick “Woody” Woodmansey. Nascia aí o embrião dos Spiders From Mars.
INFLUÊNCIA FAMILIAR
VISITA. Já que citamos o Pink Floyd lá em cima, tem outro detalhe que une a banda e David Bowie. Assim como o Pink Floyd foi visitado pelo seu ex-líder Syd Barrett no estúdio em 1975, Bowie recebeu uma visita do irmão em Haddon Hall. O reencontro com Terry, que acabara de sair de uma internação e passou alguns dias na casa, mexeu muito com Bowie e inspirou a sombria All the madmen, do disco novo. Aliás, inspirou essa música em especial, mas o clima insano de algumas passagens do álbum vem todo dessa convivência.
‘ALL THE MADMEN’ tinha versos pesados como “não me tire daqui, estou tão indefeso quanto posso estar” e “me dê um pouco da boa e velha lobotomia”. Além da descrição do mar de jovens sendo enviados para manicômios em “dia após dia, eles mandam amigos meus embora/para mansões frias e cinzentas/para o outro lado da cidade”. Na letra, havia ainda referências a medicamentos e a eletrochoque. A introdução da melodia foi descrita pelo biógrafo David Buckley como “demência infantil”. Alguém da Mercury Records achou que seria uma excelente ideia lançar essa música (de quase seis minutos) em single nos Estados Unidos, para divulgar Bowie por lá. Não deu muito certo.
‘CULTO E INTERESSANTE’
ANGIE BOWIE conviveu com Terry nesse período e disse que o meio-irmão de Bowie era, principalmente, “um homem culto e interessante, mas que por conta das drogas que lhe era prescritas, tendia a não falar muito”.
FAMÍLIA, ESSA INSTITUIÇÃO SAGRADA. Duas amigas artistas (e ex-namoradas) de Bowie, Dana Gillespie e Mary Finnigan, lembram que o ambiente familiar da casa do futuro astro, em sua adolescência, não era agradável. “Era frio, como se as pessoas carregassem blocos de cimento. Nunca estive numa casa em que as pessoas não eram alegres e não riam”, conta Dana. Com Bowie famoso, os laços familiares ficaram cada vez mais raros: a mãe do cantor ligava e ele raramente queria falar com ela. E Angie, então esposa do cantor, bloqueava as ligações.
AS LETRAS
SEXO E TEATRO. The widht of a circle, a primeira faixa de The man, revelava que as intenções de Bowie já eram sintetizar uma porrada de influências e referências em suas músicas. O livro O homem que vendeu o mundo: David Bowie e os anos 1970, de Peter Dogget, chama a atenção para o fato de que a canção narra o encontro do personagem principal com seu alter-ego (“um monstro”, diz o texto), expandido depois para uma relação sexual perigosa e conflitante, narrada com a ajuda de uma espécie de coro grego. Bowie costumava dizer que ninguém decifraria aquela letra corretamente, e que ela estabelecia um paralelo entre sua vida após sair da escola e o período pós-1970.
OUTROS TEMAS DAS LETRAS. Bowie uniu conceitos de Friedrich Nietzsche em The supermen (música que, conta-se, provocou a demissão de Cambridge, que não se acertava com o ritmo dela). After all, com seu coral vertiginoso de crianças e sua letra sobre perda da inocência, espalhava brasa para os textos do ocultista Aleister Crowley, que tinham virado tendência na época. Os horrores da Guerra do Vietnã surgem em Running gun blues. Em Saviour machine, aparece um personagem pouco lembrado de Bowie, o Presidente Joe, criador de uma “máquina salvadora” que inventa um mundo perfeito e é destruída pelo próprio tédio.
FAIXA-TÍTULO
A MÚSICA The man who sold the world, era vista por Bowie como uma parte II de Space oddity. No livro O homem que vendeu o mundo: David Bowie e os anos 1970, Peter Dogget chama a atenção para o fato de que a letra é bem impenetrável. Aliás, ele afirma que ela pode ser interpretada como a ligação misteriosa entre David Bowie e David Jones (nome verdadeiro de Bowie).
ALIÁS E A PROPÓSITO, a música foi pivô de mais um dos desentendimentos entre Visconti e Bowie durante as gravações. A letra foi escrita na sala de recepção do Trident pouco antes de Bowie gravar os vocais, e o produtor já estava cansado de ver o cantor fazendo tarefas em cima da hora.
APERTA O PLAY
AS GRAVAÇÕES de The man começaram em 17 de abril de 1970 no Advision Studios em Londres, e foi justamente All the madmen a primeira faixa a ser gravada. Executivo do selo Philips e futuro produtor dos discos londrinos de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Ralph Mace se juntou à turma e tocou sintetizador Moog no álbum. O Trident Studios, um dos mais populares da época, foi também usado.
ALIÁS E A PROPÓSITO, por causa desse contato com Mace, Mick Ronson tocou guitarra em Crazy pop rock, do disco londrino de Gil (1971).
TÉDIO
TALVEZ POR SER um disco de grupo, ao contrário de Space oddity, The man teve pouca participação de Bowie. Mas pouca mesmo. Bowie estava mais preocupado com a gravidez da esposa, ou com a briga entre ele e Pitt, e estava desinteressado do estúdio. O cantor esteve na sala de gravação por poucos dias, botando vozes nas bases criadas pela banda a partir de suas ideias. Chegou a fazer letras em cima da hora de gravar.
ALIÁS E A PROPÓSITO, Ronson dizia para todo mundo que sua ideia com The man who sold the world era criar um disco que tivesse o mesmo peso dos LPs do Cream, o power trio de Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker. “Eu estava tão feliz em ter alguém interessado no time, porque Bowie realmente não estava”, chegou a declarar Visconti.
QUE PARCERIA?
TODAS AS MÚSICAS de The man who sold the world são creditadas apenas a Bowie. Uma polêmica antiga do álbum diz que Visconti e Ronson mereciam ganhar crédito de co-autores em várias daquelas músicas, já que criaram os arranjos em cima de bases muito soltas de Bowie e taparam vários buracos. Bem como também comandaram improvisos, como o de She shook me cool. Todavia, Bowie rebatia dizendo que sua assinatura estava lá.
ANGIE BOWIE revelou anos depois que “teria sido mais elegante” que o então marido creditasse todos os envolvidos pelas músicas. “Em termos de reconhecimento e de sentimento de valorização, teria sido bom para Ronson”, afirmou. Aliás, ela também declarou que The man who sold the world foi feito durante um período bem duro para todos os envolvidos. “Éramos bem pobres. Não tínhamos dinheiro. Nossa banda estava assustada”, recordou.
QUE TÍTULO É ESSE?
O NOME NOVO DE The man who sold the world, Metrobolist, era na verdade o título original do álbum. Desde o começo do projeto, Bowie pensava que o nome do álbum deveria ser uma paródia de Metropolis, o filme de Fritz Lang (1929). A Mercury, gravadora de Bowie, mudou o nome do disco em cima da hora sem consultá-lo, apesar de o nome Metrobolist aparecer até mesmo escrito a caneta nas fitas master.
CAPAS
VOCÊ DEVE LEMBRAR MAIS da capa britânica de The man who sold the world, que é a mais popular e polêmica. Nela, Bowie aparecia usando o que chamou de “um vestido de homem”. A foto foi feita por Keith MacMillan numa sala de estar de Haddon Hall. A gravadora rejeitou a capa, relegou-a ao lançamento britânico e não aproveitou a imagem nos EUA.
ISSO PORQUE The man saiu nos EUA com a capa original desenhada por Michael J Weller. Bowie pediu a ele um cartoon que retratasse o “clima agourento” da música-título. Não que o desenho fosse mais palatável: Weller, usando uma foto do ator cowboy John Wayne como base, retratou um sujeito de chapéu, com um rifle debaixo do braço, em frente ao hospital Cane Hill, onde Terry ficara internado. O desenho era surrealista o suficiente para que a cabeça do personagem aparecesse “se desfazendo” e o rifle fosse bem maior que a figura.
O VESTIDO
A ROUPA QUE Bowie usava na capa mais famosa de The man era na verdade uma túnica em estilo medieval, projetada pelo britânico Michael Fish, que entre outros trabalhos, foi criador da larguíssima gravata Kipper. Era uma peça caríssima para o casal (mais de mil libras), mas ambos concordaram que seria o look ideal para a capa. Mick Jagger também volta e meia aparecia com um dos “vestidos de homem” de Fish, como no filme Performance e no famoso show dos Rolling Stones no Hyde Park.
MAIS CAPAS
NA ALEMANHA, em 1971, The man ganhou uma capa mais fantasiosa ainda, e que misturava o disco novo com Space oddity, o primeiro hit. Num desenho, o cabeludaço Bowie aparecia como uma figura alada. Seu corpo era uma mão enorme que se preparava para dar um peteleco na Terra.
MAS EM 1972, com o sucesso do LP The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, a nova gravadora do cantor, a RCA, reeditou o disco uma foto em preto e branco do personagem Ziggy Stardust na capa. Essa imagem virou a “oficial” do disco (até na primeira edição em CD, de 1984) até que em 1990 a Rykodisc reeditasse todo o catálogo antigo de Bowie e uniformizasse o disco com a foto do vestido.
VIROU HIT
A MÚSICA-TÍTULO DE The man who sold the world acabou virando hit tardio de Bowie, até porque duas regravações da faixa se tornaram sucesso. Em 1973, a cantora Lulu regravou a faixa (em single, aliás, produzido por Bowie e Ronson) e conquistou o número 3 das paradas de singles do Reino Unido. Vinte anos depois, o Nirvana regravou a faixa em seu MTV unplugged, que chegou às lojas só em 1994 como Unplugged in New York. A música chegou às novas gerações e até mesmo a gravação original de Bowie foi redescoberta por radialistas. Aliás, isso aconteceu até mesmo em “rádios rock” do Brasil.
BOWIE ADOROU a versão do Nirvana e lamentou nunca ter conseguido falar com Cobain. O cantor se surpreendeu com o fato de a música ter sido relida por uma banda americana (já que ele achava que o disco tinha sido mal compreendido na América). A música voltou a seu repertório de shows nessa época.
ALIÁS E A PROPÓSITO, Bowie só reclamou de um problema básico: alguns fãs novos achavam que a canção era do Nirvana, não dele, e que Bowie é que estava fazendo uma releitura do trio.
KURT COBAIN classificou The man como seu 45º disco preferido (numa lista de 50 discos), em seu diário. A capa do disco chega a aparecer de relance numa das animações do documentário Cobain: montage of heck, de Brett Morgan. O cantor conheceu o disco de Bowie por intermédio de uma fita K7 gravada de Chad Channing, um dos ex-bateristas do Nirvana.
MAS E O TERCEIRO DISCO DE BOWIE? DEU CERTO?
NÃO DEU, NÃO. The man who sold the world passou em brancas nuvens e muitos fãs de Space oddity mal sabiam que David Bowie lançara novo disco. Biógrafos dizem que, nos EUA, não chegou nem a 1.500 cópias vendidas. A relação com a Mercury esfriou totalmente. Visconti, que achava que The man poderia ser um Sgt Pepper’s de Bowie não fosse o desinteresse do cantor, brigou com ele e ficou afastado até 1974, quando produziu o duplo ao vivo David live. Woodmansey e Ronson, putos com a falta de crédito nas compsições, se afastaram por uns meses (voltaram logo depois). Nos EUA, a crítica de modo geral pareceu gostar mais do disco – até mesmo a Rolling Stone publicou uma resenha, de John Mendelsohn.
A MERCURY estava disposta a pelo menos tentar lucrar alguma coisa com Bowie, mas ainda assim estava mais perdida que cego em briga de foice. Em 1971 saiu um último single dele pela gravadora, Holy holy. A música era um hard rock sombrio. Já a letra trazia o que pareciam ser mais bowieismos sobre ocultismo (você já leu sobre isso aqui).
MAS AINDA ASSIM a Mercury apostou na faixa, a ponto de criar uma campanha de seis semanas, com entrevistas, reportagens e até a distribuição de bolsas temáticas. Bowie foi até para a TV britânica, com o mesmo vestido da capa do LP, divulgar a canção.
BOWIE NOS EUA
E TEVE A TAL VIAGEM de David Bowie aos Estados Unidos em 27 de janeiro de 1971, vinda da insistência do cantor com Defries (e deste com a Mercury), já que os EUA cagavam solenemente para o seu trabalho na época. Como mostra o filme Stardust, de Gabriel Range, Bowie realmente chegou no aeroporto de Washington sem ter todos os documentos necessários para fazer shows por lá. Mas foi de fato recebido pelo divulgador Ron Oberman, levado para a casa dos pais dele (muito embora tenha se hospedado num hotel), e inserido numa agenda de encontros e entrevistas. Também frequentou restaurantes de comida kosher com Oberman, além de festas de subúrbio com a família do executivo.
ALIÁS E A PROPÓSITO, a recepção a Bowie nos EUA foi bem menos fria do que Stardust faz supor. Bowie foi bem recebido na Mercury local e fez amizade com o gerente de marketing, o futuro DJ Rodney Bingenheimer, que já era seu fã e tinha altas expectativas para o giro promocional do cantor nos EUA. Apresentou o cantor a vários produtores e, mesmo sendo funcionário da Mercury, pôs ele em contato com executivos de outros selos, além de apresentar Bowie ao produtor de discos Tom Ayres, em cuja casa em Hollywood ele ficou hospedado. Ambos deram uma festa para apresentar Bowie ao público da cidade. David deu entrevista a John Mendelsohn na Rolling Stone e disse a ele que “a música tem que ser transformada numa prostituta”.
DISCOS
ENQUANTO estava nos EUA, Bowie ganhou vários LPs e compactos. Entre suas aquisições, estava o trio de singles lançados pelo malucão Legendary Stardust Cowboy (sobre o qual você já leu no POP FANTASMA). E os álbuns de uma banda chamada The Stooges, liderada por um malucão chamado Iggy Pop. Um doce para quem adivinhar o que saiu dessa combinação de nomes. Também ouviu o disco Tombstone valentine, da banda finlandesa Wigwam, que seu mais novo amigo Kim Fowley produzira, e que virou influência de Hunky dory (1971), disco subsequente de Bowie.
RCA
ENFIM, o contrato de Bowie com a Mercury acabou sendo encerrado – muito por insistência de Defries, que, numa briga com a gravadora, conseguiu até os direitos sobre os discos de David que estavam no catálogo dela. Bowie se mandou para a RCA. A empresa, naquela época, era uma gravadora de perfil conservador, e Bowie seria fundamental para uma mudança de rota na firma, que contrataria Iggy Pop, Lou Reed, Sweet e outros nomes da nascente onda glam. Em 1971 sairia Hunky dory, um dos discos-base do glam. O resto é história.
E já que você chegou até aqui, avisamos que o Natal está chegando e aceitamos de presente uma cópia em vinil ou CD de Metrobolist. A capa inclui a arte antiga (com o texto do balão de quadrinhos que a Mercury tirou do lay out época) e o título novo. Todo o material foi remasterizado por Tony Visconti, menos After all, que ele já considerou “perfeita” na master de 2015.
VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience), a Pleased to meet me (Replacements), a Dirty mind (Prince), a Paranoid (Black Sabbath), a Tango in the night (Fleetwood Mac) e a Mellon Collie and the infinite sadness (Smashing Pumpkins).
– Além disso, demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Smashing Pumpkins no POP FANTASMA aqui.
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.
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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.
Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.
E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.
Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.
De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.
Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.
O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.
O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.
Já Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.
Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.
Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025
Cultura Pop
Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação
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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.
No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.
Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.
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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.
O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.
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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.
“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela
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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.
“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.
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